Introdução:
Todos ansiamos por
fórmulas, métodos e estratégias de plantação de igrejas. Toda minha formação
acadêmica neste assunto, os livros que tenho lido, simpósios e
conferências dos quais tenho participado,
de certa forma, apontam nesta direção. Muitas vezes estive em auditórios
ouvindo histórias de sucesso de pessoas que foram tão efetivas na plantação de
igrejas que eu julgava imprescindível ouvi-las atentamente.
Certa vez estive em
Belo Horizonte, e ouvi falar de um plantador de igrejas que conseguiu a façanha
de iniciar um projeto de plantação de igrejas e organizá-la, tornando-a independente da igreja mãe, em
apenas um ano. Não tive dúvidas. Descobri o telefone desta pessoa, marquei um
almoço com ele e sua esposa, e fui almoçar com ele. Eu paguei o almoço dele
porque tinha interesse em descobrir o que o fez tão efetivo. Geralmente
trabalhamos com projetos que se arrastam indefinidamente por anos a fio e nunca
conseguem avançar, tornando-se congregações cansadas e viciadas, trocando
sucessivamente de pastores, projetos altamente dispendiosos e frustrante, que
exaurem da igreja-mãe, toda possibilidade de iniciar novos projetos, porque os
recursos são limitados.
Em Salvador-BA, ouvi
falar de uma congregação que existia por 76 anos, sem nunca conseguir avançar.
Em Anápolis-GO, a Igreja Central teve uma congregação que já existia por 21
anos, sem perspectiva de organização. É comum vermos projetos se arrastando num
processo caro e sem vitalidade entre nós. Os números e recursos não refletem o
investimento de um pastor, tempo integral, por 7 anos numa congregação de 20
membros, que não consegue batizar ninguém, nem atrair outros para a comunidade.
Ficamos com algumas perguntas:
O
que está errado?
É
possível descobrir novos caminhos?
Como
ser efetivo na plantação de igrejas?
Devo confessar que
ultimamente tenho refletido sobre estas questões e, para quem já foi tão
empolgado com plantação de igrejas, me descubro algumas vezes, desanimado com
esta dificuldade e ineficiência, com o dispêndio de tanto tempo e recursos, em
projetos lentos e sem perspectiva. Apenas no Presbitério de Anápolis, quatro
igrejas com recursos e vontade de formar novas congregações, fizeram o
movimento inverso. Depois de tantos anos se arrastando, elas resolveram fechar
seus projetos. Eles tinham campos missionários para expandir e criar novas
igrejas, agora não possuem mais.
Considere como este
ato de fechar uma congregação pode ser doloroso para a liderança de uma igreja,
trazendo perguntas, dor e crise.
O
que fizemos de errado?
Por
que tanto investimento não redundou em igrejas dinâmicas e frutíferas? Não
estamos agindo errado ao fechar este trabalho?
Uma situação
preocupantes surge então: Existem mais igrejas querendo fechar pontos de
pregação que abrir novas frentes. O custo operacional é muito alto, e a
efetividade muito baixa.
Ao fazer esta análise,
surge ainda outras crises:
Não
estamos sendo pragmáticos e olhando as coisas como se igreja fosse uma franquia
religiosa do tipo da universal, que se não produz, fecha?
Não
estamos agindo de forma comercial e com pouca visão do reino quando pensamos
assim?
Será
que Deus deseja que fechemos uma congregação que está aberta por trinta anos,
mas que não seguir adiante?
É
correto demitir o obreiro que se encontra no campo?
Todas estas questões
são difíceis, e nos deixa numa situação teológica e existencial bem desafiadora.
Em reuniões de Sínodos
da Igreja, estatísticas sobre efetividade na plantação de igrejas não são
consideradas. Primeiro, porque é muito subjetivo entender o que é fracasso em
plantação de igrejas, depois porque as causas são “camufladas” e “não
discutidas”.
Não há uma estatística
transparente para se descobrir a efetividade dos campos, por uma razão muito simples:
Ela é assustadora.
Nos idos de 1970, a
Presbyterian Church of America (PCA-USA), percebeu que alguma coisa não estava
certa no appoach sobre esta matéria.
Allen Thompson, desenvolveu sua tese de D.Min na área de plantação de igrejas e
assim surgiu o Assessment Center, ligado
à Junta de Missão daquela denominação, para repensar o modelo. As estatísticas foram
surpreendentes transformadas num tempo não muito longo. A efetividade na plantação
de igrejas girava em torno de 45%, para depois se transformarem em 90%, isto é,
algo em torno de 100% de melhora. A partir de então, com novos princípios colocados
em prática, algo revolucionário surgiu naquela denominação.
Eles descobriram que
instituições como Juntas e Presbitérios eram uma das razões da ineficiência dos
projetos, e a partir de então, encorajaram parcerias entre as igrejas para
levantamento e supervisão dos novos campos.
Segundo, resolveram pensar
de forma mais intencional no plantador de igrejas. Eles viram que o segredo na
plantação de novas igrejas estava no candidato e fizeram um projeto para
investir neste elemento mais importante: O Obreiro.
O projeto consistia em
três fases:
A.
Seleção – Era preciso descobrir pessoas motivadas e
adequadas para os campos. Infelizmente no Brasil, um grande número de igrejas
fazem o movimento inverso. Designam o pior candidato, para o pior campo, pagam
o pior salário para terem a pior igreja.
No processo de seleção
passaram a avaliar o candidato e sua história ministerial. Descobriram um
princípio aplicado e testado: “A melhor maneira de se saber o que uma pessoa
será, é observando quem ela foi”, isto é, o histórico do plantador era
fundamental na seleção. Quais eram seus dons? Ele demonstrava competência em
crescimento de igreja? Sua família estava envolvido com ele no projeto? Na
busca de pessoas já experimentadas, eles recusavam, por exemplo, investir em
seminaristas para plantação de igrejas, afirmando que durante sua formação
acadêmica, não seria possível saber quais dons ela realmente possuía.
B.
Recrutamento – Esta fase está muito relacionada à
primeira, mas difere no fato de que eles começaram a provocar pessoas com
histórico de bons pastorados, para assumirem um novo campo.
Neste processo,
eventualmente era necessário oferecer um pacote salarial compatível entendendo
que, era melhor investir uma maior quantidade de dinheiro no início do projeto,
do que continuar levantando recursos por muito tempo. Obreiros qualificados seriam
difíceis de sair de suas igrejas, então eles precisavam ser desafiados a sonharem
com um novo ministério, numa outra cidade ou região.
C.
Treinamento – Mesmo um pastor com experiência, precisa
ouvir e participar de workshops e conferências que poderão incrementar e dar
mais efetividade ao trabalho.
Todo pacote salarial
coordenado pela PCA, contempla um certo valor para que o obreiro e sua esposa (este detalhe é importante), participe
de pelo menos um treinamento anual. Como tudo já está pago e aquele dinheiro só
será investido na sua vida se ele for ao congresso, isto se torna um fator
altamente motivacional. Sua passagem, hospedagem do hotel, conferência, tudo
será pago, desde que ele se inscreva. Se ele não se inscrever ele não poderá
receber este dinheiro.
O Fator Diferencial
De tudo o que
consideramos, o fator humano, é, sem dúvida, o melhor e mais eficaz ingrediente
na plantação de igrejas. Afinal, “tudo se levanta e cai em liderança”, como
afirma John Maxwell. O melhor dinheiro será investido num candidato bem
preparado.
Apesar de estar
convencido de que, certamente o elemento humano é o mais importante
ingrediente, gostaria de falar sobre aquilo que tenho entendido como fator
surpresa.
Estou convencido de
que, mesmo quando um candidato é bem preparado, tem seus dons adequados, possui
experiência, e um pacote adequado de benefícios, ele ainda corre o risco de não
estar empolgado, quando o campo para o qual ele se dirige, não enche o seu
coração de expectativa.
Então, o fator
surpresa é:
O Candidato precisa
descobrir qual o campo ele se sente chamado, e só então, pessoas e igrejas
deveriam investir. A iniciativa deve ser do obreiro, não da igreja.
Isto contraria a fórmula
atualmente empregada.
Em geral, o conselho
de uma igreja, ou o ministério de missões, presbitério ou igreja, aponta qual é
o campo onde o trabalho deve ser iniciado, e envia o candidato para lá. O
problema, aquele campo não encheu o coração do obreiro. Ele não nasceu como
algo dele mesmo, mas foi algo designado para ele.
Estou convencido de
que, o candidato precisa saber onde ele se sente chamado, e se dirigir para
onde o seu coração o convida.
Não
é assim com projetos missionários?
Quem
define para onde um missionário deve ir?
A
Igreja ou o candidato?
Não creio que isto seja
difícil imaginar, pois é exatamente este modelo que tem sido adotado por igrejas
na Coreia do Sul e nos EUA. As igrejas são plantadas nesta perspectiva. Quem
define o campo é o obreiro, e então, ele apresenta o projeto que está queimando
no seu coração e começa a preparar as condições para se estabelecer naquele
campo. Quem levanta os recursos, na maioria das vezes, como acontece na
realidade dos missionários, é o próprio obreiro. Ele precisa convencer as
pessoas a investirem no seu projeto, ele precisa buscar parcerias, que devem
ser supervisionadas, orientadas, e apoiadas pelas juntas e comissões que podem
até indicar onde os recursos podem ser encontrados. Mas o obreiro está apaixonado
e diretamente envolvido no processo.
Em geral o que
fazemos?
O conselho, ou o
sênior pastor, diz ao obreiro onde ele deve ir. Isto equivale a criar um filho
na barriga de outra pessoa. O projeto é da igreja, não é do obreiro. Ele recebe
os recursos, porque precisa deles, e vai para o campo, mas não está encharcado
por uma visão pessoal, e por isto as coisas não acontecem.
Um exemplo pessoal
Em 2008, comecei a
sonhar na plantação de uma nova igreja na região mais rica de Anápolis-GO. Eu
estava convencido de que precisávamos plantar uma igreja naquele lugar, então,
escrevi o projeto, apresentei-o ao conselho, e sem sair da igreja onde eu sou o
pastor efetivo, decidi que ao invés de convidar um plantador de igrejas, eu
mesmo me envolveria neste projeto e plantaria aquela igreja. O processo foi
pesado, eu pregava as 18 hs na congregação e corria para pregar as 19.30 hs na
sede. Quando chegava na Igreja Central, o culto muitas vezes já estava em
andamento, os diáconos pegavam meu carro na porta da igreja e o estacionavam
para mim.
Esta dinâmica se mostrou
cansativa e pesada, desenvolvi uma labirintite neste tempo, e comecei a
demonstrar um cansaço mais forte no final desta fase, que durou dois anos e
meio, mas a igreja se organizou neste curto espaço de tempo e pudemos convidar
um pastor para assumir o campo.
Minha logica era
simples:
Até encontrar o
candidato, providenciar sua mudança, levantar os recursos e ele entender o que
é a cidade de Anápolis, reunir um grupo em torno dele e criar um grupo base,
certamente levaria cinco anos. Eu já tinha tudo isto agregado ao meu
ministério, por ser conhecido na cidade e algumas pessoas decidiram seguir a
minha liderança. Deus me abençoou com algumas pessoas maduras que me
acompanharam, e a igreja pode ser então estabelecida.
Quem estava apaixonado
por aquele projeto? Eu mesmo.
O meu conselho, me
apoiou durante todo este tempo, mas raramente um dos presbíteros saia da sede
para ver como estava o trabalho e se havia alguma necessidade. Quando eu pedia
alguma coisa, entretanto, eles prontamente atendiam, mas o sonho era meu, o
projeto era meu, e isto me deu um senso de “pertencimento” e responsabilidade
muito grande pelo projeto. Eu entendi em oração, reflexão, estruturação do
trabalho, que Deus queria isto, e eu mesmo decidi que assumiria o trabalho,
dividindo meu tempo com a igreja mãe.
Se eu convidasse
alguém, o sonho continuaria sendo meu, não dele. Ele teria que fazer adaptações
com o campo, ele teria que reunir pessoas em torno de sua liderança. Mas acima
de tudo, ele não havia pensado e orado por aquilo tudo. Eu era a pessoa que
estava sonhando por aquilo. Ele não escreveu o projeto. Eu fiz. Ele não estava
imbuído de um senso de chamado e direção.
Muitos anos atrás o
Rev. Eduardo Rosa Pedreira afirmou que “A mística precede a missão”, não sei se
a frase é dele, mas eu a subscrevo enfaticamente.
Todo projeto precisa
de mística. Esta coisa que caminha em torno da espiritualidade e da
subjetividade. O plantador de igreja precisa entender o que Deus quer dele.
Isto é vocação e chamado!
Quando a “mística”
está presente, a pessoa decido investir sua vida nele. Particularmente gostaria
de que os recursos do conselho missionário da igreja na qual pastoreio,
pudessem ser aplicados em projetos assim. Quando a pessoa encontra-se orando, planejando,
pensando no projeto, reunindo pessoas sobre sua liderança, apaixonado pela
cidade (ou bairro), ele é capaz de ir atrás de parceiros, e encorajar seu
pequeno grupo, a assumir os riscos e desafios com ele. Ele está motivado. Ele
se sente chamado. Seu coração está pegando fogo, sua alma pulsa, ele tem
sonhos. Ele não depende tanto do que lhe darão, porque ele acredita que os
recursos virão, e que o dono dos recursos, aquele que é dono do ouro e da
prata, dará a provisão necessária.
Outros modelos
Na Coreia do Sul, um
plantador de igrejas não entra num projeto para sair daqui a 5 anos. Ele planta
uma igreja para ser pastor dela pelo resto de sua vida. Ele não vai iniciar um
projeto para outro assumir, aquela é sua igreja. O mesmo se dá nos EUA, ele
inicia o projeto no qual pretende ficar pelo resto de suas vidas. Aquela é sua
igreja. Ele sonhou, ele gerou, ele buscou recursos. Sua intensidade e motivação
são completamente diferentes dos pastores que vão para o campo pensando: Se
surgir uma nova oportunidade, saio daqui. Ele não é o idealizador, ele não
planejou isto, ele sequer orou de forma intenção por isto, ele não tem alegria
naquilo – a não ser no fato de que se aceitar a proposta resolverá o
problema do seu desemprego e receberá um
salário para sua sobrevivência.
Falta mística nos
projetos de plantação de igrejas.
O grande segredo então
é:
Este
projeto nasceu no meu coração?
Deus
implantou tal visão em minha vida?
Estou
apaixonado por este trabalho?
Já
tenho em mente as pessoas com quem posso contar?
Tenho
ideias e estou disposto a buscar os recursos para a implantação deste projeto?
Este
campo é o lugar no qual quero que minha família cresça e se estabeleça?
Esta
é uma cidade na qual gosto de viver?
Esta
é realmente a minha paróquia?
Se a mística estiver
presente, a efetividade será muito maior e prazerosa.
O
plantador de igrejas precisa estar sonhando em plantar a igreja.
Este,
para mim, é “O Fator Diferencial em
Plantação de igrejas”.
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