3.
O Desafio
hermenêutico
Traduzindo o
evangelho para esta geração.
Introdução:
O termo “hermenêutica”vem do
grego hermeneuein que significa
“declarar”, “anunciar”, “interpretar” ou “traduzir”. Trata-se de tornar
compreensível ou entender um enunciado obscuro, de difícil compreensão
teológica, literária ou histórica. Hermenêutica
é a ciência da interpretação. Todo ser humano diariamente é levado a uma
situação na qual precisa filtrar o que ouve e vê, e julgar a partir da sua
intuição, sua formação intelectual e espiritual, e sem sequer pararmos para
elaborar uma conceituação mais profunda sobre o tema, constantemente fazemos
hermenêutica da vida.
A igreja possui dois desafios
nesta área:
A.
O Desafio da
hermenêutica bíblica
Descobrir o que a Bíblia
realmente está afirmando no seu sentido original, tentar entrar no pensamento
do autor para resgatar qual era sua intenção original.
Muitas pessoas ao iniciarem a
leitura da Bíblia dizem: “cada um interpreta a Bíblia como quer”, e ai está o
grande problema. A Reforma Protestante nunca defendeu a “livre interpretação da
Bíblia”, isto é, que cada um interpretasse como quisesse, mas defendeu “o livre
exame das Escrituras”, isto é, que todas as pessoas deveriam ler a Bíblia
cuidadosamente.
Se cada pessoa interpreta a seu
jeito, isto significa que nunca saberemos o que a Bíblia realmente quer dizer,
por isto ao interpretarmos a Bíblia, devemos evocar o princípio comunitário. O
povo de Deus unido em pensamento, deve entender qual é de fato a mensagem
bíblica.
Um exemplo simples pode ser dado.
Em 1974, cerca de 10 mil participantes estiveram presentes no Congresso de
Lausanne, num encontro liderado por Billy Graham e John Stott, contando com a
participação de denominações e grupos evangélicos e católicos do mundo inteiro.
No final, eles elaboraram um documento que ficou conhecido como “Pacto de
Lausanne”, no qual ratificavam de forma unânime, a partir da Bíblia Sagrada,
quais eram os pontos essenciais da fé cristã que todos subscreviam. Moral da
história: Se lermos a Bíblia com o desejo de ouvirmos a Deus, poderemos até
discordar de pontos secundários, mas certamente chegaremos às mesmas conclusões
naquilo que é essencial.
Para uma hermenêutica bíblica
saudável, pelo menos três princípios devem ser observados:
Primeiro, A Bíblia é o seu melhor
intérprete – Ela se auto explica. Este foi um dos princípios da Reforma
Protestante: “Sola Scriptura”. Nem a
tradição, nem a mística, nem os sentimentos podem se tornar o referencial do
intérprete. Nenhum comentarista e nenhuma confissão de fé pode ser o
referencial último ao abrirmos as Escrituras. Ao lermos a Bíblia, contamos com
a iluminação do Espírito Santo, e assim como aconteceu com os discípulos no
caminho de Emaús, nosso coração será aquecido e transformado quando a Palavra
de Deus for corretamente aplicada à nossa vida.
Quando lemos um texto obscuro,
este texto será clarificado por outro texto das Escrituras. Os textos bíblicos
trabalham harmoniosamente e nos darão condições de encontrarmos o escopo de
pontos mais complexos, figurativos ou simbólicos.
Segundo, a Bíblia deve ser lida no seu
sentido natural – Não devemos ficar procurando na Bíblia um sentido
misterioso ou oculto, nem buscar sequencias cabalísticas no texto. Apenas leia
a Bíblia, na sua simplicidade, e sua verdade se tornará clara em seu coração.
Por isto que interpretações alegóricas, místicas, psicológicas, são
desencorajadas.
A leitura no sentido natural nos
levará a buscarmos o propósito original do autor ao desenvolver sua ideia.
Condições históricas, sociais e politicas nos quais o texto está inserido se
tornam indispensáveis para uma interpretação mais segura e acurada. Precisamos
conferir texto com textos, analisando exegeticamente as palavras, para tentar
resgatar a ideia que estava na mente do escritor original. É fundamental que
ela seja lida na sua forma gramatical, parece óbvio, mas muitas pessoas parecem
não conseguir fazer um encadeamento de ideias de um texto, e o analfabetismo
funcional pode prejudicar a leitura bíblica. Um dos maiores problemas da
educação brasileira tem a ver com a interpretação de textos. Você precisa ler a
bíblia gramaticalmente antes de ler teologicamente.
