terça-feira, 30 de maio de 2017

Crises e alternativas- Plantação de Igrejas na IPB

Crises e alternativas
Uma análise de Plantação de Igrejas na IPB
Estudo de caso
Rev Samuel Vieira


Introdução:
O Censo da Igreja Presbiteriana do Brasil (2008), foi publicado em parceria com o Ministério de Apoio com Informação e em colaboração com a Secretaria Executiva da IPB foi o primeiro levantamento denominacional protestante evangélico do Brasil, e, considerando a presença dos presbiterianos em solo brasileiro por mais de 150 anos, e com aproximadamente 750 mil membros, torna-se um documento interessante para  análise de crises e as alternativas sobre o grande desafio de plantar igrejas.
Como ponto de partida, podemos dizer que apesar de estarmos usando os números desta denominação, esperamos tirar algumas lições de forma mais global, já que as mesmas contingências podem ser aplicáveis também à realidade de outras igrejas no Brasil, e aponte novas oportunidades e estratégias para quem deseja estudar o assunto.
A pesquisa reuniu uma amostragem de 1.273 igrejas, e o questionário é composto por 36 perguntas de interesse real e 3 perguntas de identificação, que vão desde cadastro, formação das igrejas, rol de membros e freqüência a atividades. Apesar das variáveis que uma pesquisa como esta pode apresentar, é muito significativo trabalhar com os  dados para que uma reflexão mais madura possa ser realizada.

Gráfico 1:




Este gráfico nos ajuda a perceber como estão distribuídos os membros de igrejas em nossa nação. Como era de se esperar, o número de membros de igrejas pentecostais e neo-pentecostais atinge os 70%, com 26% de evangélicos históricos e 5% de outras evangélicas, que talvez seja uma referência a igrejas que são consideradas como seitas por alguns (Adventistas e Congregação Cristã do Brasil), e talvez cite até seitas que são classificadas em muitos meios midiáticos seculares como evangélicas (Mórmons e Testemunhas de Jeová).

Gráfico 2:





Também não apresenta surpresas, uma vez que a tendência de migração sempre foi da zona rural para a cidade. Estes números nos mostram:
·         Estes dados apontam para a necessidade de uma pastoral urbana adequada. Comblin indaga sobre este não falar acerca da missão urbana: “o que está por detrás do silencio teológico sobre a cidade?”. “A Igreja é chamada a assumir a sociedade urbana, não por oportunismo religioso, mas por vocação (...) Seu papel consiste em criar o povo de Deus a partir da cidade”. [1]

·         A necessidade de termos uma “Teologia da Cidade”: Outra questão pastoral pode ser aqui levantada: Como a cidade pode encarnar tanto assim o paganismo e se tornar tão oposta a Deus e ao seu conteúdo revelativo? Por que as cidades chegam a ser como são, fonte de hostilidade, luxúria e oposição a tudo o que é divino? Os profetas estão sempre condenando a impiedade e a idolatria das cidades, mas a igreja urbana hoje muitas vezes tem dificuldade de entender as teias e amarras que unem e dividem a polis.

·         Ray Bakke afirma que nosso problema é que temos vivido na cidade, com sociologia e ferramentas urbanas, mas com teologia rural, e, na sua opinião, precisamos de uma teologia tão grande quanto a nossa cidade, tão urbana quanto nossa sociologia e missiologia.

·         O desafio de se construir uma Teologia da Cidade. Apesar de mais de 90% das igrejas se encontrarem em zona urbana, há uma tendência de seguir uma estrutura rural, e por conseguinte, com dificuldades para interpretar os fenômenos e tendências modernas, aplicando o conteúdo do Evangelho com metodologia e instrumentais adequados. A sugestão de Linthicum é, portanto, mais que apropriada: "Tenha uma teologia tão grande quanto o tamanho da cidade e um ministério tal especifico como a próxima pessoa que você encontrar". [2]

A verdade é que, “hoje, como há seis mil anos, a civilização vai da cidade ao campo, e nunca o inverso”.[3] Apesar da relevância da cidade vemos um profundo descaso da igreja em relação às suas necessidades. Apenas recentemente, iniciou-se uma séria discussão sobre o papel da Igreja no contexto urbano. O resultado disto é que a cidade foi abandonada à sua própria sorte, as igrejas simplesmente não sabem o que fazer com as necessidades urbanas e ainda continuam reproduzindo o mesmo modelo pastoral da zona rural, revelando um profundo despreparo frente aos desafios que a cidade trazia à igreja.

Comblin questiona como a teologia pode permanecer indiferente diante desta realidade humana. “A ausência de uma pastoral firme frente à cidade, pode ser reflexo de ausência de pensamento… Podemos legitimamente nos perguntar se a anarquia atual da pastoral das grandes cidades não está unida a uma ausência da teologia da cidade, que se encontra implícita nas fontes da revelação e, entretanto, não teve a explicação necessária. A igreja da Europa Ocidental é rural em todas as suas estruturas fundamentais”... As paróquias urbanas não passam de paróquias rurais trasladadas à cidade[4]

Este gráfico nos desafia a pensar igrejas com categorias de urbanidade, e isto nem sempre é possível por causa da própria formação de nossos seminários que tende a perpetuar uma linha de pensamento menos dialética que esteve sempre presente nos contextos rurais que marcaram tanto a liturgia e a teologia da igreja durante muitas décadas.

