quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Js 18.3 Até quando ficareis parados?





Introdução:
È fácil perder a perspectiva missionária.
É fácil parar no tempo...
É fácil perder o senso e ardor missionário.

Deus havia dito a Josué que havia ainda muita terra a ser conquistada (Js 13). Josué envelhecera, mas a obra da conquista da terra prometida estava muito lenta, e havia um certo desânimo e indisposição do povo em avançar. Deus procura despertar Josué para lhe dizer que a obra não poderia parar com sua morte. Era necessário avançar.
Projetos e sonhos facilmente podem morrer com a saída do líder a quem foi dado a visão. É necessário muito cuidado e tenacidade, para que a visão seja comunicada à nova geração e à nova liderança que surge. Com a eminente morte de Josué, Deus novamente lhe aquece o coração, mostrando as possibilidades, terras e povos que ainda precisavam ser conquistados ao seu redor (Js 13.2-7).

Era preciso continuar.
A obra ainda estava incompleta.
Havia muita terra ainda a ser conquistada.

Não sabemos quanto tempo se passou entre a palavra de Deus a Josué no capítulo 13, e o desabafo de Josué, no capítulo 18. Torna-se, porém, nítido que Josué estava impaciente com a letargia do povo. “Até quando vocês vão ficar parados, em vez de avançar e conquistar a terra que o Senhor, o Deus de seus pais, deu a vocês?” (Js 18.4 BV). Na versão Revista e Atualizada lemos o seguinte: “Até quando sereis remissos em passardes para possuir a terra que o Senhor, Deus de vossos paus, vos deu? (Js 18.3). A terra já havia sido dada, mas eles precisavam tomar posse dela.
Diante da apatia, Josué pede agora que o povo faça um levantamento da região, “examinem a terra, façam um mapa do território prometido” (Js 18.4 BV). “Se disponham, e corram a terra, e façam dela um gráfico” (RA).
O meu professor de Religiões comparadas e missões, ironizava: “Melhor seria: Religiões com-paradas e o-missões”, já que é fácil e cômodo demais para a igreja, deixar de olhar os campos brancos para a seara, se acomodar e não mais avançar na obra missionária, perdendo assim o projeto de Deus.

Deste relato bíblico, aprendemos algumas lições:
1.       Primeiramente, quem se preocupa com a obra missionária é o próprio Deus. Deus se move para lembrar seu povo, através de Josué, que “ainda muitíssima terra ficou para se possuir” (Js 13.1).

Os anos anteriores foram de muita guerra e sangue, as tensões eram constantes. Grandes batalhas ocorreram, exigindo uma dose extra de planejamento, treinamento, atenção, capacitação e supervisão – e um bocado de adrenalina e stress. Agora, quando as coisas começam a acalmar e várias cidades foram conquistadas, reis vencidos, regiões prósperas e despojos conquistados, a idade e o anseio por conforto e sossego se tornaram grande tentação para Josué e o povo. Contudo, para Deus, seu projeto ainda não havia sido executado. Faltava muita coisa ainda e a obra não podia deixar de avançar.
O axioma número 1 da missiologia bíblica é que Deus é o autor das missões. Missões nascem no coração de Deus, Ele é o agente que desencadeia o processo do avanço da sua obra na terra. Historicamente a igreja tende a se acomodar, entrar na área de conforto e se tornar indiferente. Deus se move na história e desperta novamente esta chama e ardor missionário.
No livro de Atos, quando a Igreja de Jerusalém estava acomodada, Deus levantou violenta perseguição, e a igreja foi empurrada na direção das missões, saindo a pregar por toda Samaria (At 8.1-2). Em Atos 13, a Igreja da Antioquia orava e Deus iniciou o processo dizendo: “Separai-me a Barnabé e Saulo para a obra que os tenho chamado” (At 13.1-2). É Deus quem planeja, gera visão, impulsiona o povo, inquieta, levanta perseguição e desencadeia o desejo de ir e pregar o evangelho a toda criatura. Jesus demonstrou isto ao dar o mandato missionário: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra, portanto, ide, pregai o Evangelho a toda criatura” (Mt 18.18-20).

