sexta-feira, 15 de outubro de 2021

6. A REVITALIZAÇÃO DA IGREJA N0 PENSAMENTO REFORMAD0

 


 

 

 

Introdução:

COMO A IGREJA REFORMADA CONCEBE A REVITALIZAÇÃO?

 

Texto do Valdeci Santos

https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2019/05/Fides_v16_n1-Revitaliza%C3%A7%C3%A3o-de-Igrejas-Uma-Reflex%C3%A3o-Teologicamente-Orientada.pdf

 

“Revitalização de igrejas” já se tornou uma expressão popular, comumente empregada na literatura missiológica, em trabalhos acadêmicos e até em

cursos específicos de graduação.

 

O uso frequente da expressão, no entanto, não descarta a necessidade de maiores esclarecimentos ou mesmo de algumas abordagens diferentes sobre sua natureza.

 

Riscos:

Abordagem pragmática:

Por exemplo, três renomados missiólogos contemporâneos defendem que a igreja precisa de mudanças e revitalização “porque ela tem demonstrado pouco ou nenhum crescimento estatístico (numérico, espiritual e outras formas) e evidencia um impacto mínimo na cultura ao redor”.

 

A proposta para recobrar a vitalidade nesses casos geralmente implica em

reestruturar igrejas “nos moldes de Willow CreeksSaddlebacksMars Hills e todas as outras megaigrejas que surgiram na última década”.5

 

Até denominações reconhecidamente conservadoras partem de análises estatísticas para justificar a necessidade de se focalizar na revitalização de suas congregações. O problema é que as abordagens nesses casos são mais horizontais do que verticais, mais sociológicas do que teológicas.

 

Logo, a despeito da grande quantidade de literatura sobre o assunto, ainda há a necessidade de uma abordagem que seja teologicamente orientada sobre o processo de revitalização de igrejas.

 

Na perspectiva da reforma, como devemos analisar o pensamento reformado.

Ou, como o professor Valdeci sugeriu: Revitalização de-Igrejas-Uma Reflexão Teologicamente Orientada

 

 

O ensino bíblico-teológico sobre o assunto. princípios bíblicos aplicáveis a qualquer igreja de qualquer contexto cultural. A premissa básica para esta abordagem é que os métodos empregados no processo de revitalização podem até variar, mas os princípios e pressupostos bíblicos devem ser sempre mantidos e preservados.

 

A razão fundamental para essa análise é o fato de a igreja ser retratada nas Escrituras muito mais do que como um construto social ou como uma instituição humana. A igreja é descrita como o corpo vivo de Cristo (Ef 1.22-23), o objeto do amor de Cristo (Ef 5.25-27) e a assembleia dos primogênitos do Deus vivo (Hb 12.22-23).

 

Dessa forma, qualquer análise da igreja que não considere sua natureza teológica acaba se revelando deficiente. Antes de prosseguir neste estudo é necessário deixar claro o conceito aqui empregado em relação à revitalização. Os inúmeros tratamentos sobre esse assunto, bem como o crescente interesse sobre o tema, exigem definição clara do que se entende sobre esse termo a fim de evitar confusões futuras.

 

Nesse sentido, revitalização de igrejas é diferente de avivamento ou despertamento espiritual, visto que essas duas realidades são resultantes de visitações especiais do Espírito Santo sobre o seu povo.8

 

Por outro lado, revitalização de igreja não consiste em mera programação eclesiástica, uma vez que essa é . apenas uma atividade temporária para atender a uma necessidade específica da igreja local.

 

Revitalização é uma palavra que abriga em si a esperança da renovação do vigor, da restauração da saúde e crescimento já experimentados, do redirecionamento do propósito original e bíblico da igreja, bem como da reafirmação das doutrinas e valores bíblicos.

 

O resultado de um processo assim é, certamente, um novo refrigério do Espírito sobre a vida da igreja. A contribuição de Ross é novamente útil nesse ponto, pois ele argumenta que “revitalização é o esforço de restaurar o propósito, paixão, pureza e prioridades corretas à vida e ministério da congregação local, mas não é uma tentativa de produzir avivamento por meio de técnicas avivalistas”.9

 

Prof Valdeci divide o tema em três tópicos:

.

1.  O ciclo de vida da igreja sob a perspectiva teológica. pressupostos doutrinários fundamentais para se considerar o processo de revitalização de igrejas.

 

2. Princípios bíblicos a serem observados no processo de revitalização de igrejas. Os princípios aqui enfocados serão apenas aqueles essenciais, uma vez que essa reflexão necessita ser concisa.

