segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Mt 7.13-14 As Duas estradas



Questões introdutórias:

1.     Você já entrou por um caminho pensando ser o melhor e no final descobrir que estava completamente equivocado? Quer compartilhar esta experiência com o grupo?

Certa vez meu pai errou um caminho, por causa da pobre sinalização, pegando a estrada em Cuiabá, rumando para São Paulo, quando deveria ir para Goiânia. Quando descobriu o erro, já havia dirigido 200 Kms. Seu erro na verdade lhe custou tempo precioso e 400 Kms.

2.     Vivemos numa época de relativismo moral e teológico: “Todos caminham levam a Deus”. Como tratar deste assunto à luz do texto lido?

3.     Você já parou para pensar em que caminho tem andado?

A vida é feita de decisões: Com quem casar? Onde morar? Profissão? Fico ou vou? Estudo ou trabalho? Jesus, porém, fala de uma decisão ainda mais importante: Onde vai passar a eternidade? Esta é a decisão sobre todas as decisões porque ela possui implicações eternas.

Ele fala de três aspectos: Dois Caminhos, Duas Portas, Dois Destinos.

1. Os Dois Caminhos

Um leva à morte. É espaçoso. Você não precisa se apertar nele. A ética é frouxa, os valores são superficiais e relativos, você não enfrentará críticas, tem folga para um lado e para o outro, tudo é tolerável e aceito. Cada um caminha conforme deseja. Vale tudo para conseguir o que almeja. Não sem razão, muitos andam por ele.
O outro é estreito. As regras são delimitadas, não há muita flexibilização, a pessoa precisa perseverar e os limites devem ser respeitado, mesmo porque não há muito espaço. Por isto poucos conseguem caminhar por ele.


2. As duas portas
Uma é chamada de “porta larga”, fácil de entrar por ela, claramente pode ser vista à distancia, todo mundo conhece o caminho e sabe dizer onde é. Não ha limite de bagagens, você pode andar por ela com todos seus pecados, sem ter que se explicar ou justificar. Todos são bem vindos. Refere-se ao modo de viver descuidado e pecaminoso do ímpio.
"Se você observar uma pequena porta e um caminho em frente, onde não há muitas pessoas transitando, esta é exatamente a porta que te conduz à verdadeira instrução" (Cebes, discípulo de Sócrates).

A segunda é “porta estreita”. Não é fácil encontrá-la, e por isto as pessoas não a encontram ou hesitam em passar por ela, e poucos sabem indicar a direção. Não dá para levar todo tipo de bagagem porque ela não permite a entrada com grandes tranqueiras. Para se passar por ela é necessário abnegação. Andar por esta porta exige ruptura com as inclinações naturais da carne. Nenhuma Bagagem. Não é possível passar por uma catraca com bagagem.


3. Dois Destinos
O primeiro leva à “perdição”. Muito atraente passar pela porta larga e pelo caminho espaçoso, mas o resultado é um destino de morte, lugar onde desaparece o regozijo e a alegria. parecia tão bom, mas resultado é tão amargo. Destino sem volta.
O segundo conduz à “vida eterna”, caminho da vida e do gozo eterno. Não há nada neste mundo que se compare as glórias da vida eterna. Nada se compara à beleza e a paz  daquele lugar.

Conclusão:
1.     Esta porta é Jesus - “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo” (João 10.9).
2.     Este caminho é Jesus – “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). 
3.     Entre os dois caminhos não existe terceira opção.
4.     Se você morresse agora, para onde iria?
5.     Precisamos tomar decisões:

Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal” (Dt 30.15).
Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (1 Rs 18.21).

São poucos os que acertam com ela". A graça barata, a crença fácil, o cristianismo dietético, uma abordagem superficial. Uma das mentiras mais perversas é a noção de que é fácil se tornar cristão.

“Jesus não é um dentre muitos outros caminhos. Ele é o único caminho. O cristianismo não lida com uma fé inclusivista. Jesus foi absolutamente exclusivista. Não existem atalhos para Deus. Não existem outras rotas que conduzem o homem ao céu. A expressão popular que proclama que toda religião é boa e todos os caminhos levam a Deus é uma mentira deslavada. A Bíblia diz que há caminhos que parecem direito ao homem, mas no final são caminhos de morte. Jesus é o único caminho que leva o homem a Deus. Jesus é a única porta do céu. Jesus é o único mediador entre Deus e os homens. Jesus é o único Salvador do mundo. Procurar ir a Deus por meio de outros mediadores é tomar um caminho largo que conduz à ruína. Abraçar uma religião que nega a exclusividade de Cristo como o único caminho para Deus é entrar por uma estrada cujo destino final é a perdição eterna”. (Hernandes D. Lopes).

