Introdução:
Embora usemos análises pragmáticas para que consideremos a importância e urgência de plantação de igrejas, nada pode ser substituto do embasamento bíblico-teológico. Nossa fonte de inspiração, regra infalível e única de fé e prática, continua sendo as Escrituras Sagradas. Portanto, estudar os métodos de evangelização usados por Jesus, pelos apóstolos, e pela igreja primitiva, constitui-se num requisito obrigatório para as igrejas bíblicas.
Introdução: O Novo Testamento nos mostra de forma significativa a forma como a igreja primitiva fez para alcançar o mundo com o evangelho. O alvo de Jesus era claramente o estabelecimento de sua igreja, e os discípulos cumpriram fielmente a estratégia estabelecida pelo Espírito Santo para o cumprimento de seu mandato missionário.
Ensinos e exemplos bíblicos:
1. O Mandamento de Jesus
A. Sua expectativa– Mt 28.18-20 Jesus sempre providencia recursos para aquilo que Ele manda fazer. O Deus que envia é o mesmo que capacita e dá os recursos necessários.
B. Sua promessa – Mt 16.18
C. Sua provisão – At 1.8
2. A estratégia Apostólica
Um dos elementos básicos da estratégia missionária na igreja primitiva era a plantação de novas igrejas como conseqüência natural da pregação do Evangelho e da aceitação da mensagem. Estas igrejas eram organizadas em torno de lideranças indígenas, que eram treinadas, capacitadas, ordenadas para exercer o ministério pastoral. Este treinamento teológico era objetivo e simplificado e o mais prático possível. Eventualmente surgiam distorções teológicas que os apóstolos corrigiam, como no caso de Apolo, pregador eloqüente e poderoso nas Escrituras, mas que precisou de alguns “acertos doutrinários” para corrigir heresias, tarefa esta executada sabiamente por Priscila e Áquila (At 18.24-26).
O objetivo dos apóstolos eram estabelecer uma base em cada cidade onde ficavam. Isto ficou claro na estratégia adotada já na primeira viagem missionária (At 15.36); Lideranças foram estabelecidas em cada uma destas cidades (At 20.17), e quando necessário enviavam missionários para ajudar a fortalecer o trabalho de equipe (At 11.21-23).
A recomendação para que a igreja fosse organizada era dada explicitamente nos escritos apostólicos (1 Tm 3.1-13), bem como a estruturação necessária para que a igreja pudesse estar fundamentada em lideres maduros (Tt 1.5). Igrejas novas eram muito propensas a confusões doutrinárias e as recomendações eram explícitas quanto a este assunto (Tt 1.10-14).
“Remover a estratégia de plantação de igrejas do NT seria remover toda escritura do Evangelho. Os discípulos e apóstolos usavam a metodologia de plantação de novas igrejas para penetrar na sociedade no primeiro século” Upon This Rock, Tinsley, pg. 5
Algum tempo atrás fiquei surpreso na reunião de liderança, ao ouvir um presbítero afirmando: "Não precisamos plantar novas igrejas, precisamos sim de mais projetos sociais e humanitários". Confesso que fiquei um tanto surpreso com a declaração daquele líder, acima de tudo porque ele tem um coração apaixonado por Jesus e tem estado fortemente envolvido no ministério de compaixão de sua igreja.
Por detrás deste seu questionamento existe toda uma ideologia. Sua visão não é isolada, e ela tem algumas razões de existir:
a)- Pode ser resultado de uma teologia equivocada. Muitos não conseguiram entender a forma bíblica de evangelização. Os discípulos tinham claramente isto em mente ao enviar seus missionários. Queriam plantar novas igrejas por onde iam. A Igreja hoje investe grande quantidade de recursos em projetos missionários que não são bem administrados, enviando pessoas sem competência para fazer missão e frustrando obreiros e projetos por serem mal planejados.
