terça-feira, 18 de dezembro de 2018

3. O Desafio hermenêutico








3.
O Desafio hermenêutico
Traduzindo o evangelho para esta geração.



Introdução: 



O termo “hermenêutica”vem do grego hermeneuein que significa “declarar”, “anunciar”, “interpretar” ou “traduzir”. Trata-se de tornar compreensível ou entender um enunciado obscuro, de difícil compreensão teológica, literária ou histórica. Hermenêutica  é a ciência da interpretação. Todo ser humano diariamente é levado a uma situação na qual precisa filtrar o que ouve e vê, e julgar a partir da sua intuição, sua formação intelectual e espiritual, e sem sequer pararmos para elaborar uma conceituação mais profunda sobre o tema, constantemente fazemos hermenêutica da vida.

A igreja possui dois desafios nesta área:

A.
O Desafio da hermenêutica bíblica

Descobrir o que a Bíblia realmente está afirmando no seu sentido original, tentar entrar no pensamento do autor para resgatar qual era sua intenção original.

Muitas pessoas ao iniciarem a leitura da Bíblia dizem: “cada um interpreta a Bíblia como quer”, e ai está o grande problema. A Reforma Protestante nunca defendeu a “livre interpretação da Bíblia”, isto é, que cada um interpretasse como quisesse, mas defendeu “o livre exame das Escrituras”, isto é, que todas as pessoas deveriam ler a Bíblia cuidadosamente.
Se cada pessoa interpreta a seu jeito, isto significa que nunca saberemos o que a Bíblia realmente quer dizer, por isto ao interpretarmos a Bíblia, devemos evocar o princípio comunitário. O povo de Deus unido em pensamento, deve entender qual é de fato a mensagem bíblica.
Um exemplo simples pode ser dado. Em 1974, cerca de 10 mil participantes estiveram presentes no Congresso de Lausanne, num encontro liderado por Billy Graham e John Stott, contando com a participação de denominações e grupos evangélicos e católicos do mundo inteiro. No final, eles elaboraram um documento que ficou conhecido como “Pacto de Lausanne”, no qual ratificavam de forma unânime, a partir da Bíblia Sagrada, quais eram os pontos essenciais da fé cristã que todos subscreviam. Moral da história: Se lermos a Bíblia com o desejo de ouvirmos a Deus, poderemos até discordar de pontos secundários, mas certamente chegaremos às mesmas conclusões naquilo que é essencial.

Para uma hermenêutica bíblica saudável, pelo menos três princípios devem ser observados:

Primeiro, A Bíblia é o seu melhor intérprete – Ela se auto explica. Este foi um dos princípios da Reforma Protestante: “Sola Scriptura”. Nem a tradição, nem a mística, nem os sentimentos podem se tornar o referencial do intérprete. Nenhum comentarista e nenhuma confissão de fé pode ser o referencial último ao abrirmos as Escrituras. Ao lermos a Bíblia, contamos com a iluminação do Espírito Santo, e assim como aconteceu com os discípulos no caminho de Emaús, nosso coração será aquecido e transformado quando a Palavra de Deus for corretamente aplicada à nossa vida.

Quando lemos um texto obscuro, este texto será clarificado por outro texto das Escrituras. Os textos bíblicos trabalham harmoniosamente e nos darão condições de encontrarmos o escopo de pontos mais complexos, figurativos ou simbólicos.

Segundo, a Bíblia deve ser lida no seu sentido natural – Não devemos ficar procurando na Bíblia um sentido misterioso ou oculto, nem buscar sequencias cabalísticas no texto. Apenas leia a Bíblia, na sua simplicidade, e sua verdade se tornará clara em seu coração. Por isto que interpretações alegóricas, místicas, psicológicas, são desencorajadas.