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Mt 7.7-12 O desafio da oração






Perguntas Introdutórias:

1.     Como está sua vida de oração?
2.     Quais tem sido os “motivos” de suas orações?
3.     Você ora pelos outros, além de sua família?
4.     Você inclui temas mais abrangentes na sua oração como sua igreja, pastores, liderança, crianças, adolescentes e jovens?
5.     Você ora pelos missionários? Pelas pessoas que ainda não conhecem a Jesus? Seus amigos não convertidos?
6.     Você ora pelo Brasil (política, autoridades), pelo mundo?

Neste texto Jesus fala da oração.

1.     Oração expande as possibilidades humanas

a.     “Pedi, e dar-se-vos” – Oração dá acesso a fontes de suprimento.

b.     “Buscai e achareis” – Oração traz respostas aos anseios mais profundos.

c.      “batei, e abrir-se-vos-á” – Oração abre portas intransponíveis.

2.     Oração não está limitada a alguns “iluminados”

a.     Todo o que pede recebe” – Não alguns, mas “todos”.

b.     Algumas da orações mais surpreendentemente respondidas foram feitas por pessoas mais incrivelmente fechadas a Deus.

                                               i.     C. S. Lewis – “A oração mais incrédula”.

                                              ii.     Pai aflito – “Eu creio, Senhor; ajuda-me na minha falta de fé” (Mc 9.24).

3.     Deus é bondoso e nos dá boas coisas

a.     Deus não é sádico, nem mau –(Mt 7.9-10)

b.     O que são “boas coisas”, às quais Cristo se refere?

                                               i.     Deus é bom e generoso –
1.     Ele supre nossas necessidades – “O nosso Deus, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de nossas necessidades” (Fp 4.19).

2.     Ele surpreende com “mimos”. Desejos não são necessidades, mas expressões de carinho (Sl 37.4).

                                              ii.     A maior de todas as doações do Pai celeste – “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lc 11.13).

4.     Alguns critérios considerados:

a.     Orações sinceramente feitas. Deus sempre ouve a oração do penitente que suplica misericórdia e perdão. E, opera milagres em favor do pecador para induzi-lo a abandonar sua vida de pecados. 

b.     Deus não aceita orações instrumentalizadas, que nos tornem parceiros do mal (Sl 54.15).

c.      Deus rejeita orações motivadas pelos pecados (Sl 106.15).

d.     Deus rejeita orações motivadas pela vaidade – “Se no meu coração eu contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido” (Sl 66.18).

e.     O maior motivo da oração não é transformar Deus em “solucionador” de problemas”, mas em amigo. O motivo maior não é “pedir”, mas “estar” com Deus.

sábado, 13 de outubro de 2018

Pastores podem se aposentar?

Introdução: 


A Igreja Metodista no Brasil tem nos seus estatutos o procedimento de aposentadoria compulsória aos 70 anos para pastores/as e bispos/as, resolução que já havia sido aprovado no 19° Concílio Geral, realizado em Brasília, em 2011. Para a denominação, a intenção da aposentadoria compulsória é para que aos 70 anos as pessoas possam usufruir de sua vida e família. Portanto, aos 70 anos o/a presbítero/a deixará de receber nomeação pastoral. O ministro receberá o acompanhamento de um/a presbítero/a como seu/ mentor nomeado/a por ele/a, com a finalidade de ajudá-lo/a a humanizar seu afastamento do ministério pastoral com nomeação episcopal, a pedido ou por idade. Obviamente este assunto gera sempre grandes controvérsias nos concílios da igreja e apaixonadas e acaloradas discussões.