Gráfico 3:

Neste gráfico entramos propriamente na discussão sobre plantação de igrejas.
Os números impressionam e geram certa inquietação. 45% das igrejas não têm congregação nem ponto de pregação, isto é, não possuem nenhum projeto a curto ou médio prazo para uma nova igreja. Outro número que chama a nossa atenção refere-se aos que deixaram de responder ao questionário. Tenho a tendência de achar que quem está fazendo um bom trabalho gosta de declarar que o faz, e não omitir, e isto me leva a perguntar. Será que os 18% que se omitiram na resposta, não o fizeram por não possuirem frentes missionárias? Isto elevaria o número para 63%, embora o próximo gráfico apresente uma pequena diferença, acredito que estatisticamente ela não faz tanta diferença.
Uma pergunta que pode ser levantada aqui é por que igrejas não estão plantando novas igrejas ou estão despreocupadas com esta tarefa? Uma igreja saudável tende a expandir-se, como todos organismos vivos o fazem. Igrejas plantam igrejas! Isto pode não estar acontecendo por causa de uma teologia equivocada ou deficiente, por miopia de visão ou talvez porque já tentaram e tiverem pífios resultados. Justifica-se naturalmente, as pequenas igrejas recém organizadas, que estão ainda dando seus primeiros passos e que não tiveram ainda condições de pensar na expansão de si mesmas, mas espera-se que este processo não seja longo demais. Uma congregação numa cidade estratégica do Nordeste do Brasil levou 76 anos para organizar-se.
Seja como for, é ainda desafiador imaginar uma igreja que não está avançando para criar novas frentes, já que se sabe que o custo de um ponto de pregação é quase inexistente, e os próprios leigos de uma comunidade, somando-se aos esforços de um pastor local serão capazes de realizar a tarefa.

Gráfico 4



Este quadro é sugestivo porque faz uma amostragem por décadas. Como podemos observar, poucas eram as igrejas que não tinham congregações, os números são quase iguais de 1931 a1990, mas nesta década, inexplicavelmente, o número deu um salto, saindo de 27% para 38%, um aumento de 11%. Os dados tornam-se ainda mais significativos entre 2000-2008, quando subiu para 53%, num aumento de 15%. Se considerarmos as últimas duas décadas, 26% de igrejas perderam a capacidade de olhar para outros campos e tentar estabelecer novas comunidades. Presbitérios e sínodos deveriam considerar com muita seriedade estes números e discutir os motivos detrás da inércia, tentando reverter estes números para patamares suportáveis, que seriam em torno de 25%.
Existem atualmente muitas igrejas sem uma proposta de evangelização ou abertura de novos campos. Se considerarmos que “Plantar igrejas é o método mais eficaz de evangelização”, como afirma Peter Wagner, nossa dimensão evangelística precisa ser reavaliada imediatamente.

Gráfico 5:



Este gráfico fala de igrejas que já puderam em sua história, ver uma de suas congregações se tornando independente em termos de liderança e finanças. Igrejas filhas são aquelas que já foram organizadas e tem vida própria. Considerando que 76% não possuem nenhuma filha, temos um problema sério de úteros estéreis, já que o número de novas igrejas avançou significativamente no contexto brasileiro, isto nos leva a dizer que apenas 24% das igrejas plantaram todas as demais. Indica ainda que se trata de uma questão de visão e teologia de missões. Algumas igrejas estão sendo biblicamente orientadas, enquanto outras se encontram descuidadas sobre este assunto e precisam envidar esforços para quebrar a lei da inércia que as tem imobilizado de forma tão negativa. Muitas igrejas ainda não tiveram o privilégio de ver outras igrejas se organizando por seu esforço missionário.

Gráfico 6:

  
Este quadro mostra de onde surgem os novos membros das igrejas.

28 % nascidos na IPB local – isto é, boa parte do crescimento é vegetativo. Pode parecer negativo, mas considero tais números importantes, porque lamentavelmente muitas igrejas não conseguem sequer manter o seu número de membros, e se conseguissem manter os filhos, o número de membros já seria bem superior ao que existe. Além do mais, uma das grandes bençãos que temos é perceber que os filhos estão permanecendo na igreja, isto mostra que a fé dos pais de alguma forma está sendo comunicado à próxima geração. Quando a fé deixa de ser comunicada de forma eficiente, os filhos perdem o interesse pelo evangelho e pela vida cristã e se afastam do caminho do Senhor. As duas maiores fontes de apostasia são: (a)- Liderança inescrupulosa e infiel; (b)- Pais cínicos e indiferentes. Filhos se apostatam da fé quando estes elementos estão presentes.

14% Outra religião – A mudança de membros de uma comunidade para outra não é muito rara, numa época em que existe muito pouca “fidelização” doutrinária e menos ainda, denominacional. Muda-se por razões teológicas, litúrgicas, pessoais, mas muda-se também por razões geográficas e por adaptabilidade. Na perspectiva do reino estas mudanças nada dizem, mas, na eclesiologia são eloqüentes. Na linguagem do Rev. Antonio Elias, “Ovelha vai para onde tem pastor melhor”

31% Outra religião – Aqui devemos concentrar todo nosso esforço missionário, e é para onde nossos olhos devem estar atentos. Afinal de contas, a grande missão da igreja é pregar com fidelidade a palavra para que aqueles que estão perdidos espiritualmente. “Livra os que estão sendo levados para a morte e salva os que cambaleiam indo para serem mortos. Se disseres: Não o soubemos, não o perceberá aquele que pesa os corações? Não o saberá aquele que atenta para a tua alma? E não pagará ele ao homem segundos as suas obras?” (Pv 24.11-12).
A igreja deve buscar alternativas bíblicas criativas para pregar o evangelho. O nosso alvo deve ser o de alcançar os não alcançados com a mensagem de libertação que o evangelho traz. A única instituição que não existe com uma finalidade de meramente satisfazer seus membros é a igreja. Todas entidades filantrópicas bastam a si mesmas, mas a igreja que não faz missão está perdendo a essência de sua identidade. Nossa missão é fazer missão.
Os outros números apenas refletem a realidade natural de pessoas que mudam de igrejas, de presbitérios, de regiões, etc., são muitos os fatores que provocam estas mudanças, entre eles a transferência de trabalho, mudança de jovens para estudar em outros lugares, casamentos e assim por diante.