A leitura no sentido natural nos levará a buscarmos o propósito original do autor ao desenvolver sua ideia. Condições históricas, sociais e politicas nos quais o texto está inserido se tornam indispensáveis para uma interpretação mais segura e acurada. Precisamos conferir texto com textos, analisando exegeticamente as palavras, para tentar resgatar a ideia que estava na mente do escritor original. É fundamental que ela seja lida na sua forma gramatical, parece óbvio, mas muitas pessoas parecem não conseguir fazer um encadeamento de ideias de um texto, e o analfabetismo funcional pode prejudicar a leitura bíblica. Um dos maiores problemas da educação brasileira tem a ver com a interpretação de textos. Você precisa ler a bíblia gramaticalmente antes de ler teologicamente.

Terceiro, a Bíblia jamais deve ser lida fora de seu contexto analítico, do versículo que vem antes e depois, do seu ambiente histórico e geográfico. Todo texto fora do contexto é pretexto. Afirmações bíblicas citadas sem conexões claras, podem se transformar em meios de manipulação.

Três perguntas orientam a interpretação bíblica:

1.     O que vejo no texto? Observação. Olhe atentamente os verbos, o estilo, a pontuação. O que este texto diz? Quais são os personagens envolvidos, quais são os agentes? Quais movimentos estão presentes? Devem ser observados os verbos: tempo, modo e pessoa. Quem? Onde? O que? Quando? Devem ainda ser levado em conta os estilos de linguagem. O texto é narrativo, poético, simbólico?

2.     O que este texto quer dizer? Interpretação. Qual o seu significado quando foi escrito e como isto deve ser entendido por nós no Século XXI. Qual seu contexto politico? Existe algum elemento cultural que deve ser levado em conta? Como este texto ainda pode ser relevante nos nossos dias? A grande maioria dos estudantes se perdem neste ponto.

John R. W. Stott afirma que “pregar é construir pontes”. Podemos afirmar o mesmo na interpretação. Precisamos construir pontes da cultura e ambiente do Séc. I para o Séc. XXI, entender os motivos das perguntas feitas. Qual era o objetivo do texto aos seus leitores ao narrar os diálogos que lemos?

3.     O que este texto tem a ver conosco? Aplicação. Se a leitura e interpretação caminharam bem, a aplicação surge naturalmente. Na aplicação, é preciso descobrir se há algum novo ensinamento que deve ser assimilado, se há um pecado que há ser abandonado, um princípio a ser seguido ou alguma promessa a ser recebida. A palavra precisa ser implantada em nós.

Um dos grandes riscos na leitura da Bíblia é achar que seus ensinamentos nada tem a ver conosco. Que Deus pode até estar confrontando e apontando alguns desvios de outras pessoas, mas não tem nada a ver comigo. Tiago afirma: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque se alguém é ouvinte da palavra e não praticante assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o sue rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era sua aparência” (Tg 1.22-24).
Este é o primeiro desafio hermenêutico: Ler a Bíblia corretamente. Falhar na interpretação bíblica sempre redunda no fracasso da missão da igreja, afinal, como corretamente afirmou Júlio Andrade Ferreira, ao ver o nível de distorção na interpretação das Escrituras Sagradas: “A Bíblia é a mãe das heresias”.

B.
O Desafio da hermenêutica histórica

O Segundo desafio hermenêutico tem a ver com a interpretação do tempo. Precisamos entender o tempo que estamos vivendo.
Cinquenta anos atrás, um grupo de pequenos empresários procurou a indústria Suíça, então a maior produtora de relógios do mundo, oferecendo os relógios de quartzo, uma nova tecnologia que prometia ser uma revolução tecnológica. Os suíços olharam desconfiados para o produto e alegaram que não estavam interessados na aquisição da patente, afinal, detinham 98% do mercado dos relógios produzidos no mundo, então, por que mudar?
Aqueles homens procuraram os japoneses. Qual o resultado? Atualmente, 99% dos relógios produzidos no mundo são de quartzo. Os suíços não perceberam os novos tempos e as possibilidades que estavam surgindo, tornaram-se obsoletos e caros e perderam seu mercado.

Será que a igreja percebe?
Em 1 Cr 12.32 a Bíblia diz: “dos filhos de Issacar, duzentos conhecedores da época e que sabiam o que Israel devia fazer”.
Davi estava formando a equipe que faria parte do seu reinado e daria a direção cultural do país. Ele selecionou duzentos jovens que fariam parte do seu staff no reinado, todos de Issacar, uma tribo quase desconhecida de Israel , porque eram “conhecedores de seu tempo e sabiam o que Israel  deveria fazer”.
Este é um dos grandes desafios que temos a enfrentar. Entender a história, suas tendências e movimentos, e aplicar as escrituras neste contexto.
A geração atual é desafiada a lidar com situações específicas que nossos antepassados nunca tiveram que lidar. São pesquisas genéticas, bioética, softwares de última geração, empresas offshore, network, redes sociais, ecossistema. Será que a igreja consegue fazer a leitura desta época para aplicar uma correta estratégia e alcançar esta geração? A mensagem do evangelho é relevante a esta cultura?

Servindo à sua própria geração

At 13.36 afirma que “tendo Davi, servido à sua própria geração, adormeceu”. Davi não foi chamado a servir a geração anterior, e nem a geração seguinte. Deus o chamou para servir à sua geração. Só podemos servir e tocar de forma direta uma geração. Será que entendemos nossa própria geração? Qual é a geração que estamos servindo?

A geração atual é marcada filosoficamente pelo pluralismo, que admite vários universos de “verdades”, em opiniões divergentes para um mesmo tema. O pensamento não é mais homogêneo...
Outra peculiaridade desta geração é a mobilidade, uma geração em movimento. Ninguém é de um lugar específico. As pessoas saem de suas cidades em busca de educação, melhores oportunidades de emprego e salários. Isto pode ser ruim, mas pode ser também uma chave na evangelização do tempo presente. Outro aspecto tem a ver com urbanização e migração. Temos que pensar a igreja com uma teologia urbana, utilizando metodologia e sociologia urbanas. Por que há tão pouca discussão sobre a igreja na cidade? O que está por detrás deste silêncio na teologia?

A geração atual é ainda marcada pelo pragmatismo, que se estende ao universo da fé. Os jovens desejam saber se sua fé funciona? Certamente esta questão é complexa porque o pragmatismo pode se transformar numa armadilha, mas ela está presente. Associa-se a esta questão o experiencialismo. Se a lógica da modernidade era “Penso, logo existo” (Descartes), hoje a questão maior é a experiência, o não estruturas de pensamento. Portanto o que prevalece é: “sinto, logo me autentico!”. As pessoas gostam de adrenalina e acham que a fé deve ser definida a partir de uma sensação.
Como consequência o misticismo se torna um caminho atraente, pois está alicerçada em fortes sensações e adrenalina. Aliado a isto surge o esoterismo, contatos imediatos de terceiro grau, espiritualização de processos, chás alucinantes, e os  desdobramentos então podem ser macabros e perigosos. Esta geração busca fortes emoções sensoriais.
Aliado a todos estes pontos acima, temos o desconstrucionismo. Um constante movimento para quebrar paradigmas e valores, estabelecer uma nova ordem. Será que ainda podemos falar de papéis e funções de homem e mulher? Marido e esposa? Autoridade? As instituições estão sendo constantemente questionadas.
O relativismo leva a estrutura de pensamento moderno a não trabalhar com categorias absolutas. Para este tempo, tudo é relativo, até mesmo esta afirmação que diz que “tudo é relativo!”, isto é, a relatividade do relativismo. Hegel conseguiu questionar todas as coisas filosoficamente, e é isto que nossos filhos aprendem nas universidades. Não existe posição e oposição, nem tese x antítese. Tudo pode ser encontrado na síntese, que integra os opostos e faz a mentira verdade e a verdade, mentira. Dependendo naturalmente de sua percepção e ponto de vista.
A partir do relativismo o subjetivismo assume grande relevância. A verdade não está “lá!”, mas se encontra dentro de cada um. Com a influência das religiões orientais, até Deus se torna o próprio EU. O objetivo é se tornar coerente com as próprias convicções interiores... A verdade é a verdade de cada um, e não como definia Sócrates ao afirmar que “a verdade é o que é”.
De repente, aquilo que vivemos nos dias da mocidade não serve mais. Temos um processo de aceleração da história e ficamos indagando como a igreja vai responder a tais indagações, que estilo de mensagem usar para alcançar esta geração.
Sempre encontraremos pessoas dizendo: “A mensagem não precisa ser adaptada a nenhuma cultura, o evangelho e seu conteúdo é o que importa”. Entretanto, ao lermos as Escrituras Sagradas, nos surpreendemos com a sensibilidade e o desejo de Jesus em tornar acessível sua mensagem àqueles que o ouviam:

“E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra,
conforme o permitia a capacidade dos ouvintes
(Mc 4.33).