Terceiro, a Bíblia jamais deve ser lida fora de seu contexto analítico, do
versículo que vem antes e depois, do seu ambiente histórico e geográfico. Todo
texto fora do contexto é pretexto. Afirmações bíblicas citadas sem conexões
claras, podem se transformar em meios de manipulação.
Três perguntas orientam a
interpretação bíblica:
1. O que vejo no texto? Observação.
Olhe atentamente os verbos, o estilo, a pontuação. O que este texto diz? Quais
são os personagens envolvidos, quais são os agentes? Quais movimentos estão
presentes? Devem ser observados os verbos: tempo, modo e pessoa. Quem? Onde? O
que? Quando? Devem ainda ser levado em conta os estilos de linguagem. O texto é
narrativo, poético, simbólico?
2. O que este texto quer dizer? Interpretação. Qual o seu significado quando foi
escrito e como isto deve ser entendido por nós no Século XXI. Qual seu contexto
politico? Existe algum elemento cultural que deve ser levado em conta? Como
este texto ainda pode ser relevante nos nossos dias? A grande maioria dos
estudantes se perdem neste ponto.
John R. W. Stott afirma que
“pregar é construir pontes”. Podemos afirmar o mesmo na interpretação.
Precisamos construir pontes da cultura e ambiente do Séc. I para o Séc. XXI,
entender os motivos das perguntas feitas. Qual era o objetivo do texto aos seus
leitores ao narrar os diálogos que lemos?
3. O que este texto tem a ver
conosco? Aplicação. Se a leitura e interpretação caminharam bem, a
aplicação surge naturalmente. Na aplicação, é preciso descobrir se há algum
novo ensinamento que deve ser assimilado, se há um pecado que há ser abandonado,
um princípio a ser seguido ou alguma promessa a ser recebida. A palavra precisa
ser implantada em nós.
Um dos grandes riscos na leitura
da Bíblia é achar que seus ensinamentos nada tem a ver conosco. Que Deus pode
até estar confrontando e apontando alguns desvios de outras pessoas, mas não
tem nada a ver comigo. Tiago afirma: “Tornai-vos,
pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós
mesmos. Porque se alguém é ouvinte da palavra e não praticante assemelha-se ao
homem que contempla, num espelho, o sue rosto natural; pois a si mesmo se
contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era sua aparência”
(Tg 1.22-24).
Este é o primeiro desafio
hermenêutico: Ler a Bíblia corretamente. Falhar na interpretação bíblica sempre
redunda no fracasso da missão da igreja, afinal, como corretamente afirmou
Júlio Andrade Ferreira, ao ver o nível de distorção na interpretação das
Escrituras Sagradas: “A Bíblia é a mãe das heresias”.
B.
O Desafio da
hermenêutica histórica
O Segundo desafio hermenêutico
tem a ver com a interpretação do tempo. Precisamos entender o tempo que estamos
vivendo.
Cinquenta
anos atrás, um grupo de pequenos empresários procurou a indústria Suíça, então a
maior produtora de relógios do mundo, oferecendo os relógios de quartzo, uma
nova tecnologia que prometia ser uma revolução tecnológica. Os suíços olharam
desconfiados para o produto e alegaram que não estavam interessados na
aquisição da patente, afinal, detinham 98% do mercado dos relógios produzidos
no mundo, então, por que mudar?
Aqueles
homens procuraram os japoneses. Qual o resultado? Atualmente, 99% dos relógios
produzidos no mundo são de quartzo. Os suíços não perceberam os novos tempos e as
possibilidades que estavam surgindo, tornaram-se obsoletos e caros e perderam
seu mercado.
Será
que a igreja percebe?
Em 1 Cr
12.32 a Bíblia diz: “dos filhos de
Issacar, duzentos conhecedores da época e que sabiam o que Israel devia fazer”.
Davi
estava formando a equipe que faria parte do seu reinado e daria a direção
cultural do país. Ele selecionou duzentos jovens que fariam parte do seu staff
no reinado, todos de Issacar, uma tribo quase desconhecida de Israel , porque
eram “conhecedores de seu tempo e sabiam o que Israel deveria fazer”.