Conclusão:
Números têm o poder de nos orientar, chocar e desafiar. Na medida que estudamos estes gráficos, surgem muitas questões e algumas alternativas:

  1. Por que Plantação de Igrejas tem sido tão negligenciada nos últimos 20 anos como apontam as estatísticas? Mudou o conteúdo da missão? Existem problemas nos fundamentos teológicos dos seminários? O que levou as igrejas a perderem seu vigor e agressividade evangelísticas?

  1. Que ênfases precisam ser dadas nos próximos anos para que esta curva de nível retorne a um patamar aceitável, ou pelo menos a números que durante tantos anos marcaram esta igreja?

  1. Estes dados são relativos apenas a Igreja presbiteriana ou se aplicam igualmente a outras igrejas históricas?

  1. Como Sínodos e autarquias das igrejas poderiam se mobilizar em educação teológica, pregação da palavra, aprofundamento bíblico para que a igreja desperte para o grande desafio de plantar novas igrejas?

Rev Samuel Vieira
Professor de Plantação de Igrejas
Seminário Presbiteriano Brasil Central- Goiânia - GO.





[1] Comblin, José – Teologia da Cidade. São Paulo, Paulinas, 1991, pg 19
[2] Linthicum, Robert – A transformação da cidade, pg. 137
[3] . Comblin, Jose – Teologia da Cidade, S. Paulo, Ed. Paulinas, 1991, pg. 11
[4]   Comblin, Jose –1991, pg. 14

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Lc 18.1-8 O Juiz Iníquo



Introdução:

Esta parábola aparece apenas no Evangelho de Lucas. A parábola do fariseu e publicano vem logo a seguir, e Jesus a contou com o objetivo direto, descrito por Lucas: “Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer” (Lc 18.1). O objetivo de Jesus, nas duas parábolas, era falar sobre oração.
Jesus usa o exemplo de uma viúva. A realidade social dos órfãos e viúvas era muito dura nos dias de Jesus. Os homens viviam muito pouco, na maioria das vezes. Para termos ideia da brevidade da vida, a média de idade do homem na Idade Média era de apenas 32 anos. Guerras, epidemias, ausência de antibióticos, cirurgias e remédios adequados eram fatais. Quando se tornavam viúvas, as mulheres ficavam desprotegidas, pois não tinham quem as pudesse sustentar. Basta olhar para a Igreja Primitiva e perceber que a primeira grande tensão que surge na comunidade apostólica, envolve a questão do socorro às viúvas (At 6.1-6), e por esta razão instituiu-se o oficio diaconal.
Em Israel havia leis especificas para as mulheres:
                Dt 10.18 – Deus se identifica como aquele que faz juiz ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes.
                Dt 27.19 – “Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfao e da viúva”.
                Nm 30.19 – Uma viúva possuía o mesmo status de um homem diante de um tribunal, enquanto as mulheres casadas não eram ouvidas.
                Sl 68.5 – Não defender a viúva era “brigar com Deus”.
Jesus, portanto, usa a figura de uma classe social que ocupava o último degrau social. Ela não tinha dinheiro, e infelizmente cai nas mãos de um juiz que era iniquo, isto é, não possuía equidade, justiça. Este juiz é descrito na Bíblia como um homem sem princípios, valores e sem temor a Deus. “Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum” (Lc 18.2,4).
A viúva era o lado vulnerável deste relacionamento. A quem recorrer? Vemos alguém em situação de impotência e abandono. Seu pedido era especifico: “julgue o meu caso”, embora a Bíblia não descreva qual era a situação que ele enfrentava.
Qual arma esta mulher possuía? Simplesmente a insistência e perseverança.
Jesus chama a atenção dos discípulos para o argumento do juiz. “Considerai no que diz este juiz iniquo”. A Palavra considerai dá ideia de prestar cuidadosa atenção. Não olhar com negligencia este aspecto.
Parábola dos contrastes
Nesta parábola Jesus tenta ensinar aos seus discípulos por contraste. Ele usa o simbólico do juiz iniquo, para contrastar com o Deus justo. “Não fará justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora parece demorado em defendê-los?” (Lc 18.7).
Alguns contrastes:
1.       Deus não é uma divindade inatingível - Se o juiz que não considera ninguém, atendeu o clamor desta mulher, quanto mais o Senhor que vê todas as coisas e julga com equidade?

2.       O juiz não tinha qualquer relacionamento com a mulher. Seja ele comunitário, social e religioso, no entanto, o Deus da Bíblia é o Deus das Alianças, que possui um relacionamento de afeto com os seus “escolhidos” (vs 7). Ele tem interesse especial no seu povo (Ml 3.13-18)

3.       O juiz ouve pelo motivo errado. “Ver-se livre da importunação” (vs 5). Deus ama e defende a causa do seu povo, porque habita um alto e sublime trono, mas também com o contrito e abatido de espírito.
Questões hermenêuticas
Este texto levanta algumas questões hermenêuticas?
A.      Devemos buscar a Deus por insistência, e ele nos dará mesmo quando não quer dar?

B.      A oração pode mudar o coração de Deus?

C.      Se a oração não pode mudar o coração de Deus, será que ela pode mudar as circunstâncias? O teólogo reformado, J.I. Packer defende esta tese. “A oração não muda Deus, mas muda os eventos”. Qual a dinâmica entre estas realidades?

D.      A oração é ouvida e atendida pela súplica do orante (o que ora), ou porque faz parte dos planos de Deus? Cremos no poder da oração ou no poder de Deus?


E.       Considere a expressão do A. W. Pink – “O Deus que destina os fins, também estabelece os meios”. Isto é, o propósito de Deus é imutável: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29), mas para o estabelecimento dos seus planos, Deus conta com as orações do seu povo. Jacques Ellul defende que o quinto selo, que são as orações dos mártires de Apocalipse 6.9-11 é um dos agentes da história. A história é impulsionada pelo clamor do povo de Deus.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Lc 16.19 A Parábola do Rico e Lázaro



Esta parábola só ocorre em Lucas. Teófilo (a quem a carta foi enviada) deve ter sido um homem muito rico, pelo uso do termo inicial feito por Lucas: "Excelentíssimo" (Lc 1.3), apesar disto, o evangelho de Lucas é curiosamente para as camadas mais pobres e os marginalizados.

