quarta-feira, 20 de junho de 2018

Espiritualidade em ação


A inutilidade da pena e o que ela difere da compaixão

Questões introdutórias:
1.       O que você vem à sua mente quando se discute espiritualidade?

2.       Não seria a espiritualidade oposta à ação? Ela não propõe mais o silêncio, retiro, meditação, busca por transcendência e contemplação que atividade, engajamento, envolvimento?

3.       É possível uma espiritualidade com ação?

4.       É possível espiritualidade sem ação?

A resposta para esta última pergunta pode ser sim ou não.

Sim. Se considerarmos que a espiritualidade pode desembocar em uma direção monástica, uma forma de escapismo histórico e fuga de conflitos.

Não. Se entendermos que toda espiritualidade é um movimento (ação), em direção a um ser ou ao próximo.

Em teologia fala-se da espiritualidade gnóstica em oposição à espiritualidade cristã.

Espiritualidade gnóstica x Espiritualidade cristã

1.       Desprezo pela história – Dificuldade em se perceber em e para o mundo. Julio Santa Ana fala do sempre presente risco da esquizofrenia espiritual em relação à história. Entendendo história não apenas como um evento do passado, mas naquilo que pode dar sentido sacro à existência e missão, quando se faz “exegese” do céu, mas perde-se a percepção do sentido de existir.
A espiritualidade cristã é integrada à história, não é a-histórica, nem trans-histórica.
“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17.15).
“Neste caso, teríeis de sair do mundo” (1 Co 5.10).

2.       Desprezo pela política – Desprezam o mandato cultura, de serem agentes de Deus na história. Esquecem do mandato cultural de cuidar da terra, assumindo um processo de alienação e distanciamento das questões de cidadania e politicidade. A batalha política  é também espiritual.

A espiritualidade cristã participa responsavelmente do cuidado com sua cidade, questões de proteção ambiental, justiça social, engajamento humano.

Orai pela paz de Jerusalém” (Sl 122.6)

Que não haja gritos de lamento em nossas praças” (Sl 144.14) - Vida participativa.

Porventura não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo. Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?” (Is 58.6,7).

3.       Desprezo pelo social – A igreja desaprendeu a ser agente de transformação social. De uma forma equivocada cremos que os seres humanos são desencarnados. Precisamos de uma teologia integral. Holística. Que leve em conta todo o ser e o ser todo. “Impedem-se os avivamentos quando a igreja assume posições equivocadas em relação aos direitos humanos” (Finney). “O ponto de qualquer teologia precisa ter foco na mudança social” (Harvey Cox).

A espiritualidade cristã considera as necessidades do pobre, do estrangeiro e da viúva.

“Abrirás a mao para teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra” (Dt 15.11)

“Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer” (Gl 2.10).

Em busca de um modelo de espiritualidade a partir de Cristo

Para evitarmos os erros tão comuns em tantas formas de espiritualidade escapistas, temos que olhar para Jesus de Nazaré.

A.      Era encarnado, sem perder da dimensão do mistério – Jesus transitava entre a dor, sofrimento, pobreza, ação maligna para a oração, comunhão e vida com deus. Sua reclusão nas montanhas não para buscar a Deus não o impedia de uma vida de ação e cuidado com o sofrimento humano. “Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38).

B.      Revelou o mistério sem perder sua humanidade – Integrou céus e terra. Pode estar no Monte da transfiguração numa dimensão de arrebatamento e descer para lidar com um jovem possesso de um espirito maligno. Não tinha medo da verticalidade nem da horizontalidade na sua espiritualidade.

C.      Experimentou a graça e o prazer daquilo que Deus criou – Jesus não era asceta, nem essênio. Ele gostava de se reunir ao redor da mesa, esteve em festa de casamento, foi acusado de ser glutão e beberrão. Sua parábola fala de casa festiva com danças, churrasco, sandálias e anéis novos.

D.      Articulou o natural e o espiritual – Jesus destrói a visão maniqueísta de bem e mal. Tudo é sagrado. “Quer comais, ou bebais, ou façais qualquer coisa. Fazei-o para a gloria de Deus” (1 Co 10.31). Não vivencia o mundo dualisticamente.

Conclusão:

...Criados para boas obras... (Ef 2.8-10)

...Sacrifícios de ajuda mútua... (Hb 13.15-16)

...A prática do amor acompanha os discípulos de Cristo (1 J 3.16-18)

...Espiritualidade integral – (1 Jo 4.20). Amor a Deus reflete-se no amor ao próximo.

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