“A vida da igreja depende da
condição espiritual do povo”
(A.W.Boehm )
Todo organismo vivo emite
sinais vitais.
Quando uma pessoa encontra-se
prostrada por enfermidade ou acidente, profissionais da área médica procuram imediatamente os sinais que possam
demonstrar que tal pessoa encontra-se viva. As medições mais frequentes são
temperatura, pulso, pressão arterial, frequência respiratória e um quinto curioso
elemento: A dor. Pessoas vivas em situação de risco sentem dores e agonia, e
apesar do sofrimento ali presente, a dor também é um sinal vital.
A avaliação destes sinais
permite identificar necessidades básicas dos pacientes, fazer o diagnóstico e buscar a solução para o problema.
Quando a pessoa não possui nenhum deste sinais, ainda é possível ver se ela tem
chance de ser ressuscitada e tentar uma medida mais dramática, com os
procedimentos básicos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) pressionando o tórax
repetidas vezes para reanimar a pessoa. Existem situações comprovadas de
pessoas que foram ressuscitadas entre 30 e 45 minutos depois do ataque
cardíaco.
Assim como o corpo
humano, a igreja é um organismo vivo e demonstra se está em perigo ou se possui
estes sinais de vitalidade. Um destes sinais, por exemplo é o crescimento
numérico. Mas antes de nos fixarmos neste ponto específico, gostaria de fazer
uma observação importante: Nem toda igreja que cresce possui vitalidade, e nem
toda igreja com vitalidade, apresenta crescimento. Quando isto é possível?
Crescimento Numérico & Vitalidade
É importante fazer
diferença entre crescimento numérico e vitalidade.
Quase sempre crescimento
é resultado de uma igreja com saúde, e o contrário também é verdadeiro, mas
apesar desta equação parecer simples, ela nem sempre é verdadeira. Existem
situações nas quais a igreja pode estar decrescendo e ainda assim, apresentar
vitalidade, ou, estar crescendo e não ter vitalidade. Como isto é possível?
Vitalidade sem
crescimento
Algumas comunidades
sofrem com mudanças demográficas. Recentemente li que a cidade de Rialma, com
21 mil habitantes no interior de Goiás, que em 10 anos perdeu três mil
habitantes, tendo agora apenas 18 mil. Esta pequena diminuição pode causar
transtornos para a igreja local, caso um bom número de famílias de uma mesma
igreja resolva se mudar. Entretanto, existem situações ainda mais complexas, de
comunidades inteiras que precisam se mudar por causa de guerras, cataclismas como
vulcões e terremotos, ou guerrilhas, questões econômicas e políticas, diminuindo
o número de pessoas, ou até mesmo decretando o fim de uma cidade ou vila. Se
uma igreja vive neste ambiente, ela perderá muitos membros e até mesmo vai se
extinguir, dependendo da extensão do problema. Se ela ainda consegue
sobreviver, mesmo e talvez por causa das perdas, ela pode se tornar uma igreja
poderosa, viva e dinâmica, mesmo com a diminuição no número de membros.
Certa vez ouvi o
relato de um pastor na cidade de Detroit, que perdeu 90% de sua comunidade por
causa do desemprego gerado pela crise na indústria automobilística. As pessoas
demitidas, tiveram que se mudar de cidade em busca de oportunidades de trabalho,
num curto espaço de tempo. Se você é pastor numa situação como esta vai sentir
na pele o quão duro é equilibrar os projetos, orçamento, funcionários e
despesas.
No Brasil é muito
comum história de igrejas de zona rural, que se esvaziaram com o tempo porque
os filhos tiveram que sair para grandes cidades procurando estudo e emprego. Os
pais vendiam suas pequenas propriedades, e mudavam para apoiar seus filhos. Na
Igreja de Anápolis, que pastoreio desde 2003, recebemos muitos jovens do
interior, vindo de pequenas cidades em busca de cursos universitários. Muitos
deles, valorosos crentes, bons músicos, e que abençoam nossa comunidade. Sempre
que os vejo fico pensando no quanto a saída deles foi uma perda de talentos
para suas comunidades de origem.
Temos acompanhado com
perplexidade a situação da Igreja no Líbano e de forma ainda mais crítica, na Síria,
onde os cristãos agora sob forte perseguição deixam o país para proteger suas
vidas e a de seus filhos. Muitos templos encontram-se vazios, ficaram para trás
com alguns poucos crentes, na sua maioria idosos, sem saúde e com recursos financeiros
limitados.