Esta parábola é a parábola das contradições:

1."Certo homem rico". Não tem nome, só tem bens. Jesus o descreve não pelo que ele era, mas pelo que ele tinha. Se vestia de púrpura real, que era símbolo de realeza, e roupas de linho, símbolo de poder econômico. “Regalava-se". Era tão rico que não precisava se preocupar com o amanhã. Provavelmente fosse saduceu, um grupo de judeus liberais que não cria na vida após a morte, e na ressurreição.

2. "Certo mendigo", esmolava mas tinha nome (Lázaro). Não tinha nada que o outro tinha, mas tinha identidade. Lázaro é a forma grega para o nome hebraico Eleazar, que foi reduzido para "Lazar", aquele a quem Deus ajuda. Na Bíblia, as coisas não são ocasionais. Não podemos fazer as nossas bíblias, nem escrever o quinto evangelho.
Sua realidade não humana não era boa. “coberto de chagas e jazia à porta". Era um homem esquecido socialmente, mas não era esquecido por Deus. Diante da meritória teologia judaica, o saduceu, por ter muitos bens era, portanto, tido como abençoado por Deus.

3. “Os dois morreram". Aqui está a semelhança. Morte é democrática e chega para ricos e pobres. Um foi “levado pelos anjos”, outro, “morreu e foi sepultado”. Percebe-se uma clara ênfase na narrativa de Jesus para revelar o contraste entre a realidade dos dois. Os judeus achavam que o pobre era desgraçado, assim como fazemos hoje, mas Jesus inverte aqui. O desprezado era aceito, tinha um lugar de proeminência no céu. "Ouvistes o que foi dito..."Jesus confronta o pensamento da época. Foi para o seio de Abraão, ficar perto do Senhor. Ao afirmar “morreu o rico e foi sepultado" percebemos a ênfase de Jesus.

Duas realidades:

“Foi levado pelos anjos para o seio de Abraão” – vs 22 – A Bíblia usa muitos termos para descrever a vida após a morte. Surgem termos como “hades, sheol, inferno, seio de Abraão, céu, paraíso”, cada um destes possui sua particularidade, similaridades e oposições. A descrição da vida após a morte para este pobre homem é extremamente privilegiada.
"No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio". Só no inferno, o rico viu a Lázaro. Nunca se importara, mas agora o vê. Ele sabia o nome de Lázaro, portanto, não tem desculpa pela sua indiferença, sua recusa em cuidar de Lázaro fora uma decisão consciente. Negligenciou...
Joaquim Jeremias, conhecido exegeta afirma: "Esta perícope não deveria chamar-se a parábola do rico e Lázaro, mas a parábola dos seis irmãos".

"Pai Abraão"- Invoca a paternidade. Sou teu filho, sou membro de tua fé, tem misericórdia de mim... Nunca estendera a mão e agora queria a ponta do dedo. Nunca dera água e agora queria o dedo molhado. Tormento horrível. Seu status social não lhe valia nada, sua religião de nada valia, seus recursos, posição e dinheiro, agora nada valiam.

Abraão diz: "filho". Mesmo no inferno não deixa de chamá-lo de filho. "Lembra-te". A pobreza não é mérito para Lázaro, nem a riqueza desgraça para o rico.

Observações:

1. O rico não foi ao inferno por ser rico, nem o pobre foi ao céu por ser pobre - a pobreza em si mesma não é virtude, nem a riqueza em si mesmo é defeito.

Se existe alguma crítica é pelo comportamento excêntrico do rico:
               a. Se vestia de púrpura e linho;
              b. Todos os dias se regalava esplendidamente.

2. Há separação depois da morte. Apesar do discurso universalista, de que todos serão salvos, a Bíblia não faz esta asseveração em tempo nenhum, pelo contrário, é clara em fazer afirmações distintas sobre o destino do ímpio e do justo. Acerca daquele que preferiu não crer e aceitar as verdades da salvação e da obra de Cristo para suas vidas, e daqueles que foram redimidos pelo sacrifício de Cristo no Calvário.

Este texto ainda nos revela que não existe:

2.1. Possibilidade de mudança da realidade espiritual após a morte - vs. 24
O rico queria uma mudança de situação, mas isto lhe foi negado, era impossível. “Eles tem Moisés e os profetas". Esta é a resposta do Pai Abraão. Ouça o que diz as Escrituras Sagradas.

2.2. Possibilidade de um terceiro caminho- Só existe o céu e o inferno. Não existe purgatório, aniquilacionismo, reencarnação ou algo alternativo. vs.22

2.3. Possibilidade de comunicação entre o céu e o inferno- vs. 26"Está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós".

2.4. Possibilidade de que alguém saia da outra vida para trazer um "recado" aos vivos. Esta parábola contada por Jesus, contradiz todo ensino espírita sobre mediunidade ou contato dos vivos com os mortos. “Eles tem Moisés e os profetas, ouçam-nos” (Vs 29). O pedido foi específico, ele queria que alguém fosse aos seus irmãos e desse o recado para que não viessem para aquele lugar de tormento, mas seu pedido foi negado. "Abraão, porém, lhes respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que alguém ressuscite dentre os mortos" (vs 31). Isto demonstra uma absoluta impossibilidade mediúnica.

Deus já deu todos os recursos para que saibamos como proceder: “Moisés e os Profetas; ouçam-nos". O corpo doutrinário das Escrituras é suficiente para fazer-nos sábios para a salvação (1 Tm 3.15). A Bíblia contém tudo o que é necessário, e não há nada além que precisamos. Caso o retorno fosse possível muitos dos que já morreram diriam: Mudem de vida! Quantos não quiseram aceitar... Nos ensina que os rebeldes aprendem tarde demais.

