quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Ferramentas para Revitalização de Igrejas

 


 

 

Introdução

 

Ferramentas são essenciais para realização de quaisquer obras que queiramos realizar. Para cada tarefa, existem ferramentas úteis e apropriadas, que facilitarão a realização do projeto. As ferramentas precisam ser adequadas para não perderem sua eficiência. Não dá para retirar a grama de um lote usando um canivete. Existem ferramentas apropriadas para tal função. O que deveríamos considerar quando pensamos na revitalização de igrejas?

 

Algumas ferramentas são essenciais, deixe-me descrever algumas delas:

 

  1. Abertas a visitantes – Possuem um plano direto para alcançar e atingir os visitantes. Colocam energia e recursos para atingir os recém chegados. Os cultos e eventos sempre levam em consideração o alvo de ganhar vidas para Jesus.

 

A.   Liturgia adequada - Existem igrejas abertas, simpáticas e acolhedoras para aqueles que dela se aproximam. Pensam adequadamente na liturgia pensando naqueles que dela participarão, possuem um olhar atento para o descrente.

 

B.    Mensagem apropriada ao descrente – A pregação, ainda que seja bíblica, consistentemente teologicamente e bem estruturada, procurará transformar a palavra em algo acessível ao ouvinte. Uma simples definição de comunicação é que “comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende”.

Tanto Jesus como Paulo pregavam considerando seus ouvintes. Veja o que nos diz Marcos 4.33: “E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra, conforme o permitia a capacidade dos ouvintes.”  Jesus considerava seu publico.

 

E o que dizer de Paulo?

Procedi, para com os judeus, como judeu, afim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como seu eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, par ganhar os que vivem fora do regime da lei” (1 Co 9.20-21).

 

Isto é sensibilidade na comunicação. Paulo estava atento às pessoas que ouviam a palavra. Será que nossos púlpitos consideram e possuem a mesma sensibilidade na comunicação da poderosa mensagem da cruz?

 

C.    Programas intencionalmente voltados para os de fora – Muitas igrejas estão muito ensimesmadas, e não conseguem olhar além delas mesmas, e entenderem o que está acontecendo ao redor. É necessário abrir a igreja, seus programas, para que assim, haja possibilidade de atrair pessoas a Cristo.

 

  1. Recursos disponibilizados para atingir os perdidos – Este é o último aspecto a ser considerado. Precisamos pensar no orçamento da igreja considerando estratégias e recursos que devem ser destinados para tornar mais efetiva a pregação do evangelho aos perdidos.

 

2.     Percebem a armadilha de ser uma igreja pequena – Muitas igrejas se sentem confortáveis como igrejas pequenas, e até mesmo se justificam vivendo sem expectativa de crescimento, como se crescimento fosse algo do campo meramente pragmático, e algo que só interessa aos neo pentecostais. Entretanto, fale-me de uma pessoa que tenha 18 anos e tenha tamanho de uma de 6, você acha que isto é normal? Porque não espera e orar para que nos dê uma colheita abundante?

 

Carl Dudley certa vez afirmou: "pequeno é mais que uma descrição numérica". Pequenez é essencialmente um estado de mente. Muitas até afirmam: “Nossa igreja não tem quantidade mas tem Qualidade”. Para estes a pergunta é simples: “desde quando quantidade é inimiga de qualidade?”

 

Pense num departamento infantil de uma igreja de 1000 membros. Ela tem possibilidade de ter um ministério de menor ou melhor qualidade? Pense num louvor para 30 pessoas, será que, teoricamente, terá qualidade melhor que para 500, só porque tem um número menor de instrumentistas?

 

3.     Flexibilidade e Adaptabilidade na Metodologia - Não são estruturas rígidas, mas igrejas inovadoras, criativas, capazes de fazer leituras corretas e aproveitar as oportunidades.