2.       Em segundo lugar, Deus incomoda e provoca – É isto que vemos em Josué 18. No capítulo 13 Deus fala com Josué para não deixar a obra naquele ponto em que se encontrava. Era preciso avançar. No capítulo 18, é Josué quem demonstra esta inquietação incitando o povo a não entrar na zona de conforto, mas avançar.

É sempre assim. Quando Deus quer realizar a obra incomoda seus servos. Ou como afirmou Agostinho: “Quando Deus se agita, o homem se levanta”. É assim que a obra missionária avança. Deus começa esta inquietação em alguém, que vai incomodar outros. Em geral, uma pessoa encharcada com os sonhos de Deus, dá o ponto de partida, muitas vezes com muita oposição da apática e estacionada comunidade. Para que a obra de Deus saia daquele ponto indo para onde Deus deseja chegar, um líder é despertado.
Josué demonstra neste texto irritação e impaciência com os demorados processos comunitários. “Até quando vocês vão ficar parados, em vez de avançar e conquistar a terra que o Senhor, o Deus de seus pais, deu a vocês?” (Js 18.4 BV).
Josué lhes recorda as promessas.
Estas terras foram prometidas por Deus. Era apenas avançar e tomar posse do que já era deles. Isto, contudo, não evitava a tensão de uma batalha, mas Deus já lhes havia prometido a vitória. Era uma questão de disposição, coragem e fé da comunidade. O povo precisava avançar! Sair da comodidade e ver a benção e os milagres de Deus se cumprindo. Deus levanta Josué para acender novamente a chama, para provocar. Assim é que a obra acontece até nossos dias.
Deus é o autor de missões e usa seus agentes. Pessoas chamadas, vocacionadas e encharcadas de uma compreensão do plano de Deus que passam a encorajar outros a seguir este propósito, seja para a obra missionária em regiões longínquas, seja para plantação de igrejas ou envolvimento em ministérios de misericórdia e compaixão nas suas próprias cidades.

3.       Deus é que inicia. Homens são agentes. Entretanto é necessário estratégia clara. O texto bíblico demonstra que, apesar da obra de Deus ser realizada pelos seus atos miraculosos,  e que é impossível pensar na efetividade da obra sem tais manifestações, ainda assim, é imprescindível que projetos sejam criteriosamente avaliados, e um plano de ação estabelecido para que a obra seja realizada com eficácia.

Josué pede que o povo se organize. “Escolham três homens em cada tribo” (Js 1.4). Isto dá representatividade, e traz envolvimento das tribos. Ele os orienta a percorrerem a terra e fazerem um estudo das potencialidades, oportunidades e riscos. Se aplicássemos estes simples princípios na obra missionária de nossos dias, teríamos muito menos sofrimento e dispêndio de energia e recursos pessoais nos projetos.
O simplismo missionário, permeado eventualmente por legítima paixão, muitas vezes é assustador, e traz muito desperdício de vidas e recursos. Em nome da espontaneidade e simplicidade, perde-se a intencionalidade e o planejamento. Josué sabe que, mesmo com as promessas claras de Deus, isto não excluía critérios objetivos dos riscos e oportunidades.
Façam um mapa do território”. Esta é a ordem dada. Outra versão diz: “Façam um gráfico” (Js 1.4). Numa linguagem moderna, ele estava pedindo um estudo pormenorizado das potencialidades, uma planilha com planejamento, condições e perigos.
Plantação de igreja tem tido grandes fracassos, porque na maioria das vezes é feito com muita espontaneidade, mas com superficialidade ou nenhum projeto. Não se faz o trabalho para a fim de avaliar o potencial do campo, não se preocupa em selecionar, treinar e recrutar o obreiro. O mesmo se dá no campo missionário: Boa parte dos obreiros segue para o campo com total despreparo teológico, espiritual e emocional, levando consigo grande vontade de fazer a obra, família empolgada, mas sem conhecimento de tudo que terão pela frente, por isto, boa parte dos missionários nos campos transculturais retornam do campo com menos de 2 anos de atividade. O despreparo e a forma desorganizada com que tentam executar o projeto é desprovido de fundamentação segura.
Na missão urbana, é comum vermos pessoas e igrejas empolgadas e ansiosas para iniciar um projeto social na base do entusiasmo. Querem fazer a obra, mas não existe um “mapa do território”, e “gráfico”. Não se avalia os custos, os recursos financeiros e pessoal, o preparo dos obreiros e voluntários e o recrutamento e treinamento do pessoal.
Não é difícil iniciar um projeto social, o duro é continuar levantando recursos para o seu sustento. As despesas altíssimas começam a surgir, a fiscalização dos órgãos do governo, os voluntários desanimam e não dispõem de tempo, e, passado o entusiasmo inicial, surgem os problemas administrativos e como não houve previsão/provisão/planejamento, o projeto se dissolve.
No campo transcultural há dilemas semelhantes. Obreiros desqualificados são enviados para o campo, sem recursos adequados, base de sustentação, preparo teológico/emocional, nem agência de missões com experiência para resolver questões diplomáticas, documentos exigidos pelas embaixadas, e questões inesperadas como doença ou morte do obreiro. O resultado muitas vezes é trágico.
Josué pede um mapa do território, um gráfico. Ele sabia que tais coisas eram necessárias. Por que ainda hoje, insistimos em fazer as coisas de forma diferente?
  
