segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A Era do Espírito ou o Espírito da Era




Introdução:
Era do Espírito?

Este tema que me foi proposto, foi extraído do livro de Michael Horton, A Face de Deus, Os perigos e as delicias da intimidade espiritual. (São Paulo, Cultura Cristã, 1999- 3o. Capítulo). Apesar do roteiro dele ser dado como referencia, e de ter usado pequena parte de seu material, resolvi transitar por uma trilha que julguei mais pertinente à realidade da igreja local.

Tentando construir um caminho...
Joaquim de Fiore (11.32-1202) foi um filósofo místico e abade de Fiore, defensor do milenarismo  que criou um forte movimento católico conhecido como joaquinismo. Sua tese mais controvertida gira em torno da ação da Trindade na História. Na sua peregrinação à Terra Santa, entregou-se a um intenso misticismo, e passou uma quaresma em contemplação no Monte Tabor, onde diz ter recebido em visão a inspiração divina que o guiaria pelo resto de sua vida. Em 1159, ao regressar a Itália, foi para a Abadia cirterciense onde dedicou-se à pregação dedicando-se ao estudo da Bíblia, procurando o significado mais profundo das Escrituras.
Sempre embrenhado no seu labor, retirou-se para o monastério de Pietralata, onde fundou a abadia de Fiore, nas montanhas da Calábira (1198), e morreu em 1202, imediatamente sendo venerado como beato.
Sua maior contribuição foi a controvertida teoria de que existem três Idades da História, no desenvolvimento do mundo e da igreja de Deus, correspondendo às três pessoas da Santíssima Trindade.
A primeira correspondeu ao governo de Deus Pai, representada pelo poder absoluto, representada pelo temor a Deus presente no Antigo Testamento. Esta época corresponde ao tempo anterior à revelação de Jesus Cristo.
A segunda Idade inicia-se pela revelação do Novo Testamento e fundação da Igreja de Cristo, em que, através de Deus Filho, a sabedoria divina que tinha permanecido escondida da humanidade se revela.
A Terceira Idade, corresponde ao domínio da Terceira Pessoa, com o advento do Império do Divino Espírito Santo, um tempo novo onde o amor universal e a igualdade entre todos os membros do Corpo Místico de Deus, isto é entre os cristãos, serão alcançados. No Império do Divino Espírito Santo, as leis evangélicas serão finalmente realizadas, não só na sua letra mas no seu espírito, isto é a mensagem que nelas está escondida será finalmente compreendida e aceita pela humanidade.
Na Terceira Idade, a idade da graça redentora, não haverá necessidade de leis ou instituições disciplinadoras da fé, já que esta será universal e baseada diretamente na inspiração divina, pelo que poderão ser dispensadas as estruturas institucionais do poder temporal da Igreja. Joaquim de Fiore acreditava que a Segunda Idade estava no seu fim e que o advento do Império do Espírito Santo estava próximo e seria a apoteose da História, durando até ao fim dos tempos, apenas terminando com a glória da segunda vinda do Redentor (Fonte Wikipédia).

Quando estudei na Harvard Divinitas School, como aluno especial Minister in Vicinity, fiz um curso com Harvey Cox sobre o Pentecostalismo, e ele ressuscitou numa das aulas os conceitos de Joaquim de Fiore. Para ele, sob este novo paradigma, a figura de Cristo não seria mais central, transcendendo as barreiras da exclusividade de Cristo, e permitindo que todas as religiões pudessem partilhar de um mesmo movimento, agora sem as fronteiras da exclusividade imposta pela pessoa de Cristo. Não é assustador?

Espírito da Era
A Bíblia descreve a vida do cristão em luta contra três poderosas forças, que dominam a vida do homem não regenerado: A carne, o mundo e o diabo. Cada uma destas forças se  constituem enorme batalha no processo de santificação. Para efeito do estudo de hoje, diria que estes poderes revelam O espírito desta era, e se esmeram para transformar estes poderes em algo absoluto na vida do ser humano.