b)- Pode ser resultado de uma visão míope. Alguns acreditam que plantar novas igrejas deve ser um projeto apenas onde não existem igrejas. McGravan, um dos maiores experts em plantação de igrejas afirma que "devemos plantar igrejas onde igrejas estão florescendo". Esta tese deveria ser mais pensada entre nós, quem sabe formando um fórum para vermos a validade e as razões subjacentes a tais afirmações.
c)- Pode ser conseqüência de experiências negativas. Quando uma determinada experiência não é bem sucedida, tendemos a não repeti-la. projetos mal elaborados se tornam caros e contraproducentes. Igrejas que investem em plantação de novas igrejas, gastam pouco em tais projetos e ficam frustradas quando os resultados são pífios. Se a experiência de plantar igrejas em um presbitério em num conselho não é positiva, é certo que as pessoas tenderão a não estabelecerem novos projetos.
d)- Pode ser resultado de uma perspectiva limitada – Uma pessoa pode achar que porque já existem bastante igrejas num determinado local, não precisamos de plantar mais.
Estudo de caso:
Preferimos plantar igrejas em pequenas periferias pobres, com 3.000 pessoas, a plantar novas igrejas em grandes centros, muitas vezes com mais de 50 mil pessoas, porque já existe uma grande igreja por ali. No entanto, outras denominações chegam ao nosso lado e se estabelecem.
Por que Plantar igrejas?
A Igreja é o centro histórico do Plano redentivo de Deus. Philipe Yancey conta interessante parábola mostrando que Deus não tem plano B. Ele conta com sua igreja para realizar seu projeto redentivo. Jesus afirmou que ele mesmo "edificaria sua igreja" (Mt 16.18), e que sua igreja teria a tarefa de avançar, destruindo as portas do inferno e as portas do inferno não prevaleceriam contra ela" (Mt 16.18)
§ A Igreja é o corpo de Cristo – Ela realiza através de seus ministérios aquilo que Jesus gostaria de realizar entre os homens. Ele continua fazendo o bem, salvando vidas através de sua igreja, edificando o seu povo através de sua igreja. É à sua igreja que ele dá dons, capacitando-a para o exercício de seu ministério.
§ A Igreja atinge os propósitos últimos de Deus. A estratégia de Deus para o mundo é sua igreja. Ele poderia ter feito tudo isto sem a mediação do seu povo, mas preferiu faze-lo de outra forma. Na medida em que a igreja vai avançando, vai estabelecendo o propósito de Deus para a humanidade. Um texto de Êxodo que fala da saída do povo de Deus no Egito, desafia minha imaginação (Ex 12.17,41). Outro texto afirma que "O mistério da iniqüidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém" (2 Ts 2.7). Todos nós sabemos que trata-se da força do Espírito Santo na terra, mas poucos se lembram que o Espírito Santo habita na sua igreja (1 Co 3.16).
Porque a igreja possui todos os ofícios dados a Cristo para o cumprimento de seu projeto final.
q Profecia – a igreja possui a missão profética. Ao anunciar boas novas denuncia as más novas ora presentes. A pregação do Evangelho é uma denuncia do homem em seu esforço para realizar as obras de Deus por si mesmo, em sua vã tentativa de auto justificação aos olhos de Deus. Denuncia também os sistemas poderosos que acreditam que tem o poder da vida e da morte sobre as pessoas e que se esquecem da soberania de Deus, e de que já providenciou um dia em que há de julgar vivos e mortos. A igreja é uma comunidade profética, denunciadora e anunciadora dos poderosos feitos de Deus.
q Sacerdócio – a doutrina do sacerdócio universal dos santos foi resgatada em Lutero, e reafirmada na Reforma. Poucas coisas são tão relevantes hoje em dia quanto esta doutrina. Deus levanta um povo para abençoar outros. Deus escolheu um povo para ser um reino de sacerdotes. Um povo que teria a missão de orar, interceder, anunciar a Palavra de Deus, curar, exortar, minimizar o sofrimento humano. Somente a igreja pode realizar isto.
q Rei – a Igreja tem também autoridade e poder para realizar sua obra. Não precisa mendigar favor, nem suplicar autoridade. Precisa sim, exercer a autoridade que lhe foi dada por Jesus. "Toda autoridade me foi dada no céu e na terra, ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações batizando-as em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19) Por ter tal autoridade ela pode ir, por ter tal autoridade deve fazer discípulos, e batizá-los.
