segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Lc 16.19 A Parábola do Rico e Lázaro



Esta parábola só ocorre em Lucas. Teófilo (a quem a carta foi enviada) deve ter sido um homem muito rico, pelo uso do termo inicial feito por Lucas: "Excelentíssimo" (Lc 1.3), apesar disto, o evangelho de Lucas é curiosamente para as camadas mais pobres e os marginalizados.

Esta parábola é a parábola das contradições:

1."Certo homem rico". Não tem nome, só tem bens. Jesus o descreve não pelo que ele era, mas pelo que ele tinha. Se vestia de púrpura real, que era símbolo de realeza, e roupas de linho, símbolo de poder econômico. “Regalava-se". Era tão rico que não precisava se preocupar com o amanhã. Provavelmente fosse saduceu, um grupo de judeus liberais que não cria na vida após a morte, e na ressurreição.

2. "Certo mendigo", esmolava mas tinha nome (Lázaro). Não tinha nada que o outro tinha, mas tinha identidade. Lázaro é a forma grega para o nome hebraico Eleazar, que foi reduzido para "Lazar", aquele a quem Deus ajuda. Na Bíblia, as coisas não são ocasionais. Não podemos fazer as nossas bíblias, nem escrever o quinto evangelho.
Sua realidade não humana não era boa. “coberto de chagas e jazia à porta". Era um homem esquecido socialmente, mas não era esquecido por Deus. Diante da meritória teologia judaica, o saduceu, por ter muitos bens era, portanto, tido como abençoado por Deus.

3. “Os dois morreram". Aqui está a semelhança. Morte é democrática e chega para ricos e pobres. Um foi “levado pelos anjos”, outro, “morreu e foi sepultado”. Percebe-se uma clara ênfase na narrativa de Jesus para revelar o contraste entre a realidade dos dois. Os judeus achavam que o pobre era desgraçado, assim como fazemos hoje, mas Jesus inverte aqui. O desprezado era aceito, tinha um lugar de proeminência no céu. "Ouvistes o que foi dito..."Jesus confronta o pensamento da época. Foi para o seio de Abraão, ficar perto do Senhor. Ao afirmar “morreu o rico e foi sepultado" percebemos a ênfase de Jesus.

Duas realidades:

“Foi levado pelos anjos para o seio de Abraão” – vs 22 – A Bíblia usa muitos termos para descrever a vida após a morte. Surgem termos como “hades, sheol, inferno, seio de Abraão, céu, paraíso”, cada um destes possui sua particularidade, similaridades e oposições. A descrição da vida após a morte para este pobre homem é extremamente privilegiada.
"No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio". Só no inferno, o rico viu a Lázaro. Nunca se importara, mas agora o vê. Ele sabia o nome de Lázaro, portanto, não tem desculpa pela sua indiferença, sua recusa em cuidar de Lázaro fora uma decisão consciente. Negligenciou...
Joaquim Jeremias, conhecido exegeta afirma: "Esta perícope não deveria chamar-se a parábola do rico e Lázaro, mas a parábola dos seis irmãos".

"Pai Abraão"- Invoca a paternidade. Sou teu filho, sou membro de tua fé, tem misericórdia de mim... Nunca estendera a mão e agora queria a ponta do dedo. Nunca dera água e agora queria o dedo molhado. Tormento horrível. Seu status social não lhe valia nada, sua religião de nada valia, seus recursos, posição e dinheiro, agora nada valiam.

Abraão diz: "filho". Mesmo no inferno não deixa de chamá-lo de filho. "Lembra-te". A pobreza não é mérito para Lázaro, nem a riqueza desgraça para o rico.

Observações:

1. O rico não foi ao inferno por ser rico, nem o pobre foi ao céu por ser pobre - a pobreza em si mesma não é virtude, nem a riqueza em si mesmo é defeito.

Se existe alguma crítica é pelo comportamento excêntrico do rico:
               a. Se vestia de púrpura e linho;
              b. Todos os dias se regalava esplendidamente.

2. Há separação depois da morte. Apesar do discurso universalista, de que todos serão salvos, a Bíblia não faz esta asseveração em tempo nenhum, pelo contrário, é clara em fazer afirmações distintas sobre o destino do ímpio e do justo. Acerca daquele que preferiu não crer e aceitar as verdades da salvação e da obra de Cristo para suas vidas, e daqueles que foram redimidos pelo sacrifício de Cristo no Calvário.

Este texto ainda nos revela que não existe:

2.1. Possibilidade de mudança da realidade espiritual após a morte - vs. 24
O rico queria uma mudança de situação, mas isto lhe foi negado, era impossível. “Eles tem Moisés e os profetas". Esta é a resposta do Pai Abraão. Ouça o que diz as Escrituras Sagradas.

2.2. Possibilidade de um terceiro caminho- Só existe o céu e o inferno. Não existe purgatório, aniquilacionismo, reencarnação ou algo alternativo. vs.22

2.3. Possibilidade de comunicação entre o céu e o inferno- vs. 26"Está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós".

2.4. Possibilidade de que alguém saia da outra vida para trazer um "recado" aos vivos. Esta parábola contada por Jesus, contradiz todo ensino espírita sobre mediunidade ou contato dos vivos com os mortos. “Eles tem Moisés e os profetas, ouçam-nos” (Vs 29). O pedido foi específico, ele queria que alguém fosse aos seus irmãos e desse o recado para que não viessem para aquele lugar de tormento, mas seu pedido foi negado. "Abraão, porém, lhes respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que alguém ressuscite dentre os mortos" (vs 31). Isto demonstra uma absoluta impossibilidade mediúnica.

Deus já deu todos os recursos para que saibamos como proceder: “Moisés e os Profetas; ouçam-nos". O corpo doutrinário das Escrituras é suficiente para fazer-nos sábios para a salvação (1 Tm 3.15). A Bíblia contém tudo o que é necessário, e não há nada além que precisamos. Caso o retorno fosse possível muitos dos que já morreram diriam: Mudem de vida! Quantos não quiseram aceitar... Nos ensina que os rebeldes aprendem tarde demais.

A morte vem para todos, mas não é igual para todos. Para uns é o fim do gozo, para outros, é o início dele. Para o crente é promoção, para o não crente, julgamento.

Na hora da morte, Deus cuida de maneira especial das almas dos crentes. "O rico morreu e foi sepultado, o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abrão". vs. 22. O rico tem sepultura, pompa. O crente tem anjos. O ímpio não é aniquilado. Morte não é aniquilamento, morte é ausência de Deus. Inferno é descrito em termos de tormento.