sábado, 5 de dezembro de 2015

Epístola de Tiago: Cristianismo Autêntico


Tiago era um  dos irmãos de Jesus (Mt 13.53-55). Ele muitas vezes se escandalizou com comportamentos estranhos do seu irmão. Mais tarde, porem, torna-se um dos apóstolos de Cristo, e quando fala de si no inicio da carta, não se refere a si próprio como “o irmão de Jesus”, mas como “servo de Cristo”. Não sabemos se isto se deu depois da aparição especial que recebeu de Jesus, após sua ressurreição (1 Co 15.5), mas o fato é que ele se refere a Cristo como “Senhor da glória” (Tg 2.1).
Na história da igreja ele é chamado de “Tiago, o justo”. Quando ele fazia qualquer afirmação, as pessoas o ouviam porque sabiam de sua seriedade e bom senso. Historiadores se referem a Tiago como “o homem com joelhos de camelos”, por causa de sua incessante busca da presença de Deus. A tradição afirma que ele foi martirizado. Depois de jogado do topo do templo foi ainda apedrejado.
O conteúdo de sua mensagem é prático.
Um dos pontos mais controvertidos é o das boas obras. Para alguns ele coloca as obras em oposição à fé, mas na verdade isto nunca aconteceu. Seu propósito era levar aqueles que estavam vivendo vidas desleixadas a demonstraram na sua atitude que realmente possuíam uma fé vigorosa.
O tema central de sua carta é o cuidado que se deve ter para não viver espiritualmente de forma hipócrita, mas viver de forma autentica e coerente a fé cristã.

Seu conteúdo pode ser dividido da seguinte forma:
O Cristianismo autêntico se revela:

1.      Na forma como lidamos com as provações – Tg 1.1-3
2.      Na descoberta do real valor da vida – Tg 1.4-11
3.      Não culpa a Deus pelo seu fracasso, culpa a si mesmo – Tg 1.12-18
4.      Possui relação de submissão à Palavra – Tg 1.19-25
5.      Tem uma religiosidade não ritualista – Tg 1.26-27
6.      Não faz acepção de pessoas – Tg 2.1-13
7.      Equilibra obras & fé – Tg 2.14-25
8.      Usa a língua para abençoar – Tg 3.1-17
9.      É Humilde – Tg 4.1-12
10.  Depende de Deus quanto ao seu futuro – Tg 4.13-17
11.  Administra seus bens e riqueza de forma espiritual – Tg 5.1-6
12.  Persevera na fé – Tg 5.7-11
13.  Desenvolve vida de piedade e temor
a.     Na oração – Tg 5.12-18
b.     Na confissão de pecados – Tg 5.16

c.      Na preocupação com os perdidos – Tg 5.20

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A corrida de ratos


“O caminho à minha frente, é como um rato num labirinto...”
SIMON AND KARFUNKEL
Baseado no livro: O Homem no Espelho de Patrick Morley


O alarme da TV liga automaticamente, e o locutor fala das notícias do dia que se inicia.
“Já é manhã novamente?” resmunga Pedro, rolando na cama e apertando o travesseiro sobre o ouvido. O aroma da cafeteira automática vindo da cozinha começa a encher a casa, Seis horas de sono pode não ter sido suficiente, mas sucesso no final no Século XXI tem preço a pagar. Uma estrela emergente como Pedro não pode perder tempo. O leite aquecido no micro ondas e o pão adormecido é engolido às pressas Lavar o rosto, fazer a barba, tomar café, tudo deve ser feito em 35 minutos como o programado.

Enquanto se prepara, Pedro percebe que já existem 13 mensagens no whats up. A página do banco também está semi aberta no celular. Na noite passada ele fez o balanço de sua conta bancária após o noticiário das 11 horas e, cansado das atividades do dia, ela fechou automaticamente, mas ainda lhe permitia o acesso imediato, caso desejasse.

Sua esposa, Ana, teve um bem-vindo dia de folga, então, enquanto ela dorme, Pedro sacode as crianças para levantá-las para a escola. Após tirá-las da cama, ele as prepara e leva as duas menores para  a creche ficando apenas Carol, 12 anos,  com ele no carro. Ela se parece preocupada ultimamente, como se tivesse uma grande questão na sua cabeça de pré adolescente. Quando o carro ultrapassa novamente o limite de velocidade, Carol pergunta: “Papai, você ainda ama a mamãe?”.