 

Infelizmente muitas igrejas não percebem as mudanças que estão acontecendo na cultura, na cidade e na nova forma de ser igreja. Durante muito tempo minha igreja utilizou projetor de slides para os cânticos, mas certamente ninguém usa mais este instrumento diante das novas tecnologias.  Novos momentos exigem novas abordagens. A igreja precisa aprender a entender seu contexto histórico.

 

Quando Davi assumiu seu reinado, ele contratou, de forma direta, 200 jovens de uma única tribo, por um motivo extremamente relevante: “Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos sob suas ordens” (1 Cr 12.32).

 

Por que Davi contratou todos estes jovens? Eles tinham duas características, uma decorrente da outra. Eles “conheciam a época”, sabiam das nuances da história, das tendências, e por isto, também sabiam o que Israel deveria fazer. Quem faz leituras corretas, possui uma abordagem prática mais eficiente.

 

Isto tem a ver com a identificação com a comunidade. Contextualização. Que implica na flexibilidade nos modelos e uma clara distinção entre Métodos e Princípios. Muitos confundem coisas temporais com eternas, histórico com revelado, forma com conteúdo. Isto de certa forma acontece pelo medo do novo, e porque, em teologia, quase sempre o novo é a negação do velho.

 

4.     Pastorados sólidos e longos – Estatisticamente, as igrejas que mais crescem são igrejas com longos pastorados.

 

Toda vez que a igreja passa por uma mudança pastoral, corre o risco de um dolorido processo de adequação. Muitas pessoas estão identificadas com o antigo pastor ou se tornaram membros daquela igreja através do ministério daquele pastor e eventualmente não se identificam com a nova abordagem, estilo de mensagem e pastoreio. Perdas em transição são inevitáveis.

 

Mudanças de pastorado geram sobressaltos. Obviamente mudanças podem ser necessárias, mas precisamos tomar muito cuidado com a visão de que pastores devem ser facilmente “descartáveis”.

 

Uma boa advertência cabe aqui também para pastores que não tem projeto para suas igrejas locais, eles não estão preocupados com o bem estar a comunidade, mas como sua situação pessoal. Muitos usam o ministério como trampolim, só aguardando um novo e melhor convite para deixarem o rebanho em direção a outro campo. Pastorados sólidos ajudam o crescimento da igreja.

 

5.     Louvor participativo – Muitas igrejas não levam em conta a importância de uma liturgia bem elaborada e um louvor feito com cuidado. Muitos dizem: “O que fazemos é para Deus e não para os homens”, justificando assim a péssima qualidade do louvor.

 

Quando lemos a Bíblia, observamos como o louvor judaico era importante. Veja esta expressão do Salmista. “Celebrai o Senhor com harpa, louvai-com com cânticos no saltério de dez cordas. Entoai-lhe novo cântico. Tangei com arte e com júbilo” (Sl 33.2,3).

 

Duas coisas são sugeridas na dimensão litúrgica:

 

Primeiro, que o louvor seja feito com arte. Isto envolve competência, habilidade, treino, preparação. Um culto mal conduzido liturgicamente pode se tornar cansativo, pouco atraente. Será que a questão da arte pode ser ignorada? Sabemos que muitas comunidades não tem condições de ter muitos músicos, mas dentro de suas limitações deve sempre tentar fazer o melhor que puder.

 

Segundo, o louvor a Deus possui a dimensão de júbilo. Que é uma alegria exuberante, algo que possui empolgação. Culto não é réquiem, mas um ato de adoração ao Deus vivo. Por isto deve-se considerar o aspecto celebrativo da liturgia.

 

6.     Forte envolvimento leigo– Pastorado forte e sólido, não significa ausência de participação da igreja. Muitas destas igrejas desenvolveram programas de treinamento bem elaborados e de alta qualidade, dando às pessoas um forte senso de que pertencem àquele lugar e fazem parte daquele grupo.

 

Igrejas revitalizadas tem a marcante característica de envolverem as pessoas no trabalho voluntario, no cuidado do rebanho. Igrejas que não dão oportunidade aos seus membros de participarem, estão retirando sua vitalidade e negando o próprio aspecto teológico da eclesiologia, que envolve um povo no qual os diferentes dons são colocados à serviço da comunidade e para louvor do Senhor.

