segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A Era do Espírito ou o Espírito da Era




Introdução:
Era do Espírito?

Este tema que me foi proposto, foi extraído do livro de Michael Horton, A Face de Deus, Os perigos e as delicias da intimidade espiritual. (São Paulo, Cultura Cristã, 1999- 3o. Capítulo). Apesar do roteiro dele ser dado como referencia, e de ter usado pequena parte de seu material, resolvi transitar por uma trilha que julguei mais pertinente à realidade da igreja local.

Tentando construir um caminho...
Joaquim de Fiore (11.32-1202) foi um filósofo místico e abade de Fiore, defensor do milenarismo  que criou um forte movimento católico conhecido como joaquinismo. Sua tese mais controvertida gira em torno da ação da Trindade na História. Na sua peregrinação à Terra Santa, entregou-se a um intenso misticismo, e passou uma quaresma em contemplação no Monte Tabor, onde diz ter recebido em visão a inspiração divina que o guiaria pelo resto de sua vida. Em 1159, ao regressar a Itália, foi para a Abadia cirterciense onde dedicou-se à pregação dedicando-se ao estudo da Bíblia, procurando o significado mais profundo das Escrituras.
Sempre embrenhado no seu labor, retirou-se para o monastério de Pietralata, onde fundou a abadia de Fiore, nas montanhas da Calábira (1198), e morreu em 1202, imediatamente sendo venerado como beato.
Sua maior contribuição foi a controvertida teoria de que existem três Idades da História, no desenvolvimento do mundo e da igreja de Deus, correspondendo às três pessoas da Santíssima Trindade.
A primeira correspondeu ao governo de Deus Pai, representada pelo poder absoluto, representada pelo temor a Deus presente no Antigo Testamento. Esta época corresponde ao tempo anterior à revelação de Jesus Cristo.
A segunda Idade inicia-se pela revelação do Novo Testamento e fundação da Igreja de Cristo, em que, através de Deus Filho, a sabedoria divina que tinha permanecido escondida da humanidade se revela.
A Terceira Idade, corresponde ao domínio da Terceira Pessoa, com o advento do Império do Divino Espírito Santo, um tempo novo onde o amor universal e a igualdade entre todos os membros do Corpo Místico de Deus, isto é entre os cristãos, serão alcançados. No Império do Divino Espírito Santo, as leis evangélicas serão finalmente realizadas, não só na sua letra mas no seu espírito, isto é a mensagem que nelas está escondida será finalmente compreendida e aceita pela humanidade.
Na Terceira Idade, a idade da graça redentora, não haverá necessidade de leis ou instituições disciplinadoras da fé, já que esta será universal e baseada diretamente na inspiração divina, pelo que poderão ser dispensadas as estruturas institucionais do poder temporal da Igreja. Joaquim de Fiore acreditava que a Segunda Idade estava no seu fim e que o advento do Império do Espírito Santo estava próximo e seria a apoteose da História, durando até ao fim dos tempos, apenas terminando com a glória da segunda vinda do Redentor (Fonte Wikipédia).

Quando estudei na Harvard Divinitas School, como aluno especial Minister in Vicinity, fiz um curso com Harvey Cox sobre o Pentecostalismo, e ele ressuscitou numa das aulas os conceitos de Joaquim de Fiore. Para ele, sob este novo paradigma, a figura de Cristo não seria mais central, transcendendo as barreiras da exclusividade de Cristo, e permitindo que todas as religiões pudessem partilhar de um mesmo movimento, agora sem as fronteiras da exclusividade imposta pela pessoa de Cristo. Não é assustador?

Espírito da Era
A Bíblia descreve a vida do cristão em luta contra três poderosas forças, que dominam a vida do homem não regenerado: A carne, o mundo e o diabo. Cada uma destas forças se  constituem enorme batalha no processo de santificação. Para efeito do estudo de hoje, diria que estes poderes revelam O espírito desta era, e se esmeram para transformar estes poderes em algo absoluto na vida do ser humano.

Cada uma destas forças (ou agentes) operam orquestradamente para conspirar contra a obra de Deus, elas agem e dirigem a vida do homem sem Deus. Em Efésios 2.1-3 elas aparecem juntas, formando uma espécie de "triunidade satânica", que impulsiona a humanidade a ser como é, formando assim o Espírito desta era.

1.     A Carne - “...entre os quais também todos nós andamos outrora segundo as inclinações da carne, fazendo a vontade da carne e do pensamento, e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais ” (Ef 1.3). Este é primeira força que conspira contra Deus.

A Carne (sarx), não são os tecidos vivos que cobrem o esqueleto ósseo, mas sim as inclinações internas, impulsos de uma natureza caída e egocêntrica. As inclinações da carne e do pensamento, não são forças externas, nem do diabo, nem do mundo, embora sejam parceiros destes.
Não precisamos de elementos externos para nos afastarmos de Deus. Bastam apenas nossos motivos pecaminosos. O homem sem Deus obedece os impulsos de sua natureza auto enamorada, está entregue a si mesmo. A carne tem poder nefasto. Ela nos torna escravos de desejos, lascívia e paixões, nos arrastando para pensamentos pecaminosos e destruidores.

Como obter vitória sobre a carne?

A Bíblia nos convida a “negar-se a si mesmo”, a “fazer morrer a natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e à avareza, que é idolatria” (1 Ts 4.5). A não alimentarmos a carne (Rm 13.14). A carne precisa ser “crucificada”(Rm 6.6,11) e precisamos fazer morrer a persistente velha natureza pecaminosa (Ef 4.22-24).
As inclinações da carne incluem soberba, ambição, luxúria, vida independente de Deus, rejeição à verdade de Deus, e o desejo de viver sem a direção de Deus. Sempre que o "eu" se levanta contra Deus eis aí a carne. A obra de Cristo na cruz tinha como um dos objetivos, crucificar o velho homem, para que o corpo do pecado fosse destruído e assim não servíssemos mais a este corpo tirano (Rm 6.6).

2.     O Diabo - "...Segundo o príncipe da potestade do ar".  O termo "ar" pode ser traduzido por "atmosfera nebulosa", indicando "trevas". Não se refere a ideia mágica de que o ar (atmosfera) seja dominada pelo diabo.

As estratégias destes poderes espirituais são sutis e bem organizadas, induzindo a mente humana à independência e rebelião contra Deus.
O diabo é descrito como ser pessoal com estratégias demoníacas que atuam tanto no plano individual como em estruturas sociais. Não há nenhuma razão para pensar que a retomada deste tema seja apenas "uma moda eclesiástica". Jesus confrontou diretamente a ação maligna enquanto exerceu seu ministério terreno. Há um "espírito que atua nos filhos da desobediência. "Potestade do ar" descreve sua visibilidade.

Como vencer o diabo?

 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6.11). A velha vida, sem a atuação de Deus que nos dá poder está sujeita à orientação e direção dos poderes do mal (grego energountos). Por isto precisamos nos revestir de Cristo e das armas espirituais que ele nos dá.
Os espíritos malignos atuam nos filhos da desobediência. Isto descreve seu campo de ação. Ele dá a direção daqueles que não estão debaixo da orientação divina. Apenas quando o homem se encontra sob nova direção, ele vai discernir a Deus e consegue resistir ao diabo (1 Pe 5.8-9).
            
3.     O Mundo – “Segundo o curso deste mundo”.  A melhor tradução aqui seria “sistema”. Refere-se ao pensamento secular que encontra-se presente em toda cultura e sociedade humana. São sistemas filosóficos e éticos, que agem como uma força brutal como a correnteza de um rio e que arrasta tudo que encontra pelo caminho.

Vivemos numa cultura pagã e demoníaca. A sociedade não é neutra, mas oposta a Deus, independente de sua geografia e do momento especifico da história. Nos tempos bíblicos, a igreja enfrentou a cultura helênica, pagã, sensual; com a ética romana de dominação, opressão e violência. A vida humana pouco valia. Os crentes sentiram na carne o peso de um sistema de valores oposto a Deus. Paulo afirma: "éreis arrastados ao longo das correntes de ideias" (CIN).
A força dos sistemas secularizados e pagãos mudaram apenas a roupagem mas continuam se opondo a Deus, lançando mão de valores humanistas e seculares.
Este é o espírito desta era.
Basta ligar a televisão, ler o jornal, abrir a internet, frequentar uma escola ou universidade, ouvir músicas, para perceber nitidamente como todo o sistema conspira contra a santidade e os valores da família, igreja e da Palavra? Este sistema age de forma dominante.

Este é o espírito desta época.
Como opera este sistema?

1.     Uso efetivo do Marketing e da Mídia – Não podemos ignorar o poder e o alcance da mídia na mente das pessoas. Diariamente somos bombardeados com informações e dados que interessam ao diabo.

No livro Apocalipse, Arquitetura em movimento, o teólogo francês reformado, Jacques Ellul afirma que A primeira besta (Ap 13.1-10), tem características monstruosas enquanto a segunda tem uma aparência inócua e amena, e isto provavelmente nos revela que a segunda seja mais perigosa que a primeira. Ela sobe do mar, que significa nações e governos (Is 17.12; Ap 17.5), tendo dez chifres e sete cabeças. Trata-se do poder político. Os dez chifres simbolizam seu grande poder. E o fato de haver pluralidade (13.7,10), demonstra que não é um poder particular mas uma potência geral, absoluta do mundo político.
Como esta besta pode acumular tanto poder e glória?

O vs. 4 declara que sua autoridade é concedida pelo dragão. Com isto Apocalipse revela que esta força política não provém de fatores meramente sociológicos nem é subproduto de uma história cega e amorfa, mas vem da potência das trevas. Os poderes do mundo presente estão permeados pela ação do sobrenatural. O mundo visível está permeado por realidades invisíveis e é influenciado por elas.