Cada uma destas forças (ou agentes) operam orquestradamente para conspirar contra a obra de Deus, elas agem e dirigem a vida do homem sem Deus. Em Efésios 2.1-3 elas aparecem juntas, formando uma espécie de "triunidade satânica", que impulsiona a humanidade a ser como é, formando assim o Espírito desta era.

1.     A Carne - “...entre os quais também todos nós andamos outrora segundo as inclinações da carne, fazendo a vontade da carne e do pensamento, e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais ” (Ef 1.3). Este é primeira força que conspira contra Deus.

A Carne (sarx), não são os tecidos vivos que cobrem o esqueleto ósseo, mas sim as inclinações internas, impulsos de uma natureza caída e egocêntrica. As inclinações da carne e do pensamento, não são forças externas, nem do diabo, nem do mundo, embora sejam parceiros destes.
Não precisamos de elementos externos para nos afastarmos de Deus. Bastam apenas nossos motivos pecaminosos. O homem sem Deus obedece os impulsos de sua natureza auto enamorada, está entregue a si mesmo. A carne tem poder nefasto. Ela nos torna escravos de desejos, lascívia e paixões, nos arrastando para pensamentos pecaminosos e destruidores.

Como obter vitória sobre a carne?

A Bíblia nos convida a “negar-se a si mesmo”, a “fazer morrer a natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e à avareza, que é idolatria” (1 Ts 4.5). A não alimentarmos a carne (Rm 13.14). A carne precisa ser “crucificada”(Rm 6.6,11) e precisamos fazer morrer a persistente velha natureza pecaminosa (Ef 4.22-24).
As inclinações da carne incluem soberba, ambição, luxúria, vida independente de Deus, rejeição à verdade de Deus, e o desejo de viver sem a direção de Deus. Sempre que o "eu" se levanta contra Deus eis aí a carne. A obra de Cristo na cruz tinha como um dos objetivos, crucificar o velho homem, para que o corpo do pecado fosse destruído e assim não servíssemos mais a este corpo tirano (Rm 6.6).

2.     O Diabo - "...Segundo o príncipe da potestade do ar".  O termo "ar" pode ser traduzido por "atmosfera nebulosa", indicando "trevas". Não se refere a ideia mágica de que o ar (atmosfera) seja dominada pelo diabo.

As estratégias destes poderes espirituais são sutis e bem organizadas, induzindo a mente humana à independência e rebelião contra Deus.
O diabo é descrito como ser pessoal com estratégias demoníacas que atuam tanto no plano individual como em estruturas sociais. Não há nenhuma razão para pensar que a retomada deste tema seja apenas "uma moda eclesiástica". Jesus confrontou diretamente a ação maligna enquanto exerceu seu ministério terreno. Há um "espírito que atua nos filhos da desobediência. "Potestade do ar" descreve sua visibilidade.

Como vencer o diabo?

 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6.11). A velha vida, sem a atuação de Deus que nos dá poder está sujeita à orientação e direção dos poderes do mal (grego energountos). Por isto precisamos nos revestir de Cristo e das armas espirituais que ele nos dá.
Os espíritos malignos atuam nos filhos da desobediência. Isto descreve seu campo de ação. Ele dá a direção daqueles que não estão debaixo da orientação divina. Apenas quando o homem se encontra sob nova direção, ele vai discernir a Deus e consegue resistir ao diabo (1 Pe 5.8-9).
            
3.     O Mundo – “Segundo o curso deste mundo”.  A melhor tradução aqui seria “sistema”. Refere-se ao pensamento secular que encontra-se presente em toda cultura e sociedade humana. São sistemas filosóficos e éticos, que agem como uma força brutal como a correnteza de um rio e que arrasta tudo que encontra pelo caminho.

Vivemos numa cultura pagã e demoníaca. A sociedade não é neutra, mas oposta a Deus, independente de sua geografia e do momento especifico da história. Nos tempos bíblicos, a igreja enfrentou a cultura helênica, pagã, sensual; com a ética romana de dominação, opressão e violência. A vida humana pouco valia. Os crentes sentiram na carne o peso de um sistema de valores oposto a Deus. Paulo afirma: "éreis arrastados ao longo das correntes de ideias" (CIN).
A força dos sistemas secularizados e pagãos mudaram apenas a roupagem mas continuam se opondo a Deus, lançando mão de valores humanistas e seculares.
Este é o espírito desta era.
Basta ligar a televisão, ler o jornal, abrir a internet, frequentar uma escola ou universidade, ouvir músicas, para perceber nitidamente como todo o sistema conspira contra a santidade e os valores da família, igreja e da Palavra? Este sistema age de forma dominante.