Nestes casos, as
igrejas se esvaziaram e perderam membros, mas sempre revelaram fidelidade a
Deus, amor ao evangelho e continuaram comprometidas com o reino mantendo seus
sinais vitais. Perderam membros, mas não perderam vitalidade.
Naturalmente tais
situações podem equivocadamente justificar igrejas que perderam seu vigor e
justificam sua falta de crescimento. Uma igreja saudável possui naturalmente,
como qualquer organismo vivo, a capacidade de reprodução, adaptação ao meio
ambiente, nutrição e crescimento. Tal crescimento
surge espontâneo e naturalmente, conforme a narrativa do livro de Atos dos
Apóstolos: “Louvando a Deus, e contando com a simpatia de todos, enquanto isso
acrescentava-se-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”. (At
2.47). Evangelismo, surge naturalmente em igrejas cuja vida espiritual é
profunda e comprometida com o Senhor Jesus.
A Igreja de Atos estava sempre registrando o crescimento numérico de
seus membros.
Crescimento sem vitalidade
Em contrapartida,
podemos encontrar um cenário completamente oposto. Muitas igrejas crescem sem
vitalidade essencial. São igrejas infiéis. Como isto é possível?
Augustus Nicodemus faz
a seguinte análise na Introdução de seu artigo Paulo, Plantador de Igrejas:
“A igreja americana "Catedral da Esperança,"
em Dallas, Texas, é uma das maiores igrejas da denominação Comunidade de
Igrejas Metropolitanas dos Estados Unidos e está entre as que mais crescem
na América, com uma média de 1600 pessoas, nos domingos pela manhã, na Escola
Dominical. Isto a coloca na faixa de 1% das igrejas nacionais que têm mais de
1.000 membros. O pastor da igreja, Michael Piazza, já está se queixando de que
o espaço é pequeno e deseja comprar um novo prédio. Surpreendentemente,
trata-se de uma igreja que atende a população homossexual e lésbica. Piazza deseja
tornar a Catedral numa "catedral psicológica," que venha
servir como o centro espiritual mundial dos homossexuais e lésbicas cristãos...
Estou citando este caso para exemplificar que é perfeitamente possível fazer
uma igreja local crescer sem que isso tenha algo a ver com a doutrina bíblica
correta. É possível provocar a expansão de um organismo eclesiástico, sem que
essa expansão seja necessariamente o resultado de uma visão correta das
Escrituras ou de uma perspectiva correta acerca da obra missionária da Igreja”.
http://www.monergismo.com/textos/missoes/missoes_augustus.htm
Um grande número de
igrejas no Brasil crescem usando estratégias de marketing, fortes apelos
emocionais, adulterando o evangelho, fazendo falsas promessas em nome de Deus e
assim por diante. “...muitas igrejas
evangélicas crescem usando estratégias e metodologias questionáveis.
Especialmente aquelas da teologia da prosperidade, que atraem as pessoas com
promessas de bênçãos materiais e curas que não podem cumprir” (Augustus Nicodemus).
Infelizmente, muitas
destas igrejas crescem, propalando mentiras e alcançando pessoas desesperadas e
ansiosas por curas e respostas imediatas. Pastores com comportamentos
questionáveis, com carisma mas sem caráter, enganam grande quantidade de
pessoas com marketing e propaganda, uso da mídia social, forte empreendedorismo
e poder de convicção, atraindo e engodando pessoas com corações inconstantes trazendo
vergonha ao Evangelho e desonra para a igreja de Cristo.
Por isto a fórmula,
vitalidade = crescimento, não se aplica em todas as situações.
É possível que um pastor
piedoso mas tímido, encontre grande dificuldade em plantar uma igreja, enquanto
um pastor com capacidade eloquente, mesmo vivendo uma vida de pecado, com
motivos e estratégias espúrias, pode alcançar êxito no ministério. É bom
lembrar que o profeta mais bem sucedido da história bíblica foi Jonas, embora
ele seja o sucesso do fracasso. Sua vida não era nada piedosa, seus dilemas e
conflitos com o Eterno eram gigantescos. Ele é o que se pode chamar de um
missionário em crise com o Deus das missões. Apesar de sua atitude belicosa e
rebelde, depois de três dias de mensagem, viu 120 mil pessoas se arrependendo e
buscando misericórdia de Deus, mesmo com sua mensagem de juízo e condenação, e
sem qualquer simpatia para aquele povo. Deus, ainda assim, pela sua graça,
tornou efetiva a mensagem da salvação no coração daquela cidade.
