Introdução:
O livro de
Jonas é eminentemente missionário. Fala como poucos livros do Antigo Testamento
sobre o projeto de Deus em alcançar outros povos e da necessidade do povo de
Deus olhar com amor os pagãos. Isto parece estranho porque à primeira vista,
pode-se ter a impressão de que não existe conceito missiológico no Antigo
Testamento[1]. No entanto, o
Deus das Escrituras, apresenta-se sempre como um Deus missionário. Estas
verdades são primeiramente anunciadas em Abraão quando este é escolhido e
enviado com a missão declarada: “em ti
serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3) e “Pai de numerosas nações” (Gn 17.4,5). Deus estava preparando um povo para exercer um sacerdócio
universal, para abençoar todas as nações. “Já em 1936, K. Hartenstein
assinalava (embora noutra conexão) que os primeiros capítulos de Gênesis são de
significado especial para a teologia da missão”[2]
Carriker
afirma: “todas as nações são o alvo da preocupação e propósito divinos. As
nações fazem parte integral do drama e atividade de Deus. Não são meros
enfeites incidentais no cenário da criação. Os atos de Deus são dirigidos por
toda humanidade no relato do início da história como também o relato comovente
de seu fim, o livro de Apocalipse”[3] p. 16
Queiroz segue a
mesma linha de pensamento, segundo ele, Deus chama Abraão “para, através dele,
formar a sua nação especial, com o fim de usá-la para abençoar os outros povos
da terra. Deus organizou a nação de Israel com propósitos missionários[4]. Ele queria
abençoar todas as nações e tomou o povo de Israel para ser “sua testemunha”,
mas infelizmente esta nação foi rebelde e se distanciou de Deus, e se olharmos
para as páginas da Bíblia que relatam a história desta nação verificaremos
claramente a sua falha em não cumprir os propósitos de Deus”[5].
Blaw,[6] faz uma
distinção entre o que ele chama de mensagem
missionária do Antigo Testamento e mensagem
universal. Para ele, o povo de Israel
não estava olhando de forma expansionista e missionária. Entretanto, ao
olharmos toda a história de Israel veremos
a mesma mensagem sendo repetida de tempos em tempos, demonstrando o contínuo
propósito de Deus em tornar conhecido seu nome entre todas as nações, como
percebemos no Salmo 67. A base da eleição de Israel como povo peculiar de Iavé era uma
compreensão de que sua eleição fora dada para o serviço. O povo deveria
entender isto como comissão. Deus
pensava numa nação sacerdotal. O que
os sacerdotes são para o povo, Israel
deveria ser para o mundo.
Ao fazer esta
distinção, Blauw afirma que “embora o ponto de partida do Antigo Testamento
seja universalista, a ideia de missão
ocorre apenas esporadicamente ou está totalmente ausente.”[7]
Não é fácil
concordar com Blauw neste aspecto. Apesar de vermos este universalismo
explícito no Antigo Testamento, por outro lado, vemos uma disposição na
mensagem dos profetas de que a mensagem dada a Israel pudesse se tornar
conhecida de todas as nações.
Esta
compreensão se torna clara no ministério de Jesus, que queria resgatar o
propósito original de Deus para as nações, e à missão que havia sido dada a
Israel. Quando expulsa os mercadores do templo, Marcos afirma: “também os ensinava e dizia: Não está
escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações?” (Mc
11.17).
O livro de
Isaías, de forma muito particular, tenta por diversas vezes demonstrar a
universalidade da mensagem através do seu profeta. Fala de um povo que não
conhecia a Deus, mas que seria chamado povo de Deus; afirma que a casa de
oração (Templo de Jerusalém), deveria ser casa de oração “para todos os povos”. As profecias missionárias de Isaías são
ainda mais específicas nas duas Canções do Servo de Iavé, em Is 42.1-7 e
49.1-7, quando explicitamente o Servo tem a missão de revelar a justiça de Deus
às nações (42.1) e para ser “luz das nações” (42.6 e 49.6).
O Salmo 67
também possui um conteúdo claramente missiológico.
“Seja Deus gracioso para conosco e nos
abençoe, e faca resplandecer sobre nós o rosto; para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações,
a tua salvação” (Sl 67.1-2). Quando
o Salmista ora para que Deus os abençoe como nação, estava pensando no chamado
e na vocação de tornar conhecido, entre todas as nações, a salvação que vinha
de Sião.