A questão veio à tona de sua mente pensativa. Pedro não sabia que Carol estava lutando para ter coragem de perguntar isto por vários meses. A vida familiar deles estava mudando e Carol parecia estar diagnosticando as mudanças. Pedro asseverou que amava muito sua mamãe.

Ana não tinha planejado voltar a trabalhar quanto ela começou seu curso na faculdade. Desmotivada com seu tradicional estilo de vida de dona de casa, ela estava apenas buscando um sentido maior na vida. Sua vizinha parecia viver uma glamorosa vida no mundo dos negócios e as revistas não dão dignidade às pessoas que trabalham em casa ou exercem a função de mãe. Ela não conseguia parar de questionar seus valores tradicionais. Então, duas noites cada semana por três anos e meio ela viajava para a universidade local.

Pedro, um aguerrido vendedor autônomo de vendas, avançava rapidamente em sua companhia. Quinze anos de busca pelos sonhos o tinha recompensado com o título de vice-presidente. O Salário cobria o essencial, mas ambos queriam mais da “boa vida”.

“Estou pensando em voltar para o trabalho”, Ana disse. Pedro não protestou. Ana tinha ganho um dinheiro extra como caixa de banco no começo do seu casamento e tinha ajudado a mobiliar o apartamento. Por mútuo acordo, Ana tinha parado de trabalhar quando Carol nasceu e desde então eles viviam apertados para pagar as contas do final de mês. Apesar de sua própria mãe não trabalhar, Pedro sabia que coisas eram agora diferentes. Ele tinha confusas emoções sobre mandar suas crianças para a creche mas já que dinheiro era sempre um problema, ficou silencioso quando Ana anunciou que ia ser entrevistada para um trabalho.

Pedro claramente entendeu a troca: Mais dinheiro, menos família. Mais família, menos dinheiro, mas eles realmente queriam a “vida-boa”. Seus vizinhos compraram um carro novo e Pedro estava surpreso em saber que podia ter um por somente R$ 499,00 por mês. Dando o duro eles em 5 meses conseguiriam juntar R$ 7.000,00, que somados às suas economias, era o bastante para dar a entrada de R$ 12.500,00.

Pedro adorava carros. Seu pai sempre gostou de carros e o gosto de Pedro tinha evoluído com o tempo. Se um carro modelo esportivo parava perto dele o seu coração sempre batia mais forte. Ele podia se ver num destes elegantes carros. Por acidente descobriu que por somente R$243.00 a mais ao mês, ele podia comprar um carro um pouco mais sofisticado, a suaves 72 prestações. Ana desesperadamente queria férias em Orlando naquele ano. Sua parceira de tênis tinha ido na última primavera, mas eles não podiam fazer as duas coisas ao mesmo tempo. “Se você me ajudar na compra do carro, eu vou providenciar sua viagem para Orlando, eu prometo!”. Pedro falou empolgado. Sua contagiante expressão a convenceu, ela lembrou-se de como aquele sorriso de garoto a tinha atraído no primeiro encontro que tiveram. Ele tinha sido bom para ela, ela pensou: “Ok, vá em frente”.

Ana sonhava em viver num sobrado com piscina, mas com as prestações do carro e a viagem isso continuaria sendo um sonho por anos. Pedro escravizou-se em jornadas de 12 a 14 horas diárias, sempre pensando como ganhar mais dinheiro para pagar as contas e adquirir a casa de sonhos da Ana. Quando Ana foi para o trabalhou, eles somaram os números e ficaram surpresos por perceberem que poderiam financiar sua casa em 30 anos, usar o FGTS do Pedro, e fechar um negócio daqui a 1 ano.

Mas as dificuldades de sustentar suas vidas os desencorajou, tinham contas para pagar, crianças para apanhar na creche, encontros para atender, cotas para alcançar, mas não muito tempo para aproveitar suas posses que tinham conseguido. Pedro não conseguia lembrar quando fora a última vez que saíram num final de semana para passear com a família.

As palavras de Simon and Garfunkel soavam nos pensamentos de Pedro: “O caminho à minha frente é como um rato num labirinto, as sequências nunca alteram até o rato morrer”. Ele estava numa armadilha. Ana o pressionava, ela não podia mais suportar. Ela acreditava que Pedro a tinha esquecido. Ele tinha que ser forte, saber como fazer as coisas continuarem funcionando, mas Pedro estava tão confuso quanto ao seu papel, quanto Ana.

