Introdução:
O que significa esta expressão quando olhamos o contexto do livro
de Cantares? Que mensagem figurativa estas raposinhas nos trazem?
O texto afirma que elas devastam os vinhedos, e são uma grande
ameaça às vides em flor. Elas destroem as
flores, símbolo da alegria e da graça, e ainda prenunciam outro desastre maior:
Eliminam a possibilidade de colheita, já que das flores surgem os frutos. Estes
"pequenos invasores" são, portanto, altamente destrutivos, precisam ser
localizados e pegos. Não podem andar em liberdade caso contrário destruem as
vides em flor, causando grandes males.
No contexto de Cantares, e a partir dele, gostaríamos de falar de
algumas destas ameaças destrutivas que rondam nossas casas.
- Sistema
Social – Esta
é uma das grandes ameaças que percebemos no texto, e uma das grandes
ameaças de hoje. A Sunamita é retirada da casa de seu pai, e Salomão paga
os mil siclos, que era o valor do penhor dado à família (Ct 8.12).
Literalmente ela é vendida num mercado de competição, numa sociedade
inescrupulosa. A família, também, ao mesmo tempo que é vítima de um
sistema, reproduz este sistema, aceitando a troca.
No
contexto de Cantares, e a partir dele, gostaríamos de falar de algumas destas
ameaças destrutivas que rondam nossas casas. Existem pecados endêmicos,
sistêmicos e estruturais na sociedade, que afetam gerações, como podemos
perceber em Sodoma e Gomorra, quando o texto nos diz que "velhos e
jovens", queriam participar de uma bacanal. Aquele comportamento transcendia
o limite de um ato de vandalismo isolado, e fazia parte de uma sociedade como
todo. São comunidades que perderam o conceito de valor (Ex Gn 19.4).
O
“peer pressure”, o conteúdo didático, a cultura, tornam-se grandes ameaças à
unidade, alegria e prazer do casamento, destruindo as vides em flor. Precisamos
estar alertas contra a força da cultura que nos rodeia. É importante lembrar
que quando o homem pecou, toda sua mente, valores e cultura, também caíram.
Vivemos numa sociedade pervertida e corrupta, que nos pressiona a reproduzir o
modelo que ela mesma criou.
Vejamos
como o sistema opera no texto:
q
A força dos poderosos – Com sua
capacidade de comprar,
dispor, negociar (Ct 8.12). Numa sociedade capitalista, o dinheiro passa a ter
um poder quase absoluto, e precisamos aprender a resistir à sua força, e
destruir seu poder idolátrico que é exercido sobre nós, seres caídos numa
sociedade caída.
q
A fragilidade das famílias – A família da Sunamita permite que sua filha seja vendida e trocada como
mercadoria. Ela é negociada para atender a um sistema e assim, entregue a
Salomão, mesmo que pessoalmente se sinta impotente e massacrada como revela no
início do livro de Cantares. “A vinha, porém, que me pertence, não a guardei”
(Ct 1.6). Sua afirmação revela sua tristeza e incapacidade de fazer alguma
coisa.
q
O conceito da comunidade – expresso nas “filhas
de Jerusalém", (Ct 2.7; 3.5; 5.8) que vivem no harém do rei (Ct 1.4) e que
não apenas aderiram ao modelo social, achando a atitude do rei como normal, mas
que tentam exercer pressão, mesmo diante das seguidas afirmações da sulamita
para que não forçassem o amor, até que este brotasse naturalmente.
Vivemos realidades semelhantes hoje:
q
Pressão da mídia: Que insiste em nos
fazer concordar, aceitar e até mesmo agir de acordo com aquilo que julgam ser
eticamente correto. Somos diariamente bombardeados a crer que o homossexualismo é
normal e eventualmente deve ser até encorajado; revistas bombardeiam nossas
crianças e jovens a terem sexo cada vez mais precocemente, provocando uma
erotização de nossa cultura. O sexo pré conjugal e a perda da virgindade são
não apenas aceitos, mas estimulados. O mesmo atinge a família com o bombardeio
contra sua santidade, e encorajamento ao adultério.
q
Valores familiares em crise: Pais não sabem mais o
que é certo. Tudo é relativo, circunstancial. Os filhos vivem no meio de uma
sociedade que pressiona, a família desorientada. Não há limites para a
sensualidade e quebra de decoro. Músicas e artes conspiram contra tudo aquilo
que até bem pouco tempo atrás era considerado decoro. Recentemente uma pessoa
esteve numa festa de rodeio, e um cantor chegou no palco e disse para estimular
a platéia: “Quem aqui já adulterou hoje?” e obtendo uma resposta quase unânime
de apoio.