4.       Em quarto lugar, é necessário coordenação e supervisão.  “Depois voltem para mim” (Js 18.4). Isto é supervisão, mentoria. Mesmo com todo levantamento, e de uma elaborada pesquisa de campo que envolvia até gráficos, Josué não permite que avancem, antes que retornem a ele para que avaliem e discutam o projeto.

Esta é a atitude de “coaching”, tão usada na visão do moderno gerenciamento é empregada por Josué. Ele pede para que os agentes da coleta de dado, retornem para a base, e se assentem com os “executivos” a fim de analisar os detalhes e ângulos que precisavam de exame. Planejamento, avaliação, supervisão, quase sempre evitam desperdício de tempo, vidas e recursos. O tempo que se gasta com reparos e correções de equívocos na execução do projeto, poderiam eventualmente ser evitados quando se considera analiticamente o projeto. Por esta razão, antes de construirmos uma casa, contratamos engenheiros e arquitetos, que são pessoas com preparo, não para executar a obra, mas para dar as diretrizes de como a obra será executada.

5.       Terminado o mapeamento, se reuniriam na presença de Deus e pediram para que ele orientasse em como as coisas deveriam ser feitas. Isto é submissão e dependência de Deus.Vocês demarcarão a terra em sete partes, e depois trarão para mim a sua descrição, e eu farei um sorteio na presença do Senhor, o nosso Deus, para ver qual parte ficará com qual tribo” (Js 1.6 BV).

Agora, que todo planejamento foi feito, as terras demarcadas, os gráficos prontos, há um outro elemento fundamental: A orientação de Deus. Afinal, ele iniciou todo processo, e tem todo interesse em orientar seu povo para alcançar os objetivos estabelecidos por ele.
Quando decidimos construir um prédio de seis pavimentos para o Edifício Presbiteriano de Educação na Igreja de Anápolis, em 2006, o conselho fez questão de colocar na sua ata de aprovação do projeto, que não retiraríamos nenhuma ajuda missionária do orçamento, e que se Deus quisesse nos abençoar na execução do projeto, ele nos daria os recursos necessários, e não perderíamos a visão de continuar avançando na obra missionária. A obra se estendeu por alguns anos, mas o projeto foi executado dentro desta visão.
A questão que sempre nos desafia diante de qualquer projeto é apenas uma, central e inegociável: Deus está nisto? Se o projeto brota no coração de Deus, não devemos temer quantos aos recursos, pois certamente eles virão.


Conclusão:

Josué e Calebe disseram ao assustado povo, depois de receber o pessimista relatório dos espias: “Se o Senhor se agradar de nós, os inimigos serão devorados como pão”. E foi assim que aconteceu. Deus estava com eles, e a vitória veio, apesar do pessimismo, cinismo e descrédito dos demais espias e de parte do povo que estava desanimada.
Por que?
Porque aquele projeto nascera no coração de Deus.
John Edmund Haggai afirma:

“Sonhe coisas tão grandes para Deus, que se Deus não estiver nele, o resultado será um fracasso”.

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