Quando a companhia de mudança saiu de sua casa, Pedro não conseguia acreditar no que ela estava fazendo... Ana estava saindo de casa. Ela disse que precisava de tempo e espaço para ajeitar as coisas. A questão que Carol tinha levantado poucos meses antes queimava em sua mente: “Papai, você ainda gosta da mamãe?” Sim...sim, ele gostava dela, mas estava muito tarde?  Como as coisas perderam o controle?

O problema
Creio que a maioria dos homens são pegos na corrida de ratos. Você concorda ou discorda, e por que?  Quais sintomas dão suporte a sua posição?
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Você conhece alguém que realmente ganhou a corrida de ratos. A maioria deve concordar que não. Então, por que tantos homens correm nela?  O que eles estão tentando alcançar?
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As questões proverbiais da corrida de rato sempre estão presentes: “isto é tudo?” ou “existe mais alguma coisa a mais?” Estas perguntas nos torturam em alguma situação, não importa quão bem sucedido somos, estas questões surgem em nossas sombras:

·         Por que existo?  Como posso encontrar sentido?
·         Por que meus relacionamentos estão estremecidos?
·         Por que me atolei em débitos?
·         Como fui pego nesta corrida de ratos?

Todos nós desejamos melhorar nosso padrão de vida - isto é normal. Mas o mundo onde vivemos tem incutido em nós seus conceitos do que significa uma vida boa, e estas ideias são muito diferentes da ordem de Deus. A dicotomia entre a ordem de Deus e a ordem deste mundo produz um estiramento na mente do homem de Deus: Existem absolutos?  Os princípios bíblicos realmente se aplicam ao Séc. XXI?

O falso padrão de vida -  Todo bom negócio começa com a descrição do seu contexto. Vamos começar a olhar nosso problemas, olhando primeiramente o contexto no qual trabalhamos e vivemos. A primeira questão que necessitamos é: “Como medir nosso padrão de vida?”. Não é muito difícil descobrir que nossa medida da qualidade de vida tem mudado nos últimos anos. Tente imaginar como seu pai e seu avô poderiam descrever esta qualidade de vida. O que você pensa que eles diriam?
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Como é que nossa sociedade, a partir do modelo mostrado na vida de Ana e Pedro, define “padrão de vida” nos nossos dias?

PADRÃO DE VIDA ESPIRITUAL  X PADRÃO DE VIDA MATERIAL

Enquanto o padrão material de vida tem subido nos últimos tempos, o padrão moral/ relacional/ /espiritual tem diminuído. Nossos pais tinham problemas, mas seus problemas eram “fusquinhas” para famílias que tinham vizinhos com fuscas e pagavam contas no preço de fuscas. A vida tem pressionado para termos carros mais sofisticados, relógios caros e viagens exóticas. O desejo por gratificações instantâneas, tem tomado o lugar de um tempo em que as coisas eram pagas sem prestações. Hoje, somos consumidos por desejos de comprar coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos.

Explosão tecnológica
A explosão tecnológica torna este século como o tempo em que o ser humano alcançou o ápice de seu potencial humano. Somos abençoados com conforto, viagens, comunicação e trabalho. Antigamente diante de uma proposta de marketing, gastava-se milhares de papéis que cabem hoje num pen-drive. De fato alcançamos um alto escore, mas a maioria encontra-se exausta, e, infelizmente, jogadores cansados são contundidos com mais facilidade. Com pessoas machucadas, o time todo começa a perder seu ritmo, coragem e vontade.

Homens hoje estão se sentido exaustos. Você se sente exausto?  Por que?
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Embora nosso progresso continue a crescer, as almas dos homens estão encolhendo, podemos comprar mais e mais coisas, mas estamos menos satisfeitos.