Durante anos a Igreja Presbiteriana do Brasil determinava que o pastor se aposentasse compulsoriamente ao completar 70 anos de idade. Muitos chamavam esta decisão de “expulsória”. Pastores eram obrigatoriamente jubilados, e não podiam mais ser presidentes de um conselho, embora pudessem ainda participar das reuniões de concílios, pregar e exercer funções pastorais como a ministração de sacramentos. Controvérsias e disputas se deram em torno deste tema, muitos pastores deixaram o campo com o sentimento de que poderiam ainda produzir mais e que tinham saúde suficiente para continuar efetivamente no ministério. Recentemente foi aprovada uma emenda na constituição, afirmando que não há mais limite de idade para a ação pastoral. Embora entenda que muitos pastores tenham plena condição de assumirem o campo com a idade de 70 anos, pessoalmente sou contra esta decisão pelas seguintes razões:

A.      Temos no Brasil um grave problema previdenciário. A maioria daqueles que se aposentam pelo INSS, sofrem uma perda salarial tão grande, que muitos permanecerão no campo não necessariamente porque estão realmente motivados pelo trabalho e tenham energia para as atividades ministeriais, mas porque sabem como perderão no seu padrão de vida se afastarem das atividades;

B.       Igrejas, na sua maioria, amam seus pastores, ainda mais quando este exerceu longo tempo de ministério. Por esta razão, mesmo que a igreja perceba que seu pastor, por causa da idade e saúde, não tenha condições de continuar no ministério efetivo, não terá coragem de dizer ao idoso pastor que saia. Isto soa como crueldade, falta de amor e desconsideração. Teremos, portanto, um sério problema nesta área;

C.      Nem todos pastores tem senso critico sobre sua força de trabalho e possibilidades ministeriais, diante disto, muito dificilmente admitirão que é hora de parar. E se ele tiver uma personalidade de forte liderança ninguém ousará, sem que cause grande estrago, dizer, ainda que em amor, que ele precisa parar.

Um caso extremo se deu na Assembleia de Deus de Governador Valadares, que pediu a retirada de seu pastor presidente na direção da igreja por quatro décadas, e o pastor com 88 anos, se recusou a sair da liderança, apesar da igreja propor um salário vitalício de 20 mil reais para que ele se jubilasse. Então os membros da igreja resolveram protestar de forma nunca antes vista. Nos cultos da semana, enquanto o pastor prega, a igreja se ajoelha, de costas para o púlpito e começa a orar, numa verdadeira estratégia de guerra.

D.      Muitos citam Calebe, que aos 80 anos afirmou estar tão forte como aos 40 anos. Se retirarmos a força poética desta sua auto compreensão, alguém, de bom senso, pode admitir que isto é verdade? Muitos poderão estar na ativa aos 80 anos, mas terão o mesmo vigor da meia idade?

E.       Se já enfrentamos falta de campo para os jovens pastores, podemos esperar cada vez mais dificuldades. Nos próximos anos, pastores que teriam de jubilar, dando oportunidade para os novos ministros, se manterão na ativa, criando situações nunca antes vistas na Igreja Presbiteriana.

Bem, deixando de lado as observações relacionadas à denominação presbiteriana, a discussão ainda continua: um pastor pode se aposentar?

Recentemente estava planejando um encontro com alguns colegas da minha faixa etária, em torno de 60 anos, queria levantar algumas questões do tipo:

ð  A terceira idade está chegando (chegou), qual deve ser nossa atitude?

ð  Estamos nos preparando para este momento: tanto física, emocional, espiritual e financeiramente?

ð  Como tem sido nossa experiência de envelhecer no ministério?

ð  Como estamos chegando no ocaso de nossas atividades?

ð  Como preparar a próxima geração e passar o bastão? A corrida de 4 x 100 sempre me pareceu interessante, e podemos compará-la com a transição de liderança, por várias razões:

i.                     O atleta deve passar o bastão em movimento, não pode parar...

ii.                   Há um tempo determinado para se passar o bastão. Não pode ser antes da linha, nem depois, senão é desclassificado.

iii.                 O bastão não pode cair... se isto acontece a corrida acaba.

iv.                 O atleta que vem em velocidade caminha por um determinado tempo com o atleta que estava parado, até alinhar a passagem.

Na discussão, queria avaliar como poderemos ser mais objetivos e efetivos na medida em que nos aproximamos da aposentadoria, com mais experiências e menos energia. Já tinha até ideia do local e do tema do encontro: “Proibido para menores de 50 anos”. Já havia conversado com alguns colegas que acharam interessante a proposta, até que convidei um querido colega, por ser ele meu amigo há longo tempo, e pela sua grande formação em psicologia, área na qual ele concluiu seu doutorado.