 

Leigos são criativos na abordagem, efetivos na participação, e dinamizam a obra. Uma definição clássica é que “liderança é a arte de delegar”. Quando os membros se sentem responsáveis por áreas e devidamente desafiados podemos nos surpreender com o potencial e a dinâmica que isto pode trazer. Igrejas fortes tem um surpreendente poder de mobilização do trabalho voluntário.

 

7.     Generosidade e Fidelidade – Comunidades que se envolvem na participação tornam-se fortes e há um aspecto teológico claro na doação. Jesus afirmou que “onde estiver seu tesouro, ai estará seu coração”. Dinheiro revela o coração. Demonstra qual o nível de envolvimento.

 

Comunidades fortes são aquelas cujos membros se dispõem a doar generosamente para o reino de cujos e que descobriram que podem confiar na provisão de Deus, sentem alegria em contribuir para a obra. Igrejas fortes financeiramente, sustentam missões, ampliam seus ministérios, plantam novas igrejas, criam projetos sociais.

 

Igrejas que não contribuem são igrejas despotencializadas. Ao mesmo tempo, é bom lembrar que o dinheiro, na verdade, está apontando para algo espiritualmente muito maior. Por que pessoas que amam a Deus não contribuem para sua obra, não confiam na sua provisão? Dinheiro é reflexo do coração.

 

 

 

Enfermidades do Ministério

 



 

 

 

 

Introdução

 

Existem muitas coisas que podem adoecer o coracao de um pastor ou líder. As enfermidades podem ser de natureza fisica, emocional, filosófica ou espiritual. Líderes religiosos foram, proporcionalmente, os profissionais que mais morreram de Covid-19 em 2020. Entre as 29 ocupações listadas pelo estudo da Rede de Pesquisa Solidária, baseado em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, a categoria foi a que apresentou o maior percentual de óbitos causados pela pandemia.

De todos os registros de pessoas que ocupavam essa função e faleceram em 2020, 44% apontam a doença como causa. A taxa é quase o dobro daquela verificada entre profissionais de Segurança (25,4%) e Saúde (24%).

(Fonte: Rede de Pesquisa Solidária).

 

Saúde é algo essencial quando se trata do processo de Revitalização de uma comunidade, pois a revitalização começa no Líder.

 

Veja como isto é claro na teologia Bíblica:

 

1.     Quando Deus quis abençoar o mundo ele escolheu um homem – Abraão

 

2.     Toda vez que Deus restaurava Israel era por meio de um líder –  Juízes.

 

3.     A vida espiritual de Israel estava relacionada ao líder- Reis

 

4.     A efetividade do ministério (NT) tem a ver com a dinâmica do pastorado.

 

Veja o exemplo de Paulo. Quando ele iniciou o treinamento de novos pastores em Atos 20 temos o registro da Palavra que ele fortaleceu “os discípulos com muitas exortações, dirigiu-se a Grécia, onde se demorou três meses” (At 20.2,3).

 

Em Éfeso, ele ficou dois anos, onde formou uma escola, que se reunia na casa de Tirano (At 18.8-10). Ali expunha diariamente a Palavra das 11 às 16hs. Por dois anos seguidos... Cinco horas por dia, seis dias por semana, 52 semanas por ano, seriam cerca de 3.120 horas de discussão bíblica e como estudamos anteriormente, isto é o equivalente a 130 dias de pregação de pregação ininterrupta, 24 horas por dia. Grande quantidade de informação, é quase um programa curricular de um Mestrado atual. Na verdade Paulo formou um seminário em Éfeso, com treinamento teológico, pastoral e missiológico. Certamente as demais igrejas da Ásia (atual Turquia), plantadas em seguida: Filadélfia, Esmirna, TiatiraLaodicéiaetc, foram resultantes da educação teológica que aqueles alunos receberam e agora “davam ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos”(AT 19.10). 