- Falta
de fidelidade - Esta é a segunda “raposinha” que devasta
o vinhedo em flor, que rouba a alegria de uma casa, e que mata a
possibilidade do surgimento de frutos maduros: Trata-se do adultério, que
apesar de ser tão corriqueiro em nossa cultura, traz grandes depressões, dores
e stress numa família. Quem viveu com a realidade da infidelidade dentro
de casa, e teve que ver discussões, ameaças, dores, culpa e raiva por
causa da traição, sabe muito bem do que estou falando.
Em Cantares vemos:
q
A
angústia da sulamita: Existe uma oposição entre a tristeza revelada no texto
inicial de Ct 1.6, com a alegria dela no final do livro (Ct 8,10,12). Este
paradoxo intencional aponta para uma dialética. O livro possui uma progressão e
parece nos revelar que, apesar de toda pressão que ela enfrentou, ela foi tida
por “digna da confiança de seu amado”.
q
O
texto de Cantares exalta a fidelidade, faz críticas ao sistemas e zomba da exploração. O amor é
reservado (7.13), exclusivo, privado (4.12; 5.1) e o relacionamento é marcado
por compromissos e uso símbolos (Ct 8.6). Tudo isto revela a importância de não
permitirmos que a infidelidade norteie nossas relações.
Na verdade, uma das “raposinhas mais devastadoras” de um
relacionamento é a infidelidade. Poucas coisas são tão nocivas à vitalidade de
um casamento e a beleza do encontro de um homem como uma mulher.
3.
Falta de confiança, credibilidade e ciúme (Ct 8.6-7). A terceira
ameaça que podemos encontrar passa por estas vias do ciúme e da desconfiança.
A
idéia central de Cantares encontra-se nestes versículos: “Coloque-me como um selo sobre o seu
coração; como um selo sobre o seu braço; pois o amor é tão forte quanto a
morte, e o ciúme é tão inflexível quanto a sepultura. Suas brasas são fogo
ardente, são labaredas do Senhor. Nem muitas águas conseguem apagar o amor; os
rios não conseguem levá-lo na correnteza. Se alguém oferecesse todas as
riquezas da sua casa para adquirir o amor, seria totalmente desprezado (Ct
8.6-7)
Uma
das coisas mais bonitas em Cantares é a presença da confiança entre os cônjuges.
O lamento dela em Ct 1.6 “A vinha que me pertence, esta não a guardei”,
contrasta com o orgulho que sente ao afirmar: “Eu sou um muro, sendo assim, fui
tida por digna da confiança do meu amado” (Ct 8.10). Ela se sente muito feliz
em não deixar nenhuma sombra de dúvida sobre seu compromisso, fidelidade e
amor.
Muitos
casamentos são marcados por cenas de ciúmes, e atitude que geram duvidas sobre
a seriedade do compromisso. O ciúme é descrito no texto como algo que é “duro
como a sepultura”. De fato, ciúme possui uma anatomia complicada:
A.
Ele
é muitas vezes causado por nossa própria infidelidade – Pessoas infiéis tendem
a desconfiar do outro. Mesmo que sua infidelidade seja apenas no nível da
mente. Desta forma, a insegurança que ela sente sobre si mesma, ela projeta no
parceiro.
B.
Tentativa
patológica de proteção e controle – Pessoas ciumentas acreditam que por
estabelecer um sistema de vigilância vão conseguir controlar o outro. A verdade
é que ninguém consegue controlar, nem impedir que a pessoa infiel se comporte
assim. Uma hora, “baixa-se a guarda!”, e o infiel vai correr atrás de sua
carniça!
C.
Resultado
da nossa baixa auto-estima – Muitas vezes o ciúme decorre do fato de que
achamos que o outro, por ser superior, ou mais bonito, nunca nos ama. Pessoas possessivas
tendem a ter uma auto estima baixa.
D.
Insegurança
real ou imaginária – Eventualmente o ciúme brota porque o outro deu motivos
para se desconfiar, mas muitas vezes ele existe por causa de uma insegurança
imaginária. Vemos fantasmas e criamos associações complexas que não tem
qualquer sintonia com a realidade.
Em
Cantares vemos muitas verdades sobre, lealdade, espera e perseverança no amor. O
conteúdo literário do livro exalta o fato de que eles confiam um no outro. O
amor não gera suspeita. Eles são tidos por digno de confiança!
4.
Perda do Romantismo – Em Cantares
temos muita linguagem romântica, carregada de afeto. Em Cantares 2.10 vemos a
afirmação: “O meu amado fala e me diz”. Percebemos aqui que a gíria “falou e
disse” foi criada há muitos anos atrás. Quando se cultiva o romantismo, o
casamento se fortalece. Mas a perda desta linguagem e atitude romântica
torna-se uma das principais portas para o tédio, monotonia e indiferença no
lar. E isto pode ser fatal para um relacionamento vibrante.
