Introdução:
Muitas pessoas colocam muita ênfase nos recursos da instituição e dos líderes para que a igreja, esquecendo-se que a igreja é de Deus, e não da capacidade de alguém em fazer aquilo que é necessário e só o Espírito Santo pode fazer. Diante destes equívocos, acreditam que fatores propulsores da revitalização de igrejas são:
1. O carisma do pastor
2. A influência da liderança
3. A adaptação ao contexto.
4. Marketing
Embora todos estes fatores sejam importantes, precisamos recordar que Revitalização é obra de Deus, e não dos homens. “Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus” (1 Co 3.6), diz o apóstolo Paulo.
Dentre alguns elementos se indispensáveis, dois se tornam centrais:
A. A Pregação fiel e expositiva da Palavra de Deus
B. Os meios de graça que Cristo disponibilizou para sua igreja
1.
A Pregação fiel e expositiva da Palavra de Deus
A revitalização é resultado da aplicação das verdades bíblicas. Não há vitalidade sem um resgate das doutrinas essenciais das Escrituras (Rm 1.16; 1Tm 4.16; 2Tm 2.2; 3.14; 4.1-5)
O termo reavivamento (que também pode ser utilizado como sinônimo de revitalização) tem sido muito mal interpretado e gerado muita confusão. Em razão dessa má compreensão do termo, em muitos púlpitos em nossos dias, em vez de se pregar a Palavra, os pregadores acolhem técnicas pragmáticas e se esquecem da sã doutrina. O evangelho tem sido transformado em mera mercadoria, dentro do que já tem sido chamado de “supermercado da fé”, no qual, cada vez mais, o “cliente” faz suas exigências.
Em muitas igrejas, o evangelho que está sendo pregado é deformado e esquizofrênico. É “outro evangelho” (Gl 1.6-9). É preciso deixar claro que revitalização não é uma questão de trazer novidades para dentro da igreja. Não há necessidade de inventar nada. Ao contrário, para revitalizar a igreja é preciso voltar às “antigas doutrinas da graça”.
Como acrescenta o Rev. Hernandes Dias Lopes:
“Avivamento não é mudança doutrinária: Cometem ledo engano aqueles que querem descartar a teologia e desprezar a doutrina na busca do avivamento. Desprezar a doutrina é dinamitar os alicerces da vida cristã. Desprezar a doutrina é querer levantar um edifício sem lançar o fundamento. Desprezar a doutrina é querer por um corpo de pé e em movimento sem a estrutura óssea.”
MacArthur diz que
“A perda de uma fundamentação bíblica é o motivo primário do declínio da pregação na igreja contemporânea”.
Falando sobre as verdadeiras evidências de um genuíno reavivamento, Jonathan Edwards declara:
“O Espírito Santo leva os homens a uma grande consideração pelas Sagradas Escrituras, firmando-os na veracidade delas”.
Não devemos buscar um crescimento da igreja a qualquer custo, ainda mais quando o que está em pauta é a Palavra. Não devemos negociar princípios da fé cristã. Tal postura é perigosa e devemos evitá-la a todo custo.
De acordo com John Armstrong:
“A pregação e a ênfase doutrinária sempre estão relacionadas a épocas de avivamento”, e mais à frente ele afirma que quando oramos por avivamento, devemos nos lembrar constantemente que o Espírito Santo nunca renova a igreja por meio de palavras novas. A obra do Espírito sempre é conduzir a igreja a lembrar as verdades conservadas na Bíblia para todas as épocas. Do que a igreja precisa desesperadamente hoje é recuperar as grandes verdades doutrinárias que foram ressaltadas em épocas de verdadeiro avivamento.
John Stott:
“...Tal pregação não deve se sustentar em “um apelo emocional e anti-intelectual por ‘decisões’, quando os ouvintes têm apenas uma confusa noção sobre o que é o evangelho. O pregador deve fazer uso de uma boa teologia para ser efetivo na mensagem.”
O que transforma o pecador é a palavra de Deus. (2 Tm 3.16-17):
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”
No livro de Atos vários verbos são empregados para se referir à pregação do Evangelho:
1. Ensinar – At 18.11
Pelos relatos do livro de Atos sabemos como era o discipulado de Paulo. Em Corinto, ele ficou dois anos, e formou uma escola, que se reunia na casa de Tirano (At 18.8-10) onde expunha diariamente a Palavra das 11 às 16hs. Por dois anos seguidos... Cinco horas por dia, seis dias por semana, 52 semanas por ano, seriam cerca de 3.120 horas de discussão bíblica e como estudamos anteriormente, isto é o equivalente a 130 dias de pregação de pregação ininterrupta, 24 horas por dia. Grande quantidade de informação, é quase um programa curricular de um Mestrado atual. Na verdade Paulo formou um seminário em Éfeso, com treinamento teológico, pastoral e missiológico.
Certamente as demais igrejas da Ásia (atual Turquia), que foram plantadas em seguida: Filadélfia, Esmirna, Tiatira, Laodicéia, etc, eram resultantes da educação teológica que aqueles alunos receberam e agora “davam ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos”(AT 19.10).
Estudiosos de missões afirmam que podemos afirmar que uma igreja se estabelece numa determinada cultura, quando nativos e indígenas se convertem. Enquanto Deus não levantar pessoas que estão culturalmente identificadas com a cultura e a língua, mesmo que haja frequentadores, a igreja não se forma. Paulo faz um discipulado mais intenso.
Na Grécia, talvez Atenas, Paulo forma um seminário intensivo. Ele fica nesta cidade por três meses (At 20.3), solidificando a fé dos discípulos, dos novos convertidos, para que sua fé permanecesse sólida, mas para que também avançasse às outras cidades e regiões. Era um treinamento acadêmico e pastoral.
2. Convencer - !t 18.28
Não era apenas pregar e deixar a mensagem solta. Seu discurso era apologético. Sabemos que a conversão é obra do Espírito Santo, mas Deus usa seus instrumentos para convencimento, através da razão, pregação e testemunho.
3. Pregar – At 9.28; 17.18; 28.31
Talvez o termo mais comum: “kerigma”, pregação. Era o arauto que falava de uma noticia que era lida de aldeia em aldeia, para que as pessoas soubessem dos decretos reais.
4. Anunciar – At 26.20; At 14.7; At 18.4. A ideia fundamental é a proclamação. Essencialmente o arauto tinha a tarefa de tornar conhecido os editos reais, comunicando ao povo aquilo que o palácio desejava fazer. Para Stott, a evangelização não deve ser medida em termos de resultados, mas em termos de fidelidade. Nossa maior tarefa é anunciar, proclamar, com fidelidade, o pensamento do Rei Jesus.
5. Contender – At 17.18
Traz uma ideia um pouco mais agressiva. De arrazoar, argumentar, debater. Certamente isto aconteceu algumas vezes no ministério de Paulo. Em AT 9.29 lemos que ele “falava e discutia com os helenistas, mas eles procuravam tirar-lhe a vida”. Talvez a oposição fosse tão acirrada, que os nervos ficassem à flor da pele.
6. Expor – At 17.3
É muito comum vermos os apóstolos, empregando o Antigo Testamento para convencer os judeus de que Jesus era o Cristo. Pedro fez isto com muita propriedade no sermão do Pentecoste em Atos 2 e Paulo sempre empregava esta estratégia, expondo a mensagem do Antigo Testamento, começando da Lei até os profetas.
7. Dissertar – At 24.25; 17.17; 19.8
É uma forma de profunda e perseverantemente, fazer a apologia do pensamento, como um professor que domina o assunto o faz. Ele disseca as verdades, levando os ouvintes a refletir sobre o conteúdo.
8. Persuadir – At 13.43; 17.2; 18.4; At 28.23; 19.8
Stott afirma: Paulo resumiu o seu próprio ministério evangelístico com as simples palavras “persuadimos os homens” (2 Co 5.11). Pois bem, a “persuasão” é um exercício intelectual. “Persuadir” é dispor argumentos de forma a prevalecer sobre as pessoas, fazendo-as mudar de ideia com respeito a alguma coisa.
9. Demonstrar – At 9.22
A demonstração envolve bem mais que palavras, envolve também o testemunho de vida e a autoridade espiritual, refletida no ministério de poder que exerciam.
E o que Paulo declara fazer é ilustrado por Lucas nas páginas de Atos. Ele nos diz, por exemplo, que por três semanas na sinagoga em Tessalônica Paulo “dissertou entre eles, acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos” e dizendo “esse é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio”. O resultado, Lucas acrescenta, foi que “alguns deles foram persuadidos” (At 17.2-4).
Pois bem, todos os verbos que Lucas emprega aqui, descrevendo o ministério evangelístico de Paulo – dissertar, expor, demonstrar, anunciar e persuadir – são, até certo ponto, verbos “intelectuais”. Indicam que Paulo ensinava um corpo de doutrina e dissertava em direção a uma conclusão. Seu objetivo era convencer para converter.
Como podemos observar, se desejamos realmente revitalizar a igreja, precisamos pregar a sã doutrina. Temos que fugir das teologias ingênuas. Precisamos urgentemente resgatar o ensino bíblico sobre eleição, vocação eficaz, depravação total, justificação e tantas outras.
Precisamos, não apenas de reavivamento, mas também de reforma. Precisamos recuperar a verdade bíblica e colocá-la no seu devido lugar.
Spurgeon, ao falar sobre a fidelidade do pregador, traz uma orientação que não pode ser ignorada:
“Os sermões devem conter ensinos valiosos e sua doutrina deve ser sólida, substanciosa e abundante... Dirigir apelos aos sentimentos afetivos é excelente, mas se não vão acompanhados de instrução, são apenas um lampejo no panorama, é pólvora gasta, sem acertar o alvo... o método divino é pôr a lei na mente, e depois escrevê-la no coração.”
A igreja, em nossos dias, precisa, de fato, convencer-se disso. Precisamos pregar o evangelho. Nosso padrão é aquilo que está declarado nas Sagradas Escrituras, e não as nossas opiniões pessoais. É a Palavra de Deus que deve ocupar
Ao pregar o evangelho, precisamos ter o cuidado de pregar cada aspecto do mesmo. “Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Paulo exorta a Timóteo a “manter o padrão das sãs palavras” (2Tm 1.13).
Precisamos ter sempre em mente que o poder está na verdade intrínseca da Palavra de Deus, e não em nossa criatividade como pregadores. Temos que dizer o que Deus deseja. Não precisamos inventar nada.
Ezequiel 37.1-5:
“Veio sobre mim a mão do Senhor; ele me levou pelo Espírito do Senhor e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na superfície do vale e estavam sequíssimos. Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver esses ossos? Respondi: Senhor Deus, tu o sabes. Disse-me ele: Profetiza a esses ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor Deus a esses ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o Senhor. Observe o difícil contexto vivido pelo profeta. A visão de um vale de ossos é uma analogia para descrever a caótica situação de Israel naqueles dias de exílio. Podemos imaginar a sensação de impotência que deve ter caído sobre o profeta ao ouvir a pergunta: “Filho do homem, acaso, poderão reviver esses ossos?”
O que se pode fazer diante de um monte de ossos secos? O que fazer ou que atitude tomar diante da dureza, da apatia e da indiferença humana? Ou melhor, o que fazer diante da morte e da impossibilidade de qualquer homem trazer a vida de volta?
A ordem ao homem de Deus foi: “Profetiza a esses ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor”.
Eis o remédio para a revitalização da igreja, a pregação da Palavra.
Precisamos dizer à igreja fria e apática: “Ossos secos, ouvi a Palavra do Senhor”.
Revitalizar a igreja é revitalizar pessoas. E há muitas que estão desanimadas e adormecidas. Quando anunciamos a Palavra de Deus de forma fiel e com unção, o Espírito Santo aplica as verdades aos corações das pessoas, trazendo arrependimento e salvação. Afinal, “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino... para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17).
Lendo o livro de Atos, vemos que o crescimento da igreja é apresentado como sendo o crescimento da Palavra de Deus (At 6.7; 12.24; 19.20). Vemos a grande ênfase que Lucas dá à pregação.
David Eby fez um estudo sobre o crescimento da igreja em Atos e, ao destacar a importância da pregação, chama a atenção para três verdades que Lucas afirma sobre os pregadores:
1. Sua igreja crescerá através da pregação. Foi assim que a igreja cresceu no primeiro século e é assim que ela sempre crescerá.
2. Sua pregação deve ser apostólica; de outra forma, como você pode esperar a mesma unção do Espírito Santo que eles experimentaram?
3. Sua pregação deve ser firmada nos modos e métodos estabelecidos pelo Espírito da igreja apostólica.
Semelhantemente, em nossos dias, se desejamos trabalhar para revitalizar e levar a igreja ao pleno crescimento, precisaremos observar alguns princípios extraídos desse Manual de Pregação. “Prega a palavra!”, foi a admoestação do apóstolo a Timóteo. O pregador, como arauto, proclama a Palavra: “... insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2). Esse mandamento, por si só, é suficientemente convincente para fazer com que os líderes percebam a grande ênfase colocada na pregação.
2.
Meios de Graça
Outro elemento que Deus dispôs para a revitalização de sua igreja foram os meios de graça.
A vida cristã é uma experiência maravilhosa. Começa através de uma obra sobrenatural realizada pela imerecida graça de Deus no coração e na vida de uma pessoa. O Espírito de Deus aplica a obra de Cristo, na cruz, aos muitos que estão espiritualmente mortos. Ele os regenera, levando-os a arrependerem-se do pecado e a exercitarem a fé no Senhor Jesus Cristo. Isto se chama salvação, que é uma obra gloriosa da graça e do Espírito de Deus. Com frequência, os novos convertidos indagam o que acontece após nascerem de novo e iniciarem a vida cristã. Uma vez que Deus os salvou, Ele os deixa prosseguir motivados em seus próprios recursos e nas obras de sua própria carne, para chegarem à presença dEle, no céu? O apóstolo Paulo responde: Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? (Gl 3.3).
A vida cristã começa pela graça, pela atividade do soberano Espírito de Deus, e deve ser continuada da mesma maneira. Isso não significa que não existe qualquer atividade da parte do crente. Pelo contrário, a Palavra de Deus afirma que os salvos foram criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Ef 2.10); e: Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. (Fp 2.12-13).
O que é um “meio de graça?”
Meios da graça são os instrumentos pelos quais Deus transmite bênçãos ao seu povo. O Catecismo de Westminster define a expressão meios da graça como os recursos visíveis e comuns pelos quais Cristo transmite à sua igreja os benefícios de sua mediação [ou seja, de sua morte].
Breve Catecismo. Pergunta 88
“Quais são os meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da redenção?”
Resposta: “Os meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da redenção são as suas ordenanças, especialmente a Palavra, os sacramentos e a oração (At 2.41, 42; Mt 28. 19, 20), os quais todos se tornam eficazes aos eleitos para a salvação”. Deus em sua sabedoria e amor orientou a sua igreja para alcançar graça diante de Deus. Estas ordenanças são meios de graça e dividem-se em: a Palavra, os sacramentos (Batismo e Santa Ceia) e a oração.”
É importante ressaltar, e, ao mesmo tempo esclarecer que este Meio de Graça não tem poder em si mesmo, pois Deus determinou estes, não como substitutos de Sua ação direta e pessoal, “mas como instrumentos concreto, verificáveis, testemunháveis e memoráveis de sua obra redentora continua e permanente no mundo.” (Comentário do Breve Catecismo).
A expressão “meios de graça” não é propriamente encontrada nas Escrituras, mas os meios da graça são uma designação adequada para aquilo que está ali ensinado.
mas o Catecismo Maior se refere aos “meios exteriores pelos quais Cristo comunica os benefícios de sua salvação” (Resposta 153). Logo, os meios de graça são canais pelos quais o Eterno nos santifica, nos conduz a uma profunda transformação de caráter e a um real crescimento na piedade.2 Portanto, os meios de graça conforme a tradição reformada são “os meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo comunica à sua Igreja os benefícios de sua mediação, são todas as suas ordenanças, especialmente a Palavra, os Sacramentos e a Oração” (Resposta 154). Charles Hodge destaca que “por meio de gr
O Batismo - Batismo é o selo exterior do que já foi selado no coração (interior),
A Ceia - Santa Ceia é a manifestação visível da graça de Deus através de Seu Filho Unigênito
Há dois tipos de meios da graça:
os particulares
os públicos.
Quais os meios particulares da graça?
O primeiro meio particular da graça é a Palavra de Deus
Deus nos deu um livro através do qual Ele fala conosco. Ele não mais se comunica com os homens utilizando sua voz audível, como o fazia no passado. Agora Deus fala através de seu Filho (Hb 1.1-4), que nos transmite sua palavra por meio das Sagradas Escrituras, a Bíblia. Nas páginas das Escrituras, Ele manifesta sua voz, capaz de despertar os mortos, outorgando-lhes vida.
J. C. Ryle escreveu:
“Separe uma parte de cada dia para ler e meditar alguma porção da Palavra de Deus. O pão de ontem não alimentará o trabalhador de hoje; tampouco o pão de hoje nutrirá o trabalhador de amanhã. Recolha seu maná a cada manhã. Escolha a ocasião e a hora adequados. Não cochile ou se apresse enquanto lê. Dê à sua Bíblia o melhor e não o pior de seu tempo. Leia toda a Bíblia, fazendo-o de maneira sistemática. Receio que existem várias partes da Palavra de Deus que alguns crentes nunca leem. Dessa atitude resulta a falta de amplos e bem equilibrados pontos de vista a respeito da verdade, uma falta tão comum em nossos dias. Creio que um bom plano é ler o Antigo e o Novo Testamento ao mesmo tempo, do começo até ao fim; e, depois, fazê-lo novamente. Leia a Bíblia com um espírito de obediência e auto aplicação. Assente-se para estudá-la com a determinação de que você viverá pelas suas regras, confiará em suas afirmativas e se comportará de acordo com seus mandamentos. A Bíblia mais lida é aquela mais praticada.”
Ela é o instrumento pelo qual Deus fala ao seu povo. Enquanto leem a Bíblia, Deus abençoa e fortalece os crentes com tudo que necessitam para seu viver diário.
O segundo meio particular da graça é a oração
Oração é um dos meios pelos quais o crente cultiva um vivificante relacionamento com o Deus vivo.
Pedir a Deus as boas coisas que Ele tem prometido aos seus filhos é uma parte vital da oração (Mt 7.7,11; Lc 11.5-13; Cl 1.9-12; Tg 1.5-6). De acordo com Filipenses 4.6-7, a oração é uma chave para que o crente experimente a paz de Deus. Ela é também um meio que facilita a nossa rendição à vontade de Deus (ver o exemplo do Senhor Jesus em Mateus 26.39,42,44).
Existem várias partes na oração. Ela pode incluir um ou mais destes aspectos: adoração e louvor, ação de graças, confissão de pecados, súplica, intercessão e entrega de nós mesmos a Deus.
O Espírito Santo impulsiona o crente a orar, trazendo à sua mente as palavras e promessas de Jesus. Ele também inflama nossos corações em benefício dos outros (Rm 10.1; cf. 9.1-2). Portanto, quando você não sentir desejo de orar, peça ao Espírito Santo que o ajude a envolver-se na oração.
O terceiro meio particular da graça é a meditação
Após o crente ter vindo à presença de Deus, através da leitura da Bíblia e pela oração, ele se alimenta do que já recebeu por meio da meditação. Thomas Watson, um dos Puritanos, disse: “A meditação é semelhante ao regar uma planta, faz aparecer os frutos da graça.”
A meditação é para nossa alma o que a digestão é para o corpo.
C. H. Spurgeon apresentou uma excelente instrução, ao declarar:
“Nossos corpos não se sustentam apenas por ingerir o alimento através da boca; mas o processo de digestão resulta em músculos, nervos, tendões e ossos. Por meio da digestão, o alimento exterior é assimilado pela vida interior. O mesmo acontece às nossas almas: elas são nutridas não apenas por aquilo que ouvem aqui e acolá. Ler, ouvir, observar e aprender tudo exige uma digestão interior; e a digestão interior da verdade ocorre através de meditarmos nela”.
A atitude do salmista Davi foi: “Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito. Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra” (Sl 119.15-16). Setecentos anos antes de Cristo nascer, Davi já sabia o valor da meditação.
Quais são os meios públicos da graça?
A. Reunir-se para adoração
Deus jamais tencionou que o verdadeiro crente vivesse sozinho. Após a ascensão de Cristo, os apóstolos saíram por todo o mundo implantando igrejas e estabelecendo presbíteros em cada uma delas (At 14.23). Eles fizeram isto, para que os crentes novos fossem fortalecidos, encorajados, guiados, instruídos e, acima de tudo, adorassem a Deus juntos. Deus, e não os homens, ordenou que por intermédio da reunião coletiva, para adoração, o crente recebesse bênção e ajuda divina para os dias futuros. Reunido, o povo de Deus receberia não somente a bênção dEle, mas também se fortaleceria mutuamente. Os cristãos receberam a ordem de não abandonarem o reunirem-se para adoração pública (Hb 10.25).
Os elementos da adoração pública são:
leitura pública das Escrituras,
pregação e ensino;
Louvores comunitários: salmos, hinos e cânticos espirituais;
Ofertas
Orações.
Na leitura e exposição das Escrituras, Deus fala conosco; nos cânticos, ofertas e orações, nós falamos com Ele. Ainda que esses dois elementos da adoração são importantes, o mais relevante deles é a pregação da Palavra. Nossos pais entenderam isto, quando escreveram:
O Espírito torna a leitura (em especial, a pregação da Palavra) o meio eficaz de convencer e converter os pecadores, edificando-os em santidade e conforto. (Breve Catecismo de Westminster, pergunta 89)
B. O segundo meio público da graça são os sacramentos
Quantos são os sacramentos? A Igreja Católica fala de sete. A Igreja Reformada adota dois, e as igrejas neo pentecostais, não creem em sacramentos.
O que são sacramentos?
Uma definição simples: “sinal visível de uma graça invisível”.
O batismo é a primeira ordenança instituída pelo Senhor Jesus Cristo, enquanto esteve entre os homens. Ele ordenou que o batismo fosse realizado por seus apóstolos e igrejas até ao fim do mundo (cf. Mt 28.18- 20). Batizar não é opcional, é mandamento a todos os discípulos de Cristo.
A confissão de fé de Westminster afirma:
CAPÍTULO XXVIII
DO BATISMO
I. O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo, não só para solenemente admitir na Igreja a pessoa batizada, mas também para servir-lhe de sinal e selo do pacto da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus por Jesus Cristo a fim de andar em novidade de vida. Este sacramento, segundo a ordenação de Cristo, há de continuar em sua Igreja até ao fim do mundo.
Mat. 28:19; I,Cor. 12:13; Rom. 4:11; Col. 2:11-12; Gal. 3:27; Tito 3:5; Mar. 1:4; At. 2:38; Rom. 6:3-4; Mat. 28:19-20.
II. O elemento exterior usado neste sacramento, é água com a qual um ministro do Evangelho, legalmente ordenado, deve batizar o candidato em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
At. 10-47, e 8:36-38; Mat. 28:19.
III. Não é necessário imergir na água o candidato, mas o batismo é devidamente administrado por efusão ou aspersão.
At. 2:41, e 10:46-47, e 16:33; I Cor. 10:2.
IV. Não só os que professam a sua fé em Cristo e obediência a Ele, mas os filhos de pais crentes (embora só um deles o seja) devem ser batizados.
At. 9:18; Gen. 17:7, 9; Gal. 3:9, 14; Rom. 4:11-12; At. 2:38-39.
V. Posto que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo, a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, que sem ela ninguém possa ser regenerado e salvo os que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados.
Luc.7:30; Exo. 4:24-26; Deut. 28:9; Rom. 4:11; At. 8:13, 23.
VI. A eficácia do batismo não se limita ao momento em que é administrado; contudo, pelo devido uso desta ordenança, a graça prometida é não somente oferecida, mas realmente manifestada e conferida pelo Espírito Santo àqueles a quem ele pertence, adultos ou crianças, segundo o conselho da vontade de Deus, em seu tempo apropriado.
João 3:5, 8; Gal. 3:27; Ef. 5:25-26.
VII. O sacramento do batismo deve ser administrado uma só vez a uma mesma pessoa.
Tito 3:5.
O sacramento do batismo foi designado a ser um testemunho para o mundo, a fim de demonstrar que somos seguidores de Cristo e fortalecer nossa decisão de segui-Lo.
CAPÍTULO XXIX
DA CEIA DO SENHOR
I . Na noite em que foi traído, nosso Senhor Jesus instituiu o sacramento do seu corpo e sangue, chamado Ceia do Senhor, para ser observado em sua Igreja até ao Fim do mundo, a fim de lembrar perpetuamente o sacrifício que em sua morte Ele fez de si mesmo; selar aos verdadeiros crentes os benefícios provenientes. desse sacrifício para o seu nutrimento espiritual e crescimento nele e a sua obrigação de cumprir todos os seus deveres para com Ele; e ser um vínculo e penhor da sua comunhão com Ele e de uns com os outros, como membros do seu corpo místico.
I Cor. 11:23-26, e 10: 16-17, 21, e 12:13.
II. Neste sacramento não se oferece Cristo a seu Pai, nem de modo algum se faz um sacrifício pela remissão dos pecados dos vivos ou dos mortos, mas se faz uma comemoração daquele único sacrifício que Ele fez de si mesmo na cruz, uma só vez, e por meio dele uma oblação de todo o louvor a Deus; assim o chamado sacrifício papal da missa é sobremodo ofensivo ao único sacrifício de Cristo, o qual é a única propiciação por todos os pecados dos eleitos.
Heb. 9:22, 25-26, 28; Mat. 26:26-27; Luc. 22:19-20; Heb. 7:23-24, 27, e 10:11-12, 14, 18.
III. Nesta ordenança o Senhor Jesus constituiu seus ministros para declarar ao povo a sua palavra de instituição, orar, abençoar os elementos, pão e vinho, e assim separá-los do comum para um uso sagrado, tomar e partir o pão, tomar o cálice dele participando também e dar ambos os elementos aos comungantes e tão somente aos que se acharem presentes na congregação.
Mar. 14:22-24; At. 20:7; I Cor. 11:20.
IV. A missa ou recepção do sacramento por um só sacerdote ou por uma só pessoa, bem como a negação do cálice ao povo, a adoração dos elementos, a elevação ou procissão deles para serem adorados e a sua conservação para qualquer uso religioso, são coisas contrárias à natureza deste sacramento e à instituição de Cristo.
I Tim.1:3-4; I Cor. 11:25-29; Mat. 15:9.
V. Os elementos exteriores deste sacramento, devidamente consagrados aos usos ordenados por Cristo, têm tal relação com Cristo Crucificado, que verdadeira, mas só sacramentalmente, são às vezes chamados pelos nomes das coisas que representam, a saber, o corpo e o sangue de Cristo; porém em substância e natureza conservam-se verdadeira e somente pão e vinho, como eram antes.
Mat. 26:26-28; I Cor. 11:26-28.
VI. A doutrina geralmente chamada transubstanciação, que ensina a mudança da substância do pão e do vinho na substância do corpo e do sangue de Cristo, mediante a consagração de um sacerdote ou por qualquer outro meio, é contrária, não só às Escrituras, mas também ao senso comum e à razão, destrói a natureza do sacramento e tem sido a causa de muitas superstições e até de crassa idolatria.
At. 3:21; I Cor. 11:24-26; Luc. 24:6, 39.
VII. Os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis deste sacramento, também recebem intimamente, pela fé, a Cristo Crucificado e todos os benefícios da sua morte, e nele se alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real, verdadeira e espiritualmente, não estando o corpo e o sangue de Cristo, corporal ou carnalmente nos elementos pão e vinho, nem com eles ou sob eles, mas espiritual e realmente presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como estão os próprios elementos aos seus sentidos corporais.
I Cor. 11:28, e 10:16.
VIII. Ainda que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos visíveis deste sacramento, não recebem a coisa por eles significada, mas, pela sua indigna participação, tornam-se réus do corpo e do sangue do Senhor para a sua própria condenação; portanto eles como são indignos de gozar comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa, e não podem, sem grande pecado contra Cristo, participar destes santos mistérios nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem nesse estado.
I Cor. 11:27, 29, e 10:21; II Cor. 6:14-16; I Cor. 5:6-7, 13; II Tess. 3:6, 14-15; Mat. 7:6.
A ceia do Senhor é a segunda ordenança instituída pelo Senhor Jesus, enquanto esteve na terra. É o meio divinamente designado para fortalecer a fé exercida pelos crentes. A ceia do Senhor não é um sacrifício oferecido a Deus, e sim apenas uma comemoração daquela oferta que Cristo fez de si mesmo, uma vez por todas, na cruz, em pagamento dos nossos pecados. Sempre que participamos da ceia do Senhor, nós o fazemos em memória dEle (1 Co 11.24-26).
Os elementos da ceia do Senhor, pão e vinho, são apenas símbolos. Cada elemento representa um diferente aspecto do sacrifício de Cristo. O pão simboliza o corpo traspassado e morto do Salvador, por causa de nossos pecados. O vinho representa o sangue de Cristo que foi derramado a fim de purificar nossos pecados. Não existe nada mágico no pão e no vinho. Eles não se alteram, tornando-se literalmente o corpo e o sangue de Jesus; permanecem aquilo que eles mesmos são.
Um cuidadoso estudo das Escrituras demonstra as exigências para se participar da ceia do Senhor. A pessoa tem de ser verdadeiramente convertida a Cristo, batizada, alguém que está procurando andar de maneira agradável a Deus e membro de uma das igrejas de Cristo. Devemos lembrar que esta ordenança não foi dada a indivíduos, e sim a igrejas locais e seus membros.
C. O terceiro meio público da graça é a comunhão com irmãos e irmãs em Cristo
O povo de Deus procede de todos os tipos de pessoas. Todavia, existe algo que os une: em Cristo, eles são um! Cristo os amou com amor eterno e os atraiu com bondade. Todos os obstáculos foram removidos ante à eleição, à redenção e ao salvífico amor de Cristo (ver Ef 2.14-16).
Comunhão significa compartilhar juntos ou vida compartilhada, especialmente quando esta se relaciona aos outros crentes. Quando Cristo nos salvou, Ele não tencionava que vivêssemos isolados. Ele nos destinou para sermos parte de uma de suas igrejas e desfrutarmos comunhão com outros crentes (cf. At 2.41-42). Uma das mais profundas verdades que compreendemos após a conversão é o vínculo que temos com os verdadeiros crentes.
Comunhão não significa reunir-se com outros crentes para falar sobre esportes, diversões, clima, economia ou política, embora não exista qualquer prejuízo em fazermos isso. Pelo contrário, comunhão é compartilhar, de coração, uns com os outros, as coisas do Senhor Jesus e de sua Palavra. A singularidade da comunhão cristã se encontra em sermos capazes de conversar e compartilhar, juntos, as alegrias, a felicidade, as vitórias, os problemas, as tentações, as tristezas e as bênçãos de nosso andar com Deus. Provérbios 27.17 afirma: Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo. Desfrutar comunhão com irmãos e irmãs em Cristo, em uma igreja local, é semelhante ao ferro afiando o ferro; é o meio da graça que nos mantém espiritualmente saudáveis e vigorosos.
D. O quarto meio público da graça é a oração coletiva (At 2.42)
As igrejas primitivas não somente permaneciam na doutrina dos apóstolos, na ceia do Senhor e na comunhão, também perseveravam na oração juntos. As reuniões da igreja, a fim de orar, era um dos meios de levar as cargas uns dos outros e cumprir a lei de Cristo (Gl 6.2). No livro de Atos, há diversos exemplos dos irmãos orando juntos, na igreja primitiva. No dia de Pentecostes, o que os crentes estavam fazendo? Orando (At 1.12-14; cf. 2.1). Através da oração coletiva, a igreja contemplou o Senhor Deus libertando-a das mãos de seus inimigos (4.23- 33). Pedro foi liberto da prisão porque os crentes estavam juntos em oração a favor dele (12.5). A história das igrejas do Novo Testamento ilustra a bênção e a necessidade de orarmos juntos.
Tudo o que é verdadeiro a respeito da oração particular também é verdadeiro sobre a oração pública, exceto que esta se realiza coletivamente. Se Deus está com seu povo e individualmente os abençoa com sua presença, quanto mais isto acontece ao se reunir a igreja para oração coletiva. Se Ele ouve e responde as orações de um crente, quanto mais ouvirá e atenderá as orações de muitos? Um Puritano, David Clarkson, disse:
“A presença de Deus, desfrutada em oração particular, assemelha-se apenas a um pequeno riacho, mas na oração coletiva torna-se como um rio que alegra a cidade de Deus”.
Um Pai amoroso, sábio e gracioso, que habita nos céus, outorgou aos seus filhos estes meios para o bem deles (cf. Dt 10.13). Ele não os deu a fim de colocar seus filhos em escravidão a regras estabelecidas pelo homem, mas para abençoar, fortalecer e encorajá-los. Os meios particulares da graça nos foram concedidos para sustentar-nos em nossa vida cristã diária, em um mundo de atividades cotidianas. Os meios públicos da graça são para nosso benefício, na igreja local pertencente ao Senhor Jesus Cristo. Praticá-los agora resultará em crescimento e frutificação de nossa vida cristã. Utilizar estes meios designados por Deus redundará em glória para Ele, expansão de seu reino e nos proporcionará retidão, paz e alegria.
Os cristãos devem penetrar no mundo sem se tornar parte dele.
Conclusão
Estritamente falando, somente a Palavra e os sacramentos podem ser considerados como meio de graça, isto é, como os canais objetivos que Cristo instituiu na igreja, e aos quais Ele se prende normalmente para a comunicação da Sua graça. Naturalmente, estes nunca podem dissociar-se de Cristo, nem da poderosa operação do Espírito Santo, nem da igreja, que é o órgão designado para a distribuição das bênçãos da graça divina. Em si mesmos, eles são completamente ineficientes, e só produzem resultados espirituais positivos mediante a eficaz operação do Espírito Santo.
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