segunda-feira, 20 de maio de 2013

Comunicação na família




Recentemente fui convidado a ministrar palestras sobre comunicação no lar. Honestamente estou numa fase da vida em que, quando me dão temas para ministrar nunca me preocupo, essencialmente, em falar sobre o assunto solicitado. Apenas incluo uma “agenda” na palestra, que se conecte ao tema, e sigo adiante para ministrar aquilo que estou vivenciando. Então, quando me deram o tema, eu tinha algo na mente e fiz exatamente isto. Minhas razões eram lógicas demais para tomar tal decisão, como vocês verão a seguir.
Iniciei o tema “comunicação no lar”, falando ironicamente, que aquelas pessoas estavam diante de um expert em comunicação, e que elas poderiam estar seguras de que iriam “aprender demais com minha experiência”. A seguir relatei uma experiência que tive com minha esposa.

Um dia cheguei em casa e encontrei minha esposa mau humorada. Vocês já devem ter visto isto de alguma forma e em algum nível. Perguntei o que estava acontecendo e ela desabafou: “Nossa casamento está uma porcaria!”.

Usei toda minha capacidade de argumentação para destruir sua afirmação:
ü       O que você quer dizer com isto?
ü       Nossa vida pessoal em casa é desrespeitosa?
ü       Você já sofreu alguma violência física na convivência comigo?
ü       Nossa sexualidade está ruim?
ü       Nossa vida financeira é desorganizada?
ü       Nossos filhos estão confusos e desorientados?

E antes que continuasse na minha defesa ela afirmou: “Eh, mas a nossa comunicação está uma porcaria...”
Então, disse que deveríamos dizer que a comunicação, e apenas a comunicação estava ruim e não que nosso casamento estava uma porcaria. E ela replicou de forma categórica: “É... mas comunicação é tudo!”
Estão entendendo como sou bom em comunicação?

Se existe uma área na qual eu tenho fracassado tem sido na capacidade de me comunicar: Eu nunca consigo me fazer entender, eu sempre digo as coisas pela metade, eu nunca digo as coisas, eu tenho dificuldades de falar de meus sentimentos, de expressar medos, de relatar o que está acontecendo comigo. Minha esposa adoraria que eu fizesse isto, mas simplesmente não faço...
Diante disto, vocês já devem estar entendendo meus motivos e a hesitação em falar de comunicação no lar: Eu sou simplesmente um fracasso nesta área. Certa vez, achei que meu casamento iria acabar num divórcio, porque tomei uma decisão importante na nossa vida, sem sequer perguntar minha esposa o que ela achava, e para culminar, ela foi saber de minha decisão, através da pessoa mais improvável e inoportuna para esta comunicação. Minha mãe, que por acaso é sogra de minha esposa. Preciso dizer mais alguma coisa?
Por que comunicação é algo tão difícil entre um homem e mulher?
Primeiramente acho que existe um elemento ligado ao gênero: Masculino e feminino. Qual é reclamação mais comum das mulheres em relação aos seus maridos? Eles não falam de seus problemas, eles não compartilham suas dificuldades, eles se comunicam mal. Já ouviram estas reclamações antes?
Em segundo lugar, acho que tem a ver com a cultura latino americana. Por alguma razão, existe no inconsciente masculino esta “suspeita” de que é perigoso se abrir com uma mulher. Por mais que elas insistam, parece um tanto quanto ameaçador este negócio de dizer o que pensa. Não sei se faz sentido isto que estou falando, mas apenas estou considerando hipoteticamente esta possibilidade.

Duas importantes linhas na comunicação:
Existem dois elementos perdidos na comunicação familiar que precisam ser resgatados, se queremos ser entendidos, ainda que num nível muito primária: Respeito e afirmação.

Quanto ao respeito.  Uma das formas mais destrutivas da comunicação e tão presentes em nossos lares tem a ver como tratamos desrespeitosamente maridos, esposas, filhos e pais. Fala-se em um tom agressivo, com conteúdos destrutivos, num volume desnecessário. Muitos lares, infelizmente até mesmo julgados cristãos, usam palavrões, ameaças, autoritarismo. É um falar descaridoso e intimidador. Eventualmente baixo e ferino.