A economia dominante
O consumismo tem assumido cada vez mais nossa vida. Webster define consumismo como: “a teoria econômica de que o aumento de consumo de coisas é benéfico”.  Esta filosofia parece ser a meta da maioria dos homens. Em 1957, Vance Packard escreveu o livro“Os agentes secretos da persuasão” que chocou o mundo. Ele descobriu um esforço de larga escala para bombardear hábitos inconscientes e manipular comportamentos do cliente. O marketing tem a função de  manipular o consumidor com propagandas, criando desejos por coisas supérfluas.
Já parou para pensar porque, após dois ou três anos, as pessoas começam a querer um novo tipo de carro?  A razão é a obsolescência psicológica. Pesquisadores sabem como nos fazer sentir envergonhados de estar com uma coisa usada, quando o fabricante pode providenciar um novo, com nova aerodinâmica e com mais poder.

A influência da mídia
Os marqueteiros não teriam tanta influência se não fosse a mídia. Infelizmente a mídia é controlada por humanistas seculares. Eles criam formas, propagandas, programas e novos modelos para comportar uma nova realidade de vida. O humanismo secular tem a visão de que o homem deve estabelecer seus próprios valores morais, fora da influência de qualquer outra pessoa (inclusive Deus), e que ele determina seu futuro, ele é dono de seu nariz!
O problema com esta nova visão de vida é que ela não tem absolutos - nenhum referencial eterno. Nós podemos fazer nossas próprias regras como queremos. Mas como saberemos se a promiscuidade sexual é imoral ou não?  Por não devemos criar artifícios nos negócios? Por que deveria a vida familiar ter mais valor que nossa carreira? Como tem esta visão de vida afetado nossa sociedade?

Poderia isto estar acontecendo em áreas de nossa vida? 
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Que indicações podemos ver de que o humanismo está penetrando em nossa experiência pessoal?

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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Curso de Apologética - Lição 5 - Argumentos pela “inexistência de Deus”



Embora existam muitos argumentos e provas racionais da existência de Deus como os de Berkhof enumerados na aula anterior, ou os conhecidos pontos de Thomas de Aquino , o fato é que nenhuma pessoa se converte por causa de tais argumentos filosóficos. Afinal, o próprio diabo “crê em Deus e treme” (Tg 2.19), mas é um ser sem redenção, irrecuperável e não regenerado. Portanto, argumentos pró e contra não nos conduzem ao temor do Senhor.

É bom considerar ainda, que, apesar de termos argumentos a favor, temos também muitos outros pontos de vista que argumentam contra a existência de Deus. Estes pontos também não levam, necessariamente, alguém à apostasia. Podem, no máximo, corroborar com aqueles que já estavam predispostos a não crer.

Eis alguns destes Argumentos elaborados, tentando “provar” a inexistência de Deus.

11. O argumento das revelações inconsistentes – Afirmam que “cada religião defende ser objeto da revelação, no entanto, todas elas são opostas entre si”, portanto, se Deus revelou, revelou a quem? Se existe apenas um Deus, ele deveria ter dado a mesma compreensão para todos. Isto prova a falência dos conceitos. Quem está certo: Hinduísmo, islamismo, cristianismo?
Biblicamente compreendemos que, de fato, para se conhecer a Deus, é necessário uma revelação especial. Os reformadores e biblistas, não aceitamos o conceito da teodicéia, de que o homem, através de suas elucubrações filosóficas e epistemológicas seria capaz de apreender a verdade divina ou todo conceito de divindade, presentes no Deus supremo.

Três textos fundamentam esta argumentação:
A.      Em Mt 16.47, Pedro afirma que “Cristo era o Filho do Deus vivo”, e Jesus afirma que ele era um bem aventurado, porque não fora “carne e sangue” quem lhe revelaram esta verdade, mas “o Pai celeste que está nos céus”. Portanto, conhecimento da pessoa de Cristo e o correto conceito acerca dele, só podem ser apreendidos por uma manifestação especial de Deus na vida das pessoas;
B.      Em 2 Pe 1.19-21 lemos: E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.
Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.
A profecia bíblica é inspirada, “sopro de Deus”, e só pode ser apreendida por uma revelação pessoal, intransferível e única, vinda do próprio Deus.

2.       O problema do mal – Se Deus é bom, porque ele não corrige o problema da dor e da morte? Portanto, só existe uma saída: “Ou Deus é bom e não é suficientemente poderoso, ou Deus é poderoso, mas não suficientemente mal”.
Na lição anteriormente ministrada pelo Rev. Heber Schaiblitz, já analisamos o problema do mal. Vimos a clara distinção entre mal moral e mal natural. Deus permite e até mesmo executa o “mal natural”, para seus propósitos e planos, jamais, porém, poderemos admitir que cometa um mal moral, porque neste caso, Deus teria pecado ou cometido injustiça.
É neste sentido que entendemos o texto de Isaias 45. 7: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”.