Este é o espírito desta época.
Como opera este sistema?

1.     Uso efetivo do Marketing e da Mídia – Não podemos ignorar o poder e o alcance da mídia na mente das pessoas. Diariamente somos bombardeados com informações e dados que interessam ao diabo.

No livro Apocalipse, Arquitetura em movimento, o teólogo francês reformado, Jacques Ellul afirma que A primeira besta (Ap 13.1-10), tem características monstruosas enquanto a segunda tem uma aparência inócua e amena, e isto provavelmente nos revela que a segunda seja mais perigosa que a primeira. Ela sobe do mar, que significa nações e governos (Is 17.12; Ap 17.5), tendo dez chifres e sete cabeças. Trata-se do poder político. Os dez chifres simbolizam seu grande poder. E o fato de haver pluralidade (13.7,10), demonstra que não é um poder particular mas uma potência geral, absoluta do mundo político.
Como esta besta pode acumular tanto poder e glória?

O vs. 4 declara que sua autoridade é concedida pelo dragão. Com isto Apocalipse revela que esta força política não provém de fatores meramente sociológicos nem é subproduto de uma história cega e amorfa, mas vem da potência das trevas. Os poderes do mundo presente estão permeados pela ação do sobrenatural. O mundo visível está permeado por realidades invisíveis e é influenciado por elas.

Já a segunda besta, segundo Ellul, trata-se da propaganda. “É ela que anima a imagem e lhe dá a palavra. Uma vez mais a grande arma da segunda besta é a palavra. Ela põe as suas palavras na boca do  Estado; é através dela que o Estado fala e se faz conhecer, designar, obedecer. Portanto, estamos verdadeiramente diante da obra extraordinária da animação de uma estrutura morta, de uma organização estéril, de um mecanismo de poder que se torna presença viva e vital. Ora, o que efetivamente desempenha todos estes papéis é exatamente a propaganda”.[1]
Esta segunda besta apresenta-se na forma de um Cordeiro, mas tem fala de dragão. É benigna na sua aparência, apresenta-se inofensiva, revela doçura. Assemelha-se a um cordeiro, mas interiormente encobre um monstro perigoso. Seu pensamento interior, sua essência e seu caráter se revelam no seu modo de falar. É a mentira com aparência de verdade. Não é isto mesmo que nos faz a propaganda, nos tentando convencer que um determinado produto é bom, mesmo que ele não preste?  Gerando em nós necessidades sem que realmente precisemos deles? A propaganda quase sempre é enganosa, sedutora…

O efeito do Marketing

1.     Cria necessidades – Os estudiosos desta área tentam detectar cheiros, cores, formas que atraem as pessoas fazendo-as desejar algo que não necessariamente precisam. Eva estava feliz e despreocupada no Éden, em plena comunhão com Deus. De repente chega o diabo e sugere coisas bem maiores e interessantes. Eva aderiu.



POR QUE EVA COMEU A FRUTA ?


Existe muita brincadeira sobre o assunto, mas dizem que Eva, no inicio, não queria comer a fruta, e Satanás então usou de todas suas estratégias marqueteiras:


- Come – disse a serpente astuta! – e serás como os anjos!
- Não – respondeu Eva. Virando a cara para o lado!
- Terás o conhecimento do Bem e do Mal – insistiu a víbora.
- Cruzou os braços, olhou bem na cara da serpente e respondeu firme: Não!
- Serás imortal.
- Não! Já disse!
- Serás como Deus! 

-     -NÃO, e NÃO! Já disse que NÃO!

