quinta-feira, 4 de abril de 2019

Selecionando o campo para Plantar uma Igreja



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Introdução:

Um dos maiores equívocos na plantação de igrejas no Brasil tem a ver com o fato de que as pessoas não avaliam seriamente o campo onde desejam plantar igrejas. Muitas vezes as igrejas iniciam porque um grupo de pessoas pede ao pastor ou a liderança da igreja local para que plante uma igreja naquele local, e outras vezes, ainda pior, iniciam um projeto porque um pastor está sem campo e precisa ser realocado. Então, a motivação para a plantação é solucionar o problema do plantador de igreja, e não pela visão que a igreja criou e nem pelo potencial do campo.

Existem duas formas de se plantar igrejas. Ambas são válidas:

Uma, espontaneamente.
Não houve planejamento, mas circunstancialmente o trabalho aparece, e não creio que isto seja de todo errado. Deus pode orientar o trabalho para uma direção que não havíamos planejado e inclinar uma comunidade a uma direção nova.
Outra, intencionalmente.
Basta uma rápida leitura no livro de Atos para observarmos como os apóstolos eram intencionais na plantação de igrejas.
Em Atos 16 lemos: “Tendo pois navegado de Trôade, seguimos em direitura a Samotrácia, no dia seguinte a Neápolis, e dali a Filipos, cidade da Macedônia, primeira do distrito e colônia” (At 16.11,12). Por que os discípulos não ficaram nas duas primeiras cidades? Porque não eram estratégicas.
Em Atos 20 vemos a mesma estratégia. Observe quantas cidades são cidades e regiões são citadas por Paulo. Pelo menos cinco (At 20.13-15) e em todas não há uma estratégia de missão. Por que? Talvez porque o primeiro público era judaico, mas outra possível explicação é que estas cidades não eram cidades grandes e Paulo definitivamente estava observando as cidades que poderiam influenciar mais o pensamento da regiao.

Uma das perguntas que devemos fazer ao pensarmos na plantação de igreja é o tipo de solo que estamos buscando. Temos a semente boa, temos obreiros disponíveis, mas este solo é apropriado ao plantio?

Algumas observações são necessárias:

  1. Ore, para entender a vontade de Deus – Veja como isto é interessante. Paulo afirma por duas vezes que quiseram fazer missão numa determinada direção e o Espírito Santo não permitiu. “E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu” (At 16.6,7).

Qualquer Introdução à missiologia vai nos ensinar que o Espírito Santo é o autor das missões. Entretanto, nestes dois textos, o Espírito está “impedindo”, e “não permitindo”, que a igreja avance. Literalmente Deus fecha as portas. Qual problema havia na Ásia? Não sabemos. As pessoas não precisavam do evangelho? Claro que sim. Então, por que o Espírito Santo estava “impedindo” o avanço da obra naquela direção?

Provavelmente nunca entenderemos as razões de Deus, mas a verdade é que Ele estava orientando seu povo a caminhar na direção que ele mesmo queria, como vemos a seguir: “À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos” (At 16.9). Deus tem o tempo certo e seus propósitos são sábios e santos. Naquele momento da história, a igreja deveria avançar em direção à Europa, e foi isto que os apóstolos fizeram.

A piedade da igreja, a busca por direção, pode nos ajudar a ir na direção do plano de Deus. Isto evita perda de recursos, de tempo, mas acima de tudo, significa estar alinhado com a visão de Deus para sua história. Portanto, orar é fundamental, para saber a direção que Deus está dando para a sua igreja.

  1. Estude a região – Uma das opções é ter o mapa da cidade em seu escritório. Dê uma olhada na sua cidade, no seu estado. Do ponto de vista logístico, quais são as áreas que demandam a atenção da igreja e onde parece valer a pena investir recursos para implantação de uma nova igreja?

Observe os bairros – No inicio do meu pastorado na cidade de Anápolis, onde pastoreio desde 2003, comprei um mapa da cidade e coloquei alfinetes de cores diferentes para ter uma visão da presença de igrejas da minha denominação em minha cidade. Onde elas estavam estabelecidas? Onde havia congregação ou ponto de pregação? Então verifiquei cinco áreas que estavam sendo negligenciadas, sendo que uma delas tinha cerca de 40 mil habitantes. Este foi imediatamente o lugar onde iniciamos um projeto e plantamos uma igreja, estabelecida com sua sede própria.

Não é difícil ver a configuração do bairro. Preste atenção nas avenidas principais que passam pela cidade. O bairro é estratégico? As pessoas afluem para o mesmo.

Um olhar sobre cidades – Outra forma interessante de observar sua região é fazendo um levantamento da região. Consegui adquirir um livro do Estado, chamado “Dossiê de Goiás”. Nele havia fotografia de todas as cidades, as informações sobre cada uma delas, população, fabricas, faculdades, etc. Compartilhei esta ideia com um grupo de estudantes, e eles fizeram um levantamento apontando para 12 cidades no Estado, com mais de 20 mil habitantes, sem presença de nossa denominação. Estas são “áreas” que precisamos considerar com carinho. Numa destas cidades já estabelecemos um trabalho em parceria com a Igreja Nacional de Brasilia e temos obreiro com sede própria.

Em Josué 13 lemos: “Era Josué, porém, já idoso, entrado em dias; e disse-lhe o Senhor: Já estás velho, entrado em dias, e ainda muitíssima terra ficou para se possuir” (Js 13.1). O desafio de avançar ainda era imenso para que o povo se estabelecesse na terra. A visão de Deus era clara: eles precisavam avançar. Havia muita coisa para ser feita. Então Josué faz o que? Ele reuniu toda a congregação dos filhos de Israel em Siló, e os desafiou cada tribo a fazer “um gráfico relativamente à herança das tribos e voltassem a ele (Js 18.4). ele pediu para que os filhos de Israel fizessem “um gráfico da terra” (Js 18.6). “Foram, pois, os homens, passaram pela terra, levantaram nela o gráfico, cidade por cidade, em sete partes, num livro e voltaram a Josué, ao arraial em Siló” (Js 18.9).

Não era fácil fazer um levantamento desta magnitude naqueles dias. Eles não possuíam GPS, nem geo referenciamento, nem mapas prontos, não podiam acessar o google, apesar de todas as limitações, trouxeram um gráfico para saber como poderiam avançar. Igrejas deveriam refletir seriamente sobre as oportunidades e desafios de cada região, e juntas, estabelecerem uma estratégia de ação missionária.

  1. Liste algumas áreas em potencial – Isto é essencial para plantar novas igrejas, fundamentado nos dados e informações que você já possui sobre a região.

Estabeleça prioridades. Não dá para alcançar todas as regiões, não temos recursos humanos e financeiros para todos os desafios.
Então considere o seguinte: Se você tivesse recursos hoje, onde você gostaria de estabelecer uma nova igreja?

Agora pense não apenas em termos de possibilidades, mas em termos de sonhos: Por que não pensar numa nova igreja nesta região, já que as possibilidades lhe parecem tão claras? Ainda que os recursos sejam pequenos. Priorize a lista de acordo com as possibilidades. Converse com lideres de sua igreja local e seu presbitério. O que eles acham disto? Será que existe alguém interessado em fazer uma parceria para que multipliquemos os recursos e potencializemos os trabalhos?

  1. Conheça o ambiente espiritual do Local – Cada região tem suas particularidades espirituais.

Quando começamos a pensar na cidade de Pirenópolis-GO., uma cidade histórica e turística, com mais de 200 anos de existência sem um trabalho de nossa denominação, tornou-se evidente que estaríamos planejando entrar numa cidade conhecida pelas suas “cavalhadas”. Tropeiros da região e do Estado chegam ali para fazer procissões a cavalos, carregando andores e celebrando a santa do lugar.

Pirenópolis é também uma cidade marcada pela droga. Por causa do seu veio turístico, jovens se reúnem para fumar maconha nos seus pontos turísticos, e a cidade tem uma vertente muito artística e musical. É importante conhecer o ambiente espiritual e cultural da cidade.

Perto dali, existe outra cidade, conhecida mundialmente por causa de um controvertido guru espiritual, um famoso curandeiro que se auto denomina João de Deus (John of God), atualmente ele está preso por abusar de centenas de mulheres casadas e jovens. Ele é um temido macumbeiro da região que diz ter poderes miraculosos para curar pessoas e fazer cirurgias espirituais. A pessoa que se sentir desafiada à plantação de igrejas em cdiades assim, precisa entender o que encontrará pela frente e se preparar espiritualmente para a batalha espiritual que enfrentará, e buscar estratégias espirituais para confrontar com tais poderes, como aconteceu com Paulo em Filipos (jovem adivinha), e em Listra, onde foram confundidos com os deuses pagãos, Júpiter e Mercúrio, após a cura de um paralitico conhecido na cidade (At 14.8-18).

Considere as seguintes questões:

    1. Qual é a história da cidade: sua fundação? Muitas cidades no Brasil foram fundadas em torno de determinados santos ou entidades. Anápolis, por exemplo, é a “cidade de Ana” que na tradição católica é a mãe de Maria. O conceito de mariolatria é bem enraizado na cidade desde sua fundação. A Igreja de Santa Ana é central na cidade.

    1. A História posterior da cidade: Quais forças espirituais ainda dominam na cidade. Suas procissões, a quantidade de terreiros, centros de espiritismo, logosofia, maçonaria. Que forças estão presentes na cidade?

    1. As denominações cristãs: que linhas teológicas são adotadas? Existem muitas divisões? Como os pastores da região trabalham? É uma igreja marcada por escândalos ou goza de bom testemunho das pessoas?

    1. Os símbolos da cidade (bandeiras e escudos e hinos), fazem alguma alusão a forças religiosas? Imagine pastorear uma cidade que tem nome de uma entidade como Exu (PE).

    1. As estátuas da cidade exaltam entidades? Refletem alguma característica demoníaca? Idolatria?

    1. As áreas de lazer são caracterizadas por sensualidade? Quantas destas áreas existem na cidade? Existem cinemas e áreas destinadas à promiscuidade?

    1. A cidade é receptiva aos evangélicos? Quais foram as histórias no nascedouro da cidade? A evangelização tem sido relativamente fácil?

  1. Estabeleça parcerias – Trabalhar em equipe, dividindo sonhos e atividades é a coisa mais bonita que pode acontecer.

Um dos inimigos mortais nesta fase é a atitude de suspeita, já que os líderes locais podem alimentar certa desconfiança sobre as motivações do outro. Obviamente as pessoas são narcisitas, egocêntricas e isto também conspira contra a idéia de parceria, mas quando os primeiros projetos forem estabelecidos, torna-se mais fácil alcançar os objetivos desejados. Quando entendermos que não estamos plantando uma igreja para nós mesmos, mas para edificação do reino, isto se torna muito mais fácil.

Parcerias aproximam as pessoas e multiplicam os recursos. Um e um é sempre mais que dois. Torna-se mais fácil realizar qualquer projeto missionário ou evangelístico quando há um esforço comunitário maior e não apenas de uma congregação local.

  1. Ore para que Deus confirme isto no coração da liderança – Vejo algumas coisas interessantes nas escrituras sobre o projeto missionário.

Observamos que os apóstolos desejaram pregar na Ásia, mas o Espírito Santo os impediu, quiseram ir para Bitínia, mas o Espírito Santo não permitiu (At 16.6-7). Quando oramos para entender a vontade de Deus podemos nos surpreender com as respostas. Por que o Espírito Santo os impediu, e outra vez, não permitiu que pregassem o Evangelho em determinados lugares?

O avanço da obra depende essencialmente da estratégia divina. Outro relato interessante sobre a obra missionária encontra-se na carta de Paulo aos Tessalônicenses, quando a igreja tentou avançar numa determinada direção, “mas Satanás nos barrou o caminho” (1 Ts 2.18). Neste caso, trata-se de uma batalha espiritual, uma oposição satânica, e Paulo assim foi impedido de ir para aquela cidade.

Existem situações que provavelmente nunca entenderemos, mas se buscarmos a direção de Deus, teremos menos frustrações e mais efetividade, menos obreiros cansados no meio do caminho e mais resultado na obra missionária, consumiríamos menos recursos financeiros e aproveitaríamos melhor as oportunidades na obra do Senhor.

  1. Escolha o Local apropriado – Muitas igrejas chegam na hora certa, nos bairros certos, mas se colocam de forma não muito estratégica onde desejam se estabelecer.

Talvez por causa do custo financeiro ou falta de visão estratégica. O local apropriado é uma das coisas fundamentais para que alcancemos nossos alvos. Muitos ficam preocupados em adquirir uma área própria, mas analistas tem considerado a possibilidade de aluguel para o estabelecimento do trabalho, afinal, locais temporários:
(a) São mais flexíveis;
(b)- Não exigem capital inicial muito alto;
(c)- Reduzem as distrações;
(d) Geram expectativas. Locais temporários parecem temporários;
(e)- Envolvem pessoas na tarefa de montar e desmontar instrumentos e materiais;
(f) não limitam o tamanho dos sonhos.

  1. O obreiro apropriado – Uma pessoa para realizar o chamado em determinado lugar deveria fazer três perguntas sobre o seu campo missionário:

Þ   Quem são as pessoas a quem desejo ministrar?

Þ   Quais são suas necessidades espirituais?

Þ   Como o Evangelho pode alcançá-las de forma mais eficiente?

De todas estes itens enumerados, a escolha do obreiro é fundamental. Um obreiro adequando para um campo, preparado com seus dons espirituais e talentos, é fundamental para a efetividade do trabalho. Muitas vezes usamos uma equação perversa na plantação de igrejas, e o resultado já podemos antecipar. Escolhemos o pior obreiro, pagamos o pior salario e o colocamos no pior campo. Qual o resultado? Teremos a pior igreja.

Conclusão:

Todas as vezes que estabelecemos metas, falamos de estratégias, metodologias, gráficos, levantamentos, recursos financeiros, qualificações profissionais, corremos o risco de um perigoso desvio: Esquecermos que sem o poder de Deus todo projeto será incapaz porque lidamos com realidades espirituais que dependem de uma ação espiritual de Deus.

Quando Paulo entendeu isto, ele afirmou: “Não que por nós mesmos sejamos capazes de alguma coisa, como se partisse de nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus que nos habilitou para sermos ministros da nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Co 3.5-6).

Plantação de igrejas é uma obra tão desafiadora, que tentar fazer na base do talento natural e da carne, pode ser o maior equivoco de um obreiro ou de uma igreja.

Nossa suficiência vem de Deus!
Por melhores que sejam os planos, por mais competente que seja a equipe, não estamos falando de algo humano, mas algo que carece do sopro especial de Deus para florescer.

Que Deus nos ajude!

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