A morte vem para todos, mas não é igual para todos. Para uns é o fim do gozo, para outros, é o início dele. Para o crente é promoção, para o não crente, julgamento.

Na hora da morte, Deus cuida de maneira especial das almas dos crentes. "O rico morreu e foi sepultado, o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abrão". vs. 22. O rico tem sepultura, pompa. O crente tem anjos. O ímpio não é aniquilado. Morte não é aniquilamento, morte é ausência de Deus. Inferno é descrito em termos de tormento.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Desafios diaconais para o Século XXI



Introdução:

Os tempos mudaram...
Com isto, muda-se também as necessidades, abordagens, perguntas e respostas.

Ser diácono no século XXI é um grande desafio, e quando fui convidado para trazer uma reflexão aos diáconos da nossa região neste congresso, fiquei pensando no que poderia falar, e a questão que veio ao meu coração foi a seguinte: Como ser um diácono efetivo no exercício da função, em pleno Séc. XXI, um século de tão grandes desafios?

Estamos vivendo um momento da desfragmentação do saber e dos costumes. Certo pastor de uma grande igreja, afirmou que catalogaram na sua comunidade, mais de 60 modelos de famílias. Casais com filhos, casais sem filho, casais com 2 filhos, casais com 3 filhos, casais com 2 filhos e a sogra, etc... não dá mais para falar de um protótipo de casamento.

Fico pensando quais as implicações para a minha saúde em viver um estilo de vida completamente distinto do meu pai. Na verdade eu quebrei, com a minha forma de viver, hábitos absolutamente arraigados e milenares. Até o meu pai, durante séculos, e talvez milênios, meus ancestrais dormiam no mesmo horário, tinham as mesmas rotinas que eram estabelecidas pelo dia e noite, faziam atividades similares como cuidar do gado, da lavoura, etc., mas o meu estilo de vida não teve nada de rotineiro. Cedo fui morar longe dos pais para estudar, almoçava de forma irregular, ficava acordado até tarde, acordava no horário que dava. Minha rotina foi centenas de vezes quebrada.

Quais as implicações disto para minha saúde física? Para minha psique?
Alterações similares a esta se dão em vários níveis.

Como responder com um ministério efetivo às demandas de uma sociedade em mutação e com exigências variadas?

Deixe-me sugerir Quatro desafios:

1. Desafio do ser sobre o fazer

O texto de 1 Timóteo 3 é o mais completo sobre liderança cristã. Fala dos presbíteros e diáconos. Logo no início lemos que não há nenhum problema de se aspirar a um ofício cristão, pelo contrário, quem assim o faz, “excelente obra almeja”. Para Deus, o ruim não é quando você aspira, antes quando você não aspira, porque Deus tem usado líderes todas as vezes que ele quer fazer a obra aqui na terra. A aspiração ao oficio, pode ser inferida da própria ação do Espirito Santo no corpo de Cristo.

Das 26 características enumeradas no texto, 21 estão relacionadas ao ser do líder, e 5 ao fazer (que por sua vez, estão intimamente ligadas à questão daquilo que você vive interiormente:


                                                        SER                                     FAZER

Presbíteros                                      (11)                                         (2)
Diáconos                                         (11)                                         (1)

Deus está preocupado com a vida espiritual da liderança, com aquilo que somos, caráter, ser, muito mais do que com aquilo que fazemos.

Que atividades que Deus espera dos diáconos?

Apenas uma. Que o diácono tenha uma família criada no temor do Senhor. “Governe bem sua própria casa” (1 Tm 3.12). Que tenham filhos que não sejam acusados de dissolução nem de insubordinação. Administre bem suas finanças e crie um ambiente de equilíbrio emocional para sua própria família.

Todos os demais requisitos tem a ver com o “ser”, não com o “fazer”. Ai surgem os itens que apontam para a Personalidade do líder cristão:

(1) - Relacionado ao equilíbrio emocional -

               (a) - Marido de uma só mulher - vs. 2 O mesmo com relação aos diáconos -(3:12)

               (b) - Temperante - Não exagerado nas coisas. Esta exigência aparece três vezes:
                                *Presbíteros - “Não dado ao vinho” - vs. 3
                                 *Diáconos - Não dado a muito vinho - vs. 8

               (c) - Sóbrio - vs. 2 “Cheio de bom senso”.

               (d) - Não violento - BJ “Não briguento”.

(2) - Relacionado ao caráter -
               (a) - Irrepreensível - Não deixe suspeitas sobre aquilo que ele é.
                         *Diáconos - “respeitáveis” vs. 8

               (b)- Modesto - Líder não pode ser presunçoso e arrogante. Deve ser simples no vestir, simples no estilo de viver.

               (c)- Avesso a contendas - “Inimigo de contendas” vs. 3. Quando lideres amam disputas, a igreja facilmente se divide.

               (d)- Bom testemunho - vs. 7

Ao falar sobre isto, o texto bíblico aponta para duas direções:

                  1. Preocupação com as pessoas- Para não cair no opróbrio e vergonha-vs.7
                  2. Preocupação com o diabo - vs. 6,7 - Para não ser humilhado por satanás

(3)- Relacionado à administração de finanças -
                 (a) “Não avarento”. Living Bible : “Não amar o dinheiro”.
Como administrar o dinheiro de Deus se ele o líder é desonesto? Pessoas que não investem financeiramente no reino, não são contribuintes, não podem assumir posições de liderança, porque no mínimo é infiel, e no máximo, não acredita que a Igreja seja um projeto no qual vale a pena colocar seus bens. Afinal, não foi isto que nos ensinou nosso Senhor Jesus Cristo: “Onde estiver seu tesouro, ali estará também o seu coração”? Por isto, os diáconos não podem ser ”cobiçosos de sórdida ganância” (BJ) ou, como afirma uma diferente tradução, devem viver “sem cobiçar lucros vergonhosos” [1]

(4) - Relacionado à experiência de vida cristã - vs. 6
                   Experiência com Deus e a comunidade.
                   a. Não “soberbos”. Vs. 6
                   b. Não facilmente escandalizáveis - vs. 10 Muitas vezes o líder precisa se confrontar com problemas terríveis que acontecem na vida de pessoas e indivíduos e deve aprender a tratar tais “escândalos”, com maturidade e equilíbrio.
                   c. Os diáconos devem ser “experimentados”. vs.10 Devem demonstrar habilidade, interesse e alegria naquilo que fazem.