Irritadíssima, quase enfiando a fruta goela abaixo, a serpente já estava desesperada e não sabia mais o que fazer para que aquela mulher, de princípios tão rígidos e personalidade tão forte comesse a fruta. Até que teve uma ideia, já que nenhum dos argumentos haviam funcionado…
Ofereceu novamente a fruta e disse com um sorrisinho maroto:

- Come, boba !!! EMAGRECE !!!! Foi tiro e queda !!! 

Brincadeiras à parte, o fato é que Satanás criou desejos e necessidades no paraíso. Eva estava no Éden, nada lhe faltava, mas o diabo a convenceu de que ela não tinha algo essencial. É isto que o sistema procura fazer, pressionar, dar a impressão de que existe algo que nem Deus pode oferecer, só o sistema. Desconfie!!

2.     Faz parecer normal o que é anormal.  Já viram alguma serpente conversando com um homem na Bíblia? Não! A serpente não foi feita para conversar com seres humanos. Ela deveria desconfiar do que via e ouvia, mas foi se acomodando ao que era anormal e aceitando aquilo como um dado pronto.

Satanás pode fazer o pecado parecer normal, a santidade parecer estranha, Deus parecer esdrúxulo, a verdade parecer mentira, a mentira parecer verdade (Is 5.20).

3.     Faz você se sentir inadequado – O sistema cria um sentimento de que somos ridículos se não aderirmos às suas propostas.

A maioria das meninas se sentem inadequadas hoje, se não tiverem sexo com seus namorados aos 13 anos de idade. Se um garoto decide não “ficar”, será visto como uma pessoa estranha. Se um funcionário não entra num esquema de propina ele é bobo ou será que ele “quer parecer que é santo?” Quantas mulheres cristãs assediadas ouviram a expressão: “Não vai me dizer que é santinha?”
Nos dias de Jesus, as coisas também eram da mesma forma. Pedro afirma: “Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão” (1 Pe 4.4). As pessoas achavam estranho que os discípulos de Cristo não cometessem os mesmos pecados. Na sociedade atual, se você não adere ao pensamento socialmente aceito, você é inadequado. É um sentimento péssimo quando você faz o certo e é questionado e criticado por fazer o certo.

4.     O sistema se estrutura para unanimemente se opor a Deus e à igreja. É isto que nos ensina a Palavra.

Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (Sl 2.1-3). O texto bíblico nos ensina que reis, sistemas e  autarquias, se levantam unânimes contra o Senhor e seu Messias (ou Cristo). Por isto a Bíblia diz: “Não ameis o mundo nem as coisas ue há no mundo. Porque se alguém amar o mundo o amor do Pai não está nele”(1 Jo 2.15-17).

5.     Instrumentaliza a força da carne – O Sistema maligno encontra um forte aliado que é a carne pecaminosa. Ele aguça o que já está dentro de mim. Quando a mídia coloca uma foto atraente, carregada de sensualidade e luxúria, o problema não é só a intenção da foto. O problema é que a carne deseja isto.

O apóstolo Joao fala de três coisas que se aliam aos sistemas, e quando elas se pervertem encontram o solo adequado para florescer.

A.    A Ditadura do Prazer: “A concupiscência da carne” – Concupiscência é uma palavra estritamente teológica e significa “desejo estragado”. O problema não  é a necessidade da fome que eu tenho, mas a gula; nem o desejo de crescer, mas a ambição; ou a alegria de andar arrumado, mas a vaidade; nem mesmo o desejo sexual, mas a luxúria; nem o desejo de ganhar um bom salário, mas a avareza e a cobiça. Desejos legítimos são pervertidos porque a carne é intrinsecamente predisposta a sair da esfera do sagrado para o pecado.

B.     A Ditadura da Estética: “A concupiscência dos olhos” – Aqui temos a distorção da visão. Depois de ter criado todas as coisas, Deus as admirou e disse que tudo era muito bom. Bom não apenas num sentido ético, mas também no sentido estético.