 

Agora na Grécia, Paulo forma um seminário intensivo. Ele fica nesta cidade por três meses (At 20.3), solidificando a fé dos discípulos, dos novos convertidos, para que sua fé permanecesse sólida, mas para que também avançasse às outras cidades e regiões. Era um treinamento acadêmico e pastoral.

 

O programa de Paulo era:

A.   Constante: Em todo tempo e todo lugar

B.    Intencional: Foco

C.    Sistematizado: Dar Ferramentas

D.   Profundo: Seminário Internacional de Éfeso.

 

5.     A redenção da humanidade é feita por um homem  - Jesus

 

Nestes cinco pontos, podemos observar como Deus sempre usou homens para grandes transformações históricas. Como diz E. M. Bounds: “Deus usa homens, não usa métodos”. Quando Deus quer mudar o rumo de uma nação, de uma denominação ou de uma igreja local, ele levanta pessoas.

 

Revitalização da comunidade começa na revitalização do Líder. Deus não abençoa métodos, mas pessoas

 

O LIDER É ESSENCIAL NA DINÂMICA DA IGREJA

 

1.     O ritmo do líder é o ritmo da equipe...

a.     A maioria das pessoas que se aproxima do líder não o faz para trazer uma proposta, mas por causa de um problema. Não raramente temos aquela vontade de dizer: “Não me traga crises, mas soluções...”

 

b.     Muitas vezes, a dependência do líder se torna mais forte que gera até mesmo um senso messiânico, do tipo “If you don’t, it won’t” (Se eu não fizer, as coisas não acontecem). Isto pode se tornar idolátrico no coração do líder, que começa a pensar, equivocadamente, que a obra deve ser feita por ele, e não pelo Espírito Santo. Paulo adverte contra esta tola e equivocada percepção do líder ao afirmar: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem dá o crescimento” (1 Co 3.6)

 

c.     Rick Warren, que se tornou pastor de uma das maiores igrejas americanas, faz questão de frisar o seguinte ponto para não saturar o pastor nas suas atividades: “Não comece um novo projeto na igreja se Deus não despertar um líder”.

 

d.     Todas as vezes que um membro da igreja propõe uma atividade na minha comunidade, eles me ouvirão dizendo: “quem tem a visão tem o dom. E eles já entenderam o recado. Normalmente a pessoa que vê o problema é aquela que será capaz de resolvê-lo.

 

 

2.     Nenhuma instituição vai além da sua liderança

a.     Líder desafia o processo e o status quo

b.    Líder gera movimento

c.     Líder inspira

d.    Líder pavimenta o caminho

 

3.    ”Tudo se levanta e cai em liderança” (John Maxwell). O que gera diferença na igreja local é a dinâmica do líder. A frase de John Maxwell aponta para esta realidade. Não existe projeto bem sucedido se não houver alguém com saúde e liderança para realizar o projeto.

 

 

O PROBLEMA NÃO É A INSTITUIÇÃO, NEM OS EVENTUAIS PROBLEMAS, MAS O CORAÇÃO DO LÍDER

 

1.     Uma instituição adoecida, adoece seus membros, mas um líder empoderado saberá vencer os desafios.

 

Ilustração:

Harry Reeder, conhecido pastor americano, relata como foi duro sua experiência no processo de revitalização de sua igreja local. Os pecados, o desânimo, os conflitos, tudo o que era necessário acontecer para que a igreja pudesse encontrar novamente seu ritmo. Se você deseja ler um bom material de revitalização, leia seu livro: “A revitalização da igreja segundo Deus.”, publicado pela Casa de Cultura Cristã. Toda pessoa que está lidando com revitalização de igrejas deveria acessar este material, que além de ser teologicamente profundo, é um material inspirativo e traz bons e profundos insights sobre este assunto.

 

2.     Uma instituição endurecida e sedimentada, pode ser mudada por um líder motivado e fiel. O problema não é externo, mas interno.