A Igreja, na sua multiforme graça, possui variadas formas e expressões para confundir o Reino das trevas. "Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e das potestades nos lugares celestiais" (Ef 3.10). É a igreja, com sua forma diferente de ser, despadronizada, que consegue ser eficiente e conspirar contra as forças espirituais. Por ser diferente, torna-se eficiente. Sua diversidade revela sua competência.
Plantação de igrejas é o método mais eficaz de evangelização. Apenas a igreja consegue, como instituição, evangelizar, discipular, nutrir, integrar, treinar, enviar e sustentar outros para fazer missões. Fazer missão sem ter a idéia de plantar igreja não faz sentido algum.
Quem sustenta missionários, mantém obras sociais e sustenta a denominação são as igrejas. A base de envio, de criação de novos projetos, de preparo e sustento de novos missionários é a igreja local. É ela que se compromete com aqueles que vão em oração, recursos, encorajamento. Não existe missão sem igreja local, e é a partir das igrejas locais que outros podem ir (At 13.1ss)
Apenas a Igreja possui uma missão com implicações eternas. Plantar igrejas é importante porque só a igreja é a agência que trata das questões espirituais. Só a igreja proclama salvação eterna. Só a igreja pode ministrar sacramento, em ultima instância, fora da igreja não há salvação. Não a igreja como instituição, mas a igreja como povo de Deus que tem a missão de proclamar. Porque as pessoas não poderão crer se não ouvirem, e não poderão ouvir se não houver este testemunho do povo redimido de Deus.
§ Sabedoria aplicada.
Ø Novas igrejas alcançam melhor as novas gerações e novos grupos de pessoas.
Ø Igrejas novas alcançam melhor os não alcançados. "Plantar novas igrejas é o mais efetivo método evangelístico conhecido sob a terra". Peter Wagner
Ø Novas igrejas são mais efetivas em identificar e treinar novos líderes de forma efetiva.
Ø Novas igrejas multiplicam os recursos.
Estudo de Caso: Cambridge (East Boston, Marlboro, Framingham).
Pca: 30 anos de existência, 1.200 igrejas, sendo 600 frutos de plantação de igrejas.
§ Renovação de igrejas e revitalização
Ø Novas igrejas trazem idéias criativas para todo corpo. Uma estratégia extensiva de novas igrejas é a mais simples e crucial estratégia para:
(a) - O crescimento numérico de novos cristãos nas cidades;
(b) – Para a renovação interna das antigas igrejas já existentes na cidade. Nada mais – nem cruzada, programas evangelísticos, ministérios para eclesiásticos ou mega igrejas terão o mesmo impacto" T. Keller, N. York.
Ø Novas igrejas desafiam outras igrejas ao auto exame. – Muitas igrejas não fazem nada diferente porque não sabem ou temem fazer. Novas igrejas tem mais facilidade para correr riscos e experimentar novas estratégias.
Ø Novas igrejas têm o poder de desafiar as pessoas ao evangelismo.
Comentário:
Todas as atividades da igreja podem ter motivações positivas e negativas. Plantar igrejas é uma delas. Podemos planejar e executar plantação de novas igrejas com motivos imperialistas, por auto promoção, ou podemos fazer isto por termos uma convicção clara que este é o caminho pelo qual Deus é glorificado e os perdidos são alcançados.
Mais do que um modismo, plantação de novas igrejas deve estar enraizada na perspectiva bíblico-teológica. O conteúdo de evangelização no livro de Atos consistia no testemunho, no anúncio da morte e ressurreição de Jesus, e na plantação de novas igrejas, mas a estratégia e metodologia consistiram basicamente na plantação de novas igrejas e treinamento de liderança para as igrejas locais. A primeira e a segunda viagem missionária de Paulo são marcadas por esta ênfase. Era necessário plantar igrejas nos grandes centros urbanos.