Quando admiramos o belo, isto faz parte da obra maravilhosa de Deus. O problema é que o belo se perverteu. Queremos corpos perfeitos senão não nos satisfazemos conosco mesmo. Queremos o belo para consumir com lascívia, o belo se torna fonte de exploração humana, pornografia e prostituição. O belo se desvirtua. Os olhos estão carregados de concupiscência. 
Mulheres estão cada vez mais infelizes com o que veem nos espelho, não conseguem se regozijar em Deus. Homens estão vendendo sua honra e dignidade por causa de um corpo mais torneado. Criou-se um paradigma de beleza que se desvirtuou. A Bíblia fala da beleza maior, protótipo de todas as coisas belas: A “beleza de santidade de Deus”.
Há uma beleza em Deus e na sua criação. O salmista sugere que no louvor, na adoração, podemos encontrar a beleza da santidade, nos alegrarmos em Deus e glorificarmos o seu nome. Mas o belo adoeceu, se tornou objeto, carregado de exploração e comércio. O belo encontrou-se com a sua dimensão mais feia. A luz se encontrou com a sombra.
A concupiscência nos olhos de Eva a levou a distanciar-se de Deus: “Vendo a mulher, que a arvora era boa, agradável aos olhos”. (Gn 3.6). A beleza a fascinou e a cegou, assim como Narciso se olha no espelho e se transforma numa flor, se desumaniza. Eva olha a árvore e não consegue enxergar nenhum dos outros lindos e agradáveis frutos do Éden, a partir de agora, só o proibido lhe interessa.
A concupiscência dos olhos afastou Davi de Deus. “Daí, viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa” (2 Sm 11.3). Ele “viu”. O belo o traiu. Seus olhos se distraíram e sua visão se tornou obnubilada. Nada mais interessava. O proibido se torna acessível, e poder aliado à luxúria traz a morte e a vergonha para sua casa.  

C.    A Ditadura da Vaidade e do controle – “A soberba da vida” . O sistema também vai desemboca na vaidade e futilidade.

Esta foi a fórmula do diabo ao tentar Eva: “Como Deus sereis conhecedores do bem e do mal” , e esta mesma fórmula atinge o coração do homem em Babel. “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue aos céus e tornemos célebres o nosso nome” (Gn 11.4).
O poder, se torna central. “Ser semelhante a Deus”, chegar aos céus, atingir a divindade. A popularidade e o reconhecimento, busca de glória pessoal e reconhecimento que torne célebre os nomes. Quanta vaidade existe em cada arte, poesia, texto, atleta, música. O ídolo da popularidade e aceitação se transforma em ditadura no pecaminoso coração, que sucumbe às proposta do diabo, que tão bem utiliza o poder e o sistema numa sociedade sem Deus.

O espírito da Era
Para melhor entender o espírito desta era, gostaria de citar pelo menos quatro grupos filosóficos que dão sustentabilidade aos sistemas humanos.

Primeiro, hedonismo
Sempre nos referimos a esta geração como sendo marcada pela busca insaciável pelo prazer. Busca-se prazer em todas as formas, uma geração dominada pela adrenalina, e prazer imediato. É uma cultura que de todas formas evade-se da dor, lançando mão de todas as drogas legais ou ilícitas.
Entretanto, ao lermos mais cuidadosamente a história, vemos que tal cultura sempre esteve presente no Antigo Testamento. Salomão demonstra este lado mais visível da vaidade e do desejo pelo prazer. No livro de Eclesiastes, distanciado de Deus, ele sugere a clássica fórmula hedonista: “comamos e bebamos que amanhã morreremos”. Veja sua afirmação: “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus de antemão se agrada das tuas obras” (Ec 9.7). Seu argumento não é caracteristicamente hedonista?
Nos dias de Paulo, vemos Paulo combatendo esta pecaminosa atitude no coração humano. Quando escreveu aos irmãos que não criam na ressurreição ele usa de cinismo ao contrapor o argumento pecaminoso dos hereges irmãos de Corinto: “comamos e bebamos que amanhã morreremos” (1 Co 15.30-33). 
O hedonismo traduz bem o espírito desta era: Máximo prazer, custo mínimo, que pode também ser traduzido por um princípio ético chamado de “delay gratification”. Se quisermos alcançar algo duradouro e perene, precisamos adiar a gratificação. O único lugar em que sucesso vem antes de trabalho é no dicionário, mas esta geração não quer pagar qualquer preço, nem se sacrificar por nada. Literalmente ela está dizendo, como bem traduziu a famosa banda inglesa:
It ain't much I'm asking
If you want the truth
Here's to the future
Hear the cry of youth (Hear the cry of youth)
I want it all (3x)
And I want it now

(Não é muito o que eu peço,
Se vocês querem a verdade
Aqui está o futuro,
Ouça o choro da juventude (ouça o choro da juventude)
Eu quero tudo
E eu quero agora).


