sábado, 20 de julho de 2019

A Base bíblica das missões


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Introdução:

Se há um fato inegável na Bíblia é que Yawé é um Deus missionário. A Bíblia é um livro missionário por causa do caráter de Deus. Seu coração missionário o leva a estar sempre preocupado com o bem estar material e a realidade espiritual do mundo.

O Deus missionário no Antigo Testamento
A Natureza missionária de Yawé

Vários motivos nos levam a considerar a dimensão missionária de Yawé:

1.     Deus é o criador e mantenedor do universo – Não apenas fez, mas o sustenta.
a.     Porque Deus fez o mundo, ele lhe pertence
                                               i.     Sl 24.1
                                             ii.     Sl 95.4-5
b.    Ele controla e sustenta o universo
                                               i.     Is 40.28
c.     Ele cuida dos animais e das bestas
                                               i.     Sl 145.16
d.    O homem ocupa lugar primordial na relação com Deus
                                               i.     Gn 1.26
                                             ii.     Sl 8
                                            iii.     Sl 100.3
e.     Todo universo é uma manifestação do seu poder e sabedoria
                                               i.     Sl 19.1-4
                                             ii.     “Na natureza foi o primeiro pregador”(Pe Antonio Vieira).

2.     Deus governa e julga o universo moralmente
a.     Lv 19.2: “Eu sou santo”.
b.    O ser humano é criado como um racional e moralmente capaz, tendo a capacidade de escolher até não adorar a Deus
c.     O homem é colocado no jardim do Éden para cultivá-lo – Gn 2.15
d.    O homem é responsável diante de Deus –“A alma que pecar, esta morrerá” (Ez 18.4).
e.     Ninguem está livre das consequências de sua escolha moral. O homem é um agente moral livre.
f.      Há uma moral primordial e arquetípica no universo (Nm 32.23).
g.     Quando a iniquidade dos amorreus chegou ao seu limite, o julgamento veio (Gn 15.16).
h.     Seu julgamento atinge até as nações pagãs (Dn 5.23-26)
i.      Seu julgamento atinge seu povo  (Am 3.2).

3.     Deus é rei e governa as nações pagãs
a.     A dispersão das nações é um ato de Deus (Dt 32.8)
b.    Apesar da rejeição das nações, Deus não deixou de governa-las (Is 45.4,28).
c.     Deus governa todos os povos. Sl 47.2,8; 103.19; Sl 108.9; Is 19.25

4.     Deus é pai e redentor de Israel
a.     Israel possui uma relação especial com Deus – Is 43.1
b.    A história de Israel é a história da redenção Is 43.1
c.     O chamado de Abraão: Ser benção a todas as nações. Gn 12.3; 22.18
d.    Israel seria o recipiente e guardião da revelação especial de Deus ao mundo Hb 11.1-3; Rm 9.4-5.
e.     Israel seria o canal através do qual o redentor entraria na humanidade.
f.      Jesus é Filho de Abraão (Mt 1.1); Filho de Davi (Rm 1.3)
g.     Israel estaria a serviço de Deus (Is 44.1-2) e serviria como testemunha (Is 43.10) no meio das nações.
h.     A eleição de Israel não seria um fim em si mesma, mas um meio para um fim Ex 9.15-16; Sl 67.1-2
i.      Israel nem sempre se manteve fiel.

A função missionária de Israel antes do cativeiro

1.     Estrangeiros podiam fazer parte da congregação de Israel
                                               i.     Eles podiam guardar a páscoa Nm 9.14
                                             ii.     Deviam guardar o sábado Ex 20.10
                                            iii.     Podiam oferecer sacrifícios Lv 17.8
                                            iv.     Não podiam ser oprimidos pelos judeus a Cr 16.19-20
                                             v.     O livro de Rute é pedagógico – Rute foi aceita como membro da congregação e se tornou avó de Davi Rt 4.21-22 e ancestral de Cristo Mt 1.5
Blauw: “Aceitar estrangeiros na comunidade israelita pode ser considerado o primeiro estágio da ação missionária do povo de Deus”.

2.     Nações inteiras seriam atraídas ao povo de Israel
                                               i.     Is 2.2-3; Jr 3.17
                                             ii.     Força centrípeta: Os povos atraídos ao monoteísmo ética de Israel. O Deus Jeová, diferente dos demais deuses das nações vizinhas, não era tribal. Ele é o Deus de toda terra.
                                            iii.     Israel seria uma nação de sacerdotes e profetas

3.     Todas as nações deveriam adorar o Senhor
                                               i.     Hc 2.14; Is 11.9
                                             ii.     Israel seria uma luz para as nações e a salvação deveria alcançar todos os confins da terra Is 45.22

A função missionária de Israel durante o exílio

De todos os judeus exilados (Ano 600 a.C), após 70 anos, apenas 42 mil retornaram para a Palestina. A maioria ficou dispersa na Italia, Mesopotâmia, Síria e Egito. São os “judeus da diáspora”.
ü  Eles enviavam ofertas para Jerusalém
ü  Faziam peregrinações At 2.9-11
ü  Durante o exílio surgiram dois tipos de adoradores não judeus:
o   Os prosélitos – Mt 23.15. Ele era convertido ao judaísmo, guardava a Lei, inclusive a páscoa, os sábados e a circuncisão.
o   Os tementes a Deus – At 10.2

O que impulsionou a adesão ao judaísmo?
A.   A instituição da Sinagoga – Instituição de ensino, não um substituto do templo. Na sinagoga não se praticava nenhum sacrifício e gentios tinham livre acesso;

B.    Observância do Sábado – circuncisão era o único “serviço” permitido no sábado.

C.    Tradução das Escrituras do hebraico para o grego – Preocupados em que a Bíblia fosse conhecida entre os gentios (e provavelmente para os filhos que moravam fora de Israel), houve a famosa tradução da Septuaginta, e esta era a Bíblia usada pelos apóstolos nas sinagogas judaicas fora de Israel.

D.   O conceito de monoteísmo – Os gregos possuíam cerca de 30 mil deuses e muitos destes deuses eram mais imorais que os homens. Por esta razão o Deus de Israel atrai muitas pessoas quando aprendiam que Yawé era o Deus criador, justo, santo, poderoso e misericordioso.

E.    A ética judaica – Imoralidade e idolatria são duas grandes marcas do mundo pagão, que era marcado por divorcio e infanticídio. O resultado era o pessimismo e a depressão, superstição e hedonismo. No judaísmo, ao contrário, o divórcio era raro, crianças eram vistas como dádiva divinas, a família era sagrada, e a imoralidade inaceitável. O adultério era seguido de morte.

F.     Promessa de um Salvador – A expectativa escatológica e messiânica atraiam as pessoas que ansiavam por alguém que os libertasse e providenciasse vida abundante. A promessa do Messias fazendo justiça e trazendo um novo reino, sempre foi algo poderoso na religiosidade judaica.

O Deus missionário no Novo Testamento
A Missão de Cristo

Os Evangelhos demonstram que Cristo veio, inicialmente, para os judeus. (Jo 1.10), por isto ele é apresentado como Filho de Abraão e Filho de Davi. Paulo diz que ele foi “nascido sob a lei” (Gl 4.4), seus pais cumpriram todo ritual judaico. Jesus foi circuncidado (Lc 2.21) e Maria e José o levaram para a purificação no templo, cumprindo a lei devida como uma família de piedosos judeus (Lc 2.39).

A leitura inicial do Evangelho pode levantar uma questão fundamental: Jesus teria vindo para os judeus?
Na medida em que lemos os evangelhos, vemos a mensagem de Jesus se tornando cada vez mais distanciada do etnocentrismo judaico.
...Daquele tempo em diante, Jesus começou... (Mt 16.21. Aqui vemos Jesus falando claramente do propósito da sua vinda. O Filho do Homem deveria morrer.
As parábolas de Jesus apontavam para a universalidade do Evangelho:
A.   Os dois filhos Mt 21.28-32
B.    Os talentos Mt 21.33-45
C.    A parábola dos casamentos Mt 22.1-14

Qual foi o propósito de sua encarnação?
ü  Revelar o Deus Pai  - Jo 1.14,18; Jo 14.6,7

ü  Destruir o diabo – 1 Jo3.8; Hb 2.14-15 e Col 2.13-15

ü  Redenção – Jo 3.16,17 e 4.14.
o   Cristo morreu pelos judeus e gregos – Rm 1.16,17; 2 Co 5.14
o   Sua redenção atrairia a todos – Jo 12.32

A vida e ministério de Cristo
Jesus nasceu de herança judaica (Rm 1.3) e era “Filho de Davi” (Mt 1.1), entretanto, a maior parte de sua vida foi gasta na Galileia (Mt 4.15), que não produzia profetas (Jo 7.52) e muito menos o Messias (Jo 1.46).

Sua vida é marcada por uma surpreendente abertura aos gentios
ü  A mulher samaritana – Jo 4.39-42
ü  O leproso que retorna agradecido era samaritano – Lc 17.11-19
ü  Seu ensino, ultrapassava as fronteiras de Israel – Mt 4.24-25; Mc 3.7-8
ü  Jesus realizou, pelo menos, três curas entre os gentios
o   O servo do centurião em Cafarnaum– Mt 8.5-13
o   O endemoninhado Gadareno – Mc 5.1-20
o   Mulher Siro Fenícia – Mt 15.21-28

Seus ensinamentos demonstravam sua abertura aos gentios

Seus sermões demonstravam abertura
João Batista adverte o risco do etnocentrismo e da religião fundamentada na tradição e na hereditariedade (Mt 3.10). Jesus se autodenomina “Filho do Homem”, uma referência ao texto de Dn 7.13, titulo messiânico usado por Daniel que indicava domínio universal e termo mais abrangente que “Filho de Davi”.