 

GRANDES ARMADILHAS DE LÍDERES QUE FRACASSAM

 

Líderes, entretanto, enfrentam algumas lutas. Eis alguns de seus grandes desafios:

 

1.     Mentalidade de Vítima

 

2.     Auto Sabotagem

 

3.    Perda de motivação e sonhos

 

4.     Transferência de responsabilidade

 

5.     Familiaridade com o Sagrado

 

6.     Pensamento mágico.

 

Isto tudo se transforma numa espiral descendente, com a auto-estima sendo profundamente atingida. Podemos descrever líderes que fracassam em cinco níveis.

 

a.     Líderes Desanimados. São aqueles que, por sua natureza e temperamento, tem pouco poder para criatividade e falta-lhes ousadia e garra. Uma expressão popular é que “falta-lhes sangue nos olhos”. Precisam ser mais desafiados e enfrentar as dificuldades com mais intrepidez.

 

b.    Líderes Desencorajados: Estes estão num momento um pouco diferente. Eles até chegaram motivados, mas com o passar do tempo, as frustrações, tentativas fracassadas, criticas da comunidade, o fizeram recuar e eles desistem de lutar por mudanças e transformações. Tornam-se desmotivados.

 

c.     Líderes Displicentes. A displicência pode ser traduzida por “preguiça”, seja ela moral, física ou até mesmo existencial. São líderes que buscam o mínimo de trabalho. Eventualmente são inteligentes mas não querem nada que os tire da zona de conforto, por esta razão, tudo se torna complicado e difícil demais.

 

d.    Líderes Deprimidos. Aqui entramos no campo da saúde. Muitas lideres deveriam estar em salas de consultórios médicos, cuidando de sua saúde. Um dos membros de nosso presbitério adoeceu, apesar de vários exames ele foi ficando cada vez mais deprimido, até entrar num quadro catatônico e falecer. Como enviar para a frente da batalha um líder que está enfrentando uma luta com uma grave doença?

 

e.     Líderes Descrentes. Coloquei este ponto na última escala da espiral descendente, porque há lideres que perderam sua fé naquilo que pregam. Uma música da cantata dos Vencedores por Cristo com o título de “Eram Doze”, fala de Dídimo, que duvida da ressurreição de Jesus. Num texto o poeta diz o seguinte: “O que fazer, se o coração não consegue mais crer, o que sabe ser verdade?”. Como anunciar confiantemente a mensagem quando não mais cremos naquilo que pregamos, quando o coração está cansado e com graves crises teológicas?

 

 

Conclusão

 

Processos na revitalização:

 

O apóstolo Paulo diz que orava para que os irmãos de Filipos aprovassem as coisas excelentes. (Fp 3.9-10). C. S. Lewis afirma que muito do desejo pelo belo e pelo estético que há na natureza humana tem a ver com o fato de que isto nos aponta para a beleza de Deus, como lemos nas Escrituras Sagradas, sobre “a beleza da santidade” de Deus.

 

Muitas vezes o anseio pela vida, pelo Sagrado e pelo Eterno, se esconde por trás de uma variedade de entretenimentos, barulhos e atividades. Buscamos substitutos para Deus em coisas e pessoas, para resolver o anseio espiritual e profundo, mas muitas vezes nos cansamos de nossos ídolos, ou substitutos do Deus verdadeiro e o desejo por Deus volta a ser mais intenso, mas estamos tão viciados em gastar tempo e dinheiro em busca de satisfação de nossos desejos que voltamos novamente aos ídolos que se encontram nos entretenimentos e confortos tão desejados.

 

Em João 5.1-9 Jesus pergunta ao paralitico.: “Queres ser curado?” 

 

Para nossa adequação, poderíamos perguntar: Você deseja a vida que jorra de Cristo? “Queres ser transformado?”

 

Partimos do pressuposto de que toda pessoa enferma quer ser transformada, mas será que isto é verdade? A doença, o pecado, a invalidez, de alguma forma parece ser conveniente. O paralitico, por exemplo, não responde a pergunta direta de Jesus, mas justifica seu estado de dependência. Ele se vê como vítima de um sistema que não lhe dá chance de sair deste ciclo de paralisia.