Já a segunda besta, segundo Ellul, trata-se da propaganda. “É ela que anima a imagem e lhe dá a palavra. Uma vez mais a grande arma da segunda besta é a palavra. Ela põe as suas palavras na boca do  Estado; é através dela que o Estado fala e se faz conhecer, designar, obedecer. Portanto, estamos verdadeiramente diante da obra extraordinária da animação de uma estrutura morta, de uma organização estéril, de um mecanismo de poder que se torna presença viva e vital. Ora, o que efetivamente desempenha todos estes papéis é exatamente a propaganda”.[1]
Esta segunda besta apresenta-se na forma de um Cordeiro, mas tem fala de dragão. É benigna na sua aparência, apresenta-se inofensiva, revela doçura. Assemelha-se a um cordeiro, mas interiormente encobre um monstro perigoso. Seu pensamento interior, sua essência e seu caráter se revelam no seu modo de falar. É a mentira com aparência de verdade. Não é isto mesmo que nos faz a propaganda, nos tentando convencer que um determinado produto é bom, mesmo que ele não preste?  Gerando em nós necessidades sem que realmente precisemos deles? A propaganda quase sempre é enganosa, sedutora…

O efeito do Marketing

1.     Cria necessidades – Os estudiosos desta área tentam detectar cheiros, cores, formas que atraem as pessoas fazendo-as desejar algo que não necessariamente precisam. Eva estava feliz e despreocupada no Éden, em plena comunhão com Deus. De repente chega o diabo e sugere coisas bem maiores e interessantes. Eva aderiu.



POR QUE EVA COMEU A FRUTA ?


Existe muita brincadeira sobre o assunto, mas dizem que Eva, no inicio, não queria comer a fruta, e Satanás então usou de todas suas estratégias marqueteiras:


- Come – disse a serpente astuta! – e serás como os anjos!
- Não – respondeu Eva. Virando a cara para o lado!
- Terás o conhecimento do Bem e do Mal – insistiu a víbora.
- Cruzou os braços, olhou bem na cara da serpente e respondeu firme: Não!
- Serás imortal.
- Não! Já disse!
- Serás como Deus! 

-     -NÃO, e NÃO! Já disse que NÃO!

Irritadíssima, quase enfiando a fruta goela abaixo, a serpente já estava desesperada e não sabia mais o que fazer para que aquela mulher, de princípios tão rígidos e personalidade tão forte comesse a fruta. Até que teve uma ideia, já que nenhum dos argumentos haviam funcionado…
Ofereceu novamente a fruta e disse com um sorrisinho maroto:

- Come, boba !!! EMAGRECE !!!! Foi tiro e queda !!! 

Brincadeiras à parte, o fato é que Satanás criou desejos e necessidades no paraíso. Eva estava no Éden, nada lhe faltava, mas o diabo a convenceu de que ela não tinha algo essencial. É isto que o sistema procura fazer, pressionar, dar a impressão de que existe algo que nem Deus pode oferecer, só o sistema. Desconfie!!

2.     Faz parecer normal o que é anormal.  Já viram alguma serpente conversando com um homem na Bíblia? Não! A serpente não foi feita para conversar com seres humanos. Ela deveria desconfiar do que via e ouvia, mas foi se acomodando ao que era anormal e aceitando aquilo como um dado pronto.

Satanás pode fazer o pecado parecer normal, a santidade parecer estranha, Deus parecer esdrúxulo, a verdade parecer mentira, a mentira parecer verdade (Is 5.20).

3.     Faz você se sentir inadequado – O sistema cria um sentimento de que somos ridículos se não aderirmos às suas propostas.

A maioria das meninas se sentem inadequadas hoje, se não tiverem sexo com seus namorados aos 13 anos de idade. Se um garoto decide não “ficar”, será visto como uma pessoa estranha. Se um funcionário não entra num esquema de propina ele é bobo ou será que ele “quer parecer que é santo?” Quantas mulheres cristãs assediadas ouviram a expressão: “Não vai me dizer que é santinha?”
Nos dias de Jesus, as coisas também eram da mesma forma. Pedro afirma: “Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão” (1 Pe 4.4). As pessoas achavam estranho que os discípulos de Cristo não cometessem os mesmos pecados. Na sociedade atual, se você não adere ao pensamento socialmente aceito, você é inadequado. É um sentimento péssimo quando você faz o certo e é questionado e criticado por fazer o certo.

4.     O sistema se estrutura para unanimemente se opor a Deus e à igreja. É isto que nos ensina a Palavra.

Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (Sl 2.1-3). O texto bíblico nos ensina que reis, sistemas e  autarquias, se levantam unânimes contra o Senhor e seu Messias (ou Cristo). Por isto a Bíblia diz: “Não ameis o mundo nem as coisas ue há no mundo. Porque se alguém amar o mundo o amor do Pai não está nele”(1 Jo 2.15-17).

5.     Instrumentaliza a força da carne – O Sistema maligno encontra um forte aliado que é a carne pecaminosa. Ele aguça o que já está dentro de mim. Quando a mídia coloca uma foto atraente, carregada de sensualidade e luxúria, o problema não é só a intenção da foto. O problema é que a carne deseja isto.

O apóstolo Joao fala de três coisas que se aliam aos sistemas, e quando elas se pervertem encontram o solo adequado para florescer.

A.    A Ditadura do Prazer: “A concupiscência da carne” – Concupiscência é uma palavra estritamente teológica e significa “desejo estragado”. O problema não  é a necessidade da fome que eu tenho, mas a gula; nem o desejo de crescer, mas a ambição; ou a alegria de andar arrumado, mas a vaidade; nem mesmo o desejo sexual, mas a luxúria; nem o desejo de ganhar um bom salário, mas a avareza e a cobiça. Desejos legítimos são pervertidos porque a carne é intrinsecamente predisposta a sair da esfera do sagrado para o pecado.

B.     A Ditadura da Estética: “A concupiscência dos olhos” – Aqui temos a distorção da visão. Depois de ter criado todas as coisas, Deus as admirou e disse que tudo era muito bom. Bom não apenas num sentido ético, mas também no sentido estético.

Quando admiramos o belo, isto faz parte da obra maravilhosa de Deus. O problema é que o belo se perverteu. Queremos corpos perfeitos senão não nos satisfazemos conosco mesmo. Queremos o belo para consumir com lascívia, o belo se torna fonte de exploração humana, pornografia e prostituição. O belo se desvirtua. Os olhos estão carregados de concupiscência. 
Mulheres estão cada vez mais infelizes com o que veem nos espelho, não conseguem se regozijar em Deus. Homens estão vendendo sua honra e dignidade por causa de um corpo mais torneado. Criou-se um paradigma de beleza que se desvirtuou. A Bíblia fala da beleza maior, protótipo de todas as coisas belas: A “beleza de santidade de Deus”.
Há uma beleza em Deus e na sua criação. O salmista sugere que no louvor, na adoração, podemos encontrar a beleza da santidade, nos alegrarmos em Deus e glorificarmos o seu nome. Mas o belo adoeceu, se tornou objeto, carregado de exploração e comércio. O belo encontrou-se com a sua dimensão mais feia. A luz se encontrou com a sombra.
A concupiscência nos olhos de Eva a levou a distanciar-se de Deus: “Vendo a mulher, que a arvora era boa, agradável aos olhos”. (Gn 3.6). A beleza a fascinou e a cegou, assim como Narciso se olha no espelho e se transforma numa flor, se desumaniza. Eva olha a árvore e não consegue enxergar nenhum dos outros lindos e agradáveis frutos do Éden, a partir de agora, só o proibido lhe interessa.
A concupiscência dos olhos afastou Davi de Deus. “Daí, viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa” (2 Sm 11.3). Ele “viu”. O belo o traiu. Seus olhos se distraíram e sua visão se tornou obnubilada. Nada mais interessava. O proibido se torna acessível, e poder aliado à luxúria traz a morte e a vergonha para sua casa.  

C.    A Ditadura da Vaidade e do controle – “A soberba da vida” . O sistema também vai desemboca na vaidade e futilidade.

Esta foi a fórmula do diabo ao tentar Eva: “Como Deus sereis conhecedores do bem e do mal” , e esta mesma fórmula atinge o coração do homem em Babel. “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue aos céus e tornemos célebres o nosso nome” (Gn 11.4).
O poder, se torna central. “Ser semelhante a Deus”, chegar aos céus, atingir a divindade. A popularidade e o reconhecimento, busca de glória pessoal e reconhecimento que torne célebre os nomes. Quanta vaidade existe em cada arte, poesia, texto, atleta, música. O ídolo da popularidade e aceitação se transforma em ditadura no pecaminoso coração, que sucumbe às proposta do diabo, que tão bem utiliza o poder e o sistema numa sociedade sem Deus.

O espírito da Era
Para melhor entender o espírito desta era, gostaria de citar pelo menos quatro grupos filosóficos que dão sustentabilidade aos sistemas humanos.

Primeiro, hedonismo
Sempre nos referimos a esta geração como sendo marcada pela busca insaciável pelo prazer. Busca-se prazer em todas as formas, uma geração dominada pela adrenalina, e prazer imediato. É uma cultura que de todas formas evade-se da dor, lançando mão de todas as drogas legais ou ilícitas.
Entretanto, ao lermos mais cuidadosamente a história, vemos que tal cultura sempre esteve presente no Antigo Testamento. Salomão demonstra este lado mais visível da vaidade e do desejo pelo prazer. No livro de Eclesiastes, distanciado de Deus, ele sugere a clássica fórmula hedonista: “comamos e bebamos que amanhã morreremos”. Veja sua afirmação: “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus de antemão se agrada das tuas obras” (Ec 9.7). Seu argumento não é caracteristicamente hedonista?
Nos dias de Paulo, vemos Paulo combatendo esta pecaminosa atitude no coração humano. Quando escreveu aos irmãos que não criam na ressurreição ele usa de cinismo ao contrapor o argumento pecaminoso dos hereges irmãos de Corinto: “comamos e bebamos que amanhã morreremos” (1 Co 15.30-33). 
O hedonismo traduz bem o espírito desta era: Máximo prazer, custo mínimo, que pode também ser traduzido por um princípio ético chamado de “delay gratification”. Se quisermos alcançar algo duradouro e perene, precisamos adiar a gratificação. O único lugar em que sucesso vem antes de trabalho é no dicionário, mas esta geração não quer pagar qualquer preço, nem se sacrificar por nada. Literalmente ela está dizendo, como bem traduziu a famosa banda inglesa:
It ain't much I'm asking
If you want the truth
Here's to the future
Hear the cry of youth (Hear the cry of youth)
I want it all (3x)
And I want it now

(Não é muito o que eu peço,
Se vocês querem a verdade
Aqui está o futuro,
Ouça o choro da juventude (ouça o choro da juventude)
Eu quero tudo
E eu quero agora).


Segundo, Gnosticismo
Morton afirma que existe uma espiritualidade que tenta imitar o cristianismo, mas está teologicamente distanciada do calvinismo bíblico, que saiu das verdades bíblicas para o “romantismo evangélico” (Horton, pg 91). O resultado disto é que a espiritualidade moderna subordina fé ao sentimento.
Filosoficamente podemos chamar de Experimentalismo, que ao invés de dizer “penso, logo existo” diz: “sinto, logo me autentico!” por esta razão, a pregação não se baseia na obra objetiva e salvadora de Cristo, mas na auto ajuda psicológica e moral. Os hinos de louvor deixam de ser centralizados na Trindade e se ransformam em experiências subjetivas, intimistas e emocionais dos crentes, dando espaço aos “sensitive seekers”, ou “adoradores sensitivos”. Deixa de lado as doutrinas bíblicas substituindo-a por sentimentalismo psicológico.
O resultado disto é que falta pregação objetiva da obra de Cristo, do sacrifício de Jesus na cruz. O sentimentalismo torna-se o centro, e perde-se a essência do Evangelho.

Terceiro, secularismo
O Secularismo pode ser traduzido por uma atitude na qual Deus é distanciado da história. Antigamente os grandes prédios das cidades eram templos, hoje são os bancos. De todas as formas, a filosofia, universidades e escolas procuram retirar Deus da história. Deus sofre um problema habitacional.
Asafe viu esta tendência também em seus dias: “E diz, como sabe Deus, acaso ha conhecimento no Altíssimo?” (Sl 73.11); O profeta Isaias denuncia aqueles que “escondem profundamente o seu propósito do Senhor, e as suas próprias obras fazem às escuras, e dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Is 29.15).
O melhor exemplo de secularismo pode ser visto na vida dos genros de Ló, que ao ouvirem o sogro falando do juízo de Deus sobre a cidade de Sodoma e Gomorra, ironizam: “Acharam, porém, que Ló gracejava com eles(Gn 19.14). Deus estava destruindo a cidade mas eles achavam que era uma brincadeira de mau gosto, afinal, desde quando o Eterno dialoga com os homens e se interessa pela raça humana? Deus estava lá e eles estavam aqui, e não havia possibilidade dos céus terem algo a ver com o curso da história. Este é um clássico exemplo de secularismo.

Quarto, Relativismo
O relativismo é marcado pela fragmentação dos fundamentos filosóficos e éticos. “Não há verdade! Verdade é o que você acha que é” e cada um tem a sua verdade  (pluralismo); A verdade está dentro de você, ela é o que eu acredito que é (subjetivismo), e a verdade é o que você acha que é (relativismo).
Por não existir “verdade objetiva”, a ideia de doutrina e dogma torna-se repulsiva e ameaçadora para a geração atual.
Mas quando vamos para a Bíblia, observamos que isto não é algo muito original e recente. Isaias diz: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo!” (Is 5.20).
Torna-se cada vez mais clara a afirmação de Francis Schaeffer: “A nova moralidade, nada mais é que a antiga imoralidade”.

O Espírito da Era
Não alimentemos ilusão em relação ao mundo, seus encantos e atrativos. “Não ameis o mundo, nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, nem como a sua concupiscência, porem, aquele que faz a vontade de Deus, permanece eternamente” (1 Jo 2.15-17).
O sistema do mundo opõe-se abertamente às verdades de Deus. Infelizmente para a atual geração, afirma Horton, “Espiritualidade é uma forma de ajudar as pessoas a desenvolverem sua interioridade, para apaziguar os homens, não a Deus, reconciliar pessoas consigo mesmo, não com o ofendido” (Michael Horton).




[1] Ellul, Jaques, 1980 – pg.101

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Obstáculos contemporâneos à Evangelização


A evangelização eficiente sempre tem sido um dos mais fortes gargalos e desafios da igreja moderna. Pedro pregou um sermão no dia do Pentecostes, e três mil pessoas se converteram, nós pregamos três mil sermões, e ninguém se converte.

Quando pastoreava nos EUA, éramos vizinhos de uma igreja luterana, e um dia, o velho pastor daquela comunidade disse ao Rev. Terry Giger, com quem eu trabalhava, que estava naquele pastorado há 12 anos, mas nunca tivera o privilégio de batizar sequer uma pessoa em sua comunidade. Quando ouvi esta história, eu disse que enlouqueceria se tivesse um ministério tão infrutífero. 

Eu sei que quem faz a obra é o Senhor, mas será que não nos incomoda o fato de termos tão poucos frutos e sermos tão ineficazes neste mandato essencial à igreja de Cristo de ir e fazer discípulos de todas as nações batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo?

A igreja de Cristo evangeliza pouco nos dias atuais, e quando o faz, faz com pouca eficiência. Isto enfraquece o mandato missionário. Mesmo aqueles que afirmam possuírem um “chamado missionário” e que são desafiados a irem para campos inalcançados e transculturais, parecem viver sem a “santa obsessão” de fazerem discípulos de todas as nações, e muitas vezes possuem ministérios infrutíferos, no que concerne à evangelização, com muitos poucos frutos no ministério. 

Ao pensar nestas coisas, precisamos considerar quais são os obstáculos mais comuns à uma evangelização eficaz. Rev. Wilson de Castro Ferreira, meu professor no seminário de “Religiões Comparadas e Missões”, parodiava sua matéria dizendo que deveria ser chamada de “religiões com-paradas e o-missões”.