(5) - Relacionado ao uso da língua - vs. 8

                  a. “De uma só palavra” - Vs. 8 Tem a ver com o caráter de alguém que diz a verdade, sabe o que diz e não precisa ficar justificando o que falou.
                  b. “Não maldizentes” - vs. 11 NIV: “malicious talkers”.

(6)- Relacionado à doutrina cristã - ou ao corpo doutrinário das Escrituras.

a. Estabilidade espiritual - “conservando o mistério da fé” vs. 9 Gente que persevera na doutrina dos apóstolos.

b. Fiéis em tudo - No testemunho, nas finanças, na visão doutrinária.
Liderança infiel destrói a Igreja. O povo é impactado por líderes sérios, e por líderes infiéis. Os primeiros estimulam a fé dos eleitos, geram modelos de vida cristã, tornam-se referenciais para o mundo e para a segunda geração da Igreja e uma vida cristã profunda na comunidade. Os segundos, causam escândalos, geram dúvidas sobre a validade da fé que Jesus nos ensinou a viver, podendo destruir pessoas cuja fé genuína está florescendo, levando-as ao inferno. Por isto Deus está preocupado com a liderança de sua Igreja.

2. Desafio da Institucionalização para a Sociedade – Este é o segundo desafio que temos. De sair do circuito fechado da igreja para se tornar uma benção e referência na sociedade.

Há uma tendência natural de ensimesmamento dos projetos. A igreja pode voltar para si mesma e se satisfazer com isto. Muitos citam equivocadamente o texto bíblico que afirma: - “Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10). É fácil esquecer a primeira parte do versículo para justificar a indolência cristã, mas a Bíblia diz que devemos fazer o bem a todos, enquanto temos oportunidade. Portanto, precisamos ter uma visão mais ampla do serviço que Deus dá à igreja. Não servir apenas à igreja, mas ter um olhar missionário. A igreja precisa sair de si mesmo, olhar para os campos. Servir à cidade, ser diácono nesta geração caída.

Talvez pudéssemos ter um fórum comunitário, provocar uma ampla discussão na igreja tentando entender “como poderemos servir à cidade” onde estamos plantado. Certamente muitos e grandes desafios estão diante de nós, e precisamos abraçá-los. Admito que a igreja nem sempre é capaz de responder às grandes questões que se impõem diante de nós, mas com cuidado, certamente seremos capazes de avançar neste campo.

Os diáconos da igreja não são chamados apenas para servir à instituição, mas para servir a sociedade. Isto é um olhar mais abrangente do ministério. Não servir apenas a instituição local, mas a comunidade.

A constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil fala das funções diaconais da seguinte forma:

Art.53 - O diácono é o oficial eleito pela Igreja e ordenado pelo Conselho, para, sob a supervisão deste, dedicar-se especialmente:

a) à arrecadação de ofertas para fins piedosos;
b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;
c) à manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao serviço divino;
d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de Deus e suas dependências.

As duas últimas tarefas são voltadas para a instituição e manutenção da igreja, mas as duas primeiras são voltadas para o serviço comunitário. Se a sociedade está passando por necessidades públicas, assistência financeira, os diáconos deverão ser os primeiros a encabeçar estas atividades.


3. Desafio do Assistencialismo ao Empoderamento. Intencionalmente uso dois termos que precisam de certa explicação.

Por Assistencialismo refiro-me à ação emergencial de socorro. Muitas necessidades são trazidas à Junta para que ela administre. São pessoas em crises financeiras, precisando de cesta básica, de remédio, do pagamento de aluguel, do pagamento de uma consulta. Estas tarefas são, geralmente, cumpridas de forma proativa pela Junta Diaconal. Por Empoderamento, usamos um termo tirado da sociologia moderna que traz a ideia de “dar poder” aos que se acham desprezados.

Veja esta definição tirada da web. Ela é um pouco longa, mas pode nos ajudar:

Empoderamento, ou delegação de autoridade, é uma abordagem a projetos de trabalho que se baseia na delegação de poderes de decisão, autonomia e participação dos funcionários na administração das empresas. Analisa-se o desenvolvimento, ou grau de maturidade, do empoderamento na organização avaliando o estágio evolutivo em que se encontram as áreas de gestão, as configurações organizacionais,estratégias competitivas, a gestão de recursos humanos e a qualidade.

O empowerment é ainda uma técnica de gestão baseada na descentralização de poder e autonomia de tomada de decisões, que visa maior participação da equipe em atividades organizacionais.

Para Chiavenato, o empowerment ou empoderamento, é uma ação que permite melhorar a qualidade e a produtividade dos colaboradores, fazendo com que o resultado do serviço prestado seja satisfatoriamente melhor. Estas melhorias acontecem através de delegação de autoridade e de responsabilidade, fomentando a colaboração sistêmica entre diferentes níveis hierárquicos e a propagação de confiança entre os liderados e os líderes.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrat%C3%A9gia


A diferença entre Assistencialismo e Empoderamento, é que, no primeiro, ajudamos as pessoas necessitadas, trazendo socorro, alivio, apoio, enquanto que no segundo, queremos capacitar as pessoas necessitadas visando trazer dignidade e senso de que fazem parte de uma construção social, e não são apenas agentes passivos que precisam de cuidado.

Qual é o problema do programa assistencialista?

