quarta-feira, 11 de abril de 2018
As Sete frases da cruz. "Nas tuas mãos..." Lucas Quintino
“Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34); “Hoje mesmo estará comigo no paraíso” (Lc 23.43); “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste” (Mt 27.46); “Mulher, eis aí o teu filho... filho, eis aí a tua mãe” (Jo 19.26); “Tenho sede” (Jo 19.28) “Está consumado” (Jo.19.30); “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Estas são as sete “palavras”, que Jesus proferiu na cruz. Quatro destas frases foram direcionadas a Deus Pai, uma ao ladrão crucificado ao seu lado, uma a um dos soldados e uma a Maria e ao discípulo João.
Jesus deixou uma mensagem bem direta àqueles que estavam mais próximos no momento de sua crucificação, mas além de se dirigir àquelas pessoas, ele também estava falando com cada um de nós. As palavras de Jesus na cruz foram uma eloquente exposição do evangelho. É justamente por esse motivo que os evangelistas registraram e perpetuaram essas palavras em seus escritos.
Acredita-se que a última palavra de Jesus na cruz foi “Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito” (Lc.23.46). Essa palavra revela o que ocupou a mente de Cristo em seu último instante de antes da morte. A origem desta palavra e os ensinamentos contidos nela são extremamente relevantes para nós hoje, e é justamente sobre isso que gostaria de tratar neste pequeno texto.
A origem da palavra.
Jesus cita o salmo 31.5 ao entregar seu espírito nas mãos do Pai. Este salmo foi escrito por Davi em um momento de profunda angústia e perseguição. Em 24 versículos, Davi narra sua experiência em dois ciclos que vão da perseguição, sofrimento e angústia ao livramento, segurança e paz. O verso 5 retrata a atitude de fé do rei, que mesmo em meio a muita dor e sofrimento, decide confiar-se ao julgamento e livramento de Deus.
Ao analisar o salmo fica claro que o registro relata muito mais do que a experiência do rei Davi. O verso 13 afirma: “...tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida.”. No verso 11 vemos: “Tornei-me opróbrio para todos os meus adversários, espanto para os meus vizinhos e horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de mim.” Ao citar esse salmo, Jesus nos mostra mais uma passagem do Antigo Testamento que se referia a ele.
Toda a bíblia aponta para Cristo. É assim que Jesus orienta seus discípulos a interpretar as Escrituras (Lc.24.25-27), e é assim também que nós devemos ler a Palavra de Deus. Jesus Cristo é o “homem bem aventurado” do salmo 1; “o filho” que deve ser beijado no salmo 2; o servo sofredor do salmo 22; o bom pastor do salmo 23; o rei sofredor, que descansa em paz do salmo 31.
O ensinamento da palavra.
Essa é a segunda citação direta de um salmo entre as sete palavras da cruz. Isso mostra que Jesus tinha a palavra de Deus no coração em seu momento de maior dor. O próprio Cristo nos alertara que a boca fala do que o coração está cheio (Mt.12.34), e nesse caso vemos que ao invés de murmurar e se queixar do Pai, suas últimas palavras foram de entrega e fé.
Precisamos nos esforçar para ter a Palavra de Deus no coração. Decorá-la não é apenas um exercício mental, é um ato de preparação espiritual. Em alguns momentos não teremos a Bíblia nas mãos, nenhum irmão estará conosco, não teremos acesso a nenhum recurso externo, apenas àquilo que já foi gravado em nossas mentes. E nesse momento, será quando mais precisaremos da Palavra de Deus conosco. Jesus guardou a Palavra no coração para não pecar contra Deus (Sl.119.9).
Ao entregar seu espírito nas mãos do Pai, Jesus nos lembra que um dia nosso espírito será a única coisa que nos resta, e que o único destino justo que podemos dar a ele são as mãos do Pai. Vivemos em um tempo em que mais do que nunca somos levados a pensar que a beleza, a saúde e o conforto do corpo são as únicas coisas que valem a pena nessa vida. Contudo os cristãos sabem que isso não é verdade. Jesus é muito claro quando alerta “essa noite te pedirão a tua alma, ... para quem será?” (Lc. 12.20). E o próprio apóstolo Paulo, ao entender esse ensinamento alerta a Timóteo que : “o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser.” (1Tm.4.8).
A última palavra de Jesus nos ensina também a não desconfiarmos do amor e cuidado de Deus, mesmo em meio a dor e o sofrimento. Jesus fez a oração que todos nós devemos fazer. Entregar-se nas mãos de Deus em meio ao sofrimento é a única atitude que pode nos fazer superar o sofrimento e a morte definitivamente. Essa atitude está fundamentada na fé e no poder da ressurreição. Através da fé podemos dizer como Jó que nosso redentor vive e por fim se levantará sobre a terra (Jó 19.25).
Para concluir, gostaria de lembrar que essas não foram as últimas palavras de Jesus. Ele ressuscitou, deu provas disto a seus discípulos, os abençoou, comissionou e prometeu retornar. Essas foram as verdadeiras últimas palavras de Jesus. Através delas os discípulos foram profundamente impactados. Eles resistiram as perseguições, difundiram a mensagem do evangelho por toda Jerusalém, Judeia, Samaria e pelos confins da terra. Suportaram até mesmo o martírio, honrando a Deus na vida e na morte. Me chama a atenção o fato da obra de Cristo na vida de Estevão. Esse diácono da igreja de Jerusalém foi morreu apedrejado. O motivo de sua morte foi uma sentença injusta proferida pelo mesmo grupo de pessoas que condenou Jesus. Contudo, em seus últimos instantes, Estevão olhou para o céu, e contemplou a Cristo glorificado, assentado no trono. Nesse momento suas últimas palavras foram: “Jesus, nas tuas mãos entregou meu espírito” (At.7.59).
Estevão só disse essas palavras porque o próprio Jesus já as havia dito antes, nos dando através de seu sacrifício o direito e o poder de repeti-las. Minha oração hoje é “Pai nas tuas mãos entrego meu espírito”. Qual é a sua?
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