Diante disto tudo, podemos
afirmar que existe diferença entre crescimento e vigor espiritual.
Igrejas podem perder
os membros por várias razões, entre elas:
Morte, mudança para
outras cidades, transferência de igrejas ou denominações, pecados e escândalos,
liberalismo teológico e ético, perda da santidade. Pode deixar de crescer por
causa da auto estima baixa, por seus métodos inadequados, brigas intermináveis,
crítica excessiva, brigas internas pelo poder, liderança em conflito ou brigas
históricas mal resolvidos, ausência de adaptação ao contexto histórico
cultural, medo do novo e perda da relevância.
Por outro lado,
igrejas perdem o vigor por motivos conhecidos:
Comodismo, perda do
foco e da missão, indiferença espiritual e falta de vida profunda, falta de
planejamento a médio e longo prazo, perda da referência teológica, ao retirar a
autoridade da Palavra, falta de pregação expositiva, adaptação ao pecado e
mundanismo, falta de ardor missionário. Lamentavelmente existem hoje centenas
de igrejas espalhadas pelo mundo que se tornaram museus e bares, outrora
igrejas fortes e vigorosas, se perderam no tempo e estão mortas, carentes do
fogo de Deus e da vida que jorra do Espírito Santo.
Sinais vitais
Na Igreja
Presbiteriana do Brasil, uma igreja é formalmente estabelecida quando alguns
fundamentos se encontram presentes. “Uma comunidade de cristãos poderá ser
organizada em igreja, somente quando oferecer garantias de estabilidade, não só
quanto ao número de crentes professos, mas também quanto aos recursos
pecuniários indispensáveis à manutenção regular de seus encargos, inclusive as
causas gerais, e disponha de pessoas aptas para os cargos eletivos” Portanto,
uma comunidade será declarada “igreja” quando conseguir se firmar nestes
princípios constitucionais:
(a)-
Estabilidade no número de membros;
(b)
- Condições financeiras que permitam sua independência;
(c)-
Liderança autóctone e sólida
Apesar destes serem os
requisitos constitucionais para o estabelecimento de uma igreja autóctone, eles
não são necessariamente sinais vitais, mas apontam para as condições
estabelecidas institucionalmente para que possam ter condições de constituir
uma liderança local independente, constituir um CNPJ, e eleger suas sociedades
internas e departamentos, sem a supervisão da igreja mãe, ou, em alguns casos, da
missão responsável pelo projeto.
Alguns sinais, porém,
tornam-se essenciais e servem com termômetro para se avaliar a vitalidade da
igreja.
Primeiro sinal - Em movimento: A Igreja não se encontra estacionada
Muitas igrejas tiveram
períodos de grande entusiasmo e demostraram grande alegria na obra missionária, mas com o tempo
perderam o senso do chamado e se acomodaram num nível de auto satisfação. Em
geral cerca de 80% das igrejas se encaixam dentro de uma faixa comum entre 80 a
150 membros, e na sua maioria possuem
sede própria, e os ministérios estão em satisfatório funcionamento, não enfrentam
grandes desafios financeiros e são estáveis. É exatamente nesta fase que surgem
grandes perigos. Elas se encontram no platô ou no declínio. O temente rei Davi,
se envolveu num grosseiro adultério quando sua vida estava relativamente
confortável e seus soldados foram à guerra, mas ele ficou em casa. Igrejas
estáveis, na sua acomodação, tendem a se tornar igrejas frias e despreocupadas,
vivendo numa perigosa fronteira entre paz e negligência.
Platô é a parte
elevada e plana de um terreno, classificação dada a uma forma de relevo
constituída por uma superfície alta, com cume mais ou menos nivelado, são topos
retos, superfícies topográficas, que podem ser regulares ou não.
Emprega-se este termo
para condicionamento físico. Fala-se muito do efeito platô!
É comum uma pessoa
perder peso durante o início de uma dieta, mas, com o passar do tempo, a dieta
não fazer mais efeito e ela para de perder peso. O efeito platô é o responsável
pela estagnação, ou seja, o vilão da dieta e da batalha contra os quilinhos
extras. No processo de emagrecimento, o peso se estabiliza e não se consegue
mais emagrecer, eis ai o efeito platô.