Apesar de
inúmeros textos, o povo judeu não se tornou um povo missionário, antes perdeu o
senso do chamado de Deus para suas vidas. Voltaram para si mesmos, tornaram-se
cada vez mais introvertidos. “O maior escândalo do Antigo Testamento é que
Israel tentou ser abençoado sem tentar se esforçar para ser uma benção”[8]
Esta visão
judaizante é tão forte que mesmo entre os discípulos de Cristo, que foram
chamados para “pregar o Evangelho a toda
criatura” e serem “testemunhas até os
confins da terra”, eles encontraram grande dificuldade para iniciar o
projeto missionário planejado por Jesus. E quando, afinal saíram para pregar,
tiveram que se explicar no Concílio de Jerusalém. A Igreja teve uma reunião
histórica para “definir” aquilo que Jesus já lhes havia ordenado. A narrativa
se encontra em Atos 15.
No livro de
Jonas percebemos alguns princípios extremamente importantes sobre missão:
1. Missão é obra que sai do coração de Deus - Missão não é um
projeto do povo de Deus, mas é um projeto de Deus para o seu povo. Aliás, o
povo de Deus muitas vezes teve dificuldades para realizar o projeto
missionário.
A Igreja de
Atos só começa a fazer missões depois de uma violenta perseguição. Mesmo
vivendo dias de avivamento, a igreja não estava realizando seu projeto
missionário, e Deus, para que seu alvo se concretizasse, moveu contra ela uma
oposição política, utilizando para isto o seu primeiro agente missionário que
foi Herodes (At 8.1).
O cerne da
grande estratégia de Deus para o mundo é o chamado missionário. A igreja só
realiza seu alvo quando se torna missionária na sua prática. A missão da igreja
é fazer missão. Ela não existe para si mesma e é o único grupo de fraternidade
que não tem objetivo apenas de auto-sustentação e cuidado com seus membros. Ela
existe para exercer seu sacerdócio, sendo chamada para sair de si mesma e ir ao
encontro daqueles que não têm nenhuma relação com ela e eventualmente são até
seus perseguidores.
O conceito de
um Deus missionário permeia as Escrituras, e porque missões é algo que sai do
seu coração, Ele envia seu Filho amado, para ser missionário entre nós; “A Bíblia na verdade começa com missões, e
missões é um tema central por toda a Bíblia, e conclui em Apocalipse com
espontâneo júbilo de alegria, porque o mandato missionário foi concluído”.[9]
A obra
missionária não sai do coração da igreja, mas sai do coração de Deus.
É assim em Atos
8, quando sob perseguição a igreja sai anunciando a palavra aos gentios, pela
primeira vez. É Deus quem inicia o processo. O mesmo se dá em At 13.1ss. quando
a igreja está passando por um avivamento, com muitas pessoas se convertendo a
Jesus, e durante um período de consagração e entrega o Espírito Santo diz: “Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a
obra a que os tenho chamado” (At 13.2). Os discípulos estão fazendo suas
atividades naquela igreja local, e Deus os incomoda para fazerem missões em
outros lugares, separando seus melhores líderes para o projeto que Ele mesmo
tinha em seu coração. A obra vem do coração de Deus.
Por esta razão
missiólogos falam hoje sobre a “semente
do verbo”, ou “bússola cultural” (Don
Richardson), afirmando que antes dos missionários chegarem ao campo, Deus já
visitou aquele povo deixando sinais de sua presença e criando símbolos e
conceitos que facilitam a proclamação do Evangelho. Pensando neste conceito,
Don Richardson começou a estudar diferentes povos para encontrar estes sinais
da presença de Deus.
Um dos exemplos
citados vem do Hinduísmo que tem como livro sagrado o sâncristo (Vedas), do
tempo de Abraão. Neste livro existem várias profecias. Uma delas fala de uma
árvore de cabeça para baixa. O que faz a árvore ficar assim? Um tornado ou um
trator? Não! Suas raízes vêm do céu, e seus galhos foram espalhados na terra
para a humanidade. Esta profecia afirma que o tronco desta árvore seria cortado,
e que sairia de dentro dela, cura para a humanidade. Esta é uma referência
clara sobre a obra de Jesus, que está presente num livro pagão.
Panya Baba,
diretor da Evangelical Missionary Society da Nigéria está convencido de que os
primeiros missionários teriam sido mais eficazes se tivessem tomado
conhecimento dos costumes locais, fazendo uso deles como uma ponte para
comunicação eficiente do Evangelho.[10]
Deus não apenas preparou mensageiros, mas prepara
também o coração das pessoas para aceitarem a mensagem. Deus antecede o
missionário quando ele chega ao local para o qual se sente chamado. O Deus da
Bíblia é um Deus missionário. Missões saem do seu coração. Quando a igreja faz
missões ela está se identificando com o propósito essencial de toda missão
bíblica, que fala deste Deus, que amou tanto o mundo que fez do seu único Filho
um missionário.
2. Missão é um chamado de Deus para participarmos da
construção de seu reino – Este é outro princípio que podemos encontrar no livro
de Jonas.
Deus poderia realizar
aquele projeto sozinho ou poderia ter enviado outro profeta, mas na verdade
quis fazer a obra através de seu servo.
Muitos
perguntam por que Deus insistiu em chamar um homem tão complicado como Jonas? A
resposta para mim é clara: Jonas é o nosso paradigma! Ele é o nosso espelho!
Ele demonstra as fragilidades dos homens de Deus em todas as épocas e revela de
forma clara que Deus quer fazer sua missão, não por causa de nossa operosidade
e competência, mas que fará sua obra em nós, através de nós, e muitas vezes a
despeito de nós.
Jonas é um
livro permeado da graça de Deus.
O critério da
escolha aqui não é o da competência, nem das qualidades pessoais do obreiro,
mas da competência do Deus que se encontra por detrás do cenário. O texto
mostra que Deus conta conosco, porque este é o seu projeto para que seus
decretos sejam executados. Deus, na sua onipotência, quis que fosse assim. Ele
deseja usar vasos de barro, gente quebrada, complicada, para que a excelência
do poder seja dEle, e não nossa.
Paulo parece
entender esta questão de forma muito clara.
Em 2 Co 2.16 ao
falar do ministério cristão pergunta: “Quem,
porém, é suficiente para estas coisas?”. Esta é uma pergunta retórica, que nos
obriga a dizer “ninguém”! Adiante, porém, ele explica: “Não que, por nós
mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo
contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos
ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra
mata, mas o espírito vivifica” (2 Co 3.5-6).
O fato de Deus
contar conosco na sua obra missionária é porque este é o seu projeto para o
mundo. Deus quer usar o seu povo, a sua Igreja e para isto nos colocou num
corpo dando-nos dons e talentos. Ele deseja fazer sua obra no mundo através dos
seus filhos. Para isto Ele usa o corpo de Cristo.
A missão só
acontece quando a igreja atravessa fronteiras e abandona o ensimesmamento. Missão é a igreja em
movimento procurando viver de forma sacerdotal, entendendo ter o chamado de
Deus para o mundo. “Missão descreve tudo o que a igreja é enviada ao mundo para
fazer. Missão abrange a vocação dupla de serviço da igreja para ser o sal da
terra e a luz do mundo” [11].
Quando Jesus
envia seus discípulos para o campo missionário Ele faz uma afirmação
assustadora. “Ide! Eis que eu vos envio
como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10.3).
Esta frase me
inquieta visto que Deus nos coloca numa posição altamente desconfortável.
Cordeiros são filhotes de ovelhas, tenros, frágeis, que, na linguagem de Jesus,
seriam enviados para o meio dos lobos. Esta declaração chega a ser um desatino,
a figura é grotesca! O que pode fazer uma frágil ovelha em meio a uma alcateia
de lobos? Será dilacerada em poucos segundos porque a luta é muito desigual. Pessoalmente
gostaria que Deus tivesse feito aqui uma inversão. “Eis que vos envio como
lobos para o meio de ovelhas”. Esta posição me deixaria muito mais confortável.
No entanto, o
que Jesus queria frisar aqui não era a competência da ovelha que é enviada, mas
a confiança que ela deve ter no pastor que a envia. A força não está na ovelha,
mas no pastor. “Temos, porém, este
tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não
de nós” (1 Co 4.7).
