Introdução:
Esta parábola aparece apenas no
Evangelho de Lucas. A parábola do fariseu e publicano vem logo a seguir, e Jesus
a contou com o objetivo direto, descrito por Lucas: “Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca
esmorecer” (Lc 18.1). O objetivo de Jesus, nas duas parábolas, era falar
sobre oração.
Jesus usa o exemplo de uma viúva.
A realidade social dos órfãos e viúvas era muito dura nos dias de Jesus. Os
homens viviam muito pouco, na maioria das vezes. Para termos ideia da brevidade
da vida, a média de idade do homem na Idade Média era de apenas 32 anos.
Guerras, epidemias, ausência de antibióticos, cirurgias e remédios adequados
eram fatais. Quando se tornavam viúvas, as mulheres ficavam desprotegidas, pois
não tinham quem as pudesse sustentar. Basta olhar para a Igreja Primitiva e
perceber que a primeira grande tensão que surge na comunidade apostólica,
envolve a questão do socorro às viúvas (At 6.1-6), e por esta razão instituiu-se
o oficio diaconal.
Em Israel havia leis especificas
para as mulheres:
Dt
10.18 – Deus se identifica como aquele que faz juiz ao órfão e à viúva, e ama o
estrangeiro, dando-lhe pão e vestes.
Dt
27.19 – “Maldito aquele que perverter o
direito do estrangeiro, do órfao e da viúva”.
Nm 30.19 – Uma
viúva possuía o mesmo status de um homem diante de um tribunal, enquanto as
mulheres casadas não eram ouvidas.
Sl
68.5 – Não defender a viúva era “brigar com Deus”.
Jesus, portanto, usa a figura de
uma classe social que ocupava o último degrau social. Ela não tinha dinheiro, e
infelizmente cai nas mãos de um juiz que era iniquo, isto é, não possuía equidade,
justiça. Este juiz é descrito na Bíblia como um homem sem princípios, valores e
sem temor a Deus. “Bem que eu não temo a
Deus, nem respeito a homem algum” (Lc 18.2,4).
A viúva era o lado vulnerável deste
relacionamento. A quem recorrer? Vemos alguém em situação de impotência e
abandono. Seu pedido era especifico: “julgue o meu caso”, embora a Bíblia não descreva
qual era a situação que ele enfrentava.
Qual arma esta mulher possuía?
Simplesmente a insistência e perseverança.
Jesus chama a atenção dos discípulos
para o argumento do juiz. “Considerai no
que diz este juiz iniquo”. A Palavra considerai dá ideia de prestar
cuidadosa atenção. Não olhar com negligencia este aspecto.
Parábola dos contrastes
Nesta parábola Jesus tenta
ensinar aos seus discípulos por contraste. Ele usa o simbólico do juiz iniquo,
para contrastar com o Deus justo. “Não fará
justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora parece
demorado em defendê-los?” (Lc 18.7).
Alguns contrastes:
1. Deus
não é uma divindade inatingível - Se o juiz que não considera ninguém, atendeu
o clamor desta mulher, quanto mais o Senhor que vê todas as coisas e julga com
equidade?
2. O
juiz não tinha qualquer relacionamento com a mulher. Seja ele comunitário,
social e religioso, no entanto, o Deus da Bíblia é o Deus das Alianças, que
possui um relacionamento de afeto com os seus “escolhidos” (vs 7). Ele tem
interesse especial no seu povo (Ml 3.13-18)
3. O
juiz ouve pelo motivo errado. “Ver-se livre da importunação” (vs 5). Deus ama e
defende a causa do seu povo, porque habita um alto e sublime trono, mas também com
o contrito e abatido de espírito.
Questões hermenêuticas
Este texto levanta algumas questões
hermenêuticas?
A. Devemos
buscar a Deus por insistência, e ele nos dará mesmo quando não quer dar?
B. A
oração pode mudar o coração de Deus?
C. Se
a oração não pode mudar o coração de Deus, será que ela pode mudar as circunstâncias?
O teólogo reformado, J.I. Packer defende esta tese. “A oração não muda Deus,
mas muda os eventos”. Qual a dinâmica entre estas realidades?
D. A
oração é ouvida e atendida pela súplica do orante (o que ora), ou porque faz
parte dos planos de Deus? Cremos no poder da oração ou no poder de Deus?
E. Considere
a expressão do A. W. Pink – “O Deus que destina os fins, também estabelece os
meios”. Isto é, o propósito de Deus é imutável: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29),
mas para o estabelecimento dos seus planos, Deus conta com as orações do seu povo.
Jacques Ellul defende que o quinto selo, que são as orações dos mártires de
Apocalipse 6.9-11 é um dos agentes da história. A história é impulsionada pelo
clamor do povo de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário