Introdução:
Se há um
fato inegável na Bíblia é que Yawé é um Deus missionário. A Bíblia é um livro
missionário por causa do caráter de Deus. Seu coração missionário o leva a
estar sempre preocupado com o bem estar material e a realidade espiritual do
mundo.
O Deus missionário
no Antigo Testamento
A Natureza
missionária de Yawé
Vários
motivos nos levam a considerar a dimensão missionária de Yawé:
1. Deus é o criador e mantenedor do universo – Não apenas fez, mas o
sustenta.
a. Porque Deus fez o mundo, ele lhe
pertence
i. Sl 24.1
ii. Sl 95.4-5
b. Ele controla e sustenta o
universo
i. Is 40.28
c. Ele cuida dos animais e das
bestas
i. Sl 145.16
d. O homem ocupa lugar primordial na
relação com Deus
i. Gn 1.26
ii. Sl 8
iii. Sl 100.3
e. Todo universo é uma manifestação
do seu poder e sabedoria
i. Sl 19.1-4
ii. “Na natureza foi o primeiro
pregador”(Pe Antonio Vieira).
2.
Deus governa e julga o universo
moralmente
a. Lv 19.2: “Eu sou santo”.
b. O ser humano é criado como um
racional e moralmente capaz, tendo a capacidade de escolher até não adorar a
Deus
c. O homem é colocado no jardim do
Éden para cultivá-lo – Gn 2.15
d. O homem é responsável diante de
Deus –“A alma que pecar, esta morrerá” (Ez
18.4).
e. Ninguem está livre das
consequências de sua escolha moral. O homem é um agente moral livre.
f. Há uma moral primordial e
arquetípica no universo (Nm 32.23).
g. Quando a iniquidade dos amorreus
chegou ao seu limite, o julgamento veio (Gn 15.16).
h. Seu julgamento atinge até as
nações pagãs (Dn 5.23-26)
i. Seu julgamento atinge seu
povo (Am 3.2).
3.
Deus é rei e governa as nações
pagãs
a. A dispersão das nações é um ato de
Deus (Dt 32.8)
b. Apesar da rejeição das nações,
Deus não deixou de governa-las (Is 45.4,28).
c. Deus governa todos os povos. Sl
47.2,8; 103.19; Sl 108.9; Is 19.25
4.
Deus é pai e redentor de Israel
a. Israel possui uma relação
especial com Deus – Is 43.1
b. A história de Israel é a história
da redenção Is 43.1
c. O chamado de Abraão: Ser benção a
todas as nações. Gn 12.3; 22.18
d. Israel seria o recipiente e
guardião da revelação especial de Deus ao mundo Hb 11.1-3; Rm 9.4-5.
e. Israel seria o canal através do
qual o redentor entraria na humanidade.
f. Jesus é Filho de Abraão (Mt 1.1);
Filho de Davi (Rm 1.3)
g. Israel estaria a serviço de Deus
(Is 44.1-2) e serviria como testemunha (Is 43.10) no meio das nações.
h. A eleição de Israel não seria um
fim em si mesma, mas um meio para um fim Ex 9.15-16; Sl 67.1-2
i. Israel nem sempre se manteve
fiel.
A função missionária de Israel
antes do cativeiro
1.
Estrangeiros
podiam fazer parte da congregação de Israel
i. Eles podiam guardar a páscoa Nm
9.14
ii. Deviam guardar o sábado Ex 20.10
iii. Podiam oferecer sacrifícios Lv
17.8
iv. Não podiam ser oprimidos pelos
judeus a Cr 16.19-20
v. O livro de Rute é pedagógico –
Rute foi aceita como membro da congregação e se tornou avó de Davi Rt 4.21-22 e
ancestral de Cristo Mt 1.5
Blauw: “Aceitar estrangeiros na comunidade israelita pode ser considerado o
primeiro estágio da ação missionária do povo de Deus”.
2.
Nações
inteiras seriam atraídas ao povo de Israel
i. Is 2.2-3; Jr 3.17
ii. Força centrípeta: Os povos
atraídos ao monoteísmo ética de Israel. O Deus Jeová, diferente dos demais
deuses das nações vizinhas, não era tribal. Ele é o Deus de toda terra.
iii. Israel seria uma nação de
sacerdotes e profetas
3.
Todas
as nações deveriam adorar o Senhor
i. Hc 2.14; Is 11.9
ii. Israel seria uma luz para as
nações e a salvação deveria alcançar todos os confins da terra Is 45.22
A função missionária de Israel
durante o exílio
De todos os judeus exilados (Ano
600 a.C), após 70 anos, apenas 42 mil retornaram para a Palestina. A maioria
ficou dispersa na Italia, Mesopotâmia, Síria e Egito. São os “judeus da
diáspora”.