 

3. Estratégias teologicamente orientadas

 

I.

fundamentos teológicos sobre o ciclo de vida da igreja local

 

Vários estudiosos dedicados ao ministério de revitalização de igrejas têm constatado que de modo semelhante ao que acontece no universo biológico é possível afirmar que uma igreja local experimenta diferentes etapas no seu ciclo de vida.10 A formação de uma congregação local é, geralmente, marcada por vigor e alegria, especialmente à medida que se observa pessoas sendo alcançadas pelo poder do evangelho. Com o passar do tempo, porém, a vitalidade inicial da congregação pode sofrer contratempos e entrar em declínio devido a variados fatores, sejam eles espirituais, culturais, doutrinários, relacionais e outros.11

 

Miller argumenta que uma igreja entra em declínio quando perde algumas características básicas:

§  uma visão egocêntrica e limitada acerca do Reino de Deus,

§  falta de clareza do papel da liderança

§  desvio do propósito de sua missão conforme revelado pelas Escrituras.

 

 

Charles Swindoll observa que “as organizações tendem a perder a vitalidade ao invés de ganhá-la à medida que o tempo passa. Elas tendem a dar maior atenção ao que ‘foram’ ao invés do que elas ‘estão’ se tornando”.

 

A própria Bíblia atesta a sua realidade.

Éfeso: a congregação que começa bem, revelando altos índices de vitalidade, nem sempre mantém essa vitalidade com o passar dos anos (cf. At 19-20; 1Tm 1 e Ap 2.1-7).  O mesmo ciclo de vida pode ser encontrado nos relatos acerca das sete igrejas da Ásia, conforme encontrados no início de Apocalipse (cf. Ap 1-3).

 

Finalmente, uma leitura das cartas paulinas ao jovem pastor Timóteo, considerando que o apóstolo enviou Timóteo a Éfeso para corrigir alguns erros naquela congregação (cf. 1Tm 1.3), deveria ser suficiente para motivar o estudo daquelas cartas como “um manual para a revitalização de igrejas”.15 Em todos esses casos, a condição de declínio das igrejas em questão exigia esforços em prol da restauração do vigor perdido.

 

Quatro doutrinas básicas

Há, no mínimo, quatro doutrinas cristãs intimamente relacionadas ao fato de uma igreja poder experimentar diferentes estágios em sua vida, podendo, inclusive, chegar ao ponto de urgente necessidade de revitalização. Embora seja possível identificar outras doutrinas conectadas a esse fenômeno, aquelas que serão listadas aqui são suficientes para uma reflexão teológica sobre o assunto.

 

A primeira doutrina a ser considerada em relação à eventual necessidade de revitalização de uma igreja local é a que diz respeito à natureza orgânica da igreja cristã.

 

As Escrituras claramente retratam a igreja de Cristo como um organismo e não apenas uma organização. Isso fica evidente por meio das metáforas bíblicas empregadas para descrever a igreja.

 

Por exemplo, o corpo de Cristo (1Co 12.12-27),

a família de Deus (Ef 3.14 e 4.19-22),

a assembleia dos santos (Hb 12.22-24),

a noiva do Cordeiro (Ef 5.32 e Ap 21.9-10),

os ramos de uma vinha (Jo 15.5), etc.

 

Cada uma dessas metáforas contém em si o conceito de vitalidade que caracteriza o organismo chamado igreja. Todavia, essa vitalidade não é autônoma, mas totalmente dependente do Senhor Jesus. Essa misteriosa união orgânica de Cristo com a igreja, como afirmou R. B. Kuiper, “significa que a igreja não tem vida à parte de Cristo e que recebe de Cristo a vida que ela tem”.16 O fato de Cristo ser a cabeça da igreja significa que toda a vida e nutrição da mesma emanam de Cristo.