Uma igreja com
vitalidade continua avançando e por causa da dinâmica espiritual e da vida que
ela recebe da videira que é Jesus, gera movimento, impacta vidas, envolve-se
com a cidade e avança na visão. Existem igrejas que apesar de serem sólidas e
estáveis continuam dinâmicas, crescentes, evangelizadoras e missionárias,
enquanto outras sofrem um processo de estagnação.
Platô é uma situação
de grande risco quando não se percebe o perigo. A vida é dinâmica. Pessoas
nascem e morrem, uma geração dá lugar a outra geração. A tendência de uma
igreja estagnada é o declínio ou mesmo a morte. Quando pastoreei nos EUA, nossa
comunidade adquiriu uma maravilhosa propriedade de uma igreja congregacional
que teve dias de grande efervescência espiritual, mas que agora tinha apenas 12
membros, e o mais novo do grupo, já estava com 82 anos. Sem dúvida alguma, uma
igreja morta. Precisava de revitalização, mas o comodismo a levou ao declínio. Nenhuma
visão, nenhum desafio, nenhum projeto.
Igrejas com vitalidade
continuam avançando em crescimento numérico, na obra missionária, despertando novas vocações, formando novos líderes,
preocupando-se com a nova geração. Ela se recusa a ficar na perigosa e
escorregadia zona de conforto. A estagnação é uma perigosa armadilha!
Segundo Sinal: Boa auto estima
Muitas comunidades
adoecem no tempo, e se tornam muito pessimistas acerca de si mesmas. São igrejas com moral baixa. As pessoas estão
insatisfeitas e passam a criticar e conspirar contra o pastor (o técnico é o
bode expiatório mais visível), e quando isto acontece, começa a declinar. Se as
coisas não vão bem internamente é mais fácil acusar outras igrejas, criticar
outras denominações, ou justificar-se dizendo que “a denominação é muito
fechada” ou que não recebe apoio de ninguém. E isto impede que os problemas
reais sejam tratados.
Uma igreja com uma boa
visão de si mesma estabelece alvos, projetos e sonhos. As pessoas se mobilizam
para atingir as metas e o entusiasmo delas é contagiante, mas quando a igreja está
desanimada, a maledicência passa a fazer parte de seu cotidiano. A Bíblia
afirma que quando o povo de Deus estava
saindo do Egito, o “populacho” começou a murmurar com grande desejo das comidas
dos egípcios, e outras pessoas foram imediatamente contaminadas “pelo que os filhos de Israel tornaram a
chorar e também disseram: Quem nos
dará carne a comer?” (Nm 11.4). O problema da murmuração atingiu toda
comunidade.
Existem dois tipos de
igreja:
As que falam bem de si
mesmas e as que falam mal de si mesmas.
Existe um popular
ditado inglês que diz: “Ninguém compra uma passagem para o Titanic”. Como
sabemos este grande e “indestrutível” navio, que “nem mesmo Deus poderia
afundar”, naufragou na sua viagem inaugural e mais de 1000 pessoas perderam suas
vidas. Moral da história: Alguém se arriscaria a comprar uma destas passagens,
por mais glamoroso que fosse aquele navio, se soubesse do fatídico desastre? Não. Ninguém quer entrar num
projeto furado, nem apoiar estruturas adoecidas. As pessoas querem participar
de algo que lhes traga orgulho e alegria e não de igrejas que pecaminosamente
vivem em torno de suas próprias mazelas.
Por que as pessoas são
atraídas a determinadas igrejas enquanto outras se esvaziam? Geralmente por
causa da boa estima que a igreja tem. As pessoas daquela igreja falam com
alegria do que está acontecendo e isto leva outras pessoas a se interessarem
por ela. Os membros destas comunidades possuem uma linguagem de otimismo que
atinge outros.
Muitas vezes o
problema encontra-se em nós mesmos. Não buscamos a melhoria da igreja, não
investimos talento, tempo e dinheiro para que “haja abundância na casa do
Senhor”, mas somos observadores críticos. Uma criança de seis anos voltava para
casa depois do culto, ouvindo as críticas dos pais sobre o culto, a longa
liturgia, os hinos ruins e o péssimo sermão do pastor. O filho tinha visto que
seu pai, na hora do ofertório havia entregue apenas R$ 5,00, e então teceu o
seguinte comentário: “Também, com a oferta que o Senhor deu...”