Talvez por
entender que Deus era o agente missionário as missões moravianas, fundada no
Século XVIII pelo Conde de Zinzedorf, recomendava que:
(a) Os
missionários deveriam sustentar a si mesmos;
(b) Não
deveriam aplicar a “medida de Herrnhut” (o padrão dos morávios alemães) e,
Deus chama
muitos “Jonas” na história: Gente claudicante, fisicamente frágil,
emocionalmente instável, cabeçuda, hipersensível, legalista e preconceituosa e
vai trabalhando o coração destes inquietos missionários que muitas vezes estão
debaixo de enorme crise com a vida e com o Deus que os envia.
Este livro
mostra que Deus queria abençoar não apenas a obra, mas também o obreiro, por
isto vem conversar com Jonas. Não é Jonas quem procura Deus no meio de sua
crise ministerial antes, o próprio Deus é quem se aproxima. Deus procura os
ouvidos de Jonas, tenta capacitá-lo ao diálogo já que este se encontra tão mau
humorado e de mal com a vida. Deus indaga seus motivos. “É razoável esta tua ira?” (Jn 4.4,8), Explica, apresenta razões,
justifica-se.
O Deus
Todo-poderoso que não tem necessidade de se explicar com ninguém, vem dar seu
parecer para Jonas. Sua preocupação com o coração daquele missionário é um ato
de sua tremenda graça. Por muito menos eu dispensaria gente do meu quadro de
obreiros com atitude semelhante. Apesar disto, Deus arrazoa com Jonas, cuida
dele, explica-lhe a importância da sua obra.
Não sabemos se
Jonas entendeu os motivos de Deus...Mas que Deus tentou explicar, isto Ele
fez...
3. Missão é meio de bênção para outras vidas - Este é o
terceiro princípio sobre missões que podemos encontrar no livro de Jonas. Deus
quer fazer missões porque ele deseja que sejamos instrumentos de alegria para
muitas outras vidas.
Um dos textos
mais marcantes na Bíblia sobre missão é a chegada dos discípulos na cidade de
Samaria. A presença da Igreja se deu com
a manifestação de sinais miraculosos, curas e expulsão de demônios e diante de
sua presença graciosa a cidade foi impactada e “Assim, houve grande alegria naquela cidade” (At 8.8).
Por que Deus
deseja enviar sua Igreja?
Porque Ele
conhece a necessidade dos campos missionários. Deus conhecia pormenorizadamente
a cidade de Nínive. Sabia de sua violência e maldade (Jn 1.2); conhecia suas
lutas políticas e seus interesses gananciosos. Sabia do seu relativismo moral
expresso na afirmação de que não eram capazes de discernir entre a mão direita
e a mão esquerda (Jn 4.11). Sabia da base de sua economia pois fala de seus
animais (Jn 4.11). Deus olha para aquela cidade tão destruída moralmente e
envia seus servos para abençoá-la.
O filme “terra
selvagem” narra a experiência dramática de 4 missionários que foram mortos no
Equador pelos índios waudanes, uma tribo violenta, que acreditava que para se
tornarem fortes precisavam matar outras pessoas. Por esta razão, morriam muito
cedo, envolvidos em múltiplos conflitos. Um destes índios matou Nate, e tempos
depois, o filho de Nate, Steve, volta para a selva para continuar o projeto
missionário de seu pai.
Nas filmagens
de bastidores que fizeram, eles usam personagens reais que passaram por esta
tragédia. Em algumas cenas mostram o índio que matara o pai de Steve e que
havia se convertido. Antes de entregar
sua vida a Jesus ele não podia entender porque Steve não quis matá-lo para
vingar seu pai. O próprio Steve faz uma afirmação linda sobre isto: “Meu pai
morreu cedo e não pôde ver seus netos, para que os waudanes agora pudessem
viver mais e apreciar sua posteridade. Meu pai não foi assassinado, mas deu sua
vida por eles”.
Deus nos envia
para abençoar outros povos. Milhares de pessoas têm sido libertas das mãos do
diabo, da opressão maligna e do engano espiritual através da mensagem de
salvação. A presença da Igreja de Cristo tem abençoado centenas de aldeias,
cidades, nações através de seus obreiros. O que seria espiritualmente, das
cidades modernas sem as orações do povo de Deus?