Segundo, Gnosticismo
Morton afirma que existe uma espiritualidade que tenta imitar o cristianismo, mas está teologicamente distanciada do calvinismo bíblico, que saiu das verdades bíblicas para o “romantismo evangélico” (Horton, pg 91). O resultado disto é que a espiritualidade moderna subordina fé ao sentimento.
Filosoficamente podemos chamar de Experimentalismo, que ao invés de dizer “penso, logo existo” diz: “sinto, logo me autentico!” por esta razão, a pregação não se baseia na obra objetiva e salvadora de Cristo, mas na auto ajuda psicológica e moral. Os hinos de louvor deixam de ser centralizados na Trindade e se ransformam em experiências subjetivas, intimistas e emocionais dos crentes, dando espaço aos “sensitive seekers”, ou “adoradores sensitivos”. Deixa de lado as doutrinas bíblicas substituindo-a por sentimentalismo psicológico.
O resultado disto é que falta pregação objetiva da obra de Cristo, do sacrifício de Jesus na cruz. O sentimentalismo torna-se o centro, e perde-se a essência do Evangelho.

Terceiro, secularismo
O Secularismo pode ser traduzido por uma atitude na qual Deus é distanciado da história. Antigamente os grandes prédios das cidades eram templos, hoje são os bancos. De todas as formas, a filosofia, universidades e escolas procuram retirar Deus da história. Deus sofre um problema habitacional.
Asafe viu esta tendência também em seus dias: “E diz, como sabe Deus, acaso ha conhecimento no Altíssimo?” (Sl 73.11); O profeta Isaias denuncia aqueles que “escondem profundamente o seu propósito do Senhor, e as suas próprias obras fazem às escuras, e dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Is 29.15).
O melhor exemplo de secularismo pode ser visto na vida dos genros de Ló, que ao ouvirem o sogro falando do juízo de Deus sobre a cidade de Sodoma e Gomorra, ironizam: “Acharam, porém, que Ló gracejava com eles(Gn 19.14). Deus estava destruindo a cidade mas eles achavam que era uma brincadeira de mau gosto, afinal, desde quando o Eterno dialoga com os homens e se interessa pela raça humana? Deus estava lá e eles estavam aqui, e não havia possibilidade dos céus terem algo a ver com o curso da história. Este é um clássico exemplo de secularismo.

Quarto, Relativismo
O relativismo é marcado pela fragmentação dos fundamentos filosóficos e éticos. “Não há verdade! Verdade é o que você acha que é” e cada um tem a sua verdade  (pluralismo); A verdade está dentro de você, ela é o que eu acredito que é (subjetivismo), e a verdade é o que você acha que é (relativismo).
Por não existir “verdade objetiva”, a ideia de doutrina e dogma torna-se repulsiva e ameaçadora para a geração atual.
Mas quando vamos para a Bíblia, observamos que isto não é algo muito original e recente. Isaias diz: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo!” (Is 5.20).
Torna-se cada vez mais clara a afirmação de Francis Schaeffer: “A nova moralidade, nada mais é que a antiga imoralidade”.

O Espírito da Era
Não alimentemos ilusão em relação ao mundo, seus encantos e atrativos. “Não ameis o mundo, nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, nem como a sua concupiscência, porem, aquele que faz a vontade de Deus, permanece eternamente” (1 Jo 2.15-17).
O sistema do mundo opõe-se abertamente às verdades de Deus. Infelizmente para a atual geração, afirma Horton, “Espiritualidade é uma forma de ajudar as pessoas a desenvolverem sua interioridade, para apaziguar os homens, não a Deus, reconciliar pessoas consigo mesmo, não com o ofendido” (Michael Horton).




[1] Ellul, Jaques, 1980 – pg.101

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