3.       O argumento da descrença – Se Deus existe, daria condições (sinais), para que todos cressem nele.
A verdade é que, sinais nunca convenceram ninguém e nem sempre são capazes de levar pessoas a Deus. Nenhum povo presenciou tantos sinais como quando saiam do Egito, no entanto, foi uma geração murmuradora e descrente, apesar dos sinais.
Jesus censurou Cafarnaum, e a própria cidade de Jerusalém, porque, apesar de todos os sinais e prodígios que fizeram nestas cidades, as pessoas continuavam incrédulas.
No entanto, dois textos na Bíblia nos falam de como Deus se interessa em se revelar:
A.      Contudo, não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e enchendo de alegria os seus corações" (At 14.17).
B.       “Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram” (Rm 1.19-21).
4.       O ônus da prova – Afirmam que é impossível defender a existência de Deus, porque se ele existe, ele mesmo precisa provar que existe e como isto não é possível, então Deus não existe, até que se prove o contrário.
A resposta dada por Deus é que estes homens são “indesculpáveis” (Rm 1.19). No dia do juízo, a natureza revelou de forma tao clara a existência de Deus que eles não terão capacidade de se defender. O Salmo 19.1 afirma: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos”. A natureza toda, é um “Business card” de Deus. Sua ordem e harmonia, sua coerência e proposito falam de um grande Senhor do Universo e de uma mente criativa e inteligente por detrás de toda a realidade existente.

5.       O argumento da incoerência – Afirma-se que Deus é onisciente, e sabe de todas as coisas, no entanto existem várias coisas que Deus desconhece:
A.      Alguém maior do que ele mesmo
B.       Um homem que não seja pecador;
C.      Um homem que não precisa de salvação.
Se Deus sabe tudo (passado/presente e futuro), o livre arbítrio não faz qualquer sentido.

A resposta é que, o fato de Deus saber não significa que Deus tenha de fazer. Deus é livre até mesmo para incapacitar os homens à fé. Fé é um dom de Deus (Ef 2.8-9), e todas as coisas que ele fez, e tal como as fez, foi pelo “beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5), isto é, ele fez assim, porque queria fazer assim. Soberania e liberdade é um atributo incomunicável da divindade. 

Curso de Apologética - Lição 3 - Provas racionais da existência de Deus

Louis Berkhof

No transcurso do tempo foram elaborados alguns argumentos em favor da existência de Deus. Acharam ponto de apoio na teologia, especialmente pela influência de Wolff. Alguns deles já tinham sido sugeridos, em essência, por Platão e Aristóteles, e outros foram acrescentados modernamente por estudiosos da filosofia da religião. Somente os mais comuns podem ser apresentados aqui.

1. O ARGUMENTO ONTOLÓGICO.

Este argumento foi apresentado em várias formas por Anselmo, Descartes, Samuel Clark, e outros. Foi apresentado em sua mais perfeita forma por Anselmo. Este argumenta que o homem tem a ideia de um ser absolutamente perfeito; que a existência é atributo de perfeição; e que, portanto, um ser absolutamente perfeito tem que existir. Mas é evidente que não podemos tirar uma conclusão quanto à existência real partindo de um pensamento abstrato. O fato de que temos uma ideia de Deus ainda não prova a Sua existência objetiva. Além disto, este argumento pressupõe tacitamente como já existente na mente humana o próprio conhecimento da existência de Deus que teria que derivar de uma demonstração lógica. Kant declarou, com ênfase, insustentável este argumento, mas Hegel o aclamou como um grande argumento em favor da existência de Deus. Alguns idealistas modernos sugeriram que ele poderia ser proposto de forma um tanto diferente, como a que Hocking chamou, “O registro da experiência”. Em virtude podemos dizer: “Tenho ideia de Deus: portanto, tenho experiência de Deus”.

2. O ARGUMENTO COSMOLÓGICO.

Este argumento tem aparecido em diversas formas. Em geral se apresenta como segue: Cada coisa existente no mundo tem que ter uma causa adequada; sendo assim, o universo também tem que ter uma causa adequada, isto é, uma causa indefinidamente grande. Contudo, o argumento não produz convicção, em geral. Hume questionou a própria lei de causa e efeito, e Kant assinalou que, se tudo que existe tem uma causa adequada, isto se aplica também a Deus, e, assim, somos suposição de que o cosmo teve uma cauda única, uma causa pessoal e absoluta, e, portanto, não prova a existência de Deus. Esta dificuldade levou a uma construção ligeiramente diversa do argumento como, por exemplo, a que B.P.Bowne fez. O universo material aparece como sistema interativo e, portanto, como uma unidade que consiste de várias partes. Daí, deve haver um Agente Integrante que veicule a interação das várias partes ou constitua a base dinâmica da existência delas.

3. O ARGUMENTO TELEOLÓGICO.

Este argumento também é causal e, na verdade, é apenas uma extensão do imediatamente anterior. Pode ser exposto da seguinte forma: Em toda parte o mundo revela inteligência, ordem, harmonia e propósito, e assim implica a existência de um ser inteligente e com propósito, apropriado para a produção de um mundo como este. Kant considera este argumento o melhor dos três que mencionamos, mas alega que ele não prova a existência de Deus, nem de um criador, mas somente a de um grande arquiteto que modelou o mundo. É superior ao argumento cosmológico no sentido de que explicita aquilo que não é firmado no anterior, a saber, que o mundo contém evidências de inteligência e propósito. Não se segue necessariamente que este ser é o Criador do mundo. “A prova teológica”. Diz Wright.1 “indica apenas a provável existência de uma mente que, ao menos em considerável medida, controla o processo do mundo, suficiente para explicar a quantidade de teleologia que nele transparece”. Hegel considerava este argumento válido, mas o tratava como um argumento subordinado. Os teólogos sociais dos nossos dias rejeitam-no, juntamente com todos os outros argumentos, como puro refugo, mas os neoteístas o aceitam.

4. O ARGUMENTO MORAL.

Como os outros argumentos, este também assumiu diferentes formas. Kant tomou seu ponto de partida no imperativo categórico, e deste deferiu a existência de alguém que, como legislador e juiz, tem absoluto direito de dominar o homem. Em sua opinião, este argumento é muito superior a qualquer dos outros. É o argumento em que se apoia principalmente, em sua tentativa de provar a existência de Deus. Esta pode ser uma das razões pelas quais este argumento é mais geralmente reconhecido do que qualquer outro, embora nem sempre com a mesma formulação. Alguns argumentam baseados na desigualdade muitas vezes observada entre a conduta moral dos homens e a prosperidade que eles gozam na vida presente, e acham que isso requer um ajustamento no futuro que, por sua vez, exige um árbitro justo. A teologia moderna também o usa amplamente, em especial na forma de que o reconhecimento que o homem tem do Sumo Bem e a sua busca de uma ideal moral exigem e necessitam a existência de um ser santo e justo, não torna obrigatória a crença em um Deus, em um Criador ou em um Ser de infinitas perfeições.

5. O ARGUMENTO HISTÓRICO OU ETNOLÓGICO.

Em geral este argumento toma a seguinte forma: Entre todos os povos e tribos da terra há um sentimento religioso que se revela em cultos exteriores. Visto que o fenômeno é universal, deve pertencer à própria natureza do homem. E se a natureza do homem naturalmente leva ao culto religioso, isto só pode achar sua explicação num ser superior que constituiu o homem um ser religioso. Todavia, em resposta a este argumento, pode-se dizer que este fenômeno universal pode ter-se originado num erro ou numa compreensão errônea de um dos primitivos progenitores da raça humana, e que o culto religioso referido aparece com mais vigor entre as raças primitivas e desaparece à medida que elas se tornam civilizadas.