Já em 1969, Paulo Freire escrevia com grande lucidez sobre este assunto em Educação como prática da Liberdade (Rio, Paz e Terra). Sua abordagem pedagógica é impressionante.
Para Freire, os programas assistencialistas roubam dos pobres o seu maior valor que é a dignidade, privando-os de uma inserção comunitária. Como não são convidados a refletir sobre suas possibilidades, não conseguem “fazer-se críticos e, por isso, (...) se tornam criticamente otimistas” (op. cit. 54).

Com tal compreensão, Freire demonstra que ao deixarem de ser passivas e tornarem-se agentes de sua história, “a desesperança das sociedades alienadas passa a ser substituída por esperança, quando começam a se ver com os próprios olhos e se tornam capazes de projetar (...) na medida em que vão se integrando com o seu tempo e o seu espaço” (id. Pg.54).

Os programas assistencialistas inibem a participação do povo nos processos decisórios, criando uma relação de dependência/dominação. Não sendo capaz de se envolver politicamente através do trabalho construtivo e da discussão de sua própria história, perdem o sentido da esperança. O impotente, que sequer pode trabalhar, está morto. “Quem se julga acabado está morto. Não descobre sequer sua indigência” (Id. pg 53).

O assistencialismo contradiz a vocação natural da pessoa e “faz de quem recebe a assistência um objeto passivo, sem possibilidade de participação do processo de sua própria recuperação” (id. Pg. 57). Freire vê nisto uma forma de agressão: “Violência do seu antidiálogo, que, impondo ao homem mutismo e passividade não lhe oferece condições especiais para o desenvolvimento ou a “abertura” de sua consciência (id. Pg.57). Este é o resultado didático do ócio remunerado ou da esmola oficial.

Luiz Gonzaga, antes destas reflexões de Freire, disse com muita propriedade:
“Mas doutor uma esmola,
A um homem que é são,
Ou lhe mata de vergonha,
Ou vicia o cidadão”.

(Vozes da seca, Zé Dantas e Luiz Gonzaga, 1953).

Jesus, ao encontrar um paralítico, disse-lhe: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. Interessante esta forma didática de ensinar. Jesus inspira fé e capacita o ser humano a andar com suas próprias pernas e a não depender de outro para carregar o seu próprio leito. Poderia apenas lhe dizer que estava curado, mas resolve capacitá-lo a romper o círculo de dependência que sempre caracterizara sua vida.

A prática da liberdade envolve este processo de capacitação do ser humano. Ninguém será livre, se a dignidade, o valor próprio e a esperança não lhe for entregue.

O desafio diaconal passa por este caminho: sair da assistência e da cesta básica para a autonomia e capacitação humana. O pobre não é menos inteligente, na maioria as vezes o é por falta de oportunidades. Temos que entender que nas relações sociais, existe uma indústria da fome, da miséria, assim como existe da seca, do abandono e da dependência. A pobreza e despotencialização favorece grupos políticos manipuladores.

4. Desafio do Específico para o Abrangente – Este é o quarto e último aspecto que gostaria de considerar nestes desafios diaconais para o Século XXI.

A tarefa diaconal consiste, não apenas em cuidar da porta, mas estar plugado às necessidades extra litúrgicas da comunidade. Não apenas entregar folhetos e boletins, e eventualmente socorrer uma necessidade e emergência durante o ato de culto, mas precisa perceber o que está acontecendo à comunidade.

Isto implica em não apenas estabelecer o bom funcionamento das atividades, mas supervisionar, diaconizar. Quando o diácono entende isto, ele percebe que seu ministério é muito maior. 

Nas atribuições diaconais da igreja, vários itens devem ser considerados:

· Instalações: Os diáconos poderiam ser responsáveis por administrar a propriedade da igreja. Isso incluiria assegurar que o lugar de culto esteja preparado para a reunião de adoração, limpá-lo, ou administrar o sistema de som.

· Benevolência: Semelhante ao que ocorreu em Atos 6.1-6 com a distribuição diária em favor das viúvas, os diáconos podem estar envolvidos em administrar fundos ou outras formas de assistência aos necessitados.

· Finanças: Enquanto os presbíteros deveriam, provavelmente, supervisionar as questões financeiras da igreja (At 11.30), pode-se deixar apropriadamente que os diáconos lidem com as questões cotidianas. Isso incluiria coletar e contar as ofertas, manter registros, e assim por diante.

· Introduções: Os diáconos poderiam ser responsáveis por distribuir boletins, acomodar a congregação nos assentos ou preparar os elementos para a comunhão.

· Logística: Os diáconos deveriam estar prontos a ajudar em uma variedade de modos, de modo que os presbíteros possam se concentrar no ensino e no pastoreio da igreja.
As Qualificações e Responsabilidades Bíblicas dos Diáconos

Benjamin L. Merkle1
Fonte: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/623/As_Qualificacoes_e_Responsabilidades_Biblicas_dos_Diaconos

Ainda lemos na constituição da igreja.
Art.1 - A Junta Diaconal constituída de todos os diáconos da Igreja (CI/IPB Art.83, alínea “g” ) coordena as funções estabelecidas na CI/IPB Art.53 e rege-se pelo presente regimento.
Art.2 - Compete à Junta Diaconal coletivamente e aos diáconos individualmente:
a) Tomar conhecimento da existência de necessitados principalmente entre os membros da Igreja, visitá-los, instrui-los e confortá-los espiritualmente, bem como auxiliá-los nas suas necessidades dentro das possibilidades da Igreja, examinando cautelosamente a fim de verificar a real existência das necessidades alegadas;
b) Dispor para esses fins dos recursos votados pelo Conselho e das ofertas especiais. Determinar no início de cada ano a quantia máxima que o diácono poderá aplicar individualmente, por mês, no socorro urgente do necessitado;
c) Examinar os casos de pretensões a lugares gratuitos em hospitais e orfanatos recomendando ou não a assistência pretendida;
d) Tomar conhecimento da existência de enfermos, entre membros e aderentes da Igreja, visitá-los e confortá-los em caso de necessidade;
e) Comunicar aos presbíteros e ao pastor a existência e as condições dos enfermos;
f) Manter em dia com meticuloso cuidado a lista e os endereços das pessoas que estão recebendo auxílio da Junta;
g) Recolher as ofertas dos membros e amigos da Igreja, conta-las e encaminhá-las imediata e diretamente à tesouraria;
h) Dar todo o apoio coletivo e assegurar o apoio individual dos diáconos aos planos econômicos ou financeiros adotados pelo Conselho da Igreja de modo que sejam propagados com entusiasmo e realizados com toda a eficiência;
i) Verificar se estão em ordem as cousas referentes ao culto como também os objetos da Santa Ceia e do batismo e recolhimento das ofertas;
j) Observar a ordem conveniente nos pátios e arredores do templo desde a rua até as dependências internas;
l) Evitar de modo absoluto que haja reuniões em outras salas ou palestras entre membros da Igreja ou simples assistentes, dentro do templo ou nos pátios, durante as horas de culto.


Ainda devem ser considerados as seguintes funções: “Sempre que o ambiente o permitir os diáconos, nas visitas, deverão orar e ler trechos da Palavra de Deus, como também instruir os crentes sobre o privilégio da contribuição”.

Percebem a largueza e amplitude deste ministério?
Vai muito além daquilo que normalmente consideramos.

Conclusão:
Não poderia deixar de concluir fazendo as seguintes afirmações sobre o diaconato.
Qual é a bênção de ser um diácono?
O apóstolo Paulo afirma que duas grandes bençãos surgem na vida das pessoas que se dispõem a esta grande obra:

1. Justa preeminência – “Pois os que desempenharem bem o diaconato, alcançam para si mesmos, justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13). Que promessas maravilhosas! Lugar de destaque na obra. Paulo usa o termo grego bathmos, ideia de valor e significado. Este termo surge uma única vez em todo Novo Testamento, exatamente neste texto.

2. Intrepidez na fé - “Pois os que desempenharem bem o diaconato, alcançam para si mesmos (...) muita intrepidez na fé em Cristo Jesus

Não é uma grande bênção? O exercício do diaconato, feito com zelo, devoção, adoração, traz intrepidez espiritual. Talvez seja por isto que quando surge a perseguição em Atos, vemos os diáconos no primeiro plano de evangelização. Estevão, intrepidamente, se torna o primeiro mártir cristão, falando com ousadia diante do Sinédrio (Atos 7); em seguida, vemos o diácono Filipe testemunhando sua fé e levando a Cristo o Ministro das finanças da Etiópia, reconhecer Jesus como seu salvador pessoal (At 8). A pessoa que vive uma vida de serviço aumenta sua fé, e se torna ousada em Cristo Jesus.



[1] Inicialmente os diáconos administravam as finanças da igreja. A tarefa diaconal é a que exige recursos: Cuidar dos pobres, salário do pastor e funcionários- (administração), e cuidado do templo e investimentos em projetos evangelísticos e sociais. Os presbíteros  tinham a responsabilidade espiritual do rebanho, eles eram os pastores: cuidavam do rebanho, ensinava a correta doutrina, exortava os hereges, oravam, liam a Bíblia, pregavam e discipulavam, abriam frentes missionárias e cuidava espiritualmente do povo. Paulatinamente tem ocorrido uma inversão de papéis, e certamente isto tem trazido prejuízos espirituais para a igreja de Cristo.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Epístola de Tiago: Cristianismo Autêntico


Tiago era um  dos irmãos de Jesus (Mt 13.53-55). Ele muitas vezes se escandalizou com comportamentos estranhos do seu irmão. Mais tarde, porem, torna-se um dos apóstolos de Cristo, e quando fala de si no inicio da carta, não se refere a si próprio como “o irmão de Jesus”, mas como “servo de Cristo”. Não sabemos se isto se deu depois da aparição especial que recebeu de Jesus, após sua ressurreição (1 Co 15.5), mas o fato é que ele se refere a Cristo como “Senhor da glória” (Tg 2.1).
Na história da igreja ele é chamado de “Tiago, o justo”. Quando ele fazia qualquer afirmação, as pessoas o ouviam porque sabiam de sua seriedade e bom senso. Historiadores se referem a Tiago como “o homem com joelhos de camelos”, por causa de sua incessante busca da presença de Deus. A tradição afirma que ele foi martirizado. Depois de jogado do topo do templo foi ainda apedrejado.
O conteúdo de sua mensagem é prático.
Um dos pontos mais controvertidos é o das boas obras. Para alguns ele coloca as obras em oposição à fé, mas na verdade isto nunca aconteceu. Seu propósito era levar aqueles que estavam vivendo vidas desleixadas a demonstraram na sua atitude que realmente possuíam uma fé vigorosa.
O tema central de sua carta é o cuidado que se deve ter para não viver espiritualmente de forma hipócrita, mas viver de forma autentica e coerente a fé cristã.

Seu conteúdo pode ser dividido da seguinte forma:
O Cristianismo autêntico se revela:

1.      Na forma como lidamos com as provações – Tg 1.1-3
2.      Na descoberta do real valor da vida – Tg 1.4-11
3.      Não culpa a Deus pelo seu fracasso, culpa a si mesmo – Tg 1.12-18
4.      Possui relação de submissão à Palavra – Tg 1.19-25
5.      Tem uma religiosidade não ritualista – Tg 1.26-27
6.      Não faz acepção de pessoas – Tg 2.1-13
7.      Equilibra obras & fé – Tg 2.14-25
8.      Usa a língua para abençoar – Tg 3.1-17
9.      É Humilde – Tg 4.1-12
10.  Depende de Deus quanto ao seu futuro – Tg 4.13-17
11.  Administra seus bens e riqueza de forma espiritual – Tg 5.1-6
12.  Persevera na fé – Tg 5.7-11
13.  Desenvolve vida de piedade e temor
a.     Na oração – Tg 5.12-18
b.     Na confissão de pecados – Tg 5.16

c.      Na preocupação com os perdidos – Tg 5.20