Terceiro Sinal: Impacto visível em Vidas
O fator mais
importante para qualquer igreja é a obra do Espírito Santo dentro dela, e sua
obra mais fantástica é a conversão do pecador. Nada é mais explosivo e
energizador de uma comunidade desanimada que uma conversão genuína. Quando uma
pessoa se converte e é inserida na igreja, geralmente provoca uma reação em
cadeias no grupo. Uma conversão genuína traz alento, desafia, provoca
positivamente novas atitudes, principalmente se aquela igreja por muitos anos
não via novos convertidos. Este processo é absolutamente maravilhoso e
empolgante.
Um novo convertido desafia
membros acomodados. Já vi novos convertidos participando das reuniões de
oração, trazendo suas ofertas com alegria, se envolvendo com a igreja, enquanto
membros antigos estavam sem perspectiva. Isto fazia com que os velhos e mofados
membros, fossem estimulados a agirem de forma mais efetiva. Lembro-me de um
rapaz que se converteu a Cristo e veio de uma vida de pecados e paixões da
carne, ao chegar na igreja, encontrou um grupo de jovens sem santidade, e ele
começou a exortá-los a uma vida de sério compromisso com Deus.
Quando Deus restaura
uma família, resgata uma pessoa das trevas, alcança o coração de uma pessoa que
vivia distanciada do Evangelho, isto se torna altamente impactante para a
comunidade.
As pessoas mais
desafiadoras da igreja são novos convertidos, e é bom ver o vigor de sua fé e o
compromisso que passam a ter com o povo de Deus. Membros antigos facilmente
podem sentir ciúme e isto até mesmo gerar intriga e oposição diante de seu
entusiasmo. A verdade porém é que igrejas com vitalidade estão sempre tendo a
alegria de discipular e nutrir aqueles que foram alcançados pela graça de Deus.
Quarto Sinal: Alegria comunitária
Nem toda igreja possui
ambiente de harmonia e alegria, na verdade existem muitas igrejas mau humoradas
com pastores temperamentais e deprimidos. A história está repleta de grupos adoecidos, disfuncionais e neuróticos,
sofreram processos de acusações, rupturas, amarguras e com lutas internas mal
resolvidas.
O exemplo que gosto de
usar é simples.
Muitas vezes tenho que
entrar em casas para orientar pessoas, orar com elas, tentar harmonizar um casamento,
falar com adolescentes rebeldes. As experiências vão desde manifestações
demoníacas, até a dureza do coração, falta de perdão, mau humor, grosseria,
infindáveis discussões mas em muitas ocasiões vi a graça de Deus se
manifestando poderosamente e trazendo reconciliação e cura. Quando chego nestas
casas, algumas delas muito ricas, torna-se fácil perceber como está o ambiente,
basta um olhar mais atento para a disposição dos móveis, o design, os quadros e
as plantas. Numa família onde o caos, o ódio e a dor prevalecem, é fácil notar
que, mesmo num luxuoso ambiente, as coisas encontram-se sem vida, sem alegria,
o ambiente é pesado, os quadros estão tortos, as plantas estão secas e sem
viço.
Creio que muitas
igrejas são assim.
Quando você vai participar
do culto, percebe imediatamente que muitas coisas estão fora do lugar e não são
como deveriam ser. Alguns diagnósticos externos podem ser aplicados: Como está
a fachada da igreja? Como estão os banheiros? Como está o Departamento
Infantil? Há crianças transitando com alegria no meio dela? A comunidade é
receptiva, simpática e aberta aos visitantes? Todas estas coisas revelam
alegria interior. Ser simpático, acolhedor, atraente, não conspira contra um
culto bíblico. Muitas vezes na Bíblia o povo de Deus é convidado a “celebrar a
Deus com júbilo”, que é uma manifestação emocional de entusiasmo e alegria.
Algumas igrejas são
mau humoradas e refletem isto na liturgia, no louvor, nos móveis. Alguns anos
atrás fui sondado para pastorear uma grande e tradicional igreja da nossa
denominação. Quando ali cheguei, fiquei assustado, com a disposição dos móveis,
o cheiro de mofo dos prédios, a estrutura antiga das coisas, e com péssimo
gosto arquitetônico. A liderança da igreja, assentou-se numa velha sala do
conselho, onde tudo era desorganizado e sem graça e cheirava a museu. Faltava
decoração, arrumação, faltava vida. Não havia cor, nem sinais de restauração e
reforma, não havia sinais de dinâmica na igreja. Faltava alegria. Faltava
entusiasmo.
Uma igreja com
vitalidade, manifesta alegria até na disposição dos móveis, na forma como os
ministérios se organizam, na comunicação visual, nas flores que ornamentam, no
envolvimento das pessoas e assim por diante. Já viram um grupo de adolescentes
reunidos? Apesar da aparente balbúrdia e do barulho que geram, é visível sua
vitalidade e energia. É disto que estou falando.
Quinto Sinal: Acolhedora e receptiva
Uma igreja assim não é
ensimesmada. A melhor definição para ensimesmamento é a concentração
em si mesmo. Este termo é usado para se referir a pessoas,
introspectiva e absortas nos próprios pensamentos, com tendência
a isolar-se e fechar-se. Muitas igrejas assumiram este tipo de personalidade, e
giram em torno de seus problemas internos, sem compreender o chamado de Deus
para sair de si mesmas, e irem até os confins da terra.
Uma igreja ensimesmada
perde a compreensão do seu chamado missionário e da sua identidade. Suas
programações são intramuros, seus recursos servem para investimento e melhoria
de suas dependências e para trazer conforto e bem estar ao grupo que se reúne.
O problema é que “às vezes é preciso parar e olhar para longe, para podermos
enxergar o que está diante de nós”.
Lamentavelmente é
fácil encontrar pastores que se orgulham de terem igrejas assim. Olham para a
igreja com medo de serem afetadas por outras pessoas e outras denominações e
chegam mesmo a dizer que igrejas pequenas é que são boas e que preferem
qualidade a quantidade. Mas desde quanto quantidade precisa ser oposta a
quantidade? Muitas pessoas tem se congregado à nossa igreja, hoje com mais de
1000 membros, por causa da qualidade da pregação, dos programas, do louvor, do
discipulado. Na verdade, é mais fácil ter qualidade e bons programas quando se
tem recursos disponíveis. O louvor é mais entusiasmado, os adolescentes são
mais facilmente atraídos, possui mais recursos para investir em seus projetos.
Se uma igreja é
ensimesmada porque teme a superficialidade e o consumismo é bom entender que
estes mesmos perigosos elementos são encontrados em igrejas abertas ou em
igrejas fechadas.
Dois problemas
O ensimesmamento traz dois
efeitos nefastos e imediatos.
Um deles é o de não
ser uma igreja simpática. Ela não está interessada nos convidados, nem nos que
se aproximam da comunidade, não possui programa de integração e acolhimento,
nem estratégia de expansão, missão e plantação de novas igrejas. Ela está muito
bem, obrigado! Não precisa de ninguém, e não tem os olhos postos para fora de
si mesmo.
O segundo problema é
que ela perde a essência missionária.
Um dos lemas da
missiologia é que “a missão da igreja é fazer missão”.
A igreja de Jerusalém,
logo após o Pentecoste, de forma inconsciente perdeu a dimensão missionária. As
coisas iam bem, em poucos dias a igreja já estava com mais de 5000 membros,
muito poder, muita unção, mas o mandato missionário parecia esquecido. Então
vemos o dramático relato do que aconteceu a igreja. “Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em
Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da
Judeia e Samaria” (At 8.1). A
perseguição se torna o instrumento de Deus para levar o povo a sair. Para onde
Deus havia ordenado que fossem? Judéia e Samaria. Eles entretanto, não foram, e
agora Deus levanta o primeiro agente missionário da história: os religiosos de
Jerusalém ao perseguir a igreja cooperam para o seu avanço.
A regra é simples:
Igrejas que não
plantam igrejas por visão, plantarão por divisão.
Uma igreja ensimesmada
gasta toda sua energia na tentativa de resolver os conflitos internos e todos
os seus recursos para manutenção. Boa parte das igrejas atuais são igrejas de
manutenção, mas este é um traço perigoso. A igreja encontra-se sem vitalidade
quando tem dificuldade para olhar além de si mesma.
C. John Miller[1],
fala da
“visão de túnel”, que limita os sonhos e potenciais de uma comunidade. Em
oftalmologia trata-se de uma visão periférica que demonstra que mesmo quando a visão
central ainda esteja boa, pessoas com este quadro clínico, tem a sensação de
ver através de um tubo estreito, que pode incluir dificuldade de enxergar com
pouca luz e diminuição da capacidade de se orientar. Muitas igrejas vivem
exatamente assim. Sua visão de mundo, de cidade, da sociedade, é inexistente. A
visão fica limitada e perigosa.
Sexto sinal: Crescimento numérico
Parece um contrassenso
dizer que crescimento numérico revela uma igreja com vitalidade, depois da
abordagem inicial que fizemos, mas, embora a evangelização não possa ser
considerada em termos de resultados, e que, crescimento não significa
necessariamente saúde, números ainda revelam saúde. Igrejas saudáveis atraem os
pecadores a Cristo, e ministra ao mundo perdido.
Entre as igrejas que
mais crescem, George Barna identificou entre outros, os seguintes elementos.
Grande entusiasmo interior, vitalidade, abertas a visitantes e forte
envolvimento dos leigo. Igrejas vivas atraem e o resultado é exponencial. No
livro de Atos estamos sempre vendo o avanço da igreja, e o crescimento numérico
é constantemente registrado. A igreja primitiva não era numerólatra (não
idolatrava números), mas também não era numerófoba (não tinha medo de números).
Por esta razão, vemos ali uma igreja em constante avanço missionário e expansão
e com alegria registrando a conversão de pessoas registrando inclusive o número
delas. Por que sabiam que 3000 pessoas se converteram? Porque alguém havia
contado.
Infelizmente muitas
denominações e pastores desprezam este fator, e eventualmente o fazem para
justificar a falta de crescimento. Grande parte das igrejas possuem crescimento
pífio, e isto não desafia nem preocupa, porque apesar disto, a igreja consegue
se manter estável, com suas finanças em dia, com boa organização, e por esta razão
não haverá questionamento maior.
A verdade, porém, é
que líderes precisam se preocupar sim, com o crescimento local da igreja, sem
obsessão, mas com intencionalidade. A igreja de Atos registra a alegria com o
avanço do evangelho e o número de novas conversões, ela registra o número
daqueles que aceitavam a fé, isto mostra que crescimento numérico fazia
sentido. Não deveríamos ter o mesmo sentimento?
Conclusão:
O elemento mais
importante na plantação de uma igreja não é se ela apenas consegue os recursos
necessários para sua sobrevivência, se seu crescimento numérico tem sido
regular e efetivo, mas acima de tudo, se possui vitalidade. Os elementos acima
descritos, naturalmente, atrairão recursos e pessoas, mas o mais importante é
se ela tem a vida que procede do calvário, e se a obra do Espírito de Deus está
presente e visível nesta comunidade.
Já faz muito tempo que
venho refletindo sobre a dinâmica da plantação de igreja, e pessoalmente tenho
estado envolvido em processos de levantar recursos, escolher obreiros, avaliar
candidatos. Se hoje recebesse convite para pastorear uma igreja e tivesse
interesse em aceitá-lo, a pergunta fundamental para mim não seria seu orçamento
nem número de membros, mas se ela possui entusiasmo, se há motivação suficiente
para avançar.
Nada pode deter um
grupo motivado e coeso, disposto a investir sua vida e tempo num projeto. Feliz
é o plantador de igreja que encontra este perfil no grupo base, a partir do
qual, pretende firmar o projeto de uma nova comunidade. Se neste grupo houver cinco
casais dispostos a assumir este trabalho de forma corajosa e compromissada,
certamente preferiria a um grupo de 50 pessoas, desmotivadas, negligentes,
cansadas e desconfiadas.
Os sinais que
descrevemos acima podem ser subjetivos e até mesmo não mensuráveis, mas
certamente são perceptíveis e claros.
Talvez o crescimento
não venha da forma como esperávamos, nem o sucesso na plantação será obtido
dentro do planejamento originalmente estabelecido, mas se estes sinais estão
presentes, podemos discernir o mover de Deus, e encorajados, avançar com fé em
relação àquilo que Deus colocou como sonho em nosso coração e crer que seremos
surpreendidos por algo renovador e profundo.
[1] Miller, C. John –
Outgrowing the ingrowing church – Zondervan Publishing House, Grand Rapids, MI
1999
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