 

Recentemente, Mark Dever tem exortado os cristãos a refletirem melhor sobre esse assunto enfatizando:

“A igreja é um povo, não um lugar, nem uma estatística. É um corpo, unido a Cristo, que é a cabeça. É uma família, unida por adoração por meio de Cristo”.17

 

A doutrina da natureza orgânica da igreja necessita ser reafirmada e melhor apreciada até mesmo pela tradição reformada. Segundo a tradição reformada, a igreja é caracterizada pela pregação da Palavra, a ministração dos sacramentos e a administração da disciplina.18

 

No entanto, Richard R. De Ridder faz uma observação relevante ao dizer: “Segundo esse ponto de vista a igreja se torna um lugar onde algumas coisas são realizadas, ... mas nem sempre ela é vista como um grupo que Deus trouxe à existência para realizar uma missão”.19

 

A ênfase sobre a natureza orgânica da igreja parece ser suficiente para corrigir quaisquer interpretações errôneas a esse respeito. Segundo essa perspectiva, a igreja não é apenas um lugar em que se realizam algumas coisas, mas um corpo vivo que se compromete a representar Deus no mundo. A partir da compreensão da natureza orgânica da igreja é possível perceber que sua vitalidade é dependente da comunhão dessa mesma igreja com o seu Cabeça, ou seja, Cristo.

 

As igrejas locais, podem experimentar momentos de declínio espiritual e distanciamento do Senhor Jesus. Em se tratando de um organismo, a igreja pode enfermar, entrar em decadência ou mesmo morrer. Sempre que uma congregação experimenta tais estágios de declínio, ela necessita de esforços em prol da recuperação da sua vitalidade.

 

Segunda doutrina:

A Natureza dinâmica da fé salvadora.

 

A esse respeito é importante considerar que a Bíblia afirma que o cristão é salvo pela graça mediante a fé (Ef 2.8) e é, ao mesmo tempo, identificado por meio dessa fé (1Jo 5.1). O moto central das Escrituras acerca da vida do cristão é que “o justo viverá pela fé” (cf. Hb 2.4 e Rm 1.17).

 

Diferentes tipos de fé

Ao discorrer sobre a fé salvadora os teólogos têm feito cuidadosa distinção entre a crença geral em Deus (fé geral e temporária) e a fé que se encontra enraizada no coração regenerado do crente, ou seja, a fé em Cristo como o único Senhor e Salvador.21 Essa fé ainda tem sido definida como “uma convicção segura, operada no coração mediante o Espírito Santo, a respeito da verdade do evangelho, e uma confiança sincera nas promessas de Deus em Cristo”.22 De fato, nenhum cristão em perfeito juízo ousaria questionar a necessidade da verdadeira fé em Cristo para a salvação de uma pessoa. Há, no entanto, outros aspectos da fé salvadora que precisam ser igualmente compreendidos e enfatizados. Por exemplo, a Bíblia apresenta a fé como algo dinâmico e não estático. Nesse sentido, é possível encontrar relatos nas Escrituras daqueles que apresentaram uma fé “pequena” (Mt 6.30) e outros uma “grande fé” (Mt 15.28); alguns possuíam uma fé mesclada com a dúvida (Mt 14.31) e outros uma fé admirável (Lc 7.9). Há ainda outros episódios na Bíblia em que algumas pessoas pediram que Cristo lhes aumentasse a fé (Lc 17.5-6 e Mc 9.24).

 

Consequentemente, a fé dos servos de Deus é dinâmicapodendo ser aumentada ou mesmo desfalecer.

 

A esse respeito os puritanos afirmaram:

“Esta fé é de diferentes graus, é fraca ou forte; pode ser muitas vezes e de muitos modos assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança a vitória, atingindo em muitos a uma perfeita segurança em Cristo”. O fato é que, por ser assim dinâmica, a fé do cristão pode experimentar momentos de fraqueza e declínio e quando isso ocorre, a igreja na qual ele está inserido é sempre afetada. Dependendo do impacto e da quantidade de membros a experimentar esse declínio na fé, a vitalidade da igreja pode ficar comprometida, carecendo assim de esforços em prol da revitalização da congregação.

 

A terceira doutrina a ser considerada em relação à vitalidade de uma igreja é aquela que trata da santificação, especialmente o aspecto progressivo da mesma.

 

Santificação pode ser definida como aquele processo mediante o qual o cristão é conformado à imagem de Cristo (Rm 8.29).

 

Ao longo dos anos a teologia protestante tem sustentado que, ao contrário do que ocorre na justificação, que é um ato de Deus sem qualquer participação humana, no processo da santificação o homem tem participação ativa em harmônica cooperação com o Espírito Santo.

 

Enquanto por meio da justificação Deus declara os redimidos justos, no processo da santificação eles passam a praticar atos de justiça. Na verdade, o processo de santificação consiste tanto do “despojar-se do velho homem” como do “revestir-se do novo homem” (cf. Ef 4.22-24), ou seja, tanto da mortificação dos hábitos pecaminosos como da vivificação dos atos de justiça.