Gostaria de enumerar alguns aspectos que podem impedir o avanço da evangelização em nossos dias. A lista não é exaustiva, apenas aponta para algumas áreas que julgamos negligenciadas:

1. Evangelho identificado com uma cultura – Muitas regiões do mundo rejeitam o cristianismo sem nunca ter ouvido falar de seu conteúdo, porque acham que ele faz parte de uma cultura dominadora e opressiva. O cristianismo é identificado com uma cultura ocidental. O mundo islâmico ensina isto constantemente. Neste caso, o cristianismo não é a pessoa de Cristo, mas um sistema aliado a um opressor.

No Brasil, podemos dizer que quando falamos de evangelho, poucas pessoas sabem o que significa, e acredito que até mesmo os “evangélicos” pouco entendam da natureza do evangelho. Recentemente um articulista da Revista Veja escreveu um artigo agressivo e preconceituoso afirmando que os “crentes são um povo chato e incômodo”. 

Na concepção popular, ser “crente” no Brasil é fazer parte de uma comunidade, permeada por pastores oportunistas e gente de classe baixa, constantemente enganada pela avidez empresarial dos pregadores midiáticos. Os evangélicos são vistos como uma sub-cultura analfabeta e ignorante, com pastores charlatões, e tendo em Edir Macedo a figura popular associada ao pastorado.

Portanto, uma das grandes barreiras atuais na evangelização é a necessidade de fazer distinção entre evangelho e evangélicos. Quando tentamos evangelizar, uma das coisas que acontecem imediatamente é que as pessoas confundem a mensagem. Para que a pessoa ouça o evangelho, ela terá que ser desprogramada em relação ao preconceito natural que ela tem dos “chatos evangélicos” ou corrigir a falsa percepção do “evangelho dos santos evangélicos” de acordo com Juan Carlos Ortiz.

As pessoas não querem ser evangélicas e, na verdade, não querem sequer conviver com evangélicos que são associados a um povo reprimido, pronto para acusar o pecado dos outros, que se julgam superiores do ponto de vista moral e espiritual. 

Como comunicar eficazmente se há uma barreira entre o comunicador e o receptor? Sabemos que esta é a barreira número um na comunicação eficaz. Certamente o evangelho seria melhor aceito se as pessoas encontrassem nas igrejas aquela dimensão registrada no livro de Atos: “louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.47). Uma comunidade simpática atraia as pessoas a Jesus, esta era uma das razões da eficácia da evangelização.

Será que igrejas atuais possuem este componente? As pessoas se identificam e gostam de estar ao nosso lado? Como interpretar o evangelho à uma cultura específica como esta? Como ser santo e integro, sem ser moralista e inflexível? 

Um dos temas modernos que tem exigido maior reflexão tologócia é a “Inculturação”. Alguns autores preferem o termo “aculturação”. Em ambos os casos, a ideia é que as pessoas não nos ouvirão antes de se identificarem existencialmente conosco. Precisamos conquistar o direito de falar e ser ouvido. 

Foi isto que Jesus fez: Ele se identificou com a raça humana, ele se encarnou, vestiu-se de pele humana, andou entre as pessoas, curando, abençoando, e falando das boas novas do Evangelho. Este envolvimento empático atraiu os pecadores. As pessoas, por mais quebradas, rejeitadas, pecadoras e estranhas que fossem, não se sentiam repelidas por Jesus. 

O apóstolo Paulo, que foi grande evangelista, descreve apaixonadamente seu esforço para se aproximar das pessoas na condição em que elas estavam, ele se esforçava para se identificar com elas. “Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Co 9.20-22). 

Havia na estratégia evangelística de Paulo, uma clara intencionalidade de se identificar com a cultura à qual anunciava o evangelho. Não deveríamos também de nos esforçar para semelhante nos identificar com as pessoas pelas quais oramos e ansiamos que Jesus se torne conhecido?

Esta é uma das enormes barreiras que temos a enfrentar quando falamos de evangelização eficaz.

2. Efetividade nos resultados Talvez você esteja dizendo que isto deveria ser colocado como consequência e não como causa, e certamente você tem razão na sua argumentação, mas deixe-me tentar, pelo menos tentar, organizar meu pensamento sobre isto.

Acredito que uma das razões do evangelho ser tão ineficaz, ou, que sua proclamação seja tão estéril esteja no fato de muitos cristãos não semeiam com esperança a mensagem do evangelho.

Sei teologicamente da argumentação de muitos pregadores que “números não são o alvo da evangelização”, entendo perfeitamente a preocupação de homens de Deus em que não nos tornemos uma igreja obcecada por crescimento e estatística. Por outro lado, vejo homens que não se preocupam com crescimento, e fazem as coisas sem serem objetivos e diretos nos sermões e nas abordagens que fazem.

Eventualmente, até mesmo os plantadores de igreja que teoricamente deveriam ser mais enfáticos sobre esta questão, se contentam em, ano após ano, não verem frutos em seus ministérios. Muitos sem sequer um batismo o ano inteiro. Igrejas debilitadas, programas sem eficácia. Será que deveríamos aceitar esta realidade como uma condição normal? Considere as estatísticas dos plantadores de igreja. Os números são assustadoramente inexpressivos. Seria esta uma condição normal?

John E. Haggai escreveu interessante e provocativo livro. “Ouse pedir uma decisão”. O fundador do Instituto Haggai está com quase 100 anos, e sentiu sempre atraído à missão e evangelização. Ele insiste que uma das grandes razões da ineficácia dos ministérios consiste no fato de que muitos anunciam o evangelho corretamente, mas na hora de convidarem o pecador a se render a Cristo, eles não o fazem. Haggai chega a propor que precisamos dar a chance ao pecador de tomar uma posição contra, ou a favor de Cristo. Por não apelarmos ao coração do pecador, ele não percebe que precisa de tomar uma decisão sobre a vida eterna.

Spurgeon narra no seu livro, um diálogo que teve com um de seus estudantes de teologia que lhe perguntou a razão de não ser tão eficiente na pregação. Ele então pergunta: “você realmente está convencido de que o Espírito Santo está agindo e que aquela pessoa pode ser transformada com a mensagem que você prega?” e ele respondeu titubeante, que às vezes sim, às vezes não. Spurgeon então replicou: “Então, não é de se surpreender que você tenha tão poucos frutos no seu ministério”. 

Paulo tratou deste assunto de forma direta: “...pois o que lavra, cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo, faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida” (1 Co 9.10b). Tenho percebido que as igrejas fazem muitos eventos, sem considerar o alvo de todo programa eclesiástico: trazer pecadores aos pés de Cristo. São programas eventualmente caros, bem elaborados, mas ninguém o faz com expectativa de que algum fruto genuíno de salvação. O programa se torna um fim em si mesmo, feito mais por diletantismo e para que as pessoas apreciem com um olhar cultural, poético, e até mesmo para demonstrar com orgulho que somos capazes de fazer um grande programa.

Mas qual é o objetivo final e a missão da igreja?

Quando um número significativo de pessoas decide se tornar membro de nossa igreja, fazemos um jantar para falarmos de quem somos teologicamente e quais os programas da igreja local. Um dos meus presbíteros afirma: “Esta é a reunião mais importante da igreja”, e ele fala isto com convicção e eu concordo plenamente. Por que? Porque alcançar vidas é única razão que justifica todo o dispêndio financeiro, todas as visitas, programas e ações da igreja. A verdadeira igreja de Cristo possui um forte envolvimento missionário e frutos são uma evidência clara disto.

A dubiedade com que pregamos o evangelho pode ser a causa da pouca eficácia. Semeamos sem esperança, pisamos o trigo sem expectativa de receber a parte que nos é devida. Mas a Bíblia afirma que quem sai andando e chorando enquanto semeia, deve voltar com júbilo, com os braços cheios, trazendo os seus feixes. 

A falta de expectativa na efetividade do trabalho, leva-nos a ter uma igreja sem expectativa e um ministério sem ousadia. Seria esta a condição normal da igreja de Cristo? 

3. Falta de empoderamento no testemunho cristão – Outro problema é o fraco testemunho da igreja local. As pessoas não se sentem atraídas ao evangelho porque o testemunho é frágil. 

O efeito de um pastor sem autoridade moral pode ser devastador para uma igreja. Muitas igrejas levam anos para superar as marcas deletérias de uma vida sem autoridade. 

Isto se dá não apenas quanto ao pastor. Muitas igrejas são marcadas por escândalos, maus patrões, maus funcionários, jovens sem santidade, lares fragilizados por brigas e discórdias, pessoas irresponsáveis nas finanças, membros conhecidos por serem mau pagadores. Tudo isto distancia pessoas da igreja.

Já tive caso de pessoas que se recusaram a vir à igreja que pastoreio por causa do testemunho de determinados cristãos. Tenho aprendido que uma das características desta geração é que ela não suporta incoerência, apesar de ser marcadamente incoerente. 

Observe as pessoas que se aproximam da igreja. Por que o fazem? Em geral, porque foram convidadas por alguém que elas admiram e respeitam. Bons evangelistas são pessoas equilibradas, não preconceituosas, que amam os pecadores e querem atrai-los a Cristo. Quando uma pessoa distanciada de Deus vê tais marcas no povo de Deus, elas se interessam por Jesus. O contrário também ocorre. Testemunho fraco gera grandes barreiras à evangelização. 

4. Acolhimento aos novos convertidos – Muitas igrejas não evangelização eficazmente por não saberem acolher aqueles que foram alcançados pela graça de Cristo. 

George Barna escreveu o livro “Igrejas amáveis e acolhedoras” falando sobre o assunto. Ele afirma que existem oito coisas que tais igrejas NÃO fazem:


1. Não limitam Deus
2. Não desprezam visitantes
3. Não se isolam da comunidade
4. Não alienam diferentes
5. Possuem evangelismo vibrante
6. Não evitam confrontação
7. Contratam em função de necessidades.
8. Não tomam rotas mais fáceis 

Preste atenção no item 2 : “Não desprezam visitantes” e no item 4: “Não alienam diferentes”. 

Igrejas eficazes na evangelização aprendem a acolher os que chegam. Isto não significa apresentá-las publicamente. Na cultura americana, o medo número 1 das pessoas é ser exposto publicamente. Não sei se isto se aplica à cultura brasileira, mas geralmente achamos interessante pedir a pessoa para ficar em pé e falar seu nome. Muitas vezes fazemos isto de forma constrangedora, com visitantes que desejariam ser ignorados e apenas ouvir a palavra e participar do culto. Será que precisamos realmente convidá-los a ficar de pé? Não tenho respostas para isto, mas já aprendi que quem gosta mesmo de ser apresentado nas igrejas são velhos pastores e presbíteros. Ah, quase me esqueci, os seminaristas também. 

O item 4 fala basicamente da mesma coisa. “Não alienar diferentes”. Se quisermos ser eficazes na evangelização, temos de aprender lidar com pessoas que fizeram opções diferentes daquelas que fazemos, seja quanto ao uso e costume, ou até mesmo quanto à moral, entendendo que o Evangelho é quem deve mudar as pessoas, e não os evangélicos. Comunidades legalistas e preconceituosas, repelem pessoas quebradas e os diferentes.

5. Mentalidade de gueto da igreja – Algumas igrejas se satisfazem num estilo introspectivo e chegam até mesmo a afirmar que não querem crescer, que igreja boa é melhor, possuem pouca mentalidade missionária e não se sentem desafiadas a alcançar outras pessoas. 

De forma histórica podemos dizer que são judaizantes quanto à missiologia. Elas não possuem estratégia para os que são de fora, e nem lhes interessa os “gentios”. Tais igrejas não apenas não evangelizam, mas historicamente tem grande probabilidade de deixar de existir, porque com o passar do tempo tendem a declinar no seu número de membros, até seu patético fechamento.

São igrejas auto centradas e que desenvolvem um bom ambiente comunitário, na qual o pastor assume uma figura paterna, eventualmente com longos ministérios e poucos desafios, mas confortavelmente adequados. Igrejas assim se tornam ensimesmadas e satisfeitas com seus programas intramuros.

É extremamente fácil para uma igreja ter uma grande quantidade de programas, dando a ilusão de um atarefado ministério, quando, na realidade, o que está acontecendo é apenas o desenvolvimento de nichos onde as pessoas podem sentir-se confortáveis, em lugar de serem desafiadas”. (Barna, George - Igrejas amáveis e acolhedoras, pg 48)

Igrejas com tais perfis são muito comuns, perdendo o ardor missionário sem se sentirem desafiadas à evangelização. Esta pode ser uma grande armadilha para boas, estáveis e históricas igrejas que contam com uma boa estrutura e todos os seus departamentos funcionando adequadamente. São igrejas com um pastorado longos, politicamente corretos, pregando uma boa mensagem sobre um manso e suave Jesus, com medo de ofenderem as pessoas com o evangelho se esquecendo que “a missão da igreja é fazer missão”. Nisto consiste nosso chamado, e é para isto que a igreja é convocada por Cristo. “Ide por todo mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15)

6. Evangelho identificado com legalismo- A sexta e última razão desta lista que não pretende ser extensiva (se o leitor quiser me ajudar, basta fazer um comentário, porque este artigo ainda está sendo elaborado...), é o fato de que podemos confundir evangelização com outros fatores.

Por exemplo: podemos achar que uma pessoa foi evangelizada porque ela decidiu se tornar membro de uma igreja local. O fato de uma pessoa se tornar membro de uma igreja não significa, necessariamente, que ela entendeu o plano da salvação e a obra de Cristo na cruz. É possível se tornar membro de uma comunidade por causa da identificação social com as pessoas, por emocionalismo ou por tradição de família, mas isto não significa que a pessoa entendeu a obra de Cristo.

Outro risco tremendo, e que se torna um obstáculo à evangelização em nossos dias é que muitos associam a evangelização ao abandono de determinados pecados socialmente condenados. Achamos que uma pessoa é “crente” porque deixou de fumar, ou porque não dança mais, ou porque não toma uma gota de álcool. Seria isto realmente evangelização?

Certamente, o abandono de pecados e práticas morais contrárias à palavra é um bom indicio de uma mudança interior. Na verdade, não saberemos se uma pessoa é convertida se ela não produzir frutos de arrependimento, mas seria o abandono de tais práticas a evidência genuína de conversão?

As igrejas evangélicas no Brasil são marcadas por um código de moral restrito, muitas normas ascéticas, muitas proibições como “não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro” (Col 2.21), mas Paulo afirma que “tais coisas, com efeito, tem aparência de sabedoria, como culto de si mesmo de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não tem valor algum contra a sensualidade” (Col 2.23). Podemos equivocadamente acreditar que determinada pessoa foi evangelizada, quando na verdade ela foi catequizada. Controlamos comportamentos exteriores, mas a obra de Cristo não foi aplicada ao seu coração. Na verdadeira definição do termo, ela não foi evangelizada. 

Conclusão

Como admitimos no estudo, esta abordagem é incompleto e preliminar. Muitos outros fatores podem ser adicionados aos obstáculos contemporâneos da evangelização. 

Como igreja de Cristo precisamos estar atentos a esta questão. 

Precisamos anunciar a Cristo e buscar formas eficientes e efetivas para a proclamação. Quando Paulo falou de seus métodos ele disse que corria “não sem meta e lutava não como desferindo golpes no ar”(1 Co 9.26). Ele usava todos os modos “com o fim de salvar alguns” (1 Co 9.22). Ele usa estratégias, emprega determinados métodos, se aproxima apaixonadamente para tornar efetiva a pregação do evangelho.

Para superar os obstáculos do tempo presente, precisamos ter o olhar de Cristo, “aproveitando sempre as oportunidades com os que são de fora”. 

Que Deus nos abençoe!