6. CONCLUSÃO

Ao avaliar estes argumentos racionais, deve-se assinalar antes de tudo que os crentes não precisam deles. Sua convicção a respeito da existência de Deus não depende deles, mas, sim, da confiante aceitação da auto-revelação de Deus na Escritura. Se muitos em nossos dias estão querendo firmar sua fé na existência de Deus nesses argumentos racionais, isto se deve em grande medida ao fato de que eles se negam a aceitar o testemunho da palavra de Deus. Além disso, ao usar estes argumentos na tentativa de convencer pessoas incrédulas, será bom ter em mente que de nenhum que nenhum deles se pode dizer que transmite convicção absoluta. Ninguém fez mais para desacreditá-los que Kant. Desde o tempo dele, muitos filósofos e teólogos os têm descartado como completamente inúteis, mas hoje os referidos argumentos estão recuperando apoio e o seu número está crescendo. E o fato de que em nossos dias tanta gente acha neles indicações satisfatórias da existência de Deus, parece indicar que eles não são inteiramente vazios de valor. Têm algum valor para os próprios crentes, mas devem ser denominados testimonia, e não argumentos. Eles são importantes como interpretações da revelação geral de Deus e como elementos que demonstram o caráter razoável da fé em um ser divino. Além disso. Podem prestar algum serviço na confrontação com os adversários. Embora não provem a existência de Deus além da possibilidade de dúvida e a ponto de obrigar o assentimento, podem ser elaborados de maneira que estabeleçam uma forte probabilidade e, por isso, poderão silenciar muitos incrédulos.

Fonte: Louis Berkhof - Teologia Sistemática Editora Cultura Cristã

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Curso de Apologética - Lição 4 - Deus: Autor do Mal?

Rev. Héber Schaiblich
Palestra ministrada no mes de Março. curso de Apologética 

QUEM ESTÁ NO CONTROLE?
         Deus, Diabo, Ser Humano

 QUEM É O AUTOR DO MAL?
QUAL O PROPÓSITO DO MAL?
QUEM ESTÁ NO CONTROLE?
        Visões:
          Ateísmo – Acaso vai governar
          Arminianismo – Presciência de Deus
          Teísmo aberto – Deus não conhece o futuro e não pode intervir
          Reformados - Deus soberanamente controla todas as coisas

          Há algo que Deus nunca pode vê.
          Na verdade, nunca viu e nunca verá.
          O que é?
        Dt 6.4 - Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.
        Judas 1:25 - ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!

A Bíblia revela quem é o Deus que controla todas as coisas

        A sabedoria de Deus é a virtude (atributo) que lustra as outras virtudes (atributos)
        Charnock: “A sabedoria é a mais eminente de todas as virtudes; todas as outras perfeições de Deus sem esta, seria como um corpo sem olho, ou como a alma sem entendimento....
        a paciência de Deus seria uma covardia, Seu poder uma opressão, Sua justiça uma tirania, sem a sabedoria como a fonte e a santidade como uma regra. Nenhum atributo de Deus poderia brilhar com o devido lustro sem ela”

A Bíblia revela que DEUS está no Controle
        Sl 33.11- O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações.
        Is 14.26,27 - Este é o desígnio que se formou concernente a toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações.  Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?
        Is 46.9,10- Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade:  que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim;  que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade;
        At 4.27,28 – porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes  e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel,  para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram;

        A Vontade soberana de Deus é a Causa Última de tudo:
        A ¨causa última¨ é aquela que determina decretivamente (soberanamente) o acontecimento de um evento.
        Deus é a causa última de todas as coisas que acontecem no mundo, sejam elas boas ou más.
        Nada do que acontece está fora do plano da causa última
        Jó 42.2 ‘Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado’

        A Vontade soberana de Deus é a Causa Última de tudo:
        Na criação de todas as coisas: Ap 4.11
        Nas menores coisas da vida: Mt10.29.30;
        Na direção da vida: Tg 4.13-15;
        Na duração de nossa vida: Jó 14.5; Sl139.16; (1Rs 22.34);
        Na salvação e condenação: Rm 9. 11, 14,15; 2Tm 1.8,9
        Nas orações respondidas: 1Jo 5.14

        Fé Reformada reconhece que Deus soberanamente decretou todas as coisas:    

        Catecismo maior – resposta à pergunta 12: O que são os decretos de Deus?
        Os decretos de Deus são os atos sábios, livres e santos do conselho de sua vontade, pelos quais, desde toda a eternidade, Ele, para a sua própria glória, imutavelmente preordenou tudo o que acontece, especialmente com referência aos anjos e aos homens.

        Breve Catecismo de Westminster,
        como “o Seu eterno propósito, segundo o conselho da Sua vontade, pelo qual, para a Sua própria glória, Ele predestinou tudo o que acontece”.