Ainda hoje, plantação de igrejas tem sido o método mais eficaz de evangelização. Apenas a igreja consegue, como instituição, evangelizar, discipular, nutrir, integrar, treinar, enviar e sustentar outros para fazer missões. Fazer missão sem ter a idéia de plantar igreja não faz sentido algum. Nossos meios de alcance precisam ser diversificados, mas o alvo final deverá sempre atingir o propósito que Paulo estipulou a Tito ao afirmar: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi” (Tito 1.5). Já ouvi candidatos a missionário erroneamente afirmando: “Não gosto de ser pastor, quero ser missionário”. É bom lembrar que, embora, lamentavelmente, nem todo pastor seja missionário, todo missionário é pastor. Vai cuidar de ovelhas, de pessoas feridas, cativas, enfermas, e que precisam da graça, redenção e cura que o Evangelho somente pode trazer.
Nossos seminários têm perdido a capacidade de gerar esta visão no coração dos estudantes. Um comentário do Rev. David Nicholas, pastor de uma igreja Reformada na Flórida chamou-me a atenção. Ele afirmou num Congresso de plantação de igrejas que não conhecia nenhum seminário que colocasse fogo no coração do estudante, mas conhecia muitos que tiravam o fogo. Não plantar igrejas, além de ser a quebra de um princípio bíblico de expansão missionária, revela uma profunda falta de estratégia da igreja de Cristo. Quem sustenta missionários e mantém a denominação são as igrejas, e denominações serão fortes, na medida em que estiverem crescendo e se expandindo. Uma igreja que não se expande, enfraquece toda sua espinha dorsal.
Para plantação de igreja, normalmente tem se considerado, erroneamente, três itens: (a) A futura igreja precisa ter um local próprio; (b) A nova igreja deve se iniciar onde já existe um grupo de pessoas se reunindo; (c) A nova igreja precisa ter uma escola do lado.
Todos estes três itens são profundamente questionáveis quando se estuda plantação de igrejas nos nossos dias. (a) Local próprio, além de ser muito caro, muitas vezes se mostra inadequado, já que a igreja, eventualmente precisa de um local mais estratégico ou de um espaço maior. (b) Um grupo que já existe, tem sua liderança própria, que eventualmente resistirá ao novo plantador de igreja, já que tem dificuldade em repartir sua liderança; (c) Escolas, num período recente de nossa história eram necessárias, já que não existiam vagas para todos os alunos, hoje existem vagas sobrando no precário sistema de ensino público que temos.
A coisa mais importante na plantação de igrejas, porém, é o Plantador de Igrejas. O homem vocacionado, desafiado e com paixão para iniciar um projeto. Normalmente as igrejas mais relevantes de nossos dias começaram com uma perspectiva visionária. Um dos grandes problemas nossos é que Plantação de igrejas não ocupa uma agenda prioritária em nossas igrejas locais, nem no coração dos pastores. Muitos bons plantadores de igreja estão frustrados, tentando trabalhar com estruturas que não funcionam bem, tentando levantar um projeto, quando deveriam gastar seu tempo e energia em projetos mais arrojados e desafiadores. O critério nosso tem sido, escolher os piores obreiros, colocar nos piores campos, pagando os piores salários, e, como conseqüência disto, termos as piores igrejas. O que não avaliamos é que, projetos mal elaborados se tornam caros. Temos congregações que foram criadas, sem nenhum plano, e que se arrastam por 25 anos, interminavelmente. Conheci uma congregação que já tinha 72 anos, e que ainda não fora organizada. Projetos baratos podem sair muito caro.
A plantação de uma igreja estratégica não deveria durar mais que cinco anos, desde a criação até sua organização.
Rev Samuel Vieira
20 de Julho 2004
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