Este é
um dos grandes desafios que temos a enfrentar. Entender a história, suas
tendências e movimentos, e aplicar as escrituras neste contexto.
A geração
atual é desafiada a lidar com situações específicas que nossos antepassados
nunca tiveram que lidar. São pesquisas genéticas, bioética, softwares de última
geração, empresas offshore, network, redes sociais, ecossistema. Será que a
igreja consegue fazer a leitura desta época para aplicar uma correta estratégia
e alcançar esta geração? A mensagem do evangelho é relevante a esta cultura?
Servindo à sua própria geração
At
13.36 afirma que “tendo Davi, servido à
sua própria geração, adormeceu”. Davi não foi chamado a servir a geração
anterior, e nem a geração seguinte. Deus o chamou para servir à sua geração. Só
podemos servir e tocar de forma direta uma geração. Será que entendemos nossa
própria geração? Qual é a geração que estamos servindo?
A
geração atual é marcada filosoficamente pelo pluralismo, que admite vários universos
de “verdades”, em opiniões divergentes para um mesmo tema. O pensamento não é
mais homogêneo...
Outra
peculiaridade desta geração é a mobilidade, uma geração em movimento. Ninguém é
de um lugar específico. As pessoas saem de suas cidades em busca de educação,
melhores oportunidades de emprego e salários. Isto pode ser ruim, mas pode ser
também uma chave na evangelização do tempo presente. Outro aspecto tem a ver
com urbanização e migração. Temos que pensar a igreja com uma teologia urbana, utilizando
metodologia e sociologia urbanas. Por que há tão pouca discussão sobre a igreja
na cidade? O que está por detrás deste silêncio na teologia?
A geração atual é ainda marcada pelo pragmatismo,
que se estende ao universo da fé. Os jovens desejam saber se sua fé funciona? Certamente
esta questão é complexa porque o pragmatismo pode se transformar numa
armadilha, mas ela está presente. Associa-se a esta questão o experiencialismo.
Se a lógica da modernidade era “Penso, logo existo” (Descartes), hoje a questão
maior é a experiência, o não estruturas de pensamento. Portanto o que prevalece
é: “sinto, logo me autentico!”. As pessoas gostam de adrenalina e acham que a
fé deve ser definida a partir de uma sensação.
Como consequência o misticismo se torna um caminho
atraente, pois está alicerçada em fortes sensações e adrenalina. Aliado a isto
surge o esoterismo, contatos imediatos de terceiro grau, espiritualização de
processos, chás alucinantes, e os desdobramentos então podem ser macabros e
perigosos. Esta geração busca fortes emoções sensoriais.
Aliado a todos estes pontos acima, temos o desconstrucionismo.
Um constante movimento para quebrar paradigmas e valores, estabelecer uma nova
ordem. Será que ainda podemos falar de papéis e funções de homem e mulher? Marido
e esposa? Autoridade? As instituições estão sendo constantemente questionadas.
O relativismo leva a estrutura de pensamento
moderno a não trabalhar com categorias absolutas. Para este tempo, tudo é
relativo, até mesmo esta afirmação que diz que “tudo é relativo!”, isto é, a
relatividade do relativismo. Hegel conseguiu questionar todas as coisas
filosoficamente, e é isto que nossos filhos aprendem nas universidades. Não
existe posição e oposição, nem tese x antítese. Tudo pode ser encontrado na
síntese, que integra os opostos e faz a mentira verdade e a verdade, mentira.
Dependendo naturalmente de sua percepção e ponto de vista.
A partir do relativismo o subjetivismo assume
grande relevância. A verdade não está “lá!”, mas se encontra dentro de cada um.
Com a influência das religiões orientais, até Deus se torna o próprio EU. O
objetivo é se tornar coerente com as próprias convicções interiores... A
verdade é a verdade de cada um, e não como definia Sócrates ao afirmar que “a verdade
é o que é”.
De repente,
aquilo que vivemos nos dias da mocidade não serve mais. Temos um processo de
aceleração da história e ficamos indagando como a igreja vai responder a tais
indagações, que estilo de mensagem usar para alcançar esta geração.