Quanto à afirmação. Nossa linguagem é amaldiçoadora ao invés de abençoadora. Falamos desconstruindo auto imagem, negando identidade, rejeitando a benção. Cresci num lar onde os filhos pediam benção aos mais velhos, mas não sei se quem pedia benção entendia seu sentido, e sem quem proferia benção sabe o significado desta palavra. Abençoar vem do latim benedicte ou benedicere, que significa afirmar o outro.
A linguagem dos lares é muito depreciativa, ao invés de ser afirmativa. Precisamos afirmar o quanto o outro é importante. Filhos (garotos e homens), anseiam desesperadamente por uma palavra de afirmação de seus pais que encontram enorme dificuldade em expressar seu amor e admiração, mas são rápidos em acusar, intimidar, demonstrar que o outro só lhe causa problema e traz dificuldades. Será que nossos filhos já ouviram sinceramente de nós, que eles são uma benção. Será que vemos nossas esposas desta forma?

Aplicações:

Um dos textos que mais nos ensina sobre contradições na comunicação encontra-se em Gn 27, quando vemos as dificuldades na comunicação entre Isaque e Rebeca.

  1. A dificuldade em comunicar adequadamente traz muita dor e desconfiança  - Vemos isto na vida de Isaque e Rebeca. Ele decidiu abençoar seu filho Esaú, seu procedimento era correto, mas ele preferiu ocultar, talvez porque soubesse que Rebeca tinha outras predileções, e ele não queria altercação na sua casa. Mas seu silêncio transformou Rebeca numa opositora. (Gn 27.5).

  1. A não comunicação gera bisbilhotice – é o que vemos Rebeca fazendo. Em Gn 27.5 vemos Rebeca se escondendo detrás da tenda para ouvir os secretos do marido. Isto nos pode levar à conclusão de que esta prática era mais ou menos freqüente na sua vida. Sua origem pode remontar à atitude que Isaque teve, quando sentindo-se ameaçado, mentiu afirmando que ela era sua irmã e não sua esposa, para o rei do Egito, conforme vemos registrado em Gn 26.

  1. Comunicação truncada traz reações prejudiciais. Rebeca chama Jacó e lhe ordena enganar seu pai. O filho fica assustado e se recusa, argumentando que não era correto fazer isto. Ao invés de reconsiderar sua atitude autoritária, ela o obrigou a se silenciar e o obrigou à obediência. Jacó encontrará muita dificuldade na sua vida para discernir Deus na sua história. Mesmo a experiência carismática em Maanaim foi capaz de mudar seu caráter, que se dará apenas em Gn 32, no Vale de Jaboque, quando o Senhor o encontra e ele fica cara a cara com o Deus que transforma seu nome e sua história.

  1. Comunicação transmite maldição ou benção. Rebeca esvazia a autoridade espiritual da vida de seu filho. Quando ele afirma que estas coisas eram espirituais demais para se brincar com elas, já que poderia trazer maldição, ela esvazia o sentido das coisas eternas e diz: “Caia sobre mim esta maldição!” O que ela transmite a Jacó, é que o materialismo e o os ganhos materiais eram mais importantes que a benção de Deus. Podemos implicitamente, sem perceber, comunicar estas coisas aos nossos filhos.

Conclusão:

  1. Comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende – Muitas vezes falamos algo, mas o receptor entende outra. O que você comunicou? Aquilo que o outro entendeu. Considere a questão semântica. Quando usamos determinados termos, que são entendidos de forma completamente diferentes pelo outro;

  1. Em Eclesiastes 8.6 lemos: “Para todo propósito há tempo e modo”. Isto nos ensina que podemos dizer de forma certa na hora errada, ou da forma errada na hora certa. Temos que alinhar as duas coisas: tempo e modo. Quando nos encontramos no meio de uma discussão, esta não é a hora mais apropriada para grandes confusões e acusações. O outro se encontra indisposto em ouvir.

  1. Comunicação não é o que você diz, mas o que as pessoas vêem – Rebeca provavelmente deve ter ensinado princípios de verdade, integridade e honestidade ao seu filho Jacó. No entanto, ele percebe que estas coisas podem ser relativizadas, dependendo da situação em que você se encontra. Aprende-se mais pela imitação que pelo ensino verbal.