 

A verdade, é que, por não desejarmos mudança, ou por não encontrarmos poder para mudança, continuamos adoecidos. Parece que o Evangelho tem o poder de nos preparar para viver a eternidade, mas não para uma vida vitoriosa no tempo presente, experimentando as coisas excelentes que se encontram na vida de Cristo que nos foi aplicada pelo Espírito Santo. Continuamos a ter corações miseráveis, somos cônjuges autocentrados, usamos a raiva para intimidar as pessoas, estamos presos à luxúria, aos vícios, aos prazeres efêmeros da carne. Manipulamos e controlamos para conseguir o que queremos, estamos aprisionados pelos ídolos do coração e em laços de iniquidade, temos uma face pública para impressionar as pessoas e manter as aparências, mas nosso coração continua precisando de transformação profunda. O que há de errado em nosso discipulado? No processo de sermos realmente seguidores de Cristo?

 

Kent Carlson, no desafiador livro A Renovação da Igreja,  sugere determinados processos que podem nos ajudar, e sua orientação me ajudou muito:

 

Primeiro, Fique insatisfeito com sua insatisfação

 

“Ficamos satisfeitos com nossa insatisfação espiritual. Talvez estejamos lidando com o mesmo pecado que estávamos há décadas, mas, pelo menos, estamos frustrados com isto” e nos justificamos assim. 

 

A verdade, é que há uma questão crucial que chamamos de intencionalidade. Nós precisamos querer. Precisamos nos arrepender do nosso nominalismo evangélico para abraçar a vida do reino de Deus e experimentar a vitalidade que é comunicada pelo Espírito.

 

Segundo a transformação acontece nos detalhes específicos do coração

 

O problema é que, quando decidimos colocar todos os aspectos da vida sob o crivo da luz de Cristo, quando permitimos que a luz de Cristo ilumine os porões escuros de nossa alma, nos assustamos com a grandeza do nosso pecado. Quanto mais nos aproximamos de Cristo, mais percebemos a pequenez do coração, a mesquinharia, a magnitude daquilo que precisa ser mudado dentro de nós. Há tantas áreas precisando de reparos, que ao invés de olharmos de forma direta para o nosso mal, somos tentados a generalizar. “Perdoa a multidão de meus pecados”, ou “eu sei que sou um pecador”, mas nunca falamos para Deus qual é o nosso pecado.

 

Certamente é mais fácil admitir que sou pecador que declarar: “Sou um lascivo”, ou “sou um mentiroso”. O problema é se não considerar a especificidade do mal serei impedido de entrar em contato com ele. Nas generalizações ninguém cresce, mas todos nos escondemos, porque ninguém é exposto.

 

Somos realmente transformados quando intencionalmente escolhemos revelar os detalhes atormentadores. A verdadeira mudança acontece quando a confissão se torna invasiva.

Pecado precisa ser nomeado. Quanto mais genérico for a confissão menos efeito trará. Pecado tem nome, geografia, história. Muitas vezes com longa duração e influência em nossa vida.

 

Terceiro, Aja contraintuivamente

 

Ao entrarmos em contato com nossa natureza caída, e considerar nosso pecado, percebemos o quanto nossas atitudes são automáticas, na maioria das vezes sequer percebemos o mal que elas geram e quanto isto fere as pessoas e desagrada a Deus. Simplesmente fazemos porque sempre fizemos. Simples assim.

 

Não percebemos como a luxúria está presente nos olhares lascivos que temos. Não consideramos o quanto nosso mau humor é agressivo e ranzinza, não precisamos fazer esforço para nos irritarmos com o motorista que nos corta no trânsito. Nossa raiva faz parte da rotina da vida e reina absoluta em nossas atitudes.

 

Regra fundamental, mas transformadora:

“faça o oposto daquilo que você quer fazer”.