Uma
das cantoras pops que mais aprecia é Barbra Streissand, Ela tem uma música cujo
título é "You don't bring me flower, anymore". (Você não me traz mais
flores!) É uma música muito triste mas que revela o fato de como a falta destes
cuidados pode ser devastador para a alegria do casamento. Eu diria que esta é
uma das “raposinhas que devastam os vinhedos”.
Quando
somos namorados, nossa linguagem é toda cheia de cuidados, ternura, declaração
de amor e paixão, mas com o passar do tempo, corremos o risco do marasmo e do
distanciamento. Reconquistar esta dimensão necessária entre um homem e uma
mulher, mantendo sempre a chama da alegria, é um dos grandes desafios que temos
em nosso casamento.
A
Sulamita afirma: “Se encontrarei o meu amor, que lhe direis? Que desfaleço de
amor” (Ct 5.8). Esta declaração revela como o romantismo é preservado neste
livro.
5.
Sensualidade pobre e vazia – Este é a quinta e última ameaça que podemos perceber em Cantares. O livro é
carregado de sensualidade. A linguagem é rica e forte. Em Ct 4.16, logo após a
declaração de exclusividade, intimidade e paixão que o amado e amante faz à
Sulamita, podemos ver como ela reage: “Acorde, vento norte! Venha, vento sul! Soprem em meu jardim,
para que a sua fragrância se espalhe ao seu redor. Que o meu amado entre em seu
jardim e saboreie os seus deliciosos frutos” (Ct 4.16). Ela convida o amado
para vir, e desfrutar dos frutos saborosos que “seu jardim” tem para lhe
oferecer. Esta é uma linguagem sensual. Muitos lares padecem por causa de uma
sexualidade pobre, e isto sempre abre portas para a desconfiança e a
infidelidade.
A
resposta do Amado, segue a mesma linha de desejo: “Entrei em meu jardim, minha irmã,
minha noiva; ajuntei a minha mirra com as minhas especiarias. Comi o meu favo e
o meu mel; Bebi o meu vinho e o meu leite. Comam, amigos, bebam e
embriaguem-se, ó amados” (Ct 5.1). Ele não apenas afirma que aceitou o convite de
sua amada, mas que não hesitou em “comer o favo com o mel”. Definitivamente uma
linguagem sensual e erótica.
Em muitos lares,
cristãos e não cristãos, falta esta celebração do encontro do homem com sua mulher.
Sensualidade pobre é uma grande ameaça!
Veja a exortação
da Palavra de Deus no livro de Provérbios: Seja bendita a sua fonte! “Alegre-se
com a esposa da sua juventude. Gazela amorosa, corça graciosa; que os
seios de sua esposa sempre o fartem de prazer, e sempre o embriaguem os
carinhos dela” (Pv 5.18,19).Uma casa onde marido e mulher fazem sexo com
alegria e prazer, tem muito pouco espaço para a infidelidade e a monotonia.
Quando há riqueza sexual dentro
do casamento, como vemos em Cantares (Ct 8.3), não há necessidade de buscar
fora (Pv 5.15-21).
Conclusão:
Neste
livro o nome de Deus não aparece. Certamente existe alguma coisa intencional
nisto. O que está acontecendo?
A
presença de Deus é percebida da forma sensível como a ternura, o cuidado, os
valores estão presentes. Deus é percebido não com discurso, mas com a prática
de amor. Quando trazemos Deus para nossos relacionamentos interpessoais a sua
fragância se revela em nosso viver.
Alguém
levantou a idéia de que para que uma pessoa fosse batizada na igreja, nossa
preocupação não deveria ser tanto teológica, mas ligadas aos afetos. Muitos
aprendem muita coisa sobre Deus, mas não sobre a vida e sobre a família.
Gostaria
de concluir fazendo dois apelos:
1.
Para aqueles que ainda não receberam a Jesus em suas vidas- Abra o seu coração
para que ele entre, a vida cristã começa com a presença de Deus em nossas
vidas, quando o recebemos em nossa história.
2.
Perdão, enternuramento, celebração, sexualidade e alegria, para aqueles que
receberam Jesus mas ainda vivem uma vida pela metade. Deus tem um propósito maior
para sua vida, e gostaria de sugerir que sua vida e alegria se revelasse em sua
casa, numa vida de paixão, celebração e amizade.
Palestra
preparada no El Rancho
Esclarecedor...Obrigada!
ResponderExcluirNao só Boas Palavras, mas , Ótima e esclarecedora Palestra.
ResponderExcluirGostei e aprendi muito.
❤️❤️❤️
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