 

Como corretamente afirma Berkhof,

“com a dissolução gradual do velho, o novo se manifesta”.25 Em todo esse processo, o relacionamento diário com o Senhor é decisivo, pois “todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2Co 3.18). Somente assim o cristão será santo, como santo é o seu Pai celestial (1Pe 1.15-16).

 

Ainda que haja divergência sobre o assunto, a maioria dos protestantes confessa que “esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida”. No entanto, esse processo é uma “obra progressiva que continua ao longo de sua vida terrena”. Por essa razão é comum se referir à santificação como sendo não apenas posicional, mas também progressiva Essa progressividade, porém, não é algo uniforme na vida dos crentes e muito menos ininterrupta. Há alguns cristãos que se mostram tardios e lentos no crescimento espiritual (Hb 5.1) e outros que até retrocedem em alguns assuntos básicos (Gl 3.1-3). Logo, há ocasiões em que o processo de santificação não se revela progressivo, mas até mesmo regressivo.

 

O grande conforto, porém, emana da promessa bíblica de que Aquele que começa boa obra na vida dos seus filhos sempre a completa (Fp 1.6). Por essa razão os puritanos afirmavam que nesta vida, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que ficam, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador Espírito de Cristo, a parte regenerada do homem novo vence, e assim os santos crescem na graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.

 

Este aspecto processual da santificação individual do cristão também se reflete no macrocosmo da igreja local, o que faz com que muitas igrejas declinem na santidade e necessitem de revitalização.

 

Quarta doutrina: a doutrina cristã sobre os últimos acontecimentos, também conhecida como escatologia cristã.

 

igualmente lança luz sobre a possibilidade de a igreja experimentar diferentes ciclos em sua vida sobre a terra.

 

No estudo da escatologia cristã há que se atentar para o fato de que a Bíblia se refere aos últimos dias como algo que diz respeito tanto ao aspecto inaugural do Reino como à sua aguardada consumação. tanto Pedro como João afirmam que a igreja já vive o período denominado “últimos dias” (cf. At 2.16-17 e 1Jo 2.18). Ainda assim, os cristãos são exortados a aguardar a manifestação de Cristo e a ressurreição do último dia (cf. Jo 6.39-54).

 

A igreja é triunfante, porém, ela ainda experimenta contratempos nesta vida. Também é correto sustentar que a igreja é santa, mas ao mesmo tempo ela pode ser corrompida por doutrinas errôneas e ser marcada pela impureza em sua jornada pelo mundo. Dessa forma, embora sendo a casa do Deus vivo, a igreja pode se contaminar com alguns aspectos do mundo e expressar tamanha mornidão que ela é veementemente repreendida pelo Senhor (cf. Ap 3.14-22). a igreja não obterá perfeição neste mundo e poderá sempre cair em profundo declínio ao ponto de necessitar de real revitalização.

 

Conclusão:

 

Nesta aula, quando consideramos a A REVITALIZAÇÃO DA IGREJA N0 PENSAMENTO REFORMAD0, procuramos tratar dos fundamentos teológicos sobre o ciclo de vida da igreja local.

Para que possamos aprofundar este tema, algumas doutrinas bíblicas precisam ser mencionadas:

 

A primeira doutrina a ser considerada em relação à eventual necessidade de revitalização de uma igreja local é a que diz respeito à natureza orgânica da igreja cristã. Precisamos compreender que a igreja é viva, um corpo vivo. Não é uma mera instituição humana, mas possui a vida que procede de Deus.

 

Segunda doutrina: A Natureza dinâmica da fé salvadora. Isto implica assim como a nossa fé pode se tornar frágil ou se revestir de grande força, igrejas podem sofrer impactos no seu ciclo histórico.

 

A terceira doutrina a ser considerada em relação à vitalidade de uma igreja é aquela que trata da santificação, especialmente o aspecto progressivo da mesma. A obra é de Cristo, mas ele nos convida a participar de sua construção. “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem dá o crescimento”. Apesar de ser edificada por Cristo, e de ser Deus aquele que dá crescimento, Deus convoca seu povo para plantar e regar.

 

Quarta doutrina: a doutrina cristã sobre os últimos acontecimentos, também conhecida como escatologia cristã. Apesar de todos tropeços, e de ciclos complexos, a igreja segue triunfante, ela é vitoriosa. Jesus mesmo está empenhado em sua edificação: “Eu edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (MT 16.18).

 

Que Deus nos abençoe!

 

 

 

 

 

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