A princípio ele se mostrou receptivo, mas ao retornar para sua casa, fez uma belíssima explanação questionando a agenda proposta. Acho que suas ponderações não devem ser desprezadas e não me senti aborrecido em nenhum momento, pelo contrário, suas teses descritas com cuidado, me pareceram muito razoáveis, embora não tenham sido plenamente resolvidas em minha mente. Leia o seu texto e avalie sua posição:

Sobre seu convite para a gente pensar a aposentadoria.

Desculpe amigo, não posso ir. Estive hoje “conversando” com Moisés e ele disse que com os seus oitenta anos está começando o seu ministério e não tinha tempo para conversar com pessoas que estavam desistindo dos desafios para pensar em aposentadoria.

Fiquei meio envergonhado, quando fui “conversar com Calebe, pedindo o conselho dele. Até pensei em parar os afazeres para gastar tempo com esse assunto sobre conforto e descanso no início da terceira idade. Mas, “recebi uma mensagem....resposta de Calebe dizendo que também não poderia estar presente pois, embora com oitenta e cinco anos, estaria envolvido com a geração mais jovem no processo de tomada da terra prometida. Foi um tremendo impacto na minha vida com cinquenta e sete anos, e ele com oitenta e cinco dizendo que estava pronto pra entrar na guerra lutar e sair dela com a força do Senhor.

Desculpe meu amigo, fiquei interessado em gastar tempo com o assunto, pois acho importante investir num plano de aposentadoria possível, e estou fazendo isso, bem como construir alguém imóvel para família, o que também tenho feito. Mas, “me encontrei” com o apóstolo Paulo e ele disse que também não pode ir... embora quisesse participar da doce comunhão de irmãos experientes no ministério, mas perdeu tudo por amor a Cristo, está preso e pobre, animadíssimo com o ministério na sua velhice, e só não ia continuar o ministério, pois infelizmente, descobriu que está para ser morto pelo império. Já sabe que não terá aposentadoria...

Desculpe amigo, penso que é melhor fazer como você tem feito, servindo ao Senhor, escrevendo seus livros, vivendo a igreja e impactando uma nova geração de líderes na plantação de novas igrejas.

Nisso sim, estou contigo, vibro pelo privilégio de não me ter agarrado a nenhuma estrutura como se fosse minha até o momento. Quero gastar meu tempo ajudando na pregação do evangelho, fazendo discípulos maduros e capacitados para exercerem liderança de influência na terra, e se o Senhor se agradar, como você mesmo disse, espero deixar com outros irmãos, algumas igrejas plantadas para a glória do Senhor.

Permita-me testemunhar: tem sido privilégio imenso formar líderes nos seminários, participar da renovação de sonhos nos cursos de mestrado nos quais ministro, pastorear pastores por meio do Life on Life...Poderia até achar que não precisaria fazer mais nada...mas quero viver o discipulado, como você disse...dando passos a mais, batizando pessoas e plantando igrejas para futuros pastores cuidarem delas...sou imensamente grato ao Senhor pelo chamado, diante do qual em nenhum dia sequer pensei em desistir...



E você, o que pensa sobre isto? Qual sua conclusão?

Bem, queria ponderar um pouco sobre isto a partir das Escrituras, e depois trazer alguns insights práticos. Me sentiria muito feliz se pudesse receber feedbacks, favoráveis ou não, aos meus arrazoados.

Tempo de ação sacerdotal no Antigo Testamento

Estudar a Bíblia é a única forma que temos para nos livrar de pressões sócio-culturais e extrairmos os princípios bíblicos. Será que a Bíblia diz alguma coisa sobre este tema? Embora ela não fale das funções leigas nem fale de aposentadoria, os levitas tinham seu trabalho no tabernáculo claramente regulamentados por Deus.

Ordenou a Moisés: E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Este é o ofício dos levitas: Da idade de vinte e cinco anos para cima entrarão, para fazerem o serviço no ministério da tenda da congregação; Mas desde a idade de cinquenta anos sairão do serviço deste ministério, e nunca mais servirão; Porém com os seus irmãos servirão na tenda da congregação, para terem cuidado da guarda; mas o ministério não exercerão; assim farás com os levitas quanto aos seus deveres” (Nm 8.23-26) .