Quando
entendemos isto, o sacrifício pela obra missionária torna-se válido. Estamos
cumprindo a grande comissão dada por Cristo de alcançar todas as nações e fazer
discípulos, e assim a benção de Deus vai iluminando o coração das pessoas,
trazendo alegria para suas vidas.
4. Missão tem alcance imprevisível - Este é o quarto principio que podemos extrair
deste livro.
A Palavra de
Deus através de Jonas alcançou 120 mil em 40 dias. Talvez não exista registro
de um missionário mais bem sucedido, do ponto de vista dos resultados na
história da Igreja. Jonas jamais poderia prever a dimensão de seu ministério, o
alcance do projeto que Deus tinha para ele. Mesmo porque ele não abrigava
nenhuma expectativa no trabalho que exercia.
Qual é o
alcance do projeto em que hoje você está envolvido?
Felizmente você
não tem noção da grandeza do mesmo. Hoje recebemos bênçãos de muitos
missionários que deram suas vidas para a obra do Senhor, e muitos deles não
viram a concretização de seus sonhos.
Em 1859, chegou
ao rio de Janeiro um jovem missionário vindo de Pittisburgh, PA, depois de ter
concluído com brilhantismo seu curso no Princeton Theological Seminary. Ashbel
Green Simonton foi enviado pela Missão Presbiteriana dos Estados Unidos. Ele só
viveu 8 anos aqui. Sua esposa morreu ainda muito jovem de febre amarela. Ele
também morreria poucos anos depois, sua biografia aparentemente não é a de um
homem vitorioso.
No entanto,
hoje são milhares de presbiterianos no Brasil, contando as diferentes
denominações calvinistas. A maior universidade particular da América Latina, o
Mackenzie, foi fundada pelos missionários que vieram em seguida para apoiar seu
ministério. E este é apenas um relato missionário. Outras denominações possuem
casos similares. Provavelmente estes homens jamais tiveram esta noção
antecipada da grandeza e expansão do reino através de suas frágeis vidas.
Apesar de
falarmos de resultados, uma coisa precisa ficar clara em nossas vidas. Nós
somos chamados para sermos fiéis, não para provocar resultados. Deus é quem
sabe o que Ele deseja fazer através de nossas vidas, e não deveríamos nos
preocupar com isto. Existem muitos obreiros hoje que estão tentando gerar
resultados pela necessidade que as pessoas e até mesmo a própria denominação
impõe sobre eles. Deus não nos chamou para sermos um sucesso, mas para sermos
fieis. “Ora, o que se espera de cada
despenseiro é que seja encontrado fiel” (1 Co 4.1). Nossa pressão não
deveria ser por performance, mas fidelidade.
Ouvi um
comentário sobre o ministério que me chamou muito a atenção: “A nós cumpre dar
profundidade, a Deus, largueza”. Não deveríamos preocupar com o alcance da obra
que Deus vai fazer através de nossas fraquezas, mas deveríamos nos preocupar em
aprofundar nosso coração em direção ao Pai, e deixar os resultados com ele.
Quando os
discípulos voltam do campo missionário para dar relatório de suas atividades a
Jesus, eles estão empolgados com os resultados. “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome” (Lc 10.17),
mas Jesus lhes diz: “Alegrai-vos, não
porque os demônios se submetem, mas porque vossos nomes estão arrolados no
livro da vida” (Lc 10.18). De certa forma, o que Jesus faz é esfriar um
pouco a empolgação dos discípulos, porque ela estava no lugar errado. Eles
queriam valorizar sua posição de guerreiros do Senhor e os resultados desta
batalha, mas Jesus coloca o olhar deles na necessidade de se reconhecerem amados
do Pai, e de saberem que foram chamados para um relacionamento eterno de amor
através de sua vida.
Missionários
adoecem quando o foco torna-se o resultado e não Deus. Toda instituição cuja
preocupação seja a efetividade de seus números e não a glória de Deus, deixa de
ser relevante para o coração de Deus. Jonas é um homem bem sucedido
ministerialmente, todo missionário gostaria de ver sua pregação sendo tão
efetiva quanto a de Jonas, mas apesar de seu estrondoso sucesso, Jonas é um
fracasso interior, porque ele não se aproximou do coração de seu Pai. Ele vivia
em crise com o Deus das missões, que o chamara, capacitara, vocacionara e
enviara em seu nome.