Ele procurava, através de sua comunicação, anunciar a mensagem de forma eficiente, criativa e relevante, sem prejudicar seu conteúdo. Jesus pregava a partir da percepção dos seus ouvintes. Ele fazia leitura sobre a realidade das pessoas que prestavam atenção à sua palavra.
Precisamos entender esta geração, interpretar corretamente a história, e traduzir de forma relevante e impactante a mensagem do reino de Deus.

Até bem pouco atrás a única questão da igreja era: “como preparar o homem para a vida após a morte?” Por causa deste escapismo histórico absurdos teológicos foram estabelecidos.
Conta-se que Hitler, ao assumir o poder de uma nação decadente, conseguiu o apoio de toda a Alemanha com seu forte discurso nacionalista e xenófobo. Precisando do apoio dos líderes cristãos, ele se reuniu com eles num auditório para as principais lideranças religiosas do Brasil e com seu discurso acalorado, pediu para que eles cuidasse dos céus enquanto ele cuidaria da terra.
No Brasil, a Igreja evangélica foi ingênua ao dar apoio irrestrito ao golpe militar. Ingênua ao apoiar Collor com sua propaganda anti marajá, ingênua ao transformar Lula em salvador da pátria. A bancada evangélica tem se caracterizado por sua ingenuidade politica e fisiológica, em busca de favorecimento e apoio religioso. Fazemos a exegese dos céus mas não conseguimos interpretar a terra com suas ambiguidades, anseios humanos e interesses políticos.
A pergunta que devemos fazer é se podemos também preparar o homem para viver como cidadão responsável, engajado nas questões humanas tão abrangentes quanto aquelas que envolvem uma ética mais abrangente que o sexismo e uma moral privativa.
Abraham Kuyper, estadista e teólogo holandês afirmou: “Um desejo tem sido a paixão dominante de minha vida.um motivo elevado tem agido como estimulo sobre a minha alma e mente (...) Consiste no seguinte: que, apesar de toda a oposição mundana, as santas ordenanças de Deus sejam novamente firmadas nos lares, nas escolas e no Estado, para benefício do povo”. Afinal, afirma Kuyper: “Não há nenhuma área da terra ou do universo que possamos afirmar, não se encontra debaixo do domínio de Cristo”.
Questões como A religião tem importância publica? A teologia pode contribuir com a dimensão politica? As comunidades locais podem ser provocadoras de valores e virtudes públicas, que transcendam apenas o universo estreito de nossa eclesiologia? É possível estabelecer uma formação espiritual com um plano de ação politica fundamental?  
David Koyzis afirma que a soberania derradeira pertence a Deus e toda autoridade terrena submete-se à autoridade divina [1]
Algumas áreas exigem profundas reflexões hermenêuticas:

A.   Área econômico/político – Toda tentativa de entender o presente e o passado, passa pela relação do homem com o dinheiro.

O ódio de Hitler aos judeus não era meramente ideológico. Os judeus eram os donos dos recursos e riquezas da Alemanha e isto o incomodava profundamente. As teses politicas, sejam elas de direita ou esquerda ou nas cinzentas áreas de social democracia ou esquerda/direita moderadas, nada são, em ultima instância, uma tentativa de controle dos recursos e bens que uma nação produz. As decisões parlamentares, que provocam acalorados discursos e debates, são subsidiados por grandes lobbies financeiros.
A igreja precisa entender estes mecanismos para que não se torne uma fácil área de manobra de políticos inescrupulosos. Mesmo as pesquisas, que deveriam ser isentas, são fortemente dominadas por grupos e ideologias.
“À semelhança do apóstolo Paulo em Atenas, precisamos saber o que fazer diante de tantos falsos deuses quando formos apresentar o evangelho aos filósofos do areópago”[1]



[1] DULCI, Pedro – Fé Cristã e ação política – A relevância pública da espiritualidade cristã, Viçosa-MG, Ultimato, 2018, pg.92

B.    Área filosófica – Há um jogo de interesse naqueles que são detentores da força, do dinheiro e até mesmo da ciência.