No seu primeiro sermão, expondo Is 61, ele menciona a inclusão dos gentios, citando dois personagens conhecidos do AT: A viúva de Sarepta e Naamã, o Sírio (Lc 4.16-21), gentios que foram amados e cuidados por Deus.

Na sua parábola do joio e do trigo, ele afirma que “o campo é o mundo” (Mt 13.38). Na purificação do templo afirmou que a casa de Deus seria casa de oração para “todos os povos”(Mc 11.17) e que ele tinha outras ovelhas, não do aprisco de Israel (Jo 10.16)

Do seu primeiro (Mt 4.23) ao último sermão (At 1.3),o centro de sua mensagem era o reino de Deus, mas seu conceito era completamente diferente da visão judaica.

Seu estilo de vida
Kane[1] levanta uma questão importante na obra missionária: Como Deus enviou seu Filho?”, e dá três respostas:

1.      O Princípio da identificação – Mesmo sendo alguém sem pecado, santo, (Hb 7.26), ele deliberadamente se identificou com os pecadores, sendo chamado de amigo dos publicanos e pecadores (Mt 11.19). insistiu com João Batista em batizar (Mt 3.13-17), os fariseus ficavam enfurecidos pelo relacionamento que ele tinha com publicanos (Lc 15.1-2), e a instrução bíblica recomenda que  façamos o mesmo (Fp 2.5-9).

2.      Os três padrões do serviço: pregar, ensinar, curar. Mt 4.23. todas estas três áreas caíram na queda e devem ser incluídas na redenção. Ele oferece cura para todo homem: corpo, mente e alma. Por esta razão, os missionários não apenas constroem templos, mas hospitais e escolas.

3.      O Poder do Espírito Santo – Jesus estava sob o poder do Espírito Santo (Mt 3.16), e assim iniciou seu ministério (Lc 4.18) e no poder do Espírito andou entre nós fazendo o bem (At 10.38), por esta razão, os discípulos deveriam também estar sob a direção deste mesmo Espírito (Lc 24.49; At 1.8).

Sua missão é universal
Ele fala da redenção não apenas de um povo, mas do mundo.
ü  A palavra cosmos é criada 77 vezes no Evangelho, na maioria das vezes por Jesus.
ü  Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do “mundo”, e não apenas de Israel (Jo 1.29; 1 Jo 2.2).
ü  Deus envia seu filho não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (Jo 3.17), ele é o salvador do “mundo” (1 Jo 4.14)

A Grande Comissão
ü  Os discípulos deveriam pregar a toda criatura (Mc 16.15)

ü  Os discípulos deveriam fazer discípulos de “todas as nações” (Mt 28.19). quatro verbos são encontradas na Grande Comissão:  ir”, “fazer discípulos”, “batizar” e “ensinar”.

ü  Os discípulos deveriam obedecer à ordem de Cristo: “Nós nos engajamos no evangelismo hoje, não porque queremos, ou porque escolhemos, ou porque gostamos, mas porque ele nos disse que assim deveria ser. A igreja está sob suas ordens. O Senhor ressurreto nos ordenou “ir”; “pregar” e “fazer discípulos”, e isto é bastante para nós”.[2]

ü  A obediência à mensagem de Cristo foi tão claramente entendida, que 200 anos depois, Tertuliano escreveria: “Nós somos um novo grupo, mas já penetramos em todas as áreas da vida imperial – cidades, ilhas, vilas, mercados, campos, tribos, palácios, senado e nos tribunais. Não há nada que deixamos para vocês, exceto seus templos.

ü  A igreja deveria ser “embaixadora de Cristo” (2 Co 5.20)

ü  Na Grande Comissão, duas coisas deveriam ser percebidas:

o   Primeiro, os discípulos deveriam ensinar “todas as coisas”, inclusive as palavras de julgamento e condenação proferidas por Cristo (Jo 6.60). Isto inclui os ensinamentos sobre morte, julgamento bem como inferno.

o   Segundo, os discípulos de Jesus deveriam entender as palavras de Cristo como “mandamentos”, que deveriam ser obedecidos. Eles não poderiam “escolher” parte da mensagem, de aceitar algumas coisas e rejeitar o que não gostavam. Jesus demanda absoluta submissão.


[1] Kane, J. Herbert - Christian Missions in Bíblical Perspective, Baker Book House, MI, 1976, Pg 44
[2] Stott, John R. W. The Great Comission: One race, One gospel, One task Minneapolis, World wide publications, 1967, pg 37)


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