Conclusão:
Qual é a relevância da missão?
Observamos que
missão é obra que sai do coração de Deus. Isto por si só deveria ser suficiente
para que nossos olhos, recursos e projetos estivessem voltados para esta
realidade.
Vimos também
que missão é um chamado de Deus para participarmos da construção de seu reino. Ele poderia fazer
sozinho, mas na sua economia divina, quis nos enviar em seu nome.
Fazer missão é
responder positivamente ao chamado e tarefa que Deus nos dá. Fazer missão
também é uma tarefa maravilhosa, porque na medida em que vamos, não vamos no
vácuo histórico, mas somos designados para abençoar outros, expressar a graça
de Deus em outras vidas, e isto é maravilhoso por si só. Onde vamos chegar com
tudo isto? Só o Senhor da missão sabe, porque missão tem alcance imprevisível.
“Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.
Carriker afirma
que a sobrevivência e o dinamismo do povo de Deus dependem fundamentalmente da
compreensão e do compromisso com a sua vocação missionária, e que nossa
identidade está diretamente ligada à compreensão e compromisso com o papel
missionário no mundo.”[13]
Quando Adoniram
Judson se encontrava acorrentado numa prisão na Birmânia por estar pregando o
Evangelho, outro preso ironicamente desdenhou a obra missionária e a remota
possibilidade da conversão dos pagãos. Diante disto Judson respondeu: “As
perspectivas são tão brilhantes quanto as promessas de Deus”.[14]
Pontos para reflexão:
1. Se missões produzem efeitos
tão universais e positivos, porque ainda somos tão pouco efetivos neste
ministério?
2. Por que Deus é tão apaixonado em
missões? Quais seriam as razões teológicas deste Deus santo se envolver tão
apaixonadamente neste projeto a ponto de entregar seu próprio filho para ser um
missionário?
3. Por que a igreja missionária
sempre revela saúde espiritual? Como espiritualidade e visão missionária se
interligam?
4. Considerando todas estas
verdades, como você acha que precisa responder ao Deus missionário?
Rev Samuel Vieira
[1] Blauw é
um dos que afirmam que o Antigo Testamento não tem preocupação missionária. “emobra o ponto de partida do Antigo
Testamento seja universalista, a ideia de missão ocorre apenas esporadicamente
ou está totalmente ausente”. Blauw, Johannes., A natureza Missionária d
Igreja, São Paulo, Aste, 1966, pg 30
[2] . Op. Cit., pr 17
[3] Carriker, Timoteo, pg 16
[5] Senior, Donald, C.P & Stuhlmueller, Carrol,
C.P., discutem a teologia da eleição e os sinais do universalismo no AT. “como,
perguntamos nós, se pode descobrir política de missão dentro das linhas de
veemente exclusivismo e mesmo violento repúdio ao estrangeiro?” (pg. 18). “Deus
pode fazer surgir novo povo escolhido de outro povo, candidato menos provável
nos dias de João Batista... ‘destas pedras (aparentemente sem vida)’ (Lc 3.8)”.
(Pg 20). Esta idéia é ainda mais discutida adiante: “tudo através do Antigo
Testamento fora indicador que apontava às nações para além de Israel. Essas
percepções religiosas nunca chegaram a atingir síntese teológica, nem foram
integradas a outras posições religiosas importantes em Israel. Somente mais
tarde, haveria de realizar este trabalho o apóstolo Paulo, a grande custo para
si mesmo e para a Igreja Primitiva” (Pg 148).
[8] Winter, Ralph & Hawthorne
Steven C., Missões transculturais, São
Paulo, Ed. Mundo cristão, 1981, pg 201
[11] Stott, J. R. W., Christian Mission in the Modern world, Downers
Grove, IVP, 1975, p. 30.
[12] Beaver, R. Pierce – A história
da estratégia missionária in Winter, Ralph & Hawthorne Steven C., Missões Transculturais, 1981 p. 238.
[13] Carriker, Timoteo – Missão integral. Uma
teologia Bíblica. São Paulo, Ed. Sepal, 1992
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