O Salmista afirma que as nações conspiram contra o Senhor e seu ungido (Sl 2.2), e Paulo afirma que “nossa luta não é contra carne e sangue, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso”, contra as forcas espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). Facilmente interpretamos tais movimentos como ações diretas do maligno, mas nunca consideramos que a área mais crucial é a do pensamento. Por isto Paulo ainda afirma que “as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2 Co 10.4-5). 
A igreja batalha da igreja encontra-se no mundo das ideias, atuam no campo do saber e do conhecimento.

C.    Área histórico-cultural – A Igreja precisa interpretar os movimentos sociais, as fortes expressões históricas de uma América Latina que se reveza indefinidamente num quadro de caudilhos messiânicos de esquerda e direita.

Precisamos entender nossas raízes católicas, portuguesas, a presença das forças e tensões africanas e a mestiçagem indígena que não possui uma cultura apenas, mas é formada por diferentes etnias e línguas, de um país fragmentado. A igreja precisa saber como agir com justiça diante da exploração dos grupos financeiros externas, e pela inescrupulosa sangria dos recursos públicos administrados por uma elite política.

Como elaborar uma saudável hermenêutica?
Três passos são fundamentais: Ver, Julgar, Agir.

Primeiro, “Ver”

Isto pode ser observado na forma como Paulo procura ultrapassar a barreira cultural ao pregar em Atenas. Paulo avaliava o que via. Ele “observava”(At 17.22-23).
É fundamental manter os olhos abertos, ter uma atitude crítica.
Jesus condena aqueles que tem “olhos mas não veem”. A maior cegueira se encontra na apatia, indolência e ingenuidade.
Quando escreve a Tito, ele cita os poetas daquela ilha. “Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos” (Tt 1.12).
Tudo isto revela o olhar atento de Paulo. A Igreja precisa observar o que é dito e o que não é dito. Ler as linhas e entrelinhas, verso e reverso. Paulo conhecia a “literatura de cordel” dos cretenses, cita os poetas atenienses (At 17.28).


Segundo, “Julgar”
Em Atenas, Paulo julga o que vê. Coloca uma lente na cultura grega idolátrica e a interpreta sob o prisma da teologia e cosmovisão cristã.
Ao escrever a Tito, ele estabelece uma relação entre a visão do poeta citado e da realidade que Tito experimenta naquela comunidade estabelecida numa cultura pagã que agora precisava se torna seguidora de Cristo.
O julgamento não deve ser condenatório, mas crítico, para que não sejamos conduzidos pela ingenuidade característica da igreja.

Terceiro, “Agir”
A ação precisa estar fundamentada sobre determinados alicerces filosóficos. A compreensão social nos ajuda a estabelecer prioridades e estratégias. Toda ação deve nascer dentro de um contexto geral para ser efetiva num campo específico. As necessidades de uma região não são as mesmas de outra. No Rio de Janeiro há um ditado que nos ajuda a entender: “Os demônios da Zona Sul não são os mesmos da Zona Norte.
Nenhuma ação efetiva se estabelece num vácuo histórico. As dores e calamidades possuem geografia, história, ancestralidade e precisam ser exorcizadas com sabedoria e bom senso.

“Com a sabedoria se edifica a casa, e com o entendimento ela se estabelece;
E pelo conhecimento se encherão as câmaras com todos os bens preciosos e agradáveis. O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força. Com conselhos prudentes tu farás a guerra”(Pv 24.3-6).


Será que a igreja de hoje entende seu tempo?





[1] KOYSIS, David, Visões e ilusões politicas: Uma análise e crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo, Vida Nova, p. 263




Obs. 
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