Os levitas se aposentavam, mas não se retiravam de todo o serviço. Eles ainda podiam voluntariamente “ministrar aos seus irmãos na tenda de reunião, cuidando da obrigação”. Eles provavelmente serviam de conselheiros e ajudavam a cuidar de parte do trabalho mais leve incluído na obrigação dos levitas, mas eram poupados do trabalho mais pesado, que incluía montar e desmontar o tabernáculo, ajudar eventualmente nos sacrifícios, cuidar do templo e de sua manutenção..

Quando Ezequiel começou a ter suas visões ele tinha cerca de 30 anos (Ez 1.1), idade em que os sacerdotes começavam suas atividades. Quando teve sua última visão, tinha 50 anos, a idade em que um sacerdote se aposentava. Isto é muito significativo.

A Bíblia não declara especificamente a idade para a aposentadoria dos sacerdotes. Há uma inferência que o mesmo critério aplicado ao levita era o do sacerdote. Entretanto, a função do sumo sacerdote era vitalícia (Nm 8.24,25). Arão tinha 83 anos de idade quando compareceu com Moisés perante Faraó. (Ex 7.7) e tinha 123 anos quando morreu. Durante todo este tempo ele serviu, sem se retirar do cargo. (Nm 20.28).  Em Números observamos que o homicida que fosse para as cidades refúgios, só poderiam sair de lá quando morresse o sumo sacerdote (Nm 35.25).

Um pastor se aposenta?

No sentido estrito do termo pastor não se aposenta. Ele jubila. A palavra latina emeritus, está no dicionário Aurélio e significa simplesmente jubilado. Não se trata de alguém que encerrou as suas atividades, que terminou seu mandato. Não há como se aposentar do ministério, porque aposentar significa parar ou não trabalhar mais. O pastor continua sendo pastor.

Numa conversa recente com minha esposa, eu disse que nunca deixaria de ser pastor porque pastorado para mim não é profissão, é chamado. Portanto, posso me afastar das funções eclesiásticas e administrativas, e gostaria de fazer isto aos 65 anos, mas em hipótese alguma cogito me afastar da ação pastoral. Interiormente creio que serei melhor pastor, afastando-me das exigências denominacionais que desgastam tanto e que ocupam tanto minha agenda, e me aplicando mais ao dom pastoral. O oficio pastoral é bem mais complicado...
Num sentido estrito, o mesmo se aplica aos cristãos. Um crente deveria se aposentar? Todos fazemos planos acerca do futuro, a possibilidade de ter tempo para gastar com aquilo que gostamos, sem bater o ponto, sem ter que estar pensando nas atividades diárias, maçantes e rotineiras. Embora não seja pecado prepararmos para a aposentadoria, nossa vida não pode refletir apenas o desejo de bem estar e conforto, mas de missão, vida de compromisso com o reino de Deus.  O salmista afirma: "Louvarei ao Senhor por toda a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus enquanto eu viver." (Sl 146.2). Desta forma, um discípulo de Cristo nunca deve abandonar a obra, mas deve morrer glorificando a Deus em sua vida e compromisso com o reino de Deus, afinal, nossa vida deve ser vivida para a obra de Deus. Enquanto vivermos devemos prestar nosso louvor a Ele. Nunca devemos pensar que já trabalhamos o suficiente para Deus e agora devemos parar.

Qual a vontade de Deus para a aposentadoria? Devemos seguir aquilo que Deus pede de nós; Uma coisa é nos aposentarmos da vida cotidiana; outra é nos aposentarmos de Deus. O site got questions, traz algumas diretrizes interessantes sobre qual deve ser o ponto de vista cristão sobre a aposentadoria.

1) Talvez nos aposentemos do ministério “tempo integral”, mas nunca devemos nos aposentar de servir a Deus, mesmo que a forma na qual O servimos mude. Há um exemplo das pessoas bem idosas em Lucas 2.25-38 (Simeão e Ana) que continuaram a servir ao Senhor fielmente na sua velhice. Essa passagem se refere a uma viúva idosa que ministra ao Senhor no templo diariamente com jejuns e orações. Tito 2 afirma que os homens e mulheres mais velhos devem ensinar aos mais jovens a como se comportarem através de seu exemplo.

2) Os anos de aposentadoria não devem ser vividos apenas para divertimento. Paulo diz que uma viúva que vive para prazeres já está morta, apesar de ainda viver (1 Tm 5.6). Contrária à instrução bíblica, muitos pensam na aposentadoria como “busca de divertimento”. Isso não significa que os aposentados não possam desfrutar do lazer e atividades sociais ou outras atividades. No entanto, esse não deve ser o foco principal de sua vida, qualquer que seja sua idade.

3) Na segunda carta aos Coríntios 12.14 Paulo afirma que os pais devem economizar para os seus filhos. De longe, a coisa mais importante que deve “guardada” é a herança espiritual que pode ser passada aos filhos, netos e bisnetos. James Dobson, no seu livro, Straight Talk to Men and Their Wives, fala do seu avô que, durante os seus anos de velhice, passava uma hora por dia antes do almoço orando por seus descendentes, tanto os que já viviam quanto os que ainda iam nascer. Um dia ele anunciou à sua família que Deus o informara que todos os seus descendentes até a quarta geração iriam se tornar Cristão. James Dobson era dessa quarta geração e realmente todos os que foram das gerações anteriores não só se converteram, mas eram ministros ou se casaram com ministros da denominação da qual o seu avô tinha sido parte. James Dobson era o primeiro a não entrar no ministério.

Em resumo, quando alguém chega à idade de aposentadoria (qualquer que seja), sua vocação pode mudar, mas o trabalho principal de sua vida não muda. E geralmente são esses “anciãos” que, depois de andarem com Deus por todas as suas vidas, podem retratar as verdades da Palavra de Deus ao compartilharem como Deus tem trabalhado em suas vidas. A oração do salmista deve ser nossa oração à medida que envelhecemos (Salmo 71.18): “Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que tenha anunciado a tua força a esta geração, e o teu poder a todos os vindouros.”

O Cristão não deve nunca se aposentar do serviço cristão; ele apenas muda o endereço do seu trabalho.

Repensando a forma de fazer ministério

Refletindo sobre este tema, tenho considerado numa “agenda positiva”, para pastores aposentados ou em processo de se aposentar:

Primeiro, evite transições traumáticas.

Muitos pastores fazem um belíssimo trabalho em suas igrejas, eventualmente durante décadas, e saem amargurados, ressentidos do tratamento recebido, simplesmente por não entenderem os sinais de desgaste e não compreenderem a hora de sair. Todo pastor deveria sair com honra de seu ministério, principalmente quando exerceu longa, fiel e produtivamente seu pastoreio.

A vida tem ciclos, e não é fácil ser otimista em cada uma destas etapas. Imagine um funcionário que serviu a mesma empresa por anos, e precisa abandonar sua mesa; ou um idoso que precisa morar com seus filhos e deixa a sua casa porque a idade não lhe permite mais morar sozinho, deixando seus velhos móveis que faziam sentido para ele mas não podem ser levados onde vão morar.

Creio que nestas horas, por causa da dificuldade em entender processos, podemos perder a alegria de tudo que fizemos, e envelhecer com celebração na alma. Há um grande risco da amargura e ressentimento dominarem o coração de um velho pastor. Cada um de nós conhece várias histórias positivas e negativas de pastores que sofreram ou lidaram bem com esta transição.

Segundo, se prepare financeiramente para este tempo.

Vivemos num país com um sistema de aposentadoria muito cruel. Durante 38 anos contribui para o INSS, pensando na minha aposentadoria. A maioria dos pastores não pensa em nada disto, sempre dando desculpas de ganhar pouco e responsabilizando a igreja e missão. Desculpe, mas isto é responsabilidade sua. Você tem que planejar! Não arranje bodes expiatórios... seja proativo!. Infelizmente, depois de 38 anos, vejo que o que recebo é insuficiente para minhas demandas. Felizmente tenho outros investimentos que me dão suporte.  Então, você que ainda tem tempo, planeje sua vida. Conheço bons profissionais que tratam disto e boas empresas nesta área. Fale comigo e eu lhe encaminho contato de pessoas sérias e cristãs para você fazer seu planejamento financeiro. Quanto mais cedo começar, menor será o investimento e melhor será sua aposentadoria.

Terceiro, se prepare emocionalmente

Não é fácil abrir mão do salário, mas pior ainda é abrir mão do poder. Pastores são líderes, as pessoas nos ouvem, somos “presidentes” do conselho local de uma igreja, as pessoas nos respeitam pelo cargo. De repente, a liderança não é mais nossa. O novo pastor que chega tem outra visão, e muda tudo o que você planejou, e ninguém quer ouvir sua opinião e, mais ameaçador ainda, todos estão muito felizes... Obrigado! Tenho um bom e confortável escritório, onde reúno minha equipe, dou as diretrizes, lidero a igreja. Alguns dias atrás olhei para as estantes com aquele tanto de livro e me perguntei como será tirar todos eles da prateleira?

Se não nos prepararmos sofreremos demais... nos preparando, sofreremos...menos!

Seja como for, não envelheça aborrecido e ranzinza. Não seja um velho pastor chato, criticando a juventude, achando que seu tempo é que era bom, e que você era o melhor pastor do mundo. Você sabe que não era... Sua igreja sabe que você não era... Não saia chutando o balde, acusando e brigando com todos. Saia com honra! A igreja provavelmente vai lhe dar uma placa de reconhecimento, uma sala com seu nome, e, se for muito generosa, um complemento salarial ou um plano de saúde... Sua denominação? Fará um culto de jubilação, lhe dará uma placa, publicará seu nome numa ata e num jornal que ninguém lerá... ria disto! Não transforme isto num pesadelo. Seja sensato...

Um exemplo simples

Meu sogro, Rev. Samuel José de Paula exerceu fielmente o ministério pastoral como pastor efetivo da IPB, por 37 anos. Quando completou 65 anos, aposentou e interrompeu suas atividades ministeriais para dar apoio aos sogros. Ao chegar a Piracicaba-SP, procurou o pastor da igreja e disse: “Estou me mudando para cá, minha esposa é pianista e regente de coral, queremos servir à igreja, mas não queremos vinculo oficial. Se o Senhor precisar de nós, queremos servir como pessoas que amam a Deus. O pastor local, sabiamente pediu para que ele assumisse o ministério de visitação, o trabalho masculino, a reunião de oração, e eventualmente aulas na Escola Dominical. Um dia o conselho vendo seu amor pela obra, com amor e sensibilidade, decidiu dar-lhe um salário, ele recusou: “Não quero vínculos, quero estar livre para visitar meus filhos e sair quando quiser”. Ainda assim, o conselho resolveu conceder, vitaliciamente, sem qualquer contrapartida oficial, um salário mínimo mensal, que complementava a sua pequena aposentadoria no INSS.

Quando já estava com 81 anos, continuava exercendo fielmente o ministério, nos termos que ele mesmo estabelecera. Um dia, foi visitar um casal da igreja que estava ausente, aconselhou e ouviu algumas críticas pastorais. Meu sogro os encorajou a voltarem para a igreja. No dia seguinte, depois de uma visita médica de rotina, sofreu um AVC hemorrágico, entrou em coma e uma semana depois morreu. Assim, ele produziu fruto, até o último dia de sua vida.

Este casal, posteriormente comovido disse: “Se o Rev. Samuel foi enviado por Deus para realizar seu último pastoral em nossa casa, é porque Deus estava certamente preocupado com nossa vida”, e assim, os dois retornaram aos seus compromissos como membros daquela igreja local.

Sua aposentadoria não significou apatia ou reclusão. Significou mudança de atividades e formas diferentes de realizar seu ministério. Nunca se afastou do presbitério, cuidava da secretaria de ação pastoral e em todos os aniversários dos pastores e esposas de pastores do presbitério, enviava uma carta pessoal de parabéns e encorajamento, e muitas vezes visitava a todos para orar pelas suas vidas, famílias e ministério.

Post Scriptum

Uma advertência Bíblica parece ser apropriada. Paulo afirmou: “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1 Co 9.27). Não dá para chegar no final do segundo tempo, desqualificado, depois de tanto preparo, investimento e sacrifício. Não estamos numa corrida de 100 metros rasos, mas numa maratona. “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”. A corrida ainda não acabou! Precisamos avançar olhando firme para o Autor e consumador da nossa fé.