ü Eles enviavam ofertas para
Jerusalém
ü Faziam peregrinações At 2.9-11
ü Durante o exílio surgiram dois
tipos de adoradores não judeus:
o
Os
prosélitos – Mt 23.15. Ele era convertido ao judaísmo, guardava a Lei,
inclusive a páscoa, os sábados e a circuncisão.
o Os tementes a Deus – At 10.2
O que impulsionou a adesão ao
judaísmo?
A. A instituição da Sinagoga –
Instituição de ensino, não um substituto do templo. Na sinagoga não se
praticava nenhum sacrifício e gentios tinham livre acesso;
B. Observância do Sábado –
circuncisão era o único “serviço” permitido no sábado.
C. Tradução das Escrituras do
hebraico para o grego – Preocupados em que a Bíblia fosse conhecida entre os
gentios (e provavelmente para os filhos que moravam fora de Israel), houve a
famosa tradução da Septuaginta, e esta era a Bíblia usada pelos apóstolos nas
sinagogas judaicas fora de Israel.
D. O conceito de monoteísmo – Os
gregos possuíam cerca de 30 mil deuses e muitos destes deuses eram mais imorais
que os homens. Por esta razão o Deus de Israel atrai muitas pessoas quando
aprendiam que Yawé era o Deus criador, justo, santo, poderoso e misericordioso.
E. A ética judaica – Imoralidade e
idolatria são duas grandes marcas do mundo pagão, que era marcado por divorcio
e infanticídio. O resultado era o pessimismo e a depressão, superstição e
hedonismo. No judaísmo, ao contrário, o divórcio era raro, crianças eram vistas
como dádiva divinas, a família era sagrada, e a imoralidade inaceitável. O
adultério era seguido de morte.
F. Promessa de um Salvador – A
expectativa escatológica e messiânica atraiam as pessoas que ansiavam por
alguém que os libertasse e providenciasse vida abundante. A promessa do Messias
fazendo justiça e trazendo um novo reino, sempre foi algo poderoso na
religiosidade judaica.
O Deus missionário
no Novo Testamento
A Missão de Cristo
Os Evangelhos demonstram que
Cristo veio, inicialmente, para os judeus. (Jo 1.10), por isto ele é
apresentado como Filho de Abraão e Filho de Davi. Paulo diz que ele foi
“nascido sob a lei” (Gl 4.4), seus pais cumpriram todo ritual judaico. Jesus
foi circuncidado (Lc 2.21) e Maria e José o levaram para a purificação no
templo, cumprindo a lei devida como uma família de piedosos judeus (Lc 2.39).
A leitura inicial do Evangelho
pode levantar uma questão fundamental: Jesus teria vindo para os judeus?
Na medida em que lemos os
evangelhos, vemos a mensagem de Jesus se tornando cada vez mais distanciada do
etnocentrismo judaico.
“...Daquele tempo em diante, Jesus começou... (Mt 16.21. Aqui vemos
Jesus falando claramente do propósito da sua vinda. O Filho do Homem deveria
morrer.
As parábolas de Jesus apontavam
para a universalidade do Evangelho:
A.
Os
dois filhos Mt 21.28-32
B.
Os
talentos Mt 21.33-45
C.
A
parábola dos casamentos Mt 22.1-14
Qual foi o propósito de sua encarnação?
ü Revelar o Deus Pai - Jo 1.14,18; Jo 14.6,7
ü Destruir o diabo – 1 Jo3.8; Hb
2.14-15 e Col 2.13-15
ü Redenção – Jo 3.16,17 e 4.14.
o
Cristo
morreu pelos judeus e gregos – Rm 1.16,17; 2 Co 5.14
o Sua redenção atrairia a todos –
Jo 12.32
A vida e ministério de Cristo
Jesus nasceu de herança judaica
(Rm 1.3) e era “Filho de Davi” (Mt 1.1), entretanto, a maior parte de sua vida
foi gasta na Galileia (Mt 4.15), que não produzia profetas (Jo 7.52) e muito
menos o Messias (Jo 1.46).
Sua vida é marcada por uma
surpreendente abertura aos gentios
ü A mulher samaritana – Jo 4.39-42
ü O leproso que retorna agradecido
era samaritano – Lc 17.11-19
ü Seu ensino, ultrapassava as
fronteiras de Israel – Mt 4.24-25; Mc 3.7-8
ü Jesus realizou, pelo menos, três
curas entre os gentios
o
O
servo do centurião em Cafarnaum– Mt 8.5-13
o
O
endemoninhado Gadareno – Mc 5.1-20
o Mulher Siro Fenícia – Mt 15.21-28
Seus ensinamentos demonstravam
sua abertura aos gentios
Seus sermões demonstravam abertura
João Batista adverte o risco do
etnocentrismo e da religião fundamentada na tradição e na hereditariedade (Mt
3.10). Jesus se autodenomina “Filho do Homem”, uma referência ao texto de Dn
7.13, titulo messiânico usado por Daniel que indicava domínio universal e termo
mais abrangente que “Filho de Davi”.