 

Se seu coração está sempre conduzindo você à depressão ou a ansiedade, se sua relação com dinheiro está sempre te afastando da generosidade, faça o oposto daquilo que sua natureza pecaminosa pede. A carne, os instintos, a natureza ávida e voraz não pode ser satisfeita, se eu quiser experimentar as coisas excelentes.

 

Se uma pessoa é controladora precisa se colocar em situações onde outra pessoa está no comando. A pessoa absorta em si mesma, precisa parar o que está fazendo e ouvir. O solitário precisa de relacionamentos. Os sociáveis precisam de solitude, e a pessoa sempre pronta a explodir precisa aprender a colocar sua agressividade explosiva sob controle.

 

“Uma atitude contraintuitiva nos leva para além dos limites da nossa zona de conforto e a um território não-familiar, onde somos mais dependentes de Deus” (Kent Carlson).

 

Quarto precisamos colocar nossa identidade no centro das forças

 

Devemos aprender a identificar quem somos no meio das batalhas. No meio da provação facilmente nos esquecemos que somos filhos amados, e questionamos o Pai amado se as coisas não estão mais sob controle. Esquecemos quem somos em Deus.

 

Quando Jesus sai do batismo, Deus afirma sua identidade: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo”. Deus queria lembrar a Jesus sua relação e identidade com o Pai, porque em seguida ele passaria pelo deserto. Da mesma forma, precisamos lembrar que o que nos define não é o que fazemos, nem o que dizem que somos, nem aquilo que acontece conosco, de bom ou de ruim, mas o que somos aos olhos de Deus.

 

“Formamos uma barreira que isola nosso lado obscuro. Odiamos nossos pecados, mas também os amamos. Queremos nos ver livres da luta, mas queremos permanecer nelas. Não as suportamos mas não podemos imaginar a vida sem elas. Momentos de raiva nos dão alguns momentos de liberdade, onde podemos ser incorrigíveis sem nos preocupar com o que os outros pensam. Quando estouramos em raiva, conseguimos o que queremos. A luxúria nos oferece satisfação sexual sem a inconveniência da intimidade. A correria nos faz sentir necessários e importantes. A preocupação sustenta nosso falso senso de controle. A mentira mantém nosso verdadeiro eu na obscuridade”(Kent Carlson).

 

Desta forma vamos construindo uma falsa identidade.

 

A incerteza nos mantém e nos solidifica como pessoas superficiais. Não entramos em contato com nosso mal. Precisamos do dinheiro para manter nossa falsa identidade; precisamos do poder, de sermos aceitos; precisamos da reputação e de tantos outros ídolos do coração, e nem sequer percebemos que estas coisas que amamos e queremos tanto são exatamente aquilo que cria em nós um falso ego e nos leva a perder a centralidade da vida que se encontra em Deus.

 

Precisamos descobrir que podemos lidar com passado com coragem e com nosso pecado com ousadia. Nossa reputação e valor encontram-se em Cristo. Nossa identidade está escondida nele. “Fomos sepultados na morte com ele”. Pelo seu sangue fomos colocados em outro patamar de sermos “sinceros e inculpáveis no Dia de Cristo”. (Fp 1.10). Só assim encontraremos a Vida que buscamos.

 

Quinto, a transformação pessoal traz implicações muito além das individuais

 

Isto é, quando Deus efetua uma transformação pessoal em nossa história, isto afeta todos os relacionamentos.

 

Certo homem era conhecido por sua ira. Ele explodia com as pessoas que amava, gritava com os motoristas na rua, estava sempre se metendo em dificuldades com seus colegas no trabalho, e então percebeu que isto estava atrapalhando seu crescimento espiritual, prejudicando sua família e trazendo desonra para o Evangelho. Procurou tratar da sua ira, tentando descobrir suas raízes mais profundas e Deus trouxe mudanças significativas para sua vida. Sua raiva diminuiu, ele não reagia de forma tão abrupta quanto antes e lidava com as crises com maior serenidade.

 

O que ele não esperava era o efeito que isto causaria na sua casa. Sua esposa e filhos haviam aprendido a conviver com uma pessoa raivosa e agora sua transformação estava afetando todo o sistema da casa. O casal percebeu que sem as crises de raiva, era possível tratar de questões matrimoniais não resolvidas, e os filhos estavam dormindo melhor, se tornaram mais calmos e confortáveis quando o ambiente era turbulento.

 

Sua mudança trouxe mudança ao seu redor.

 

A sua transformação pessoal estava provocando benéficos efeitos em toda a família.

 

Quando Deus muda a vida de uma pessoa, isto traz impacto nas pessoas de nossa convivência e passamos a experimentar as “coisas excelentes”, que estão interligadas ao evangelho.

 

Conclusão

O Poder do Evangelho

 

Geralmente quando pensamos em transformações da alma, da família, da vocação, temos a tendência de concentrarmos os esforços naquilo que somos capazes de fazer. Mas o Evangelho não fala daquilo que o homem pode fazer, mas daquilo que Deus faz.

 

Sinclair Ferguson afirma: 

 

“Deus pode mudar, qualquer pessoa, em qualquer circunstância, inclusive a mim mesmo”. 

 

Este é o grande milagre. Crer que a verdade de Deus é uma realidade transformadora para minha vida.

 

O processo da morte e da anti-vida se instala no Líder cristão, quando ele não mais é capaz de crer que o poder de Deus pode agir na sua vida.

 

Paulo faz uma pergunta intrigante em 2 Co 2.16: 

 

“Quem, porém, é suficiente para estas coisas?”

 

Como restaurar o coração frio, indiferente, incrédulo, desencorajado quando ele se instala? Quem pode fazer algo a respeito? Se sua resposta está na habilidade humana de reagir, de tomar novas resoluções, de efetuar mudança, de gerar vida, você ainda está se concentrando no “outro evangelho”, que na verdade não é outro, mas no “anti evangelho”. Isto é herético. A Bíblia não está interessada na auto ajuda, mas na ajuda do Alto. Tudo vem de Deus. Ele é o autor e consumador da fé (Hb 12.2).

 

Paulo, aparentemente faz a pergunta acima, e a esquece, para retomar o tema no capítulo seguinte:

 

“Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).

 

Deus é aquele que dá vida a Adão, um simples amontoado de barro. Só ele pode nos restaurar.

 

“Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas

o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7).

 

Somente Deus pode soprar o folego de vida em nós, nos vivificar, restaurar e revitalizar.

 

Em 1994 fui convidado pela Mission To the North America para plantar igrejas entre a comunidade de Língua Portuguesa na região de Newark. Depois de 4 meses vi o grupo que me havia sido confiado se esfacelar, e de 13 pessoas que éramos, apenas 7 ficaram. O meu relatório para a missão foi muito difícil. Como explicar que o trabalho, ao invés de prosperar, havia diminuído?

 

Naquele momento de tensão, tirei um tempo para orar e jejuar. Disse à minha esposa que me assentaria no canto do meu quarto, apenas com uma caneta e Bíblia na mão, para discernir a voz de Deus no meio de minha perturbação. Naquelas horas, Deus ministrou profundamente ao meu coração, quando li este versículo da Palavra: “Aquele que Semeia, cumpre fazê-lo com esperança” (1 Co 9.27).

 

Deus estava me dizendo. Você semeia sem expectativa, sem esperança de colheita. Como um lavrador sai para o campo para jogar a semente ao solo, se ele não é capaz de crer no poder da semente? Na possibilidade da colheita? É necessário fazer com fé. A incredulidade é o pecado central do povo de Deus no Novo Tesstamento. Várias vezes Jesus disse aos seus discípulos: “Por que sois assim, homens de pequena fé”. O grande desafio no ministério, e a grande enfermidade que temos, é a dificuldade de crermos que “Ele é poderoso para fazer, infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós”.

 

Que Deus nos abençoe!