        A BÍBLIA REVELA QUE DEUS ESTÁ NO CONTROLE DE TODAS AS COISAS

          Quem é o autor do mal?
          A BÍBLIA REVELA QUE EXITE UM DUPLO ASPECTO NA VONTADE SOBERANA DE DEUS
          Causa Positiva
        Deus é a causa positiva de todos os atos bons: Jo 15.5; Ef 2.8-10; 2Tm 1.9;  
        É Deus quem dá-nos o santo impulso para as coisas santas e nos capacita e nos energiza positivamente a fazer o que lhe agrada:  Sl 51.10; Fp 2.13;
      •          Causa Negativa
        Deus determina não impedir o homem de pecar;
        (At 14.16) - “o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos”;

        Definição -  causa negativa:
        Confissão de Fé de Westminster - III, 1:
        ¨Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho de sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quando acontece,
        porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou a contingência das causas secundárias, antes estabelecidas

        Berkchof   
        o decreto faz Deus o Autor de seres morais livres, e eles próprios os autores do pecado.
        Deus decreta sustentar a livre agência deles, regular as circunstâncias da sua vida, e permitir que a livre agência seja exercida numa multidão de atos, dos quais alguns são pecaminosos.
        Por boas e santas razões, Ele dá certeza ao acontecimento desses atos, mas não decreta acionar efetivamente esses maus desejos ou más escolhas no homem.
        O decreto concernente ao pecado não é um decreto efetivo mas permissivo.

  Três Considerações:
        Deus não pode ser a causa positiva de um ato mal. Deus é a causa negativa do mal.
        O seres humanos não precisam de ajuda para fazer o que lhes é próprio em seu estado pecaminoso.
        Não podemos nos esquecer que a ação de Deus é pervasiva de modo que o pecador vem a praticar o mal por sua própria pecaminosidade, e a vontade de Deus venha a ser realizada de modo infalível.

        Exemplos Bíblicos:
          Gn 45.3-8...
        v.4: José foi vendido pelos irmãos;
        v.5,7,8: José foi enviado por Deus;
                               . At 2.23 – “sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”

        Quem matou Jesus?
»        as pessoas – religiosos, autoridades, povão.
        Por que Jesus foi crucificado? 
»        Porque Deus determinou – 1Pe 1.19,20

          Temos que distinguir entre o mal Moral (pecado) e o mal Natural (sofrimentos)
          Is 6.3 - Deus é Santo, jamais é autor do mal moral.

          A Bíblia revela quem são os autores do mal moral:
        1Tm 3.6 – Orgulho do Diabo
        Tg 1.13,14 – Cobiça dos seres humanos
        Implica em um Decreto Permissivo de Deus (Causa Negativa)
»        Deus é Soberano
»        O homem é responsável

          Quanto ao mal Natural, a causa última é Deus, entretanto, tanto Deus, Diabo e o próprio ser humano são agentes:
          Diabo – Jo 8.44; Ap 2.10;
          Homem – Gn 9.6; Êx 20.13;
          Deus – Dt 32.39
          Desde a entrada do pecado os seres humanos estão sob o juízo divino: Gn. 2.16,17; Rm 5.12
          Exemplos:
          Catástrofes: Gn 6.13,14,17,18; Gn 19.24; Nm 16.29.30;
          Doenças, pragas: Nm 11.33,34; At 5.1-5; Jo 5.14;

          Propósito de Deus no mal natural
          Nos crentes: (Salvos)
          disciplinar: Ap 3.19; Hb 12.4-7;
        Is 45.7  - Este texto não está afirmando que Deus é autor do mal moral, e sim que é o autor do mal Natural (sofrimento = juízo = sobre o seu povo).
          Santificar: Jó 42.5; Tg 1.3,4;
          Conduzir para a glória – Sl 116.15; At 7.59; Fp 1.21

          Propósito de Deus no mal natural
          nos ímpios:
         Produzir arrependimento para salvação: Lc 23.41; 
         Juízo: Jr 25.12; 2Pe 2.9;
Oração:
 “Santo e gracioso Deus e Pai, dá-nos sabedoria que te procure conhecer. Dá-nos juízo para compreender-te, zelo para procurar-te, paciência para esperar por ti. Dá um coração que medite em ti; dá uma vida que anuncie o teu nome, no poder do Espírito Santo de nosso Senhor Jesus Cristo” (Benedito de Núrsia) 480-457.