Sempre
encontraremos pessoas dizendo: “A mensagem não precisa ser adaptada a nenhuma
cultura, o evangelho e seu conteúdo é o que importa”. Entretanto, ao lermos as
Escrituras Sagradas, nos surpreendemos com a sensibilidade e o desejo de Jesus
em tornar acessível sua mensagem àqueles que o ouviam:
“E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra,
conforme o permitia a capacidade dos ouvintes”
(Mc
4.33).
Ele
procurava, através de sua comunicação, anunciar a mensagem de forma eficiente, criativa
e relevante, sem prejudicar seu conteúdo. Jesus pregava a partir da percepção
dos seus ouvintes. Ele fazia leitura sobre a realidade das pessoas que
prestavam atenção à sua palavra.
Precisamos
entender esta geração, interpretar corretamente a história, e traduzir de forma
relevante e impactante a mensagem do reino de Deus.
Até bem
pouco atrás a única questão da igreja era: “como preparar o homem para a vida
após a morte?” Por causa deste escapismo histórico absurdos teológicos foram
estabelecidos.
Conta-se
que Hitler, ao assumir o poder de uma nação decadente, conseguiu o apoio de
toda a Alemanha com seu forte discurso nacionalista e xenófobo. Precisando do
apoio dos líderes cristãos, ele se reuniu com eles num auditório para as
principais lideranças religiosas do Brasil e com seu discurso acalorado, pediu
para que eles cuidasse dos céus enquanto ele cuidaria da terra.
No
Brasil, a Igreja evangélica foi ingênua ao dar apoio irrestrito ao golpe
militar. Ingênua ao apoiar Collor com sua propaganda anti marajá, ingênua ao
transformar Lula em salvador da pátria. A bancada evangélica tem se
caracterizado por sua ingenuidade politica e fisiológica, em busca de
favorecimento e apoio religioso. Fazemos a exegese dos céus mas não conseguimos
interpretar a terra com suas ambiguidades, anseios humanos e interesses
políticos.
A
pergunta que devemos fazer é se podemos também preparar o homem para viver como
cidadão responsável, engajado nas questões humanas tão abrangentes quanto
aquelas que envolvem uma ética mais abrangente que o sexismo e uma moral
privativa.
Abraham
Kuyper, estadista e teólogo holandês afirmou: “Um desejo tem sido a paixão
dominante de minha vida.um motivo elevado tem agido como estimulo sobre a minha
alma e mente (...) Consiste no seguinte: que, apesar de toda a oposição mundana,
as santas ordenanças de Deus sejam novamente firmadas nos lares, nas escolas e
no Estado, para benefício do povo”. Afinal, afirma Kuyper: “Não há nenhuma área
da terra ou do universo que possamos afirmar, não se encontra debaixo do
domínio de Cristo”.
Questões
como A religião tem importância publica? A teologia pode contribuir com a
dimensão politica? As comunidades locais podem ser provocadoras de valores e
virtudes públicas, que transcendam apenas o universo estreito de nossa
eclesiologia? É possível estabelecer uma formação espiritual com um plano de
ação politica fundamental?
David
Koyzis afirma que a soberania derradeira pertence a Deus e toda autoridade
terrena submete-se à autoridade divina [1]
Algumas
áreas exigem profundas reflexões hermenêuticas:
A.
Área econômico/político – Toda tentativa de
entender o presente e o passado, passa pela relação do homem com o dinheiro.
O ódio
de Hitler aos judeus não era meramente ideológico. Os judeus eram os donos dos
recursos e riquezas da Alemanha e isto o incomodava profundamente. As teses
politicas, sejam elas de direita ou esquerda ou nas cinzentas áreas de social
democracia ou esquerda/direita moderadas, nada são, em ultima instância, uma
tentativa de controle dos recursos e bens que uma nação produz. As decisões
parlamentares, que provocam acalorados discursos e debates, são subsidiados por
grandes lobbies financeiros.
A
igreja precisa entender estes mecanismos para que não se torne uma fácil área
de manobra de políticos inescrupulosos. Mesmo as pesquisas, que deveriam ser
isentas, são fortemente dominadas por grupos e ideologias.
“À semelhança
do apóstolo Paulo em Atenas, precisamos saber o que fazer diante de tantos
falsos deuses quando formos apresentar o evangelho aos filósofos do areópago”[1]
[1] DULCI, Pedro – Fé Cristã e ação política – A relevância pública da
espiritualidade cristã, Viçosa-MG, Ultimato, 2018, pg.92
B.
Área filosófica – Há um jogo de interesse naqueles
que são detentores da força, do dinheiro e até mesmo da ciência.
O
Salmista afirma que as nações conspiram contra o Senhor e seu ungido (Sl 2.2),
e Paulo afirma que “nossa luta não é
contra carne e sangue, e sim contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso”, contra as forcas espirituais do mal, nas
regiões celestes” (Ef 6.12). Facilmente interpretamos tais movimentos como
ações diretas do maligno, mas nunca consideramos que a área mais crucial é a do
pensamento. Por isto Paulo ainda afirma que “as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus,
para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante
contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de
Cristo” (2 Co 10.4-5).
A
igreja batalha da igreja encontra-se no mundo das ideias, atuam no campo do
saber e do conhecimento.
C.
Área histórico-cultural – A Igreja precisa
interpretar os movimentos sociais, as fortes expressões históricas de uma
América Latina que se reveza indefinidamente num quadro de caudilhos
messiânicos de esquerda e direita.
Precisamos
entender nossas raízes católicas, portuguesas, a presença das forças e tensões
africanas e a mestiçagem indígena que não possui uma cultura apenas, mas é
formada por diferentes etnias e línguas, de um país fragmentado. A igreja
precisa saber como agir com justiça diante da exploração dos grupos financeiros
externas, e pela inescrupulosa sangria dos recursos públicos administrados por
uma elite política.
Como
elaborar uma saudável hermenêutica?
Três
passos são fundamentais: Ver, Julgar, Agir.
Primeiro,
“Ver”
Isto
pode ser observado na forma como Paulo procura ultrapassar a barreira cultural
ao pregar em Atenas. Paulo avaliava o que via. Ele “observava”(At 17.22-23).
É
fundamental manter os olhos abertos, ter uma atitude crítica.
Jesus
condena aqueles que tem “olhos mas não veem”. A maior cegueira se encontra na
apatia, indolência e ingenuidade.
Quando
escreve a Tito, ele cita os poetas daquela ilha. “Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos”
(Tt 1.12).
Tudo
isto revela o olhar atento de Paulo. A Igreja precisa observar o que é dito e o
que não é dito. Ler as linhas e entrelinhas, verso e reverso. Paulo conhecia a
“literatura de cordel” dos cretenses, cita os poetas atenienses (At 17.28).
Segundo,
“Julgar”
Em
Atenas, Paulo julga o que vê. Coloca uma lente na cultura grega idolátrica e a
interpreta sob o prisma da teologia e cosmovisão cristã.
Ao
escrever a Tito, ele estabelece uma relação entre a visão do poeta citado e da
realidade que Tito experimenta naquela comunidade estabelecida numa cultura
pagã que agora precisava se torna seguidora de Cristo.
O
julgamento não deve ser condenatório, mas crítico, para que não sejamos
conduzidos pela ingenuidade característica da igreja.
Terceiro,
“Agir”
A ação
precisa estar fundamentada sobre determinados alicerces filosóficos. A
compreensão social nos ajuda a estabelecer prioridades e estratégias. Toda ação
deve nascer dentro de um contexto geral para ser efetiva num campo específico.
As necessidades de uma região não são as mesmas de outra. No Rio de Janeiro há
um ditado que nos ajuda a entender: “Os demônios da Zona Sul não são os mesmos
da Zona Norte.
Nenhuma
ação efetiva se estabelece num vácuo histórico. As dores e calamidades possuem
geografia, história, ancestralidade e precisam ser exorcizadas com sabedoria e
bom senso.
“Com a sabedoria se edifica a casa, e com o entendimento ela se estabelece;E pelo conhecimento se encherão as câmaras com todos os bens preciosos e agradáveis. O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força. Com conselhos prudentes tu farás a guerra”(Pv 24.3-6).
Será que a igreja de hoje entende seu tempo?
[1] KOYSIS, David, Visões e
ilusões politicas: Uma análise e crítica cristã das ideologias contemporâneas.
São Paulo, Vida Nova, p. 263
Obs.
Se você quiser
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