No seu primeiro sermão, expondo
Is 61, ele menciona a inclusão dos gentios, citando dois personagens conhecidos
do AT: A viúva de Sarepta e Naamã, o Sírio (Lc 4.16-21), gentios que foram
amados e cuidados por Deus.
Na sua parábola do joio e do
trigo, ele afirma que “o campo é o mundo”
(Mt 13.38). Na purificação do templo afirmou que a casa de Deus seria casa
de oração para “todos os povos”(Mc 11.17) e que ele tinha outras ovelhas, não
do aprisco de Israel (Jo 10.16)
Do seu primeiro (Mt 4.23) ao
último sermão (At 1.3),o centro de sua mensagem era o reino de Deus, mas seu
conceito era completamente diferente da visão judaica.
Seu estilo de vida
Kane[1]
levanta uma questão importante na obra missionária: Como Deus enviou seu Filho?”, e dá três respostas:
1.
O Princípio da identificação – Mesmo sendo
alguém sem pecado, santo, (Hb 7.26), ele deliberadamente se identificou com os
pecadores, sendo chamado de amigo dos publicanos e pecadores (Mt 11.19).
insistiu com João Batista em batizar (Mt 3.13-17), os fariseus ficavam
enfurecidos pelo relacionamento que ele tinha com publicanos (Lc 15.1-2), e a
instrução bíblica recomenda que façamos
o mesmo (Fp 2.5-9).
2.
Os três padrões do serviço: pregar, ensinar, curar. Mt 4.23. todas
estas três áreas caíram na queda e devem ser incluídas na redenção. Ele oferece
cura para todo homem: corpo, mente e alma. Por esta razão, os missionários não
apenas constroem templos, mas hospitais e escolas.
3.
O Poder do Espírito Santo – Jesus estava
sob o poder do Espírito Santo (Mt 3.16), e assim iniciou seu ministério (Lc
4.18) e no poder do Espírito andou entre nós fazendo o bem (At 10.38), por esta
razão, os discípulos deveriam também estar sob a direção deste mesmo Espírito
(Lc 24.49; At 1.8).
Sua missão é universal
Ele fala da redenção não apenas
de um povo, mas do mundo.
ü A palavra cosmos é criada 77
vezes no Evangelho, na maioria das vezes por Jesus.
ü Ele é o Cordeiro de Deus que tira
o pecado do “mundo”, e não apenas de Israel (Jo 1.29; 1 Jo 2.2).
ü Deus envia seu filho não para
condenar o mundo, mas para salvá-lo (Jo 3.17), ele é o salvador do “mundo” (1
Jo 4.14)
A Grande Comissão
ü Os discípulos deveriam pregar a
toda criatura (Mc 16.15)
ü Os discípulos deveriam fazer
discípulos de “todas as nações” (Mt 28.19). quatro verbos são encontradas na
Grande Comissão: “ir”, “fazer discípulos”, “batizar” e “ensinar”.
ü Os discípulos deveriam obedecer à
ordem de Cristo: “Nós nos engajamos no evangelismo hoje, não porque queremos,
ou porque escolhemos, ou porque gostamos, mas porque ele nos disse que assim
deveria ser. A igreja está sob suas ordens. O Senhor ressurreto nos ordenou
“ir”; “pregar” e “fazer discípulos”, e isto é bastante para nós”.[2]
ü A obediência à mensagem de Cristo
foi tão claramente entendida, que 200 anos depois, Tertuliano escreveria: “Nós
somos um novo grupo, mas já penetramos em todas as áreas da vida imperial –
cidades, ilhas, vilas, mercados, campos, tribos, palácios, senado e nos
tribunais. Não há nada que deixamos para vocês, exceto seus templos.
ü A igreja deveria ser “embaixadora
de Cristo” (2 Co 5.20)
ü Na Grande Comissão, duas coisas
deveriam ser percebidas:
o
Primeiro,
os discípulos deveriam ensinar “todas as
coisas”, inclusive as palavras de julgamento e condenação proferidas por
Cristo (Jo 6.60). Isto inclui os ensinamentos sobre morte, julgamento bem como
inferno.
o Segundo, os discípulos de Jesus
deveriam entender as palavras de Cristo como “mandamentos”, que deveriam ser
obedecidos. Eles não poderiam “escolher” parte da mensagem, de aceitar algumas
coisas e rejeitar o que não gostavam. Jesus demanda absoluta submissão.
[1] Kane, J. Herbert - Christian Missions in Bíblical Perspective, Baker Book House, MI, 1976, Pg 44
[2] Stott, John R. W. The
Great Comission: One race, One gospel,
One task Minneapolis